Capítulo 17
Matteo
― Quero agradecer por me receber, senhor Fabrizi. ― Marcello Fabrizi, hoje um idoso com problemas inerentes à idade, vive em sua casa grande, confortável e quente ao sul da Sicília, depois de ter construído um império à frente do clã.
Entretanto, sua memória é como a de um jovem. E é com isso que eu preciso me apoiar.
― Eu já esperava que você viesse me visitar, Matteo. Seu avô tinha muita esperança em ti ― ele me abraça e me convida a sentar em seu escritório, diante da lareira ainda de lenha, mesmo que toda a casa já esteja agradável com o sistema de aquecimento.
A última vez que eu o vi foi no enterro do vovô Lorenzo. Eu não passava de um adolescente.
― Eu sinto não ter entrado em contato com o senhor antes. Papai é quem nos deixava à par de sua saúde, a continuidade do trabalho que seus filhos e hoje seus netos têm dado à nossa organização.
Ele bate em meu ombro antes de se sentar diante de mim.
― Outros tempos, outra geração, meu filho. Não se sinta constrangido, até porque eu mesmo desapareci há anos do convívio da vossa família. ― Ele abre um sorriso amarelo. ― Agora, está vendo aquele armário lá em cima? ― ele aponta. ― Minha mulher, aquela cobra peçonhenta, guarda minhas bebidas ali somente para eu não pegá-las. Sirva-nos um scotch, por favor. Não sei quanto tempo que eu não desfruto de uma dose.
Ele chega a fechar os olhos e eu faço o que ele pede. Marcello quase não consegue ficar muito tempo de pé por conta de problemas sérios circulatórios, isso sem levar em conta a diabetes que tem, o que o leva a tomar insulina diariamente.
― Sua esposa não vai me expulsar, brigar comigo? ― brinco ao servi-lo. ― Já tenho inimigos demais para achar mais uma.
― Eu tenho o soro aqui comigo. ― Ele sorve um gole, fechando os olhos e apreciando a bebida que realmente é muito boa. ― Aquela bruxa me tem quase que em regime fechado ― sussurra e eu solto uma risada do jeito que ele fala dela.
Sessenta anos de casados é o dobro que eu tenho de vida. E eu não consigo me imaginar vivendo tantos anos em um casamento.
― Mas vamos aos negócios. Tenho certeza de que você não saiu lá de Palermo para visitar um moribundo em seus últimos dias de vida ― e se acomoda melhor na cadeira, cobrindo-se com a manta como se o lugar já não estivesse suficientemente quente.
― O senhor ainda tem muito a viver. ― Inspiro profundamente antes de falar. ― Eu preciso de um conselho. Conselho de alguém com a experiência que só o senhor tem.
Marcello Fabrizi foi o conselheiro e o braço direito de meu avô por anos. Ainda chegou a ser do meu pai quando meu avô ainda era vivo até a morte deste quando tio Andrea assumiu sua posição.
― Seu pai e seu tio andam aprontando ― não sei o que dizer. ― Por isso que eu disse que o esperava, Matteo. Há muito que eu espero a visita do herdeiro dos Mancini e o futuro Don da Cosa Nostra.
― As coisas não estão bem como eu esperava.
― E não podia ser diferente ― ele toma outra postura. ― O que esperar de Andrea e Giancarlo juntos, à frente de uma organização como a nossa?
― Cuidado como o senhor fala do meu pai, Marcello ― Ele pode estar fazendo um monte de coisas erradas, mas ainda era meu pai.
― Sabe, Matteo, há muitas coisas que você não sabe. Você era muito jovem quando seu avô morreu, e apesar daquele cretino ter sido um dos mais perigosos homens que eu já conheci, seu avô tinha uma capacidade de administração, persuasão, visão que até hoje eu não vi em outro. ― Sento-me para ouvir sobre meu avô. Esse homem que muitos falam que fora o melhor Don que a máfia já teve e que eu, em minha adolescência, não dei valor à sua presença achando-o que o teria por muitos mais anos.
E eu teria se não fossem meus pais.
― Seu avô tinha esperanças em você. Ele tinha certeza de que você seria melhor que ele à frente da organização.
Não sei se acredito mais nisso.
― Meu avô tinha outro filho. Um filho com uma mulher que não era sua esposa, ou acaso não sabia disso? E era esse que ele estava treinando para pôr em seu lugar.
Ele sorri e nega.
― Claro que eu sabia do caso do seu pai. A amante que ele teve por anos, mas por causa do ciúme doentio de sua mãe, ele jamais a trouxe à tona.
― Então não nega que ele ia pôr o filho em seu lugar.
― Matteo, antes de tudo, desarme-se! ― Aquele senhor velho ali diante de mim, magro e levemente curvado, era alguém vulnerável, entretanto havia autoridade em seu modo de falar e uma força que me impulsionava a obedecer. E eu, que não tinha sequer porque estar ali incomodando àquele homem que descansava em seus últimos momentos de vida, me submeti. ― Você veio atrás de respostas e eu não as darei, até porque eu não sei. Contudo, há verdades que foram ocultadas e que há anos eu tenho te esperado para revelá-las.
Começo a me atentar ainda mais às suas palavras. Eu queria um conselho, mas se eu tiver mais coisas que possa me dar respaldo, melhor.
― Ele realmente ia pôr o filho dele no lugar do meu pai? ― Se a resposta fosse não, tudo mudaria.
Tudo que eu soube seria uma grande mentira.
― Ia. ― E não era mentira o que me fez sentir ódio. ― Mas há algo que você não sabe.
Olho para o fogo crepitando na lareira e me pergunto se há algo que possa amenizar essa raiva dentro de mim.
― Seu pai, sua mãe e seu tio.
― Eu conheço bem a história deles. ― Quero pular isso já que eu conheço de trás para frente. Na verdade, já nem sei mais o que eu vim fazer aqui. ― Meu tio estava prometido à minha mãe que se encantou pelo meu pai e meu tio, reconhecido pelo meu avô como um homem fraco, abdicou do desejo de se casarem entregando minha mãe ao meu pai e o colocando à frente dos negócios.
Meu resumo foi seco, frio e calculista, o que tira de Marcello uma gargalhada a ponto de tossir.
― Continua impulsivo, Matteo. Agir por impulso é bom já que te coloca sempre em prontidão, mas na maioria das vezes você precisa ser cauteloso, estudar os inimigos, ler e ouvir a história para que ela não se repita, achar os prós e os contras.
― Senhor Fabrizi, eu não quero ser rude. Eu vim pedir um conselho de alguém que conhece a fundo as coisas da máfia...
― Você foi colocado de lado, e isso te incomodou muito já que o acordo era que depois do casamento, você assumiria uma posição de destaque antes de ter o que é teu por direito.
Calei-me.
― Sim, eu observo tudo de longe. Sei o que seu grupo está fazendo e isso já era bem previsto pelo seu avô, por isso ele queria pôr o filho bastardo dele até você ter a idade de assumir aquilo que é seu, coisa que o rapaz não queria. Ele detestava a ideia de entrar nas coisas ilegais, principalmente tendo uma mãe que lutava pela justiça no parlamento. ― Eu não sabia o que pensar. ― Sua mãe realmente estava prometida ao seu tio ― assinto. ― E seu avô recebeu a tutela de Andrea quando o Florêncio partiu para Roma com os outros três filhos.
― Minha mãe e tio Andrea foram criados como irmãos.
― Mas não eram, tanto que seu pai queria casar os dois primos. Só que a história verdadeira não é a paixão de seus pais um pelo outro.
― Não?
― Não! ― O que poderia haver por trás daquela história? Eu sabia que vovô não aceitou papai de bom grado, mas o que eles poderiam ter feito para que o acordo fosse quebrado. ― Sabe Matteo, há pouco que a ciência tomou essa proporção gigantesca, mas na nossa época, as coisas não eram assim.
― O que o senhor está querendo dizer? ― Eu não estava entendendo nada.
― Seu tio Florêncio já não estava muito bem de saúde quando deixou tudo e foi para Roma com os três filhos, deixando Andrea aqui, aos cuidados de seu pai. ― Até aí não há divergências na história que eu conheço. ― Andrea é mais velho que sua mãe, e como sua avó não teve mais filhos, Lorenzo acabou se encantando pelo jeito de Andrea, que apesar de tudo, sempre fora obediente, prestativo e zeloso pelas coisas do ti.
― E tolo.
― Andrea é tudo menos tolo. ― Ele me entrega o copo para que eu coloque mais um pouco da bebida, e eu o faço sem questionar. ― Sua mãe e Andrea eram muito apegados e super unidos. Foi então que Giancarlo apareceu.
E mamãe se apaixonou perdidamente pelo papai, ou ao menos essa foi a história que a mim foi contada.
― O pai de Giancarlo era um advogado de grande influência na incorporação. ― Sim, tanto que era conselheiro de vovô. ― E essa aproximação, trouxe o filho para o berço da família, atraindo logo a atenção de Andrea.
― Andrea!
― Sim, seu tio. ― Estranho. ― Não, não pense em seu tio desse jeito. ― Ele ri. ― Seu tio gay? ― Ele cai na gargalhada. ― Nada! Aquele homem era um garanhão, traçando todas que via na frente. Ele não queria compromisso com mulher alguma, somente poder. Andrea é um homem ambicioso, perigoso e astuto.
― O senhor quer me dizer que mamãe e papai foi uma jogada?
Ele confirma.
― Seu tio estava empolgado com a possibilidade de se casarem e ter tudo em suas mãos, tanto que jurou ao seu avô que seria fiel a sua mãe. ― Ele sorri como se aquilo fosse uma piada. ― Ele poderia não ter o tino para os negócios, mas ele não é tolo. Ele é cuidadoso, estudioso e como uma serpente, ele espera o momento certo de agir. ― Confirmo. ― E principalmente, ele é manipulador. Seu tio consegue esquematizar para que as coisas saiam de acordo com o que ele quer, e seu pai, um homem ambicioso tanto quanto ele, se apegou ao seu tio para subir. Todos sabiam que Andrea seria o próximo, então ser amigo, confidente, cúmplice dele era o melhor negócio.
― E o que aconteceu? Não foi isso que eu soube.
― O que aconteceu foi feito na surdina, Matteo. O pai de Andrea veio a falecer de uma doença genética chamada Doença de Huntington. Na época, não havia esses estudos tão profundos de DNA, mas com essa descoberta veio à tona a possibilidade de uma irmã do seu bisavô ter falecido desse mesmo mal. Ou seja, havia uma possibilidade de Andrea carregar em seu DNA essa doença assim como a sua mãe.
Que porra era aquela?
― O senhor está me dizendo que eles não se casaram por conta de uma anomalia genética? ― E então me vem a lembrança ainda criança de ter visto um envelope com o nome de Lucca, e dentro havia um monte de X's que eu não entendia nada, e quando eu perguntei ao meu pai o que era aquilo, ele me disse que era a certeza de que éramos saudáveis.
― Exatamente isso. E só quem sabia desse detalhe eram os filhos de Florêncio, eu, Lorenzo e seu avô paterno, pai de Giancarlo. Seu avô achou melhor não se arriscar em ter netos com alguma doença genética rara ainda mais naquela época cuja medicina ainda não tinha nada que ajudasse a retardar a doença.
Faz mais sentido. Mamãe se apaixonar não seria um bom motivo para um acordo ser quebrado, até porque a máfia vem sempre em primeiro lugar. Mas doença rara sim, e como ela não soube, acreditava no conto de fadas.
― Como isso foi visto pelos outros conselheiros?
― Não foi. Lorenzo pediu que seu avô redigisse um documento exigindo que os irmãos de Andrea não espalhassem essa informação, afinal, ninguém em seu juízo perfeito queria ter à frente de uma organização como a nossa, uma pessoa que corria o risco de ter, entre tantos sintomas, delírios, confusão mental. Seu avô não poderia sequer se arriscar de que as outras famílias tivessem receio de um doente à frente dos negócios.
― Então foi por isso que mamãe se casou com meu pai?
― Eu não sei o que se passou exatamente, afinal eu não era íntimo de seu tio, muito menos de seu pai, mas o que nós sabíamos é que eles eram muito amigos. Tanto que nas diversas reuniões sociais que tivemos, Andrea brincava dizendo que Giancarlo seria seu braço direito assim como eu era do seu avô, Matteo, até esse dia.
Ele precisou achar um bode expiatório para continuar na liderança máfia. Tio Florêncio nunca se interessou, e por isso, seu filho ingressou por intermédio do meu pai, o que de uma certa forma o impedia de ser o Don.
― O acordo do casamento foi quebrado e minha mãe poderia se casar com qualquer outra pessoa, mas para não perder o que lhe fora prometido, ele fez um acordo com meu pai?!
Tem sentido.
― Seu tio conseguiu convencer seu avô a entregar Francesca a Giancarlo, coisa que seu avô não concordou a princípio. Para ele, Giancarlo não era alguém digno de confiança.
― E o que o fez mudar de ideia? ― Aquilo estava dando um nó na cabeça e colocando por água abaixo tudo que eu pensava.
― Foi seu tio Andrea que descobriu que seu avô tinha um outro filho. E que ele não deveria perder tempo tentando achar um marido para Francesca quando ele já tinha um herdeiro. ― Nego desacreditado. ― Nessa época, Francesca já estava sendo atraída por seu pai que não media esforço em conquistá-la.
― Não! Eu não posso acreditar nisso.
― Eu estava presente quando Andrea contou. E seu avô, que sonhava em ter um filho, se apegou a essa nova oportunidade. ― Ele começa a rir.
― E minha mãe?
― Sua mãe se encantou, como você sabe, por Giancarlo, e ainda mais sob a influência de seu tio, o irmão que ela não tinha, foi fácil manipulá-la. E seu avô mesmo que não gostasse muito da união mais por preconceito, aceitou de bom grado. ― Começo a ver as coisas por outro ângulo totalmente diferente. ― Giancarlo obedecia às ordens de seu pai facilmente e por muito tempo foi o peão de seu avô que mesmo afastado, mandava e desmandava.
― E meu tio, por mandar em meu pai, ou achar que mandava, acabou aceitando a segunda posição.
― A segunda posição?! ― Seu tom muda e ele me encara. ― Matteo, você realmente acha que seu tio está abaixo de seu pai?
Baixo a cabeça negando.
― Na hierarquia sim, mas no fundo não. ― Nego ciente do que estou fazendo.
― Você realmente acha que o rapaz e a mãe dele morreram em um acidente? Depois que seu pai já tinha casado com sua mãe, que Andrea já estava praticamente dentro de tudo que se passava mesmo quando sequer tinha direito de entrar em alguma reunião, acha mesmo que ele aceitaria um outro tomando aquilo que ele já tinha em mãos?
Solto um longo suspiro.
― Não ― e isso eu já sabia que tinha o dedo de meus pais na morte dele. ― Meu pai se atolou em dívida com meu tio e agora não consegue sair. Hoje, eles vivem em pé de briga.
― Vivem mesmo?
― Eu sei que ele esconde coisas do meu tio ― confesso algo que eu sei.
― Imagino, mas até que ponto, Matteo? ― Ele meneia a cabeça. ― Seu pai nunca seria nem teria nada do que tem se não fosse pelo seu tio. Então não se engane achando que seu pai e seu tio têm alguma rixa. Eles sempre brigaram feio, mas sempre estavam unidos como dois irmãos. Concordo que agora Giancarlo tem você, seu irmão, o herdeiro que Andrea não teve, mas não ache que esse poder sairá das mãos dele para você enquanto você não estiver comendo nas mãos de Andrea.
― Eu não vou fazer isso. Aliás, eu vim aqui justamente querendo ajuda para quebrar essa ligação que está prejudicando os negócios.
Ele se acomoda na enorme poltrona do vovô com descanso para as pernas e todo um apetrecho para que ele fique bem confortável e abre um sorriso.
― Por isso seu avô tinha esperança em você. Você é impulsivo e muito desconfiado de tudo e de todos. Você sempre foi um líder nato desde pequeno, e manipulá-lo sempre foi algo difícil. E agora está na hora de assumir algo que seu avô deixou pra você, e, por causa de seu temperamento, e por ser alguém tão difícil de dobrar, foi jogado de lado. ― Ele me olha de lado. ― Mesmo assim, você se deixou ser manipulado a se casar com Graziella. Por quê?
― Cometi erros.
― Cometeu? Ou armaram para que você os cometesse?
Armaram e eu caí como um pato porque estava cego e porque eu quis proteger alguém.
― Como sabe tanta coisa se está tão longe? ― Aquilo me deixou intrigado.
― Eu sei porque eu conheço esses três. Eu sei porque minha família ainda faz parte dessa organização, e mesmo que não tenhamos o peso das tomadas de decisões como antes, ela ainda sofre a influência e influencia nas decisões. Eu sei porque de gente ruim eu estou cercado, além de ser alguém tão ruim quanto eles. Quando eu quero alguma coisa, eu luto até o fim, mas uma coisa eu sempre fui – minha lealdade pelo seu avô nunca foi sequer abalada. ― Ele toca em meu joelho. ― Nada me tira da cabeça que seu avô foi assassinado, mas isso é algo que eu não consigo provar, até porque eu não consigo caminhar sem sentir o peso das pernas por muito tempo.
― Eu não posso te confirmar nada ― jamais colocaria meus pais em risco.
― Eu sei que não. Sua lealdade era como a minha, e isso é uma das nossas maiores virtudes, por isso você foi silenciado. ― Ele vira o copo colocando-o vazio na mesinha ao seu lado. ― Submeta-se às vontades de seu tio para voltar a elite.
― Não posso. ― Não vou me vender. ― Ele está trazendo a Casamonica para dentro do nosso território.
Com dificuldade, ele se levanta e devagar, caminha até a estante pegando um álbum de fotografias dando-me e mandando eu virar as páginas até parar em uma preta e branca.
― Reconhece? ― a foto era de toda a família do tio-avô Florêncio. ― Acho que é o tio Pietro, não?
A foto ainda era muito antiga e eles eram muito jovens.
― Sim, é ele. O irmão de Andrea que misteriosamente morreu quando estava envolvido até o pescoço com uma organização em Roma.
Não!
― A Casamonica? ― questiono sem acreditar que nunca me disseram isso.
Ele assente. Puta que pariu!
― Não tinha esse nome na época. ― Por isso eu não sabia, muito menos me liguei, deixando passar isso. ― Seu tio foi um grande financiador, e diferente de Andrea, ele era bom. O filho da puta fez a organização crescer rapidamente nos poucos anos que se filiou a ela. Respeitado, ele sonhava em fazer uma coisa única – Casamonica e Cosa Nostra. Só que ele se bateu de frente com Andrea que já tinha seu pai em suas mãos, e o acordo, apesar de não tirar Andrea da jogada, o colocaria abaixo de Pietro. E esse, Andrea não manipularia.
― Você está tentando me dizer que esse desejo ainda perdura hoje? A Casamonica tem um idiota à frente que só pensa em ganhar dinheiro.
― Andrea quer poder. Anseia por mais e mais assim como seu pai. Don Carlo quer dinheiro, não importa como. Mesmo sendo pequena, tem ideia do poder que o Cosa Nostra teria se fundisse em uma só? ― Penso em argumentar quando ele me interrompe. ― Não diga que não precisamos porque precisamos sim, crescer todo o dia mais e mais. Imagina se não tivéssemos a máfia Calabresa nos minando sempre que pode? Se fizéssemos uma coisa única, um poder único, um líder único? Não gosto de comparar, mas sou consciente que somos os fora da lei, e assim como um câncer que começa com uma célula doente, ela cresce tomando tudo ao redor, até que se espalha pelo corpo todo.
Não posso negar que isso é interessante, que ver nossa organização crescer é fascinante.
― Meu pai não estaria a frente, né? ― nega. ― Tio Andrea assumiria uma outra organização sem as regras da nossa que o impede de tomar a dianteira. ― Assente. ― E Don Carlo não faz questão desde que tenha uma posição de destaque e muito dinheiro à sua disposição.
― A união precisa ser um acordo entre ambos, por isso seu pai ainda está a frente da negociação. E quando isso acontecer, ambos precisam abdicar da liderança para que outro surja à frente das duas. ― E nenhum pode morrer para que não seja visto como traição. ― Você abdicaria se estivesse à frente?
― Não.
― Acho que está aí a resposta para o que você veio perguntar. ― Inspiro profundamente fechando o álbum desacreditado que meu tio planejou isso há anos.
― Ele tomou o lugar de Pietro? ― Ele dá de ombros sem saber a resposta. ― Ele faz um jogo duplo? ― Dá de ombros novamente.
― Agora é com você, Matteo. ― E me despede deixando-me atordoado com tanta informação.
Meninas, boa noite
Antes de começarem a imaginar coisas, vou tirar essa dúvida que muitas de vocês têm: o pai de Rebeca é uma figura apagada. Ela não é filha de ninguém importante e eu só citei no começo para que vocês soubessem que ela foi criada sem pai.
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