14
Olivia
Meus pais estão lá fora, cuidando das plantas, enquanto eu estou sentada na sala, resolvendo algumas coisas pelo o computador. Mesmo eu dizendo que estou 100% bem, eles não saem de perto de mim. Eu não falo nada, e nem pergunto sobre ele. Não sei se ele foi embora, como eu mesmo pedi, eu nem sai de casa para evitar perguntas de outras pessoas sobre o meu sumiço, mas no fundo eu sei que estou fazendo isso, para evitar de encontra-ló.
- É a primeira vez que a gente vê nossa filha apaixonada. Durante esses 25 anos, nada disso aconteceu. - Escuto a voz da minha mãe vindo de lá de fora.
Sei que não deveria espionar a conversa deles, mas é meio impossível, quando os dois falam alto demais. Fecho o notebook, o deixando de lado no sofá. E me levanto indo até a porta de correr que leva até o jardim
- Ela está assim porque aquele garoto mentiu para ela!
- Ele desde o começo quis falar para ela, mas eu que insisti para que ele não contasse nada a ela.
Pera aí? Alex falou que ele é quem pediu que os meus pais não dissessem nada, mentiroso, ele mentiu outra vez.
Abro a porta e saio para fora, chamando a atenção dos dois.
- Mãe... Alex disse que ele é quem pediu para que não contasse nada para mim. É verdade ou não?
- Na verdade, fui eu filha - ela levanta da cadeira e caminha até a mim. - Eu disse que seria uma oportunidade de vocês dois recomeçarem. Dez anos atrás, quando os pais dele o levaram embora. A gente viu como você ficou.
- Mas eu não merecia a verdade?
- Claro que sim, a gente só esperou as coisas melhorarem um pouco. E como vimos, que você não lembrava de nada, não achamos o por que de te contar. - responde minha mãe, e olho para o meu pai que assente.
- Nos perdoe por não ter dito antes. Sua mãe e eu sentimos muito.
Eu poderia brigar com eles, gritar, fazer uma confusão, mas do que adianta se eu não vou lembrar nada mesmo.
- Não tudo bem, o que aconteceu aconteceu, já sei de tudo e isso é o que importa. - sorri sem graça. - Eu vou entrar, desculpa ter me intrometido na conversa de vocês.
- Não tem problema. - diz ela esboçando um leve sorriso, e eu os deixo a sós voltando para dentro, e fechando a porta.
Do que eu realmente tenho raiva? Do fato de ele mentir para mim, ou de mim mesma não conseguir lembrar disso. Por que eu não consigo lembrar? Sei que Alex mentiu para mim, mas ele me disse tudo depois, minha mãe e meu pai também sabiam, mas eu não os odeio e nem tenho raiva, eu poderia estar odiando o Alex, se ele tivesse simplesmente enganado todo esse tempo, e nunca pensado em me contar. Mas ainda doi, e para piorar, ele disse que me amava, agora não sei se isso é só mais uma das mentiras dele.
Eu estou tão cansada, e fui tão dura com ele. Não quiz falar com ele depois, e ainda por cima o mandei embora.. burra.
Eu tenho que parar de pensar nisso, eu estou certa de ter falado tudo aquilo pra ele. Quem eu estou querendo enganar, o que eu estou pensando não soa nem um pouco convincente para mim.
Batidas na porta me tiram dos meus pensamentos. E eu ando até ela, a abrindo.
- Oi, como está? - pergunta Vi, e eu dou espaço para que ela passe.
- Oi, estou bem e você?
- Bem também. Os seus pais estão ai?
- Estão lá fora. Mesmo eu insistindo que não é necessário eles ficarem, eles insistem. Mas e você, não deveria estar trabalhando?
- Sim, mas a minha mãe deu umas horinhas para eu poder vir aqui te ver.
- Sabe que não precisa, não quero ver você sendo prejudicada por conta de mim. - Sento no sofá, e sinalizo para que ela fizesse o mesmo.
- Você é minha melhor amiga, e não é isso que elas fazem, ficam do lado uma da outra quando mais precisam?
Vitória é certamente, minha unica amiga, mas não deixa de ser a melhor amiga que eu poderia ter.
- Além do que, minha mãe não pode me demitir. Benefícios de trabalhar nos negócios da família. - ela sorri.
- Só não abuse demais da paciencia dos seus pais.
- Eu sei, eles estão fazendo tudo para me mimar, antes de eu ir para a faculdade. Acho que eles pensam que assim eu posso mudar de ideia - rimos. - Sei que eles querem sim que eu vá, e torceram tanto para que eu conseguisse, mas entendo como eles vão sentir saudades de mim.
- Todos nós vamos sentir, e qualquer momento, sei que poderemos visitar você.
- E serão sempre bem vindos. Agora, eu vim aqui, não foi para falar de mim, eu vim falar de você.
- Estava tão boa nossa conversa, esses ultimos dias a gente só vem falando de mim.
- E sobre o que você quer falar? - fico em silêncio com a sua pergunta.
Olho para as minhas mãos, sem a encarar nos olhos.
- O Alex, você viu ele?
Não queria saber dele, de verdade, mas quando fui ver eu já tinha perguntado. Coração traidor.
- Eu vi ele ontem - fala apenas isso e a olho esperando mais. - Tem certeza que quer falar sobre isso?
Balanço a cabeça que sim, eu preciso desabafar com alguém sobre tudo.
- Eu não sei o que faço. Por um momento penso em falar com ele, mas em outro não. Não sei se consigo encarar ele nos olhos. Eu não estou com raiva, nem nada. Não mais pelo menos, é o que eu acho. Mas não sei se consigo olhar na cara dele depois que ele me disse. Ainda mais depois de ter dito que me ama... - sinto meus olhos transbordarem de água. - Eu ferrei com tudo de verdade.
Ela se levanta do sofá sentando ao meu lado.
- Você não ferrou nada...
- Como não? Ele disse que me amava, e eu disse que nunca iria me apaixonar por ele, e que eu o odiava, e preferia que eu nunca o tivesse conhecido. Eu o chamei de mentiroso! - as lágrimas que eu disse que nunca iria derramar sobre isso novamente, escorre pelo meu rosto. - Eu falei que não o conhecia, o que agora parece tão engraçado, por que eu não estou me reconhecendo. E eu sou uma mentirosa, eu não paro de mentir para mim mesma, e eu menti para ele.
Vi passa as mãos sobre o meu rosto secando as minhas lágrimas.
- O que eu posso fazer Vi?
- Agora tudo depende de você, e o que você deseja, o que seu coração quer. Sei que foram dez anos, dez anos em que ele só apareceu agora. Acho que agora é o melhor momento de vocês conversarem, de cabeça limpa e calmos, e ele poder explicar tudo, e depois disso você pode tomar uma decisão sobre ele.
Ela afasta as mãos do meu rosto, e eu suspiro. Eu realmente preciso conversar com ele, preciso tirar essa história a limpo.
Mas será que ele vai querer falar comigo, depois de tudo o que eu disse?
- Eu vou indo embora, já deu o tempo que minha mão me deu. Eu só te peço que você pense bem no que vai fazer, antes que ele vá embora - diz se levantando e eu faço o mesmo.
- Você sabe quando ele vai embora?
- Pelo o que o João disse, amanhã ele não vai estar mais aqui. Agora se cuida, qualquer coisa me manda mensagem.
- Tá bom.
A levo até a porta, e nos despedimos. Meus pais estão lá fora indo, e aproveito esse tempo sozinha para pensar, mesmo que esse tempo todo eu só venha fazendo isso. Por mais que não tivesse muito que pensar, meu coração já tinha decidido antes de mim.
°
Acabei dormindo por alguns minutos, mesmo sem ter sido a minha intenção, e acordei no sofá com a minha mãe chamando para almoçar. Sentei na mesa, e me servi enquanto os dois conversavam, ambos já acostumados com o meu silêncio durante a refeição, e hoje não foi diferente. Após terminarmos, limpei a cozinha, guardando tudo em seu devido lugar, e lavando os pratos. Era justo, já que eles tinham feito o almoço sozinhos.
Aproveitei o momento em que os dois estavam distraídos assistindo no sofá, para eu poder sair. Abro a porta da sala, conferindo uma última vez se estou com o meu celular, e o papel que eu escrevi para o Alex.
Isso me traz lembranças de quando eu fazia o mesmo quando mais nova, saia às escondidas para poder ir atrás de manga.
- Para onde você está indo? - meu pai me pergunta e eu me viro.
Pelo visto não estou tão sorrateira quando mais nova.
- Vou tomar um pouco de ar, e já volto. Não se preocupem comigo - sorri tentando passar que tudo estava bem.
- Não liga para o que o seu pai disse, pode ir e não se preocupe.
Assinto e saio fechando a porta atrás de mim.
O horário do almoço da pousada já passou, não acho que tenha chance de encontrá-lo no caminho. Mas se encontrar tudo bem. Ao chegar em frente a porta do seu quarto, senti meu coração acelerado. Escuto barulhos vindo do outro lado, o que significa que ele pode estar lá. Levo a mão até a porta, mas desisto de bater. Pego o papel que eu escrevi, pedindo para que ele me encontrasse na torre e o dobro, passando por debaixo da porta, e bato em seguida, não espero ele sair. Saio correndo em direção às escadas, sem olhar para trás.
"Alex, preciso falar com você uma ultima vez. Me encontre na torre as 15h, caso não queira falar comigo, entenderei.
- Olivia."
Sei que dei bastante tempo para ele me encontrar, mas quis dar um tempo para ele pensar. E no caso ele não estivesse no quarto como eu realmente tinha pensado. Mas desde que eu sai da pousada, vim direto para torre, preferindo curtir esse momento.
Esperei por cerca de 30 minutos após o horário combinado, e já estava me sentindo uma idiota. Tinha magoado os sentimentos dele, não sabia se ele dessa vez queria conversar de verdade, mas eu tinha uma pequena esperança de que ele viesse. Os 30 minutos, viraram 1h, depois 1h30. E foi aí que eu me cansei, e fui embora me sentindo mal.
Isso foi uma péssima ideia.
- Tá tudo bem Olivia? - pergunta João ao me ver.
- Não, eu pedi para que o Alex fosse me ver uma última vez, e ele não apareceu - desabafo, e me apoio no balcão. - Ele já foi embora?
- Não, não foi embora. Eu vi ele saindo daqui, já faz algumas horas, e estranho que ele saiu dizendo que iria te encontrar. E ele mesmo assim não apareceu?
Estranho.
- Eu esperei, mas ele não chegou, eu nem vi ele no caminho. Acho que você se enganou.
- Ele saiu daqui, ele estava confiante em que vocês iriam se resolver, eu estava confiante, a Vitoria estava confiante!
- Como assim?
- Eu e a Vitória, ajudamos ele a se resolver com você. Não queremos fazer as coisas pela suas costas, mas a gente ama você, e nos importamos. O Alex, disse com todas as palavras e letras, que iria encontrar você... - ele é interrompido pela chegada da Vitória.
- E ai tudo certo? - diz animada, com um sorriso no rosto, que logo se desfaz a ver a minha cara. - Ele não deu para trás né?
- Eu acabei de dizer para a Olivia, que ele estava confiante, e foi atrás dela.
- Mas eu esperei, e ele não chegou! - digo impaciente. - E vocês dois em!
- Foi mal, não queríamos fazer nada por trás de você. Apenas nos importamos. E se quiser ficar brava com a gente fique depois, precisamos encontrar o Alex primeiro.
Eu deveria ficar brava com eles, mas fazer isso no momento não é o melhor, como a Vi disse.
- João ele disse outra coisa além do que contou? - pergunto.
- Ele disse que ia pegar umas flores, e ainda falei que as mais bonitas que tem, é perto daquele rochedo que dá para o mar. Eu explique para ele onde ficava, e ele disse que sabia onde era.
- Isso é minha culpa, eu pedi para ele caprichar, quando você resolvesse encontrar com ele - lamenta Vitória. - E se ele se perdeu?
Somo dois mais dois, e sinto meu coração bater mais rápido. Mil e umas opções do que poderia ter acontecido, correu pela minha cabeça. Me viro deixando os dois para trás, e corro em direção ao rochedo.
- Olívia! O que você está fazendo? Volta aqui! - grita ela vindo atrás de mim.
- Eu preciso encontrar ele! - grito de volta, sem olhar para trás.
Não vou desistir até encontrar ele, eu preciso.
Ele queria me ver.
Ele não me deixou plantada lá de propósito.
- Mas está escurecendo! - João fala vindo atrás.
Paro por um segundo, para que eles me alcançassem. Pego o meu celular no meu bolso, e fico aliviada por ele não estar descarregado. Ligo a lanterna dele, e os dois fazem a mesma coisa.
- Vocês sabem o caminho? Não quero que se percam também - eles assentem.
- Enquanto vocês duas vão procurar, eu vou voltar lá e avisar, é melhor do que só a gente procurar - diz João e concordamos.
Por favor, que esteja bem Alex. Eu não vou me perdoar se algo de ruim acontecer com ele...
- Então nós duas vamos nos dividir, quem o achar primeiro, grita - aviso.
Cada uma vai para um lado, e eu continuo andando em frente.
- Alex!
Grito mas recebo de volta o silêncio da noite. Eu não vou embora, enquanto não o achar. Continuo a andar, chamando o seu nome.
- Olivia, acho que eu o encontrei! - grita ela, e eu corro na direção da sua voz.
Chegando no rochedo, vejo só ela, e não vejo sinal dele. Sempre achei aqui tão lindo, tantas plantas exóticas plantadas perto do mar, tão tentador e perigoso. Um passo em falso e você caiu do penhasco.
- Onde ele tá? - pergunto recuperando o fôlego.
Ela olha para mim e em seguida, lá para o baixo.
Não
Não
Ele não tá lá embaixo.
Me aproximo da beirada, e ela me segura. Não dá para enxergar muito bem pois já está quase tudo escuro. Olho lá para baixo, vendo as ondas do mar fortes batendo nas rochas, e eu o vejo, sim eu o vejo, e sinto meu coração despedaçar.
É tudo culpa minha
- Alex! - me ajoelho tentando enxergar melhor, e ela me segura ainda mais. - A gente tem que fazer alguma coisa, eu tenho que descer lá...
- Não, nós não podemos descer lá, é perigoso.
- Ele pode estar machucado!
Ou pior, mas eu não quero pensar nisso, não quero pensar que ele pode estar morto.
- Vamos, precisamos pedir ajuda - ela me puxa para me levantar, mas a impeço.
- Não, eu vou ficar aqui. E você vai pedir ajuda junto com João.
- Não, eu não posso te deixar aqui sozinha...
- Eu vou ficar aqui, e vou esperar. - me levanto. - Ele precisa de ajuda agora!
Ela me olha uma última vez, um pouco incerta, e em seguida corre para dentro das árvores, em direção a pousada. Deixo meu celular no chão, e seco uma lágrima que escorreu pelo o meu rosto, e em seguida me viro para o mar. Ando uns passos para trás e em seguida corro pulando em direção a água, para ele.
Me desculpe Vi.
A queda é rápida e ainda bem que não cai nas pedras. Meu corpo afunda na água fria, e fico submersa nela. As ondas agitadas, e a maré alta me alerta que eu tenho que ser rápida. Vejo o corpo do Alex que está entre algumas rochas, que impedem que as ondas o tivessem o levado para longe. Nado até ele, verificando a sua pulsação que está fraca, mas está vivo.
- Alex - chamo sem respostas, há um corte na sua testa, que não parece tão grave, mas está gelado - Não, você está bem. Vai ficar bem. Vou tirar você daqui.
Passo o braço, dele por cima dos meus ombros, e o seguro pela cintura o puxando. Ao conseguir tirar ele de perto das rochas, o abraço enquanto tento nadar, ele é pesado para mim, então nado devagar, mas consigo, eu não vou desistir. As ondas batem em nós dois, tentando nos levar embora. Nado contra, a impedindo, e olho em direção a areia que está a alguns metros da gente.
Falta só alguns metros...
Estico a minha perna, e a forte dor da câimbra irradia da minha perna esquerda. Aperto os meus dentes uns no outro impedindo que eu gritasse. Eu não consigo nadar, doi demais. Eu nem sei como estou conseguindo nadar segurando ele.
Você precisa Olivia, você tem que levar...
Uma onda mais forte nos empurra, e eu me seguro mais no Alex sem ter o que fazer. A onda nos leva até uma rocha, e eu recebo todo o impacto, batendo minha cabeça. Sinto a dor latejante e vejo estrelas.
- Não...
Me afogo, sentindo a água salgada entrando pela minha boca, e tento manter a calma. Me seguro na rocha com força, sem soltar Alex. Cada segundo a mais aqui, é menos um segundo para ele. Tudo doi, meus braços estão cansados, eu estou cansada. Meu corpo está pedindo para parar.
Antes que outra onda venha, com dor ou sem dor, nado o mais rápido que eu consigo até a areia, ainda o segurando. Faltando menos de alguns metros, deixo que a onda nos ajude, a chegar até a areia. Me levanto mancando, e puxo Alex pela alça da camiseta, para fora da água. Coloco minha mão sobre o seu pulso, e não sinto sua pulsação, e levo minha mão abaixo do seu nariz e ele não está respirando, e me desespero.
- Você não vai morrer, não vai mesmo.
Preciso fazer a RCP, nessas horas me sinto mais calma por lembrar do treinamento de primeiros socorros, que fiz. Eu posso fazer isso, preciso salvar o Alex. Coloco minhas mãos uma sobre a outra no centro do peito dele, e começo as compressões firmes e rápidas como eu lembrava. Depois de algumas compressões, paro e inclino a cabeça dele para trás, levantando o seu queixo, e tapando o seu nariz, começo a respiração boca a boca, me afasto quando ele vomita água e viro o seu corpo o ajudando. Respiro aliviada ao ver ele respirando e de sentir sua pulsação.
Cadê todo mundo?
Olho ao redor procurando sinal de alguém e nada. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, deixando minha vista embaçada. Viro o seu corpo deitando suas costas na areia, ele não acordou, mas só de ele estar vivo me deixa um pouco mais calma. Deito sobre o seu peito sentindo seus batimentos, e seguro a sua mão, a abrindo colocando sobre a minha, sinto algo debaixo da minha palma, e a levanto, vendo uma flor amassada e molhada em sua mão.
Ele disse que iria colher flores para você....
- Ah Alex...
Coloco meus braços ao seu redor, e fecho os olhos sentindo o cansaço chegar.
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