Capítulo 24
Rebeca
Eu saí ainda ouvindo os gritos da cadela da Graziela.
Sorrindo.
Matteo e Lucca pareciam que viam um fantasma, sem reação diante da minha presença, entretanto Graziela parecia que via o demônio vindo diretamente do inferno para buscá-la, tirar sua paz.
Graziella....
"Não sei como ela reagirá ao saber que Rebeca vive." As palavras de Don Carlo saltam a memória.
Era verdade mesmo que a criatura não sabia que eu estava viva. Era muito desespero para ser somente uma simulação. Graziela me vendeu para que me matassem depois de me machucarem, me usarem e fizessem o que bem entendessem. Era sua vingança.
Acontece que Don Carlo tinha outro plano para mim.
― Você está muito sorridente ― Adriano que me acompanha, comenta. ― Não deveria sorrir tanto.
Por que sempre tem alguém que gosta de estragar o prazer do outro nem que isso seja algo momentâneo?
― E por que não? ― Você é tão irritante, Adriano. ― Viu a histérica da Graziela?
― Por isso mesmo. ― Uma grande reclamação. ― Ela não era para ter vindo, Rebeca. Ela sequer era para estar aqui.
― Mas estava. E com raivinha... e eu gosto de saber que causei uma certa polêmica.
Ele nega com um sorriso nos lábios.
― Você é quem sabe, gata. ― Ele brinca. ― Só não ache que sua boceta vale mais que a felicidade da princesinha de Don Carlo. Ele a adora.
― Eu sei meu lugar, Adriano ― ah, e como eu sei. ― Mas deixe-me degustar desse prazer temporário.
― Claro, linda ― Ele e seu sorriso cínico que eu desejo muito tirar de seus lábios.
Saímos em direção ao saguão do hotel, mas antes de chegar ao lobby, me deparo com Graziela totalmente diferente da mulher linda que geralmente aparece nas capas das revistas – descabelada, olhos vermelhos e inchados, roupa amassada. Um verdadeiro pesadelo para a dondoca que é.
― Piranha ― eu me sentia tão acima daquilo tudo que sequer me atingiu. ― Se acha que vai tomar meu marido, você está muito enganada. Eu mato você.
Eu não respondi, apenas sorri mesmo que por dentro eu quisesse enchê-la de pancada.
― Como é transar com Don Carlo enquanto eu faço amor com meu marido? ― Pobrezinha. Como se eu estivesse morrendo de inveja. Se bem que transar com Don Carlo é intragável. ― Porque você só serve para isso, puta. Para transar com Don Carlo e outros que paguem.
― Graziela, vamos! ― O pai da criatura a chama
― Pera aí, papai! ― Faço um bico sexy de puta bem safada e ainda jogo o cabelo que está liso para um lado fazendo charme. ― Você nunca será ninguém, sempre será um corpinho mais ou menos que os homens se aproveitam.
Reviro os olhos e ainda sussurro "mais ou menos" fazendo pose somente para irritá-la, porque eu estou quase saindo do salto.
Mas tirar essa lady do controle até que está sendo bem gratificante. Eu continuo linda e bela e ela parece uma louca desajustada.
― Ele é meu! Não chegue perto do meu marido ― diz com dedo em riste apontando para mim e numa frieza que até eu me surpreendo comigo mesmo, sorrio.
A criatura pirou. Voou em cima de mim com tanta ira fazendo algo que eu tanto desejava.
Ah, Miguel! Como você foi bom e continua sendo bom para mim.
Na mesma rapidez que ela me atacou, eu me desviei segurando sua mão e a empurrei de contra a parede, segurando sua mão nas costas de um jeito que se ela mexesse ou eu quisesse, quebraria seu braço.
Lavaria minha alma.
― Solte a minha filha! ― Andrea ameaça com arma em punho, apontando para minha cabeça.
Merda!
E do jeito que as coisas eram, eu não teria apoio de ninguém e por isso eu afrouxei.
Não é que a criatura voltou a me ataca? Só que dessa vez eu fui mais rápida e agi de forma que nem Andrea nem ninguém mandaria em mim. Claro que se Adriano quisesse, ele teria interferido, contudo não o fez quando puxei sua arma da sua cintura,
― Eu não sou uma idiota que vai tolerar sua filhinha em seus chiliques ― digo com a arma apontada para a cabeça dela, numa chave de pescoço tão forte que ela mal tinha condições de respirar. ― Baixe sua arma porque honestamente não estou vendo sua mão tão firme para atirar em mim sem chance de errar!
Andrea Mancini poderia ser um grande articulador, traidor e multimilionário. Eu tive acesso aos vários acordos e atas de supostas reuniões entre ele e Don Carlo além das cópias das transações milionárias que ele possuía, mas naquele momento, a pequena tremedeira que ele tinha nas mãos me deixou confiante. Ele não era fraco, só era velho e com algum problema como Parkinson.
― Acho bom o senhor abaixar a arma. Rebeca atira muito bem e se quisesse matar sua filha, sequer precisaria de uma arma ― Adriano, que até então assistia a tudo, resolve aconselhar o velhinho.
― Foi isso que ele fez com ela? ― Olha a indignação do velhinho. ― A criou para ser uma máquina de matar?
Medo?!
― Não! Não sou uma máquina de matar, mas para me defender. E sua filha, que merecia umas boas palmadas quando era criança, anda merecendo uma surra.
― Olha bem como você fala, piranha. Você deveria lamber os pés da minha filha. ― Eu tenho a arma apontada para a cabeça da garota e mesmo assim acha que pode falar desse jeito?
― Rebeca, por favor, solte-a ― Adriano pede e eu só libero depois que o infeliz abaixa a arma. ― Me dê, por favor ― pede a arma e eu nego, encarando a mulher que ainda faz drama como quem estivesse morrendo sem fôlego.
― Cuidado, garota ― Andrea adverte-me ― Não pense que essa afronta não terá um preço ― e sai levando a filha.
Se tinha alguém ali vendo, não apareceu sequer para testemunhar. Tudo era controlado por eles inclusive o silêncio.
― Você é louca? ― Adriano pergunta assim que eu devolvo a arma. ― Sabe que isso foi muito perigoso.
― Foda-se! ― Eu já estava de saco cheio.
― Foda-se? ― ele me puxa pelo braço obrigando-me a encará-lo. ― É isso mesmo? Quem você acha que é, garota? Você é só uma puta que dorme com o chefe até ele enjoar... se bem que ele já enjoou. ― Dou de ombros ― Não pense que o plano de acabar com Matteo só depende de você, Rebeca. Don Carlo tem planos para uma mesma situação que vai um alfabeto inteiro.
― FO.DA.SE ― e ele meio que fica chocado com meu desdém.
― Você é quem sabe.
Exatamente isso. Eu é que sei.
Inspiro e expiro pela boca tentando controlar meus batimentos cardíacos como Miguel me ensinou quando ouço:
― Rebeca ― uma voz conhecida me chama e eu viro para olhar aquele homem enorme vindo em minha direção. ― Linda.
E me abraça como se aquilo fosse natural.
Sinalizo para Adriano me dar privacidade e ele o faz sem pestanejar.
Isso estava previsto acontecer.
― Estou feliz que esteja viva ― diz e eu não me surpreendo com tamanha mentira. ― Por que não me ligou?
Ele me solta de seu abraço de urso e eu o encaro com toda a frieza do mundo.
― Boa noite, Lucca. ― Cruzo os braços ― Por que acha que eu te ligaria depois de me mandarem prender?
Ele solta um suspiro como quem não acredita que eu fiz aquela pergunta.
― Você sabia que tudo era um plano para tirar você de onde estava. ― Eu sabia? ―Eu e Matteo jamais te entregaríamos.
Sorri diante de sua mentira.
― Estou falando sério, Rebeca.
― E eu também, Lucca. Ser levada por dois homens, e durante o percurso um tenta me estuprar é algo bem de alguém que está mesmo tentando me ajudar ― ele parece surpreso.
― O quê?
― E depois de sofrer um acidente, ligar pra vocês e pedir ajuda? ― Abri o maior sorriso. ― Será que eu seria tão tola assim?
― Eu não sabia ― será que não sabia?
― Vocês não sabiam que um dos seus homens não presta, mas eu precisava saber que vocês estavam fingindo? ― Neguei com um sorriso nos lábios ― Não dá.
― Desculpa, de verdade. ― Parecia que falava a verdade. ― E por que pediu ajuda justamente a Michele?!
Acha mesmo, imbecil, que eu pediria ajuda justamente a ele? E depois acha que me conhece, que consegue ler nas entrelinhas, que somos amigos.
― Não é engraçado isso? ― Ironizei numa perfeita interpretação. Eu o queria morto assim como todo o resto. ― De quem eu fugi tanto, acabei implorando apoio, prometendo o que eu podia e não podia fazer por um pouco de paz. Estava cansada de fugir, Lucca
― Rebeca, não! ― segura minha mão. ― Eu não posso acreditar que você esteja vivendo esse inferno quando tinha a mim que jurei te proteger.
Ele não sabe o que é inferno.
― Olha para mim, Lucca ― Eu aprendi a fugir. Eu aprendi a mentir. ― Pareço realmente alguém que vive em um inferno?
― Amante desse ridículo? ― Amante? Até que ele não foi tão pejorativo em suas palavras.
― E qual a opção que eu tinha? Ser amante desse ridículo e viver comendo do bom e do melhor, aproveitando uma vida de futilidades em troca de alguns momentos de prazer; ou viver em uma casa de vila, precisando trabalhar no sol de rachar, e continuar sendo amante de um homem mais jovem com um apetite sexual maior, e tendo que me esconder da esposa histérica que tem o desejo de me matar? ― Nego fazendo uma careta de quem a segunda opção não é tão interessante. ― Ao menos a esposa de Don Carlo me trata bem. Aliás, ela vive me vestindo, quase implorando que eu sacie o marido dela enquanto ela se recupera das várias enxaquecas que sofre quase que diariamente.
Imbecil. Vivo uma vida de merda por causa de vocês, deles e só vou contando as horas até que ambos se destruam enquanto eu assisto o início da desordem.
― Você sabia que era só me pedir dinheiro que eu dava ― isso é verdade, coisa que não acontece hoje comigo. Mas ele não precisa saber. ― Só me diga que quer ficar que eu te protejo.
Gargalhei.
Minha gargalhada foi tão alta que chamou a atenção de Adriano um pouco mais afastado.
― Se vocês não souberam ser homens de verdade no dia do casamento de uma noiva histérica, não será agora, entre dois homens poderosos, que você vai dar uma de macho, vai? ― Vi Lucca ficar vermelho de raiva. ― Vai brincar com seu carrinho, Lucca, apostando corrida em sua linda cidade enquanto eu brinco de casinha, comendo lagosta e brindando a vida fácil que eu passei a ter quando conheci um homem de verdade.
Aticei sua raiva.
Diminui seu amor-próprio.
Rebaixei sua imponência.
― Agora, se me der licença, o chefe está chegando ― e dei um beijo em seu rosto, deixando-o ali sozinho.
― Tudo certo? ― Adriano me pergunta assim que me acompanha até Don Carlo que já vinha caminhando em nossa direção.
― Se diminuir o ego de alguém e mostrar sua incompetência for o planejado, sim.
Ele abre um sorriso e ainda pisca o olho antes de Don Carlo passar a mão em minha cintura e me levar em sua companhia até o carro.
― E aí, o que o irmão queria? ― pergunta-me assim que o carro sai.
― O que já imaginávamos ― digo. ― Veio me perguntar por que não liguei para ele, por que não pedi ajuda e ainda me humilhou pelas minhas escolhas.
― E você fez tudo como Catarina imaginou?
― Sim, senhor. Mostrei-me muito bem e ao mesmo tempo o humilhei.
― Ótimo! Garotos não gostam desse comportamento. ― Olho para a janela e me pergunto o que aconteceria se eu dissesse que queria ser tirada dali.
Nada, Rebeca. Eles jamais fariam qualquer coisa por você.
― Matteo me pediu seu telefone. ― assinto. ― Acho que hoje ele não te ligaria por saber que você está comigo, mas amanhã, sem falta, ele deve te ligar.
― Imagino, senhor.
― Marque lá em Roma um encontro. Leve-o para sua suposta casa e mate-o. ― Assinto mais uma vez. ― Assim que você sair da Itália, a polícia encontrará o corpo dele e as provas que você foi a assassina.
― Mas eu já terei uma nova identidade vivendo em outro país ― completo o plano que ele acha que eu acredito.
― Exatamente. Claro que você estará por conta própria.
― Eu sei.
Chegamos à pista já com o avião esperando por nós quando o telefone de don Carlo toca.
Eu não conseguia ouvir, mas sabia que era algo que sobraria para mim pela forma como ele me olhava.
O avião decolou.
― Quem mandou você encostar o dedo em Graziela? ― Don Carlo me pergunta e eu baixo a cabeça em total subserviência.
― Ela me agrediu primeiro, senhor ― O tapa em me rosto queimou.
― E agora? Vai bater em mim porque eu te machuquei? ― Outro tapa. ― Vamos! Vai reagir?
Nego.
― Olha bem, garotinha insolente. ― Ele me levanta pelos cabelos. ― Você não ache que por estar comigo tem privilégios acima de Graziela. Nunca! Você nunca estará aos pés dela, ouviu bem?
Assinto e ele me solta e eu volto a me sentar.
― Se a ama, por que quer tirar a felicidade dela de estar com aquele marido? ― Adriano e Miguel negam sem acreditar que eu perguntei algo depois daquilo. ― Ela apareceu para me ameaçar acaso eu chegasse perto dele.
Eu tinha dado um grande motivo para ele me bater de novo, coisa que não o fez.
― E você acha que ele está vivo por quê? ― Sua resposta. ― Só que tudo tem fim, inclusive amor ― diz quase vomitando as palavras. ― Mantenha-se no plano original se quiser continuar viva, Rebeca, e se afaste de Graziela.
Veremos.
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