09
Alex
Sabe aquele momento que você se sente deprimido, pensando em todas as coisas que você fez até aqui, sente vergonha alheia das coisas que fez no passado, ou pensa em como a vida seria agora se tivesse tomado decisões diferentes? É o que eu estou fazendo nesse extao momento. E para que tudo ficasse ainda melhor, resolvi atender a ligação da minha mãe.
— Eu ainda não sei por que esse suspense todo de onde você está, quase estou mandando um detetive te procurar. Não está sendo mantido preso está?
— Não, eu não estou, se tivesse, duvido que me deixasse falar com você.
— É, isso é verdade.
Mesmo que estejamos falando por ligação, consigo ver que ela está feliz por eu ter ligado. Depois da ligação que tivemos dias atrás, não quero a deixar magoada, por que sabe bem como são as mães, se sentem ofendidas por qualquer coisa que os filhos falam ou façam.
— Eu estou com saudade da sua comida.
Faz tanto tempo que eu estou sem cozinhar, que até eu sinto falta.
— Pode deixar que quando eu chegar, irei fazer seu prato favorito.
— Vou te lembrar, eu não vou esquecer. E quando você voltar para casa,o seu pai e eu… estamos esperando você.
Fico quieto por um momento, desde a nossa outra conversa, pensei melhor sobre como agir com isso, e parar de parecer uma criança.
— Você não vai o perdoar algum dia? — o tom de felicidade sumiu, substituindo por um tom chateado.
Perdoar, escutei tantas vezes e há tanto tempo, que eu estou de saco cheio. As pessoa dizem que devemos perdoar as pessoas além de tudo, ficar com ódio no coração é a pior coisa. Mas é melhor não perdoar e manter distância, do que não perdoar completamente e viver com ódio da pessoa, mesmo fingindo estar tudo bem.
Fingir, quem sou eu para dizer isso tudo também, quando eu ainda estou mentindo para Liv.
— Um dia mãe, não sei ainda. Mas quero que saiba que eu vou ficar feliz se você ficar feliz, o que precisar pode contar comigo. Olha mãe, eu tenho que desligar.
— Tá mas… tá bom Alex, tchau, se cuida e não esqueça de me manter atualizada de onde está, e se alimente bem!
— Ok, se cuida você também.
Desligo a chamada, e procuro o número do Miguel, ligando para ele.
— Funerária, bom dia, sua morte nossa alegria. — diz animado do outro lado, não sei de onde ele tira essas piadas.
— Por um momento eu pensei que era uma funeraria mesmo,mas lembrei que eu tenho um amigo que costuma ser idiota mesmo.
Já perdi a quantidade de veze de piadas como essa, ele dizia para quem ligasse como um número que ele não sabia quem era. Até que um dia um dos fornecedores ligou para o número pessoal dele e ele disse isso, e então as piadas acabaram, a não ser que ela tenha realmente certeza de quem está ligando para ele.
— Nossa, obrigada pela parte que me toca. Sabia que era você, só queria que você risse, mas pelo visto não adiantou. Por que está amargurado?
— Não estou amargurado!
— Sua voz diz tudo, você é como um livro aberto para mim esqueceu?
— Ata, vou fingir que eu acredito.
— Não vai me dizer, o que está acontecendo?
Não precisava ele nem perguntar, já sabe que eu vou contar tudo mesmo.
— Eu te contei como semana passada foi, de como tem sido desde queu eu cheguei, e de como ela amou o teatro…
— Ah, é sobre ela que você está assim?
— Não, eu acabei de falar com a minha mãe, e depois pensei bem em tudo o que está acontecendo, e que estou feliz se ela estiver feliz. Mas não fiquei amargurado por isso, é que lembrei sobre a minha situação com a Liv, de toda a mentira.
— Agora entendi, tem que dar tempo ao tempo, mas é melhor nesse momento que fique feliz por sua mãe, de um voto de confiança para a relação dela, no momento ela só quer ter seu apoio. Mas falando sobre a Liv, eu entendi e sei da forma que você está cada dia mais caidinho por ela. Tá parecendo da época da faculdade, de quando você ficava bêbado, e me dizia cada coisa.
— Não me lembre dessas coisas. E voltando ao assunto, é que eu não quero mais continuar mentindo para ela. Já se passaram dias, e isso está me matando. Eu não sei como ela vai reagir.
— Deixa eu ver se entendi. Você realmente quer contar tudo para ela?
— Sim, ainda hoje. Eu tomei essa decisão, estou prolongando a mentira por tempo demais.
— E aquilo que a mãe dela disse? De não contar nada por enquanto por causa da perda de mémoria?
— Eu sinto muito tanto para Liv ou a mãe dela, mas eu tenho que pensar em mim, em algo que esteja rolando entre nós. Se for para realmente ser uma segunda chance, que seja com ela sabendo a verdade, eu fui um covarde de mentir por muito tempo, preciso contar isso para ela, antes de me consuma.
Me levanto da minha cama, indo até a janela. Lá embaixo consigo ver Liv carregando um balde até o outro lado da pousada.
— E se ela não quiser te ver mais? Está preparado?
— Eu aceitarei, pelo menos estarei com um peso a menos nas costas, e se precisar, eu irei embora. Além de que, não posso deixar você ai trabalhando sozinho.
— Eu estou conseguindo lidar com tudo aqui, não precisa se preocupar. Se tirasse um ano sabatico, eu estaria de boa.
— Eu já disse que as vezes parece que você quer me ver longe.
— Que isso, é só impressão sua. Olha, o que eu disse nestante, eu estou sendo pessimista, para deixar bem claro se você quer realmente tomar essa decisão. Estou te apoiando nisso, não acho que ninguém queira ser enganado, principalmente uma mulher. Mas estou torcendo para que de tudo certo. Depois você me diz o que aconteceu, boa sorte irmão.
Desligo a chamada, colocando o celular no meu bolso, e saio do quarto indo atrás dela. Encontro ela em cima da escada limpando uma das janelas do segundo andar, a escada era alta, algo que eu certamente não subiria, mas é bem a cara dela subir sem medo, já que a conheci em cima de uma arvore de manga.
— Você tem bastante coragem para subir nessa escada. — ela olha para baixo e sorri ao me ver.
— Alguém tem que fazer esse trabalho, é melhor eu subir do que qualquer outra pessoa subir ou acabar caindo.
— Entendi, tem planos para hoje?
— Além de limpar essas janelas? Só trabalho atrás de trabalho. E você?
— Nada, estou até péssimo de vir falar com você, sendo alguém que não vai fazer nada o dia inteiro, enquanto você está trabalhando.
— Tudo bem, você é um hóspede e está aqui de férias, não tem o que pensar sobre trabalho. Mas… eu estva pensando se você quer assistir um filme hoje a noite. Estava com saúdades desse tempo entre a gente.
Sorri, mas por dentro estava me sentindo horrível. Hoje talvez seja a última vez em que vamos nos falar.
— Pode ser, já tenho alguns filmes legais que a gente pode assistir.
— Por favor, que seja um interessante que não me faça ficar entediada!
— Vou colocar um de terror então. — a provoco, não colocaria algo que sei que não gosta.
— Ai você quer que eu não assista, isso sim.
— Ok, tudo bem. E eu não vou escolher um de terror. Não quer ajuda?
— Ñão, não precisa.
— Eu insisto, não aceito não como resposta.
— Ok, você podera pegar para mim um balde com pano, eu o esqueci na recepção, eu acho.
Dou meia volta seguindo pelo o caminho que eu vim indo até a recepção, encontrando o balde que ela esqueceu. Um barulho alto no lado de fora chama a minha atenção, e saio para fora vendo a escada no chão, no começo pensei que depois de descer a escada caiu, mas ao não ver nenhum sinal da Liv em pé me assustou. Pensamentos ruins do que pode ter acontecido tomam conta da minha mente, largo o balde no chão e corro na direção dela, enquanto mentalmente repetia para que nada de grava tivesse acontecido.
Ao me aproximar, a vejo embaixo da escada, enquanto tentava tirar a escada de cima dela. Puxo a escada para cima do corpo dela, jogando a de lado.
— Você está bem? Eu ouvi o barulho. — procuro algum ferimento ou machucado, mas não encontro.
Ela leva a mão até a cabeça e fecha os olhos de dor.
— Estou um pouco dolorida agora, mas estou bem. — estendo a minha mão a ajudando a levantar. — Nem foi uma queda tão alta assim.
Ela sorri tentando amenizar a situação, mas vejo suas feições de dor em alguns momentos.
— Você caiu da escada, e eu pensei que a escada caiu em cima de você, isso é pior do que imaginava. Você bateu a cabeça no chão!
Respira Alex, respeita.
— Não foi nada demais, essas coisas acontecem. Eu só preciso de um remedio para dor e estarei novinha em folha.
Liv passa por mim, mas não a deixo andar muito.
— O que você está fazendo! — fala surpresa quando a pego no colo.
— Vou levar você no hospital.
— Não precisa, eu estou bem. Alex me coloca no chão!
— Não.
— Alex!
Ignoro o pedido, e caminho com ela na direção do estacionamento. Ao passar em frente a recepção, João vem na nossa direção.
— O que está acontecendo? — pergunta preocupado. — Está machucada Olivia?
— Eu estou bem… — a interrompo.
— Ela caiu de cima da escada — sinalizei com a cabeça o de estava antes —, vou a levar no médico. Você poderia pegar as chaves do meu carro no meu quarto? — ele assente correndo para dentro.
— Você é teimoso Alex! — ela acerta um tapa em meu peito. Ela está realmente brava comigo.
Mas o que eu poderia fazer? Preciso ter certeza de que ela está bem.
— Você da escada, de uma altura de mais de um metro. Eu não sou teimoso de ter que te levar até o hospital.
Logo João volta com a mãe dele junto com ele, que pelo visto ela já sabe o que aconteceu. Liv insistiu que ela estava bem e não precisava se preocupar, e que eu estava sendo exagerado, já Maria concordou comigo em levar ela até o hospital.
— Não conte para os meus pais. — Liv pede para a senhora, assim que entramos no carro.
— Ok, mas mantenha contato comigo.
°
Ao chegar no hospital, vimos um médico e explicamos a situação. Liv dizia que estava bem, mas disse ao médico sobre ela estar sentindo dor e ter batido a cabeça. Depois de alguns exames, constou que não havia nenhum ferimento grave, ou algo para se preocupar. Apenas uma contusão leve que iria sarar logo, e receitou alguns remédios para dor
— Eu não disse para você que estava bem? — pergunta cruzando os braços brava após o médico sair da sala.
— Precisava ter certeza que estava bem.
Ela suspira.
— Me desculpe, você ficou preocupado. Não é a minha intenção te deixar assim, isso é que nem naquela vez da perna.
— Não precisa pedir desculpas, acho que acabei passando do limite de preocupação. Mas precisava ter certeza de que você estaria bem.
— Já podemos sair daqui?
— Sim. Eu vou lá fora pegar seus remédios, e uma água para viagem, você quer alguma coisa? — não, ela nega com a cabeça e eu saio do quarto a deixando sozinha.
Depois de passar na farmácia e comprar os remédios, que foi até rápido, volto para o hospital indo até a cantina. E Pelo visto todo mundo resolveu comprar algo, e a fila estava grande, mas resolvo esperar. Após comprar água, que demorou alguns minutos, escuto uma voz familiar me chamar e me viro a vendo no fim da fila.
— Alex! — Camile acena chamando a minha atenção, e eu caminho até ela.
Ela era amiga minha e do Miguel na faculdade, já fazia um bom tempo que nós não nos víamos.
— Oi, a quanto tempo — a cumprimento.
— Sim. Depois que acabou a faculdade, esqueceu dos amigos?
— Que isso, estive ocupado.
— É, eu sei. Dono de um restaurante agora, o que traz aqui? Espero que não tenha acontecido nada de ruim com alguém da sua família.
— Na verdade, eu e Miguel somos donos do Jardim de Sabores, nada muito grande. — ela ri.
— Está querendo ser humilde né? Eu vi as noticias.
— E eu vim trazer uma amiga minha, mas já estamos indo embora. E você se mudou para cá?
— É, sabe como é, médico já ganha pouco, enfermeira mais pouco ainda. Aqui foi onde o valor era um pouco mais valorizado, e você sabe como eu sou.
— Onde tiver o emprego que você goste, e o salário for bom, não importa o lugar você está lá. — falo lembrando do que ela repetia na época da faculdade.
— Sabe, poderíamos marcar algo de novo. Relembrar nossa época da faculdade.
— Ahm. Pode ser, a gente mantém contato.
— Então até mais — ela sorri e me despeço.
Ando em direção ao quarto da Liv, mas não precisei andar muito, já que ela está a me esperando a alguns metros da cantina.
— Podemos ir embora agora? — pergunta séria.
— Ok. — a alguns minutos atrás ela estava de boa, e agora ela está assim.
No caminho para a pousada, percebo que ela está quieta, mais do que no caminho de volta. Ligo o som deixando tocar uma música, para ver se ela diz alguma coisa.
— Está brava comigo? — pergunto a alguns segundos depois não aguentando esperar mais.
— Não
— Irritada?
— Não.
Ela não pode responder coisas sem ser só não?
— Então porque não tá falando comigo?
— Não é nada, só quero chegar em casa logo.
Olho para a estrada vazia, sem nenhum carro próximo. E encosto o carro no acostamento.
— Não é isso não, o que foi que eu fiz, ou não fiz? Nós não vamos sair daqui enquanto você dizer o que é.
— Você demorou muito, fui ver o porquê e você estava conversando com aquela mulher, enquanto eu estava te esperando. — diz dando ênfase no aquela. — Se a sua intenção era vê lá, não precisava ter me trazido ao hospital.
Senti vontade de rir, agora entendo o que está acontecendo, e não me segurei. Isso que a deixou irritada?
— Eu não acredito que você está com ciúmes!
— Claro que não. — diz rapidamente e vejo suas bochechas corarem. — Podemos ir embora?
— Claro você quem manda. Mas não precisava ficar com ciúmes. Eu não sabia que a Camile estava no hospital, ela só é uma velha amiga da época da faculdade. Eu nem sabia que ela estava nessa cidade. Demorei porque a fila estava enorme, eu a vi depois de comprar a água.
Ela não diz nada, mas vejo relaxar um pouco. Saio do acostamento, e continuo o nosso caminho. Então quer dizer que Liv sentiu ciúmes, mas agora porquê? Foi um simples ciúmes de amizade, ou foi por outra coisa?
E se ela realmente estiver gostando de mim?
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