Capítulo 44
Matteo.
Eu não aguento mais esse país, essa cidade e principalmente esse bairro, ou melhor, essa comunidade, contudo me calo. Tolero só para ver minha morena, minha maravilhosa esposa feliz, se é que ela está feliz.
Minha esposa!
Sim, nós nos casamos há dois meses somente no cartório sem qualquer pompa. Rebeca, assim como eu, não gosta de redes sociais, badalações ou qualquer coisa que a exponha. Claro que eu pretendo viajar com ela em uma lua de mel assim que nós voltarmos para a Itália e eu ajeitar as coisas que estão pendentes.
Deus! Há tanta coisa pendente.
Para começar, nós ficamos de voltarmos para a Itália assim que a avó de Rebeca morresse, o que demorou mais de três meses. A senhorinha prolongou a vida até não poder mais, isso tendo uma festa de despedida quase todas as sextas e sábados com o que eles chamavam de roda de samba.
E eu descobri que a alegria prolonga a vida. A velha não morria.
Meu irmão me infernizava à vida perguntando quando eu voltaria e eu garanti que assim que ela morresse, o que não deveria demorar muito dado o estado avançado do câncer, eu voltaria.
Ledo engano...
A criatura demorou a morrer, e quando até que enfim ela descansa, o que já passou um mês, Rebeca me pediu uns dias para ajudar nas coisas da mãe e de quebra, do tio.
Só que essa desgraça que Rebeca chama de mãe é a pessoa mais fria e desalmada que já conheci na vida, e olha que de gente ruim eu conheço e até me colocaria no rol dos piores.
Patrícia é a pessoa mais egoísta, narcisista, fria e nojenta que eu já conheci na vida. Ela é uma cópia pobra de Graziella, por isso é pior. Ela é incapaz de ter algum sentimento bom por outra pessoa. Nem o irmão cafajeste dela é tão seco e desprovido de compaixão quanto ela. E tiro isso quando vi a mãe dela passando mal e Rebeca sair de casa por diversas vezes para atender um chamado do tio que não sabia o que fazer para ajudar a mãe, e Patrícia ignorar completamente o socorro.
Patrícia não apareceu no casamento da única filha.
Patrícia não é capaz de dar um beijo no neto quando vem aqui em casa tomar café da manhã quase na hora do almoço, e almoçar quando Rebeca já está preparando o jantar.
Patrícia só pensa em dinheiro, só pensa em como tirar proveito de uma situação. Claro que eu continuo sendo um ex-segurança cuja grana está contada. Rebeca também pediu que até irmos embora, era melhor continuarmos com esse papel, tanto que tirou a aliança e guardou, preferindo comprar uma de aço inox.
Aço inox! Fingir eu até acho certo não mostrar quem eu sou na verdade, mas não precisava chegar a tanto.
Inferno.
E nós não vamos embora porque minha esposa, que parece que é carente de afeto materno, se submeteu a ajudar essa peste que se morresse, não faria falta a ninguém. E quando eu digo a ninguém, é ninguém mesmo. Nas várias festas que fizeram para Donana, forma carinhosa de chamar a avó de Rebeca, ela era ignorada pela maioria ou somente atendida para agradar a senhora. O Jamil ainda chega e é benquisto por todos como Gilvan me falou, mas essa coisa... não.
— Não conseguiu dormir? — Rebeca me tira dos meus pensamentos ao aparecer na sala vestida com o conjunto de baby doll simples, mas sexy pra caralho que eu tirei dela antes de ir pra cama ontem.
Puxo-a pela cintura, colocando-a no meu colo.
Como posso ser tão louco por uma mulher tão bobinha, tão carente?
— Sabe que eu não durmo tanto — beijo seu pescoço vendo-a seus pelos se arrepiarem com o menor contato dos meus lábios.
— Mas não deu nem seis da manhã — ela passa a mão pelo meu cabelo e eu fecho os olhos absorvendo seu carinho.
Só uma porra de um sentimento tão profundo me faria me submeter a isso, porque estou entediado e irritado pra caralho.
— Muito trabalho, morena. Além disso, tenho uma reunião daqui a pouco por conta do fuso horário. Na verdade, eles já deveriam ter entrado em contato. — Ela me olha com aquele olhar de compaixão, de doçura, de preocupação. — Mas eu posso voltar pra cama rapidinho e mandar todos ao inferno — e a beijo novamente — ou posso me deitar aqui mesmo no sofá — e brinco com a alça do seu baby doll — desde que você fique comigo.
No fundo eu sou o bobo e carente.
Ela solta uma risada sem graça.
— Não, Matt. Vou deixar você trabalhar enquanto arrumo as malas e seguro Filipo no quarto para ele não te incomodar. — Aquilo me fez parar.
— Malas?
Ela inspira profundamente, levanta-se do meu colo e olha pela janela.
— Vamos embora, Matteo. Está na hora de você voltar e eu te acompanhar. Você tem mãe, irmão, trabalho, amigos, casa... e eu — ela solta um suspiro — não tenho nada aqui que valha a pena. — Eu não estava entendendo nada. — Tem um voo que sai hoje a noite daqui para a Itália. Sei que comprar passagens de última hora é caro, mas dinheiro nunca foi seu problema — sabe quando você é pego de surpresa?
— Rebeca — ela olha para mim — Está tudo bem?
— Sim, está tudo ótimo. Nunca esteve tão bem — e sai da sala deixando-me sem entender depois de eu pensar tanto no quanto ela quer se conectar com a mãe, dada a atenção que dispendia todo o dia a ela.
Penso em mandar o nosso piloto vir nos buscar, mas como eu quero fazer uma surpresa, opto por ir mesmo de avião comercial.
Claro que de primeira classe.
Mas antes, faço outro café como nós gostamos – forte e sem açúcar – para enfim comemorar essa decisão tão esperada quando escuto alguns carros pararem na porta da minha casa.
Nunca há tantos carros parados ao mesmo tempo aqui, e olha que é bem cedo.
O meu maior medo é perder minha esposa e meu filho, por isso escondo totalmente minha identidade já que não tenho qualquer segurança comigo e pego minha arma mesmo sabendo que Rebeca detesta eu tê-la em uma casa tão pequena com um Filipo que é supercurioso.
— Bom dia, irmão — Lucca cumprimenta assim que eu abro a porta, surpreendendo-me com sua presença.
Cinco carros parado na porta, provavelmente blindados como se aqui na comunidade o pessoal não tivesse arma para derrubar um tanque.
Aqui é uma zona de guerra em constante e frágil acordo temporário de paz.
— O que você está fazendo aqui? — Gilvan entra depois de cumprimentar algumas pessoas, deixando claro que Lucca só conseguiu entrar depois de ele abrir caminho.
— Eu? Você me prometeu voltar logo, mas já se passaram quase cinco meses desde que deixou todas as coisas lá nas minhas costas. O pessoal está preocupado com a situação da máfia. As empresas, apesar de estarem bem, sofre com os acionistas que elegeram você como presidente e que sumiu. Já não tenho mais mentiras para contar.
— Lucca...
— E onde você está? Brincando novamente de casinha com a esposa... Esposa?! — Meu irmão está visivelmente irritado. — Você se casou e não teve a coragem de me dizer, mandando-me a certidão para eu dar entrada no processo de tutela de Filipo.
— Posso falar? — Seis e meia da manhã e meu irmão aparece todo arrumado como se estivesse indo para uma audiência e ainda cheio de argumentos fortes só que totalmente sem sentido.
— Se a sua esposa tem medo das coisas lá, não há absolutamente ninguém que saiba o que ela fez a não ser enfeitiçar você.... — deixo-o falar porque agora não é hora de intervir. — E se ela tem medo de mim, porra, eu estou puto com ela, obvio, mas é a sua esposa, caralho!
— Irmão...
— Eu não sei trabalhar com aquela vinícola, Matteo. Sinto que estão me enrolando com toda aquela burocracia no beber, sorver, provar sei-lá-da-porra... — Inspiro profundamente — e hoje você deveria ter uma reunião com todos os acionistas que eu consegui adiar para amanhã depois de eu prometer que o levaria nem que fosse amarrado.
Eu sabia que todo esse processo estressaria meu irmão. Ele é extremamente competente, mas nunca gostou dessa parte administrativa, diferente do direito que ele curte achar brechas na justiça.
— E a máfia? Nossos associados ainda estão reticentes desde a morte de papai. Muitos ainda estão com medo de investir, de voltar definitivamente à ativa.
— Lucca...
— E agora tem mamãe.
— O que tem a mama?
— Consegui tirar ela da cadeia desde que sua pena seja domiciliar porque ela está senil.
— Senil?
— Sim. Lembra umas coisas hoje... depois não lembra nada. Começou a fumar como uma chaminé e desenvolveu uma tosse crônica.
— Fumar? Senil? E onde está o médico da família que não a examinou?
— E acha que alguém na cadeia consegue ter a visita de um médico particular? Os médicos da penitenciária é que deram o laudo e com ele eu consegui entrar na justiça, só que eu não posso cuidar de tudo sozinho e de quebra cuidar da mãe.
— Por que não me disse antes?
— Porque você resolveu brincar de casinha — e olha tudo ao redor. — Parece que tem um fascínio por essa mediocridade.
— Sabe que não é isso, mano. — Foi nesse momento que Rebeca saiu do quarto de top e short, vestida de forma bem simples para quem está em casa e não espera visita uma hora dessas. Tudo bem que aqui, pelo calor que faz, aquela roupa era normal.
— Lucca! — meu irmão solta um assobio ao vê-la tão exposta. Gilvan baixou à cabeça depois de eu notar o quanto ele a admirava, porque sim, Rebeca é aquela mulher que tem um corpo escultural sem qualquer exagero e totalmente definida. — O que você está fazendo aqui?
Era meu irmão, porra, mas eu queria arrancar os olhos dele pela forma como ele a via.
— Rebeca — ele se ajoelha diante dela. — Eu sei que fui um filho da puta com você — o que era aquilo? — Sei que jurei te proteger, cuidar de você.
— Que merda é essa Lucca? — Rebeca está tão atônita quanto eu.
Isso é o que eu chamo de desespero.
— Eu preciso do meu irmão, princesa — verdadeiramente quero matá-lo por tamanha intimidade, e ao mesmo tempo rir porque ele não sabe que nossos planos seria de voltar hoje. — Não o prenda mais aqui, por favor. Eu preciso dele de volta à nossa casa. — Rebeca olha para mim e faz um gesto para eu me aproximar. — Ele prometeu que viria te buscar. Viria buscar os amores da vida dele, e pelo jeito ele a conquistou a ponto de você se casar com ele e eu sequer ser convidado.
Rebeca olha pra mim lembrando-me que avisar sobre o nosso casamento seria de bom-tom. Só que tudo não passou de uma formalização de algo que eu já vivia.
— Lucca...
— Eu juro pela minha vida protegê-la, honrá-la, cuidar de você a ponto de entregar minha vida caso precise. — Apesar de estar com raiva, tenho vontade de gargalhar pela cena que estou presenciando. — Que meu irmão me mate se eu não cumprir com o prometido.
— E vou matar mesmo — me intrometo na conversa e ele beija a mão da minha esposa.
— Você agora é uma das nossas protegidas. Sabe disso?! — Ela confirma.
— Sinto muito, Lucca — minha esposa voltou a ser a doce Rebeca que eu me apaixonei um dia. — Por isso eu pedi para que voltássemos hoje.
— Hoje?! — Eu sorrio ao olhar a cara do meu irmão de surpreso.
— Era isso que eu queria dizer mas desde que chegou não parou de chorar, implorar e parecer um idiota de um pedinte — ele chega a rosnar de raiva, coisa que eu ignoro. — Precisa de ajuda para arrumar as malas? — pergunto.
— Só para embalar os brinquedos de Filipo. Eu já dei muita coisa, mas há brinquedos que ele adora e que eu vou levar.
— Eu vou mandar um dos homens fazer isso.
Lucca se levanta com raiva.
— Por que caralho não me disse que voltaria hoje? Assim eu não precisaria pegar a porra de um avião depois de eu jurar que o levaria de volta.
— Verdade — Rebeca olha para mim e me beija os lábios. — Mas sabe de uma coisa? Eu adorei ouvir sua promessa de amor eterno, Lucca. Como eu não acredito muito em você, até porque é um filho de uma puta de um advogado, eu vou relevar, principalmente após ouvir palavras tão lindas de um homem de joelho — eu detestava quando me xingavam de filho da puta por conta da minha mãe que não merece, mas dado tudo que Rebeca passou, eu não questiono.
— Filha da puta — ele a xinga e tampouco eu questiono. Minha esposa pode até ser boba muitas vezes, mas ela vai saber se defender de Lucca.
— Acha que conseguimos voltar hoje ainda pela manhã? — pergunto lembrando que os pilotos sempre fazem uma parada para descansar de um voo tão longo.
— Claro, sem problemas. Até porque nós dois sabemos pilotar mesmo que não tenhamos autorização.
— Definitivamente, não! — Rebeca responde. — Deixe o piloto descansar um pouco e saímos no final da tarde. Só vou tentar apressar a arrumação das coisas já que meu cunhado não sabe chegar em um bairro simples sem ser notado, sem fazer estardalhaço e jogar em terra toda a falsa identidade que criamos.
Não posso negar isso.
— Vai se despedir de sua mãe? — questiono-a.
— Vou. Mas já conhece a peça. Deve estar dormindo — confirmo.
Ela nos deixa e eu fico observando meu irmão segui-la com os olhos.
— Acho que vou ficar por aqui e ver se acho uma morena gostosa como a sua esposa — como?
— Se chamar minha esposa de gostosa mais uma vez, eu mando te castrarem — ele ri e então olha para mim.
— Por que não me disse que voltaria hoje? Evitaria eu vir.
— Minha esposa tomou essa decisão de última hora. Não sei o que aconteceu que de repente ela falou que não tinha mais nada aqui para ela... e isso foi hoje pouco antes de você aparecer.
— Problemas?
— Não sei.
— O tio?
— Não. Ele não me conhece, mas aprendeu a respeitar minha presença, e quando eu estou perto ele sequer aparece.
— Como ele ainda está vivo?
— Rebeca — nego desacreditado. — Rebeca pediu que eu não fizesse nada contra o tio nem contra a mãe, que puta que pariu, é da mesma espécie que Graziella — meu irmão faz um bico.
— Aí é que deveria ter matado. Cobra a gente mata pisando na cabeça, e como você sequer poupou o tio e a esposa, por que pouparia a sogra e o irmão?
— Para não machucar Rebeca. Ela não quer mais sangue nas mãos dela já que ela se culpa por ter mandado matar Graziella — consciência pesada eu só senti quando vi minha morena viva depois de tudo que ela viveu por minha culpa.
— Ela não mandou nada. A cobra morreria de qualquer forma — como se eu não soubesse. — Eu só acatei a forma que ela sugeriu de acabar com a vida daquela megera. — Chegou ao ponto. — Cadê meu sobrinho? Estou doido pra vê-lo. Trouxe um monte de presentes para ele.
— Daqui a pouco aparece. A mãe deve estar dando banho e a mamadeira.
Meu irmão olha tudo em volta vendo a mediocridade da casa enquanto conta as várias coisas que estão acontecendo em Palermo que eu não sabia. Depois de um tempo, meu filho sai do quarto já banhado e trocado de roupa, abre um sorriso lindo ao me ver e corre em minha direção como todos os dias.
A brincadeira de casinha que não tinha preço.
— Filipo! — Lucca se agacha perto do meu filho que abraça minhas pernas. — Meu sobrinho... é você mesmo?
Meu filho está lindo. Longe do bebê magrelo que ele conheceu lá atras.
— Vem cá para o tio — Lucca dá os braços para Filipo que o nega, agarrando mais minhas pernas.
— Filho, esse é seu tio. Dá um beijo nele, meu amor. — Filipo olha para mim e só então se aproxima do tio que o pega nos braços e o beija.
— Meu Deus! Ele parece cada dia mais um Mancini. — Meu filho abre um sorriso enorme — E o que sua mãe está dando pra você comer? Feichoada?
— Feijoada — corrijo. — E não, Lucca. Eu também fiquei assim quando o vi, e olha que ele emagreceu desde que eu vim pra cá porque cresceu. Todas as roupas que eu comprei já se perderam.
Ele mostra o Porsche preto para o tio, carro preferido.
— É seu carro preferido? — Meu filho confirma.
Filipo só ouvia o português na escola. Rebeca, por conta da identidade falsa, só falava com o filho em italiano e quando eu cheguei aqui continuamos a conversar em italiano.
— E seu pai aceitou assim?
— Já dei uma Ferrari, Lamborghini e varios carros italianos de todos os tipos e cores, mas ele cismou com essa porcaria.
Meu irmão solta uma gargalhada.
— Isso é uma afronta para seu pai, sabia Filipo — e ri. — Falando em Ferrari, a que você encomendou para Rebeca já chegou. Mandei deixar na garagem da fazenda.
— Perfeito.
Meu irmão senta no sofá e começa a brincar com Filipo que o aceita facilmente, gargalhando com o tio. Foi quando por um milagre, um dos homens de Lucca abre a porta para Patrícia e Jamil entrarem na minha casa como se fossem íntimos.
— Rebeca? — ela me pergunta e eu gesticulo algo que dá a entender que ela está no banho. Não gosto dessa cobra e como ela sabe disso, ela se mantém sem perambular pela casa, ainda mais na companhia do imprestável.
— Gilvan — chamo-o. — Quero que me traduza ipsis litteris o que eles conversarem, de forma que eles não percebem que você está entendendo tudo.
Gilvan confirma aproximando-se de mim.
Lucca, ator como ele sabe ser, continua a brincar com Filipo como se estivesse alheio a tudo à volta.
— Ele deve ser o chefe do Matteo — Patrícia fala e meu irmão ignora. — Bem que minha filha poderia ter engravidado dele. Olha como ele brinca com o trombadinha.
Lucca olha para mim assim que ouve o que Gilvan falou e volta a brincar com Filipo.
Minha respiração muda.
— Rebeca puxou a mãe, irmãzinha. Puta pobre só engravida de pobre. — Eu realmente estava doente.
Não! Era respeito pelo meu filho ali.
— Ela é burra, isso sim. — Patrícia retruca. — Ela viu a merda que eu vivi, o quanto eu aconselhei ela não fazer essas merdas e de repente, ela tinha que cair na lábia de um gringo bonito, mas ordinário.
Lucca se levanta e vai até a porta chamando um dos seus homens.
— O cara é um monstro — Jamil comenta ao ver meu irmão em pé com Filipo nos braços.
— E gostoso.
— E rico. Olha o terno que ele usa. Está na cara que é de marca.
Cada frase traduzida por Gilvan era um soco em minha cara.
— Matteo, onde fica o quarto do Filipo? — adoro ainda mais meu irmão quando sequer eu preciso pedir algo que ele já sabe o que eu quero, preciso e ainda respeitando a presença do meu filho.
— Na primeira porta à direita do corredor. — Pego Filipo nos braços. — Filhinho, você ajuda papai? — ele acena. — Vai com o amigo do papai ajudar a guardar seus brinquedos, meu amor. A gente vai viajar de avião.
Meu filho abre os olhos empolgado.
— E a gente vai levar seus brinquedos, seus carrinhos, você quer? — Ele assente. — Diga ao amigo do papai o que você quer levar.
Rebeca que me perdoe.
— Entretenha meu filho no quarto até eu mandar sair — o homem confirma.
— Será que ele não comeu Rebeca? Depois de tudo que ele pagou para minha mãe, os hospitais, exames. — Eu só fico observando o homem carregar meu filho que deixou o carrinho cair embaixo do armário. — Bem que ela podia ter dado pra ele.
— Não sei se Rebeca tem inteligência para trepar com os dois. E olha que ele comeria fácil minha filha, e se quiser, eu também dou pra ele — e abre um sorriso pra Lucca cheia de insinuação.
Meu irmão estala os dedos.
— Foda-se a sua esposa — Meu irmão só precisou que Filipo entrasse no quarto e a porta fechasse.
Forte como ele era, só agarrou os dois pelo pescoço e apertou.
Eu somente permiti.
Despois eu pediria perdão a minha esposa.
Os dois se debatiam. A puta da Patrícia já estava vermelha, se debatendo como uma louca. Jamil era mais difícil, contudo meu irmão tinha uma direita incrível.
Eu somente me deliciava ao ver os dois.
— LUCCA! — Rebeca grita ao ver os dois. — Matteo!
Dei de ombros como se aquilo não dependesse de mim. Só que dependia.
— Lucca, solte a minha mãe!
— Como você defende essa peste, Rebeca? Uma mulher que te chama de puta, que chama meu filho de... de... trombadinha — Por mim eu não interferiria.
— Eu não me importo, porra!
— Mas eu sim! — Quanto mais nós brigávamos, mais meu irmão apertava o pescoço da galinha e do canalha.
— Ou vocês soltam eles, ou eu juro que nunca mais verão a minha face — sua ameaça fora verdadeira, contudo Lucca ignorou. — Lucca!
Nada.
— Matteo, por favor — Rebeca choraminga. — Eles não valem a pena. Não quero essa culpa em minhas mãos.
Eu odiava os dois tanto quanto eu amava minha mulher.
— Não terei um pingo de arrependimento se eu eliminar esses dois — Lucca diz.
— Você prometeu cuidar de mim... me honrar — Rebeca alega.
— Por isso mesmo. Eles te desonraram.
— Matt, por favor — Havia lágrimas nos olhos dela. E foi com muita dor que eu toquei no ombro do meu irmão sem entender essa defesa pela pela mãe, e meu irmão solta-os derrubando-os no chão.
Rebeca olha para os dois no chão aliviada, entretanto não se aproxima para ajudá-los.
— Que merda está acontecendo? — Patrícia pergunta e Rebeca nota Gilvan ao meu lado traduzindo tudo. — O que eu fiz para esse idiota me agredir?
Me aproximo de Patrícia e seguro o queixo dela para que olhe para mim e peço para Gilvan me ajudar.
— Eu acabo com a sua raça e a do seu irmão se insultar mais uma vez a mim, a Rebeca, a Filipo e ao meu irmão Lucca.
Patrícia e Jamil nos olham atônitos.
— Mas eu sou a mãe... — aperto mais ainda o queixo dela quando Rebeca toca em minha mão pedindo para eu soltar.
— Mãe, cale a boca, por favor! Matteo não é bem alguém que tolera insultos.
— E acha que pode sair nos machucando?
— Eu tenho gente conhecida que acaba com ele — Jamil me ameaçou?
Soltei a peste e o levantei pelo colarinho jogando-o fortemente contra a parede.
— MATTEO!
— Quem ele pensa que é para me ameaçar?
Rebeca toca minhas mãos pedindo para eu me afastar e eu odeio essa benevolência da minha esposa.
— Para quem o senhor pedir ajuda, ele paga o triplo pra te eliminar, então calem a boca. — Rebeca respira fundo. — Matteo não é quem vocês pensam que ele é. Ele somente escondeu a identidade para não corrermos risco de sequestro ou qualquer coisa do tipo.
— Ele é rico? — Patrícia pergunta e eu não preciso responder. O sorriso de Gilvan e Lucca foram suficientes.— E você não nos disse? Que merda de filha você é? — Eu odeio essa mulher e por isso eu ponho o dedo em riste sobre os lábios exigindo silêncio, e ainda passo a mão no pescoço mostrando por gesto que se ela falar mais alguma coisa, ela morre.
— Eu sou a merda que tentou se aproximar da senhora nesses últimos meses. Eu sou a merda que tentou trazer um pouco de amor, respeito, juízo a senhora. Eu sou a merda que esteve todo tempo tentando quebrar esse escudo de egoísmo, arrogância, mostrando que dinheiro não é tudo — não era carência de afeto materno. . — Minha avó faleceu e olha que ela não tinha dinheiro algum, mas seu enterro foi lotado de gente que a amava. Pessoas que sequer me conheciam, vinham dar os pêsames enquanto te ignoravam — Patrícia se levanta. — Você não via seu neto, você não via a mim, você não via sua mãe, sequer seu irmão. Tenho convivido com a senhora esse tempo todo dando-lhe atenção para ver alguma mudança de atitude.
Era a chance que ela deu a mãe de ser uma pessoa melhor, ou melhor, menos pior.
— Filha... — ela toca na roupa da filha, até pegar na mão e ver a aliança de ouro que eu dei para ela. — É verdadeiro!
O interesse era maior.
— É, mãe — diz como se tivesse a consciência que aquela não tem mais jeito.
— Rebeca, você sabe que eu tentei me aproximar... — Jamil também tenta se aproveitar.
— Não vou te culpar por ter me mandado para a Itália para viver um pesadelo, mas a forma que eu saí daqui ainda está engasgado — eu não via compaixão nós olhos dela pelo tio— E você, mamãe, nunca me defendeu.
— Filha, me perdoe.
— Agora é tarde, mamãe. Como você me disse quando eu cheguei aqui pedindo ajuda, que não teria como me ajudar, que não gostava de criança, de choro de criança. Quando eu precisei de auxílio, a senhora me virou as costas. — Eu pensando que minha mulher era boba, entretanto ela buscava alguma bondade no coração da mãe. — Não que eu seja vingativa, mas acho que esse aborto malsucedido precisa viver a vida dela e esquecer que um dia teve mãe.
— Filha, por favor.
— Se eu tivesse mesmo me casado com um pobre segurança, a senhora estaria aí, implorando? — Ela não responde. — Esqueça que algum dia teve uma filha. Esqueça que ela casou e teve um filho. Esquece que ela mora em outro país. Aliás, nem precisa esquecer. Eu nunca existi mesmo.
Ouvir isso foi doloroso.
— Ao menos a casa...
— A casa vai ser um ponto para ajudar crianças a se desenvolverem. Assistir crianças cujos pais as ignoram, maltratam, agridem. Eu planejei fazer daqui um lugar onde pessoas possam ajudar crianças e adolescentes a não serem enganadas por canalhas que as levam para outros países para serem usadas, abusadas sexualmente. Eu planejei fazer daqui um ponto de apoio às crianças e adolescentes que são abusadas por seus parentes, amigos, conhecidos. — Eu nunca pensei em ajudar ninguém que não me trouxesse benefício, mas conhecendo a história da minha esposa, eu não posso negar. E a forma como ela fala, nem que me custasse toda a minha fortuna.
Assinto
— Gilvan, faça o que for preciso para pôr essa casa de apoio ao menor — digo e observo que ele não gostou muito dessa nova função. — Contrate uma equipe e só monitore se o dinheiro não está sendo desviado. Aqui no Brasil, isso é costume.
Ele assente mais conformado.
— Vamos embora? — pergunto— Quer se despedir de Túlio?
Ela nega.
— Já me despedi dele ontem — ela já tinha pensado em voltar ainda ontem? — inclusive eu comprei um presente pra ele com seu cartão — ela baixa a voz como quem fez algo errado e eu sorrio feliz por até que enfim ela ter se aproveitado dele. — E também para o filho melhorar a oficina dele. E presentes para...
— Rebeca, você não precisa me dizer o que comprou. O cartão foi pra gastar mesmo.
Ela sorri constrangida e entra chamando alguns homens par pegar as poucas coisas.
Olho para os dois acuados na parede.
— Patrícia, só queria dizer que se você tinha algo de bom, foi para a sua filha quando ela nasceu, e só melhorou quando foi ensinada por um anjo. E agradeço aos céus que ela apareceu na minha vida — olho pra Jamil que se encolhe. — Você até procurou saber quem eu era, mas dada sua incapacidade de pensar, falhou miseravelmente. Eu e Lucca somos os irmãos Mancinni, donos da vinícola cujo vinho você apreciou mesmo bebendo sem a menor honraria diante de uma obra-prima. Além disso, somos os maiores acionistas de um conglomerado de empresas na Sicilia, mas sabe o que eu sou mais? — Agacho-me ficando a altura dele. — Filho de uma assassina que eliminou com frieza um homem que nos enganou, e ainda fui acusado de fazer parte de um crime organizado de atuação internacional, e sabe o que isso significa? — ele nega — Que uma pessoa como eu não manda outro filho da puta — minha mãe que me perdoe — para a cadeia. Manda para o inferno para abrir caminho. — ele nega— Porque eu sei o que vocês fazem quando saem de casa, golpistas.
Ele chega a mudar de cor.
Rebeca volta com algumas malas que meus homens pegaram para colocar no carro, olha tudo em volta.
— Vamos?! — pego meu filho nos braços e minha esposa pela mão até o carro
Até que enfim viro às costas para aquele lugar. Só espero nunca mais precisar voltar para esse buraco mesmo que eu tenha passado tempos maravilhosos com meu filho e minha esposa.
Foda-se Brasil
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