Capítulo 30
Matteo.
Eu ainda estava atordoado com tanta revelação e incompetência junta quando Graziela abriu a porta com meu filho nos braços e sorriu como alguém que acabara de sair vitoriosa. ― Como você...? Eu te deixei proibida de chegar perto do meu filho.
Ela olha para Filipo que parece ainda mais doente, menor e mais frágil, e quando eu tento me aproximar, ela mostra a arma na outra mão apontando para ele.
― Baixa a arma, Lucca, por que honestamente não estou mais suportando a voz dessa criatura dos infernos, e sinceramente eliminá-la será a melhor coisa que eu farei.
― Meu Deus! ― Rebeca exclama chocada.
― Lucca, por favor ― peço e meu irmão baixa a arma.
― Jogue para Carlo! ― ela manda e Lucca só faz depois que eu assenti.
Meu filho tinha agora o cano da pistola em sua cabeça.
― Como você pegou meu filho? ― pergunto estarrecido, temendo.
Nunca tive tanto medo em minha vida quanto agora.
Filho é nossa fraqueza, nosso calcanhar de Aquiles, nossa razão de viver.
― Acredita que tia Francesca realmente não me deixou encostar no neto dela? ― reclama olhando para a criança com desprezo. ― Acontece que remédios que induzem o vômito é algo simples, e doente como ele é foi fácil. Filipo começou a vomitar, eu precisei interpretar a mãe preocupada que acompanhou a avó para o hospital, e como todo hospital que se preza permite somente um acompanhante por paciente. Quem você acha que teria direito? ― Ela abre um sorriso. ― Aí eu peguei o menino nojento que vomitou em mim e o trouxe comigo para ver o papai, né pestinha?
Meu filho começa a chorar.
― Eu juro que não te esperava aqui, Grazi. ― Don Carlo pega a arma de Lucca e com dificuldade se levanta. ― Mas não posso negar que adorei a surpresa.
Havia cumplicidade entre ambos e aquilo me deixa ainda mais estarrecido.
― Eu disse a papai que precisava vir ver o desfecho e ele permitiu mesmo não concordando. Ele achava que eu tentaria persuadi-lo a poupar meu marido.
― E vai? ― O grau de intimidade deles era alto, de alguém que convive um com o outro e eu me pergunto quando isso começou?
― Não. Você está livre. ― Foi então que ela olhou para Miguel. ― Você? Eu não acredito que você também tenha se encantado por uma garota de tão baixa estirpe ― Cada palavra dita por ela me chocava. ― Carlo tem problemas com garotas jovens, e não pode ver uma menina que fica logo cheio de tesão.
Não acredito que Graziela chegaria a tão baixo nível.
― Você foi a única, coração, a quem respeito como se fosse uma filha ― Don Carlo tira minha dúvida, se bem que eu não acredito, e ela volta a Miguel esperando uma resposta.
― Não! Não tenho o menor interesse nela ― Aquilo atrai tanto a mim quanto a Rebeca que ri descrente... ou não. ― Eu só precisava estar ciente de seus passos para não ser pego de surpresa.
E foi. E vendo agora, posso acreditar que não há sentimento, mas uma troca de favores.
― Não importa, canalha. Você vai morrer de qualquer jeito, mas antes, eu quero dar uma lição nessa puta aqui.
A dor foi tão forte em mim quanto foi nela. Eu vi Carlo puxar Rebeca pelos cabelos e dar um soco na altura do estômago dela que chega a se contorcer de dor, e outro, e outro.
― Desgraçado. Por que não bate em mim, filho da puta? ― Reclamo indignado com tanta covardia.
― Deixa ele, marido. Ele está me presenteando ao assistir tal cena ― e mostra a arma mais uma vez apontando para Filipo.
Meu corpo estremecia nessa luta interna. Eu olhava para Graziela que me encarava como saboreando toda aquela situação, e via Rebeca apanhar a ponto de se ajoelhar no chão de tanta dor.
Lucca não se compadecia de Rebeca porque estava dominado por um ódio, e tampouco faria nada que arriscasse a vida do sobrinho. E Miguel sequer mexeu um dedo para ajudá-la procurando, provavelmente, um jeito de se livrar de toda aquela situação que saiu de controle.
Rebeca, ajoelhada em posição fetal, cai para o lado quando Don Carlo desfere um chute. Só assim para ele parar.
― Não vou matá-la ― diz. ― Vou fazer o que você sugeriu quando Michele a trouxe. ― Olha para Graziela que assente. ― Entregá-la gratuitamente para todos esses pobres coitados que não sabem o que é uma trepada há muito tempo.
E o inusitado acontece. Ela começa a rir mesmo que estivesse cheia de dor.
― Michele! Aquele homem que você matou depois de eu ter aprontado com ele? ― Ela sequer se mexe, provavelmente cheia de dor. ― E você, Miguel, quando perguntou por que eu não te contei tudo que eu tinha? Esta aí sua resposta ― ela levanta a cabeça com dificuldade. ― Você nunca me passou segurança.
Ela estava para morrer, mas queria levar o amante junto.
― Você sabia que ela tinha armado para Michele? ― Don Carlo aponta para a cabeça dele.
― Claro, velho nojento. ― Rebeca responde e ainda ri alto. ― Foi ele inclusive que guardou a maleta verdadeira que Michele havia trazido ― ela tenta incitar o ódio para que Don Carlo mate Miguel. ― Como ríamos quando comparávamos seu péssimo desempenho na cama.
Meu Deus! O que aconteceu com Rebeca?
Miguel somente fechou os olhos esperando o tiro.
― Não atire, Carlo! ― Graziela pede. ― Vamos precisar de um homem para fazer a limpeza e honestamente eu não quero me sujar e você tampouco está em condições de agir. E quanto menos pessoas souber disso, melhor, afinal teremos dois irmãos mortos.
Eu tentava pensar em um jeito de tirar Filipo e Rebeca dali, mas não conseguia. Estava tudo muito complicado.
― Você tem razão, Grazi ― ele baixa a arma e caminha em direção a Graziela. ― Você sempre teve boas ideias.
― E por isso eu deveria ter deixado matarem você, Carlo. ― Graziela fala. ― O que foi que eu pedi para o senhor fazer depois de ela ter o menino? ― Rebeca chega a parar de gemer diante daquela revelação, e da minha confirmação. ― Mandei matá-la, não mandei?
― Eu sei, querida. Só posso te pedir desculpas.
― E levá-la para Sicília foi um erro maior. Eu perdi totalmente o controle diante dessa desgraçada que eu odeio ― Graziela perdia novamente o controle de suas emoções e eu não sabia se aquilo seria bom a ponto de tirar meu filho da mira, ou ruim e ela atirar antes de eu ter uma pequena chance.
― Eu e seu pai achamos que você precisava de um incentivo. ― Incentivo?
Eu estava inerte diante de tanta revelação. Era muita coisa para assimilar de uma vez.
― Se te serve de consolo, eu não sabia que Matteo era noivo ― Rebeca ainda se justifica. ― Eu jamais teria ficado com ele.
Ela olha para Rebeca no chão com tanto desprezo.
― Acha que foi por você, piranha? Meu noivo sempre gostou de puta e eu nunca tive problemas com isso. ― E então olha para mim. ― Desde pequena, eu tinha uma adoração por você, Matteo. Sabe aquele amor infantil que te acompanha por toda infância e adolescência, e que só aumenta com o passar do tempo? ― ela olha para meu filho que parou de chorar e se acomodou em seu ombro pedindo aconchego.
Inocente. Sequer tem ideia do que a mãe tem apontada para ele.
― Eu sonhava com nossa vida a dois. ― Ela abre um sorriso melancólico. ― A primeira vez que você me beijou, eu juro que eu desejei morrer tamanha era minha felicidade. Contei para mamãe e apesar de ela ter brigado pela nossa intimidade, eu pouco me importei. Você era meu sonho, meu tudo.
― Você é uma louca. ― Ela realmente parecia uma,
― Sim, sou. Por você. E sabe como eu sou quando quero alguma coisa. Nada do que eu quis fora negado em toda minha vida.
― Por isso é assim mimada ― como eu a desprezava.
― Sim, sou. ― Ela assente como se aquilo tivesse sido um elogio. ― Papai achou que eu deveria me afastar, principalmente depois de termos tido nossa única noite de amor quando eu tinha somente quinze anos.
― Única? ― a encaro consciente do que ela acabara de falar.
― Você quis cumprir sua palavra e até cumpriria em se casar comigo se não fosse ela ― e aponta com cabeça para Rebeca. ― O que eu desejava para mim, você teve por ela.
Filipo começa a tossir e parecer que iria vomitar de novo quando ela o solta de seus braços derrubando-o no chão.
― Não! ― Rebeca se joga mesmo cheia de dor, machucada e pega meu filho que chora compulsivamente provavelmente de dor.
― Não se aproxime, Matteo, ou eles morrem. ― Rebeca acalenta meu filho nos braços sem saber que era seu.
Ou quem sabe já tivesse imaginado depois da confissão da bruxa.
― Você a amava e eu descobri não pela que eu usei. Você literalmente apagou. Eu descobri porque mandei alguém te vigiar depois de te ver sair tanto com aquele carro velho, vestido de forma simples, sumir e aparecer todo sorridente. ― Fecho os olhos arrasado por todos os meus erros. ― E quando vocês supostamente terminaram, seu semblante de derrotado me incomodava.
― Porque eu a amava e ela foi a única mulher que fez diferença na minha vida ― ela trinca os dentes e eu só penso em fazê-la ter raiva e quem sabe descontar em mim tirando Rebeca e Filipo da mira. ― Como soube da gravidez quando eu sequer sabia?
Ela bufa.
― Eu precisava conhecê-la e fui até sua casa com a desculpa das encomendas, com tudo planejado para a morte dela. Eu já tinha fingido o sexo que nunca tivemos e uma suposta gravidez que eu não tive, mas ao descobrir que ela estava grávida, eu tive receio que você descobrisse e meus planos fossem por água abaixo. Seus pais poderiam querer o bastardo morto, mas você lutaria com unhas e dentes pelo filho. ― Sim, eu lutaria. ― E tudo desandaria quando eu supostamente tivesse um aborto espontâneo.
Rebeca prestava a atenção atentamente a tudo enquanto acalentava meu filho.
Nosso filho.
― Avisei a Carlo sobre ela e mandei Michele vir em um dos iates de algum convidado meu para o casamento, afinal, você e seu irmão são duas águias nos limites da cidade.
"Ele pegou essa piranha que eu pedi para que a machucassem muito antes de matá-la, deixasse-a ser usada por todos os homens mais asquerosos de Roma. Era minha vingança por ter roubado você de mim."
Roubado de você?
― Eu nunca fui seu ― rosnei.
― Eu sei, por isso hoje eu estou aqui com a arma na mão e você aí, por que se você tivesse sido um marido bom nesses quase dois anos que estamos juntos, eu já teria engravidado de você e eliminado esse filho de chocadeira que precisei substituir quando no meu casamento você jurou que não me tocaria. ― Mais uma vez eu fui culpado pelo que aconteceu com Rebeca. ― Liguei para Carlo e pedi que se essa criatura não tivesse morrido ou perdido o bebê, que a tratasse como animal para abate depois da engorda.
― Eu sabia que tinha razão ― digo.
― Sim. E foi por isso que eu tive que acatar a sua eliminação. Esse filho é seu e dela. ―Rebeca, chocada com a revelação, abraça o filho e começa a niná-lo, chorando. ― Eu não poderia comprar um exame laboratorial de DNA. Comprar um atestado de gravidez, uma ultrassonografia, um hemograma era fácil. Na verdade, todos os exames que eu te mostrei eram os dela que Carlo mandava para mim.
― Você é uma louca desalmada ― Rebeca diz e eu lamento. ― E você tentou me dizer ― ela olha para mim visivelmente arrasada.
― Eu não sabia até te ver viva, Beca. Nunca imaginei porque para mim, você tinha morrido naquele acidente.
― Pois é, garota. Ele é seu ― Don Carlo confirma. ― Nasceu saudável, grande e chorão depois que o médico pôs o fórceps e te colocou para dormir.
Ela acaricia o filho, contornando o rosto do garoto que começa a parar de chorar e aceita de bom grado seus carinhos.
Ela olha para Miguel que baixa a cabeça ― Você também sabia?
― Eu não podia te falar, Rebeca ― esse homem a detesta. Não há qualquer sentimento bom por ela.
― Você não podia ter dormido comigo e mesmo assim o fez. Você não podia ter mentido sobre a maleta de Michele, mesmo assim o fez ― ela começa a chorar. ― Você mentiu sobre coisa pior e não me contou sobre meu bebê? Quantas vezes eu acordei depois de um pesadelo com ele e você via e se calou.
Ele não responde.
― Você é um monstro tanto quanto seu chefe a quem você dizia ter desprezo. Você é um canalha tanto quanto Don Carlo.
― Ah, negrinha, você não tem ideia... ― Graziela diz como se soubesse de mais coisas.
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