≋4≋
» Á R I A «
4 de julho de 2005
Como de costume em todas as manhãs, eu caminhei até a casa da Tiffany e a chamei para ir à escola. Para não quebrar a nossa tão célebre rotina, ela novamente estava atrasada. Portanto, decidi esperá-la encostada junto ao portão da sua luxuosa casa, tão diferente da minha que estava prestes a ruir.
Tiffany, assim como todos que me cercavam, tinha uma condição de vida muito diferente da minha. Por ser rica, de pele clara e filha de renomados arquitetos, ela nunca sofreu o mínimo de preconceito que eu enfrentava diariamente por ser bolsista, pobre e filha de uma negra que vivia do subsídio do Governo. No entanto, apesar das nossas inúmeras diferenças, ela se tornara a minha melhor amiga; a única que me enxergava de verdade, sem o peso do status social que pairava como um letreiro luminoso sobre a minha testa.
Há exatos sete anos, tive a sorte de ela ter se tornado minha vizinha. Desde então, sempre que o meu mundo se encontrava prestes a desmoronar, bastava eu atravessar a rua, para que eu pudesse me abrigar em seus braços que sempre me acolhiam, transmitindo a segurança que eu tanto precisava.
— Vamos! — disse, minha amiga, saindo apressada pelo portão.
Durante todo percurso, Tiffany sempre costumava ter algo para falar, seja sobre os garotos que estava a fim, ou até mesmo sobre os seus gentis pais. Naquele dia não foi diferente. Mas, assim que ela terminou de falar sobre o SMS que havia recebido de Maurício — seu ex-ficante — eu assumi o rumo da conversa e simplesmente disparei:
— Sabe aquele menino que você estava conversando ontem, na hora do intervalo, o novo? — indaguei de supetão.
— O Rafa?
— Sim, ele mesmo! — confirmei. — Então, ele vai participar do grupo de estudos, e como você ficou gamadinha nele, pensei que... talvez... quem sabe... você quisesse ir também. — eu revelei, na esperança de que ela finalmente aceitasse o convite. Sempre quis levá-la para estudar, mas toda vez ela rejeitava.
— Sem chance, Ária! Não corro atrás de ninguém e ele não vale tanto assim. Em apenas uma semana, o cara já passou o rodo geral. Perdeu o encanto sabe?! No fim das contas ele é apenas mais um garoto safado que carrega um par de lindos olhos azuis... Já desencanei faz tempo. — garantiu, batendo os ombros nos meus.
Tiffany era a garota mais linda e a mais bem decidida do colégio. Todos queriam fazer parte do seu círculo de amizade e os meninos, obviamente, eram doidos por ela. E não era para menos! A garota era dona de uma linda cascata de cabelos dourados que escorriam graciosamente até a sua cintura fina. Seus belos olhos verdes brilhavam feitos duas esmeraldas. Além disso, Tiffany, no auge da sua adolescência, tinha um lindo corpo curvilíneo que faziam as garotas morrerem de inveja. Muito me admirava o fato dela não ser arrogante, tipo aquelas megeras que vemos nos filmes americanos que maltratam todos ao redor e é puramente egocêntrica. No entanto, ela não era assim. Minha amiga era legal com todos, divertida, gentil e também a pessoa mais altruísta que eu conhecia. E isso a tornava mais bonita do que qualquer outra pessoa do mundo.
— Como você ficou sabendo disso? — ela finalmente perguntou.
Decidi contar sobre a conversa que eu tive com o Rafael no dia anterior, e expliquei a ela que ele gentilmente se disponibilizou a me acompanhar até a minha casa para me ajudar a levar os meus livros.
— Tem certeza que estamos falando do cara? Porque eu já vi como ele trata as meninas... Sempre com indiferença. O Rafael que eu conheço nem se quer sabe os nomes das garotas que beija.
— Tenho certeza de que estamos falando da mesma pessoa. — afirmei com veemência. — Não sei como age com os outros, mas comigo ele foi bem legal. Mas talvez ele só quisesse informações sobre o grupo de estudo. De qualquer forma, não estou aqui para julgar ninguém.
— Calma, Ária. — Tiffany rebateu, chocada. — Não estou acusando o cara. Apenas evidenciei um fato. Só não deixe aquele babaca te enganar. Ele pode até ter um rosto de anjo, mas até mesmo Lúcifer era um anjo da luz, e olha só a merda que ele fez. — Ela soltou uma risada que ecoou pelo ar, fazendo-me rir junto dela.
Nós morávamos bem perto do colégio que estudávamos, portanto não demorou muito para chegarmos até o nosso destino. Assim que passamos a catraca, Tiffany partiu rumo ao banheiro e eu fui direto para sala de aula. Não era do meu feitio me atrasar, por isso eu sempre era uma das primeiras a chegar na sala quase sempre vazia.
➴ ♬ ➶
Naquela manhã, não consegui evitar que meus olhos procurassem por Rafael. Contudo, apesar de meus esforços em encontrá-lo, eu não havia o visto durante o intervalo e continuei a não o ver durante todo o período de aula. No fim, cheguei à conclusão de que ele não tinha ido ao colégio naquele dia.
➴ ♬ ➶
Ao voltar para casa, mais uma vez tive a felicidade de almoçar com a minha mãe. Por sorte eu havia abastecido a geladeira semana anterior, caso contrário à falta de alimentos seria o suficiente para levá-la de volta aos dias ruins.
Após fazermos a nossa refeição, eu a ajudo com a limpeza da casa. Em sua época boa, mamãe adorava manter tudo organizado e limpo. Era como se ela descontasse seus anseios na limpeza, como se pudesse varrer toda a sua dor para fora de casa, embora ambas sabíamos que todo o caos permanecia lá, escondido por entre as paredes daquela casa que carregava tanta tristeza.
Lá pelo meio da tarde, eu deixei a casa avisando minha mãe que voltaria ao colégio para as atividades extraescolares.
➴ ♬ ➶
O grupo de estudos era composto por mim e mais oito pessoas. Geralmente era destinado para aqueles que estavam no último ano, prestes a concluir o Ensino Médio e começar a prestar os vestibulares. Porém, como eu estava adiantada nas matérias, e a professora Márcia que dirigia o grupo, permitia que eu participasse das reuniões. Fazia parte da sua didática, dividir o pessoal em duplas, para realizar exercícios complementares e os demais trabalhos. Contudo, por estar ciente do fato de que eu não interagia muito bem com pessoas, a professora sempre me deixava fazer os trabalhos sozinha e tinha funcionado muito até aquele dia.
Cerca de dez minutos da aula já se passara, e até então o Rafael não havia aparecido. Eu não queria ficar pensando nele, mas meu inconsciente era mais forte.
Enquanto ouvia o "tic tac" do ponteiro indicando o passar dos minutos, eu me sentia cada vez mais aliviada, pois percebia que ele não viria.
"É melhor assim, não preciso de distração nesse momento". Pensei, tentando fazer com que eu acreditasse naquelas palavras.
Quando, enfim, consegui me concentrar na aula, a porta se abriu, revelando, ninguém mais, ninguém menos que o Rafael, em toda a sua exuberância.
— Com licença, professora. Esse é o grupo de estudo?
E foi então toda a minha concentração me traiu, focando inteiramente no som daquela voz rouca.
— Sim, e você deve ser o Rafael, certo?
— Isso aí, desculpa o atraso! — Ele coçou a cabeça, claramente constrangido.
— Não tem problema! Entre e escolha um lugar. — A professora apontou os diversos assentos vazios da sala de aula.
Sem consegui desviar meus olhos dele, observei, atentamente, quando ele iniciou a caminhada em minha direção. Seus olhos estavam fixos mim, enquanto ele esbanjava um leve sorriso torto. A medida em que trocava seus passos, seu olhar não desviou dos meus por nenhum instante. Somente quando ele estava tão próximo da minha carteira, que eu percebi, que tinha a intenção de se sentar ao meu lado... E droga! Foi exatamente o que ele fez. Meu coração disparou em meu peito.
"Fica calma, respira... Não pira!" Comandei, mentalmente, tentando recobrar o controle de minhas ações.
— E aí? — foi tudo o que ele disse para mim.
— Oi. — eu respondi, fracamente, sentindo-me desconfortável com a sua presença.
Por sorte, apesar de todo o meu nervosismo desnecessário, a aula correu em sua habitual normalidade. Naqueles inquietantes minutos, eu percebi que o Rafael era muito inteligente, pois ele respondia quase todas as perguntas que a professora Márcia fazia ao grupo. Confesso que fiquei um pouco enciumada, já que era eu quem costumava responde-las antes de todos, porém, para não ser arrogante com o novato, decidi relevar o fato de que ele tomara o meu lugar no grupo de estudos.
Até ali, tudo estava indo bem. Bem até demais. Todavia, a situação saiu do meu controle, quando a professora decidiu passar um de seus famigerados trabalhos em duplas. Claro que eu pensei que faria sozinha novamente, no entanto, tamanha foi a minha surpresa quando ela revelou, sem qualquer consideração, que Rafael seria a minha dupla. Eu quase caí da cadeira quando ela anunciou aquela fatídica notícia
E foi exatamente assim, contra qualquer objeção, que eu fiquei presa em um trabalho de biologia com Rafael e seus perturbadores olhos azuis.
"Claro, porque não? vamos colocar o garoto novo com a Ária. Ela é ótima em fazer amizades com pessoas! Essa é uma excelente ideia!". Deve ser exatamente isso que a louca da Dona Márcia deve ter pensado!
É óbvio que isso iria dar merda! Alguém tem dúvida disso? Bem... Eu realmente não tinha! A única certeza é que eu estava completando ferrada.
➴ ♬ ➶
Deixei a sala de aula mais rápido que um foguete. Mas, infelizmente, notei que Rafael seguia determinado ao meu encalço.
— E aí? Como vamos fazer esse trabalho? Acho que precisaremos nos encontrar em algum lugar para que possamos desenvolvê-lo. — sugeriu, assim que me alcançou.
Interrompi a minha caminha pelo corredor vazio e silencioso. Ele repetiu meu gesto. Fiquei quieta por alguns segundos, e tentei pensar na melhor estratégia que pudesse fazer com que aquele trabalho fluísse de acordo com meus padrões. Quando finalmente encontrei uma solução, eu declarei:
— Acho que poderíamos dividir em partes, cada um fica responsável por uma determinada tarefa, depois juntamos e eu corrijo se algo estiver errado.
Aquela era uma boa solução. Ótima para falar a verdade. Por isso não compreendi a razão de seu desapontamento. Até mesmo o sorriso havia sumido de seu rosto.
— Você sabe que isso nunca dará certo! Esse trabalho vai virar um Frankstain se fizermos dessa maneira. Tipo... Cada um vai fazer o que acha certo e na hora de juntar, vai ter um monstro com várias partes que não se encaixam corretamente. Vamos tirar uma puta nota baixa e ainda de quebra, não vamos aprender merda nenhuma. — ele contra-argumentou, com determinação.
Devo confessar que ele apresentara um argumento válido. Contudo, eu não queria ficar próximo dele mais do que o necessário, pois ele me deixava totalmente sem jeito.
"Malditos hormônios de adolescentes!"
— Foi a melhor ideia que eu tive... Isso porque eu não tenho tempo para ficar me encontrando com você. Eu tenho dever de casa, reunião de leitura... — comecei citar um monte de tarefas sem fim, na esperança de que ele desistisse daquela história. No entanto, fui abruptamente interrompida no meio da minha fala.
— Então arrume um tempo, porque eu não vou fazer do seu jeito. — Rafael, proferiu, fuzilando-me com aqueles malditos olhos azuis desconcertantes.
— Então eu faço sozinha! E não precisa se preocupar colocarei seu nome no trabalho. — assegurei, bufando, irritada, pondo um fim naquele assunto desgastante.
Mal terminei de falar, notei que ele diminuiu a distância entre nós. Instintivamente, dei um passo para trás, afastando-me de seu alcance. Entretanto, ele continuou caminhando em minha direção, enquanto eu continuei avançando para trás, até que fui barrada pela parede de concreto que se chocou contra as minhas costas.
Rafael encarou-me seriamente e espalmou ambas as mãos na parede, prendendo-me entre seus braços. Eu me encolhi sutilmente, tentando não parecer intimidada, mas ele estava tão perto, que eu era capaz de sentir a fragrância almiscarada do seu perfume, bem como o toque quente de sua respiração em meu rosto. Seus olhos encararam intensamente. Não fazia ideia do que se passava em sua cabeça.
— Dando desculpas assim, até parece que você está com medo de ficar perto de mim por muito tempo. — disse, em tom rouco, bem próximo ao meu rosto.
E foi naquele instante que eu recobrei a coragem e endireitei a minha postura. Jamais iria lhe dar o prazer de achar que ele tinha algum mísero controle sobre mim. Assim sendo, afastei-o, com um leve empurrão em seu peito rígido, deixando claro que ele não me intimidava.
— Eu não tenho medo de você! — afirmei, cheia de convicção, empinado meu nariz.
Já havia passado por coisas muito piores. Não era um jovem branco, metido a besta que ia passar por cima de mim; por cima de quem eu era e de tudo que eu tinha vencido naquela selva de gente rica.
Apesar da minha raiva, ainda fui capaz de perceber que ele sutilmente encolheu os ombros. Sua postura que até então era de um típico predador, se alterou para a de um cara completamente desapontado.
— Se não é medo, então só pode ser repulsa! — dito aquelas palavras que se infiltraram em meu ego, ele simplesmente deu-me as costas e começou a se afastar.
Em completo silêncio, observei Rafael caminhar pelo corredor solitário, levando consigo todo o meu bom humor.
— Faça o trabalho como achar melhor, eu já entendi o recado. — ele disparou, sem sequer olhar para trás.
"Burra, burra, burra... mil vezes burra!" Pensei, percebendo que eu havia sido muito rude.
— ESPERA! — gritei, desesperada, mas ele apenas me ignorou.
Continuei correndo, igual uma gazela desengonçada, e gritei novamente, pedindo que ele me esperasse. Mas fora uma tentativa em vão. Rafael, totalmente furioso, continuou a me ignorar.
Eu precisava chamar a sua atenção, por isso, sem pensar, peguei um livro qualquer na minha bolsa e disparei em sua direção, atingindo em cheio a sua cabeça.
O alvo fora atingido com sucesso! Vibrei internamente quando ele interrompeu a caminhada. Todavia, mal tive tempo de me animar, pois notei — um pouco tarde demais — que Rafael começou a desabar, em câmera lenta, de encontro ao chão.
Aí meu Deus!" Pensei, alarmada ao vê-lo estirado no piso cinza do corredor do colégio.
Desesperada, corri em sua direção. Rafael encontrava-se desmaiado próximo ao livro que eu havia atirado em sua cabeça.
"Que ótimo! Tinha que ter pego justo esse livro de quinhentas páginas e de capa dura?!"
Sem saber ao certo como agir, subi em cima dele e chequei a sua respiração. E Graças a Deus! Ele estava respirando. Movida pelo impulso, sacudi-o várias vezes, chamando o seu nome, mas nada... Percorri meu olhar ao redor, tentando pedir ajuda, mas naquele horário o colégio estava completamente vazio.
Então pensei nas poucas coisas que eu sabia sobre primeiros socorros. Inutilmente, apenas a respiração boca a boca veio à minha mente...
"As pessoas usam esse procedimento para reanimar, não é? Não custa nada tentar!" Esse foi o meu racíonio, antes levar meus lábios até a sua boca.
Desesperada, comecei a massagear seu peito, enquanto soprava ar para dentro de seus pulmões. Repeti aquela ação umas três vezes. Foi exatamente na quarta tentativa, que eu senti uma língua invadir minha boca, na medida em que mãos grandes seguraram os meus quadris com determinação.
Fiquei, em estado de choque. Meus pensamentos começaram a correr rápidos de mais. E só então caiu a ficha... Rafael não só tinha acordado, como também estava tentando me beijar. Sai apressada de cima dele que começou a rir. O babaca literalmente estava rindo e eu tive vontade de desmaiá-lo novamente.
Era incrível como ele tinha a habilidade de me fazer ir de tremendamente a assusta, para perigosamente furiosa, em fração de segundos.
— Você estava fingindo o desmaio? — perguntei, sentido o meu rosto arder de raiva.
Rafael continuou a gargalhar, mas quando percebeu que eu estava realmente com raiva, o riso sessou.
— Claro que não! Você me desmaiou mesmo! — respondeu, levantando-se, enquanto passava a mão no local onde eu o atingira com o livro.
— Não foi o que pareceu! — argumentei, pegando o meu livro do chão para guardá-lo de volta em minha bolsa.
— Que porra de ideia foi essa de me acertar com esse tijolo? — ele praticamente gritou, tirando o livro da minha mão, analisando sua espessura.
Quase quis me desculpar, mas não o fiz. Ele tinha merecido levar aquela porrada. O babaca havia me agarrado!
— Você estava me ignorando, eu precisava te parar, então peguei a primeira coisa na minha mochila e te acertei! —expliquei, com tranquilidade.
— Ah!... Daí você teve a grande ideia de me acertar com esse livro de meio quilo, há uma distância de quase três metros! Parabéns, gênia! — ironizou, batendo palmas.
— É, foi isso mesmo! — rebati, pegando meu livro de volta, guardando-o na bolsa.
Furiosa, deixei-o plantado no meio do corredor, e sai daquele maldito colégio e todos os problemas que nele existiam.
— E não se esqueça da parte que você se aproveitou na situação e me agarrou! — gritei, sem olhar para trás.
Já havia alcançado a calçada, quando senti suas mãos puxarem meu braço, fazendo com que meu corpo voltasse em sua direção.
— Escuta aqui, princesa...
— Princesa é o caramba! — interrompi sua fala, puxando abruptamente meu braço das suas mãos.
— Ah! Perdão... Falha minha! Você não é princesa, está mais para bruta! — ironizou, novamente, com aquele sorriso sarcástico em seus lábios.
Abri a minha boca para debater, mas fui rudemente interrompida.
— Primeiro, foi você quem me desmaiou. Segundo, eu acordei e me deparei com você em cima de mim, com a boca colada na minha, o que você esperava que eu pensasse?
— Eu estava fazendo respiração boca a boca em você, idiota!
— Bem, então você precisa rever seus conhecimentos de primeiros socorros, porque eu tenho certeza que respiração boca a boca é usada em casos de afogamentos!
— Aí cara! Eu sei disso, mas eu estava desesperada... Quer saber, esquece! Você está bem agora. Tchau. —Afastei- me, colocando um fim naquela conversa. Já estava mais do que há tempo de eu voltar para casa.
Mas, obviamente, Rafael não desistiria tão fácil. Pouco tempo depois, ouvi ele correr para me alcançar.
— Está bem, me desculpa por aproveitar da situação! — disse, erguendo as mãos em sinal de rendição.
Olhei-o de soslaio e continuei a ignorá-lo.
— Agora é sua vez de me pedir desculpas por ter me acertado com o livro.
— Não vou fazer isso. — declarei obstinada, sem lhe lançar qualquer olhar.
— Então... Vamos nos encontrar amanhã para começarmos o trabalho? —insistiu novamente.
Eu sabia que não conseguiria me livrar dele, por isso eu apenas indaguei:
— Se eu disser que sim, você me deixa em paz?
— Sim! Com toda certeza. —respondeu, cruzando os dedos indicadores e os beijando em sinal de promessa.
— Então sim! Agora pare de me seguir. Amanhã nos falamos para decidir como e onde nos encontraremos. Já tive o suficiente de você por hoje!
Pegando-me completamente de surpresa, Rafael se inclinou e plantou um beijo rápido na minha bochecha.
Meu coração disparou em meu peito, porém fui capaz de me controlar, o que já era um avanço e tanto em comparação ao dia anterior.
— Até amanhã, Brutinha!
— Não me chame assim! — Eu o repreendi. Porém, o insuportável apenas sorriu e finalmente partiu para longe de mim.
Eu sabia que nada de bom sairia daquela ideia de trabalho em dupla da Dona Márcia. No entanto, não havia outra alternativa a não ser tentar fazer com que aquilo funcionasse. Talvez tudo poderia acabar bem. Talvez desse certo afinal.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro