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Capítulo 27


Rebeca

Eu saí de perto dele ainda sob o efeito da adrenalina por ter fugido, do alívio por tudo que deu certo e nervoso de medo. E a presença de Matteo só piorava tudo.

― Não me toque! ― Meu pedido foi movido mais pela raiva do que por qualquer outra coisa. ― Eu preciso pensar no que eu fiz.

Eu estava perdendo o controle sobre mim. Eu passei tanto tempo fingindo, planejando que quando eu consigo executar, minha mente meio que buga. Era como se eu tivesse entrado em estado de hibernação.

― E o que você fez? ― Já disse que Matteo aqui só piora tudo? ― Sabe por que eu vim te ver? ― E o desgraçado não para de falar. ― Porque eu sei que você mentiu, porque eu sei que você precisa de ajuda, porque eu tenho certeza de que você está sofrendo e principalmente, porque eu não te esqueci um segundo qualquer.

Meu olhar foi de puro desdém.

― Não fode, Matteo. ― Caminho pela pequena casa para ver o quarto simples de casal, um outro de solteiro, o banheiro e a cozinha rústica. Fazia frio, mas eu estava tão acelerada que eu suava.

Ele, encostado à parede da sala, somente me observa com um sorriso nos lábios.

Elegante, austero, bem-vestido, imponente.

― Eu sei que você não ligaria para Michele ― Ao menos esse pensou.

― Você não sabe de nada ― respondo sem qualquer paciência.

Meu plano inicial precisava de tempo. Tempo para causar alvoroço.

― Sei que Graziela te vendeu, só não sabia que tinha sido para Michele ― ele chama a minha atenção. ― Acha mesmo que eu acreditaria que houve um acidente? ― Ele nega ― Eu percebi que tudo tinha sido premeditado de uma forma esdrúxula e depois a própria Graziela confirmou que tinha contratado um grupo para matá-la.

Ora, ora, ora.

― Foi?! ― perguntei de forma irônica. ― E nunca procurou ir mais a fundo?

Ele baixa a cabeça e depois de soltar um longo suspiro, nega.

― Eu tinha três pessoas dentro de um carro. ― Se justifica ― Duas foram mortas do suposto "acidente" ― faz aspas com a mão quando eu sei que um foi morto por um dos homens de Michele ― sendo que uma só apareceu dias depois na orla da praia. Quem me garantia que a terceira estava viva?

Sorri

― A falta de um corpo ― retruco de forma grosseira com a lógica.

Ele assente de cabeça baixa.

― Me desculpa por não ter insistido mais, Rebeca. Vendo você hoje, viva, me causa uma dor por ter desistido tão facilmente ― Ri do jeito mais cínico que eu conhecia. ― E me dói imaginar o que você passou e tem passado.

Você não sabe o que lhe espera, canalha.

― Não importa mais. ― Entro na cozinha para sair do mesmo ambiente que ele está mesmo numa casa tão pequena. ― Eu estou bem.

― Não, você não está. Se você estivesse, não teria me trazido para tão longe, provavelmente nem Carlo sabe que você está aqui. ― Acho que estou sendo um tanto transparente. ― Por que fez isso?

Nego sabendo que ainda não é a hora de confessar, não a ele.

― Por que, Rebeca? Eu imagino que esteja com muito ódio de mim e que até gostaria de acabar com minha vida, mas por que fez isso?

― Eu preciso. ― Nunca fui tão fria e má como agora. ― Faz parte do plano.

Minha frieza o constrangeu, ou ao menos pareceu isso.

― Que plano? ― Abri meu melhor sorriso de filha da puta e nego. ― O que você planejou, Rebeca?

― Você quer um vinho? ― Mudo de assunto ao ver que havia algumas garrafas em cima do armário. ― Deve ter algum vinho aqui nessa tapera.

Não que eu estivesse desprezando o lugar que eu estava, até porque era melhor que minha casa na Sicília, mas eu precisava me mostrar alguém suficientemente mudada e até um pouco nojenta.

― Quer? ― Pego uma garrafa de uma vinícola nacional e o saca-rolha e ele tira delicadamente das minhas mãos sem tirar os olhos de mim. ― Obrigada. ― Educação é fundamental.

― O que fizeram com você? ― Você quer mesmo saber o que fizeram comigo? Tenho uma lista bem grande de atos hediondos que fui submetida desde que cheguei aqui por sua culpa. ― Onde está minha morena por quem fui apaixonado?

Eu coloco as duas taças em cima da pia e ele me serve um pouco para degustar. Claro que dona Caterina me ensinou como ter classe diante de toda aquela situação e eu faço o que manda a etiqueta e mesmo odiando o sabor levemente amargo, eu finjo, aprovo a bebida e ainda peço mais.

― Ela morreu naquele acidente, Matteo. A Rebeca que você conheceu não existe mais. ― Ele se serve, contudo não bebe.

― Você finge bem ― diz ao me ver sentar no sofá com toda a elegância. E eu o faço porque se não o fizer, vou desabar. ― A quem quer enganar com essa pose que eu sei que não te pertence?

A pose é da sua esposa, a mulher linda e elegante que você preferiu depois de dizer que me amava.

― Posso te perguntar algo? ― Dou de ombros como se não me importasse. ― Onde está o nosso filho?

Não! Não quero falar sobre isso.

― Eu soube que você estava grávida ― continua me ferindo. ― Sua amiga me contou sobre sua decisão de não o tirar, e tudo que fez para esconder sua gravidez.

Cat não tinha o direito. Eu não permiti que ela contasse, por isso tomo de uma vez o vinho e não consigo esconder meu horror àquela bebida tirando dele um sorriso pela minha sinceridade.

― Você não ligaria para Michele para pedir ajuda muito menos grávida, então que tal me contar o que de fato aconteceu? ― Ele se aproxima e quando eu penso em me levantar do sofá, ele segura minha mão, tirando a taça e a colocando na mesa lateral junto à sua taça que sequer tocou. ― Não fuja de mim, por favor.

― Eu já mandei você não me tocar ― tento me soltar e ele ignora meu pedido, ajoelhando-se de frente a mim.

― Não consigo ― ele beija minhas mãos. ― Você está viva e o que eu mais quero desde então é te tocar, te abraçar, te beijar.

― Matteo... ― ele me silencia com o dedo.

― Você acha que eu te machucaria? ― Acaricia meu rosto. ― Quando você apareceu presa, eu só pensava em como te tirar daquela situação. Meu pai é o Don da Cosa Nostra. Eu sequer sou conselheiro mesmo que minha presença e opinião sejam ouvidas. Como eu poderia ir de contra aquele grupo?

Não quero falar. Suas palavras me açoitam a alma.

― Eu tive que pensar rápido. Eu tive que agir te silenciando, mostrando meu desdém para não te prejudicar ainda mais. Eu e Lucca já tínhamos planejado levá-la para a Grécia e te colocar lá em uma casa boa, com dinheiro suficiente para você ter uma vida de princesa e com tudo que nós pudéssemos fazer para te proteger, por isso eu pedi a Marco para que ele fosse. Ele sabia o quanto eu te amava e a queria.

― Você nunca me contou que era noivo. ― Ele começava a me desarmar. ― E eu te perguntei, Matteo, se você tinha compromisso e você negou. Você só mentiu pra mim desde o início.

― Eu sei. Eu já confessei que eu só queria te curtir, só que eu me apaixonei e tive medo de perdê-la com tantas mentiras como te perdi. E meu casamento foi um acordo desde a adolescência. Um acordo entre nossos pais.

Nego desacreditada.

― Parece mentira e é até ridículo ouvindo, mas é a mais pura verdade.

― Ela estava grávida. Vocês tiveram um bebê ― aquilo me machucou quando eu penso que eu poderia ter hoje o meu. ― Se meu filho tivesse sobrevivido, como seria? Dois da mesma idade com mães diferentes.

― Ele morreu? ― Ele não parecia surpreso. Ou sim? Não sei o que passa na cabeça de Matteo

Assinto.

― Como? ― Seu questionamento me incomoda.

― No parto. ― A voz sai embargada. ― Eu não o vi. Disseram que ele nasceu deformado e Don Carlo o eliminou. Eu não pude sequer vê-lo. ― Ele parece sorrir, não sei e isso meio que me irrita, aumentando meu ódio e só então eu começo a chorar, mas era de raiva. ― Eu não toquei nele, não o senti, não o beijei, não ouvi seu chorinho. Era por ele que eu me submeti a tanta desgraça que desde então tem me acontecido ― eu vomitei toda a minha raiva, toda minha angústia já que desde que eu o perdi, precisei abafar a dor.

Foi quando ele me abraçou e por mais ódio que eu tivesse em meu peito, eu permiti.

― Beca, meu amor. ― Sussurra entre beijos que secam meus olhos. ― Eu queria te dizer algo ― beija meus lábios ―, mas antes, eu preciso te tirar daqui, das garras desse homem.

Eu não preciso de sua ajuda, Matteo. Você é meu passaporte para ir para bem longe daqui e não ser procurada.

Finja, Rebeca.

Eu retribuo seus beijos, sentindo meu coração quase sair do peito. Meu corpo reagiu às lembranças do seu toque e aquilo não podia acontecer. Eu jurei matar tudo que havia de bom dentro de mim.

Tateando a mesa lateral, eu pego o pequeno vaso de cerâmica e com uma dor imensurável no peito, eu me afasto e o acerto bem na têmpora, derrubando-o desacordado.

― Essa dor foi nada perto do que eu senti, Matt ― meu coração sangrava. ― Eu não vou te pedir desculpas.

Na bolsa tinha uma fita de forte aderência que eu usei para amarrá-lo e amordaçá-lo. E para isso, eu precisei trazer à tona as lembranças do calor naquele carro quando fui tirada da minha casa, amarrada, depois levada para o porão daquele barco, ainda presa, sem água, tratada como um bicho.

Havia um telefone na casa, um telefone de linha que eu pedi como exigência para alugar a casa e não sofresse interferência do dispositivo conectado ao carro, e aquilo era minha melhor ferramenta.

― Oi ― falo assim que ele atende o telefone.

― Onde você está, Rebeca? Don Carlo está enlouquecido.

Eu não tinha dúvidas.

― Se prepare. É hoje ― e desligo o telefone.

Você prometeu me ajudar e eu precisava acreditar.

Faço outra ligação depois de tomar coragem. Precisava encarar a fera.

― Boa noite, Don Carlo ― fui cínica.

― Filha da puta. Vou matar você.

Eu não tive medo.

― Não, não vai. ― Agora eu dava as cartas. ― Eu quero o dinheiro que o senhor me prometeu e em troca eu te darei Matteo.

Ele cai na gargalhada.

― Antes de você falar algo pelo qual possa se arrepender, dê uma olhada em seu cofre no quarto, Don, e veja se não está faltando algo.

Rebeca, você é louca.

Eu já estava morta mesmo, agora era só me divertir.

― Você... Você está blefando.

― Um velho como você precisaria deixar à mostra sua senha de acesso temendo esquecer, e como eu já disse "velho como você" não teria uma com impressão digital já que arrancar sua mão e usá-la depois é fácil.

― Sua cadela.

― Em alguns minutos você terá meu sinal de celular disponível. Busque-me se quiser o que perdeu ― e desligo o telefone.

Pense na loucura que estava minha mente, meu coração, minha vida.

Outra ligação.

― Lucca, preste atenção no que vou falar se quer teu irmão de volta ― ao menos ele não me agrediu ou sequer falou algo. ― Eu tenho algo para vocês, mas para isso, você precisa me ouvir.

― O que você quer, Rebeca?

― Eu quero te entregar Andrea Mancini...


Meninas, me desculpem mas estou na semana de provas dos filhos, por isso sumi e os capítulos agora são pura revelação, não posso deixar passar nada.

Xêrinho

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