Eu sabia que a confusão no Salgueiro causaria mais desdobramentos além dos que já havia presenciado.
Sendo o pior deles na minha opinião, o sermão do tio Albert.
E, antes que qualquer acusação seja feita, juro que não tinha a intenção de ouvir a conversa dele com seus filhos. Simplesmente aconteceu.
Estava passando sem grandes pretensões pela ala oeste do castelo, onde fica o gabinete do rei, quando ouvi vozes alteradas do outro lado das portas muito bem fechadas do escritório.
Não havia guardas e nem mesmo o Sr.Enoc para me dar uma bronca ou fazer cara feia; e é muito difícil deixar de escutar uma conversa depois de começar.
— Você tinha um único objetivo que era ficar de olho no seu irmão! Os deixei algumas horas sem os guardas e o Jackson volta com o olho inchado?
Ouvi tantas vezes esse tom de voz do Albert que é muito estranho ouvi-lo utilizar com alguém que não seja eu.
— Não foi exatamente... — Thomas tenta explicar sem muita vontade, mas não finaliza, pois Albert continua:
— Disseram e me garantiram que cuidariam um do outro!
— Pai, não... — Jack o interrompe. — A culpa foi minha. Eu que acabei provocando o Carson.
Mentira, Jackson. Não foi o que a diretora Piper contou, não foi o que você me contou. Por quê está mentindo para salvar a fuça do seu irmão, quando claramente a presença dele em Verena não está fazendo o mesmo por você?
— Você o quê? — Albert ralha. — Isso não parece coisa do seu feitio.
Não é. Ele está mentindo.
— É porque não é! — Thomas é rápido em desmentir. — Ele não...
— Thomas, posso lidar com isso. Sério! — Jack não o deixa terminar.
— Agradeço o que está tentado fazer, mas não vai fazer diferença para ele.— Agora sim o príncipe das trevas parece querer participar dessa conversa. — Albert, o Carson quem deu o primeiro soco e só bateu nele porque o confundiu comigo.
Ele chamou o pai dele pelo nome? É, parece que alguém aqui tem problemas com o papai.
— Pai, não dê ouvidos a ele! Thomas está tentando assumir um erro que não é dele!
Jack, seu grande imbecil. O erro é dele!
— Chega! — Albert esbraveja. — Aonde vocês dois estão com a cabeça? Não podem se comportar como jovens imprudentes! Já não basta tudo o que estamos tendo que enfrentar? — Ele pausa para respirar fundo.
Não posso vê-lo, mas na minha mente, consigo imaginar o tio Albert recostar sobre a sua poltrona de couro e esconder o rosto com as mãos, antes de fechar os olhos por alguns segundos, e abri-los em seguida.
— Escutem... — Ele prossegue. — Nesse fim de semana seremos os anfitriões do jantar com os membros da corte de Rovena e Analea por causa do Dracma. E, para o bem de todos espero que saibam se portar como governantes.
É bisonho a capacidade de um arrepio correr pela minha espinha toda vez que alguém fala sobre esse campeonato.
— Jackson, será que consegue se controlar e manter o seu punho longe do rosto dos outros?
— Sim, senhor.
— E, Thomas, por Deus, poderia conter qualquer comentário que venha acompanhado de sarcasmo, ofensas a realeza ou piadas inapropriadas fora de hora?
Isso eu pagaria para ver.
— Não vou abrir a minha boca. — Thomas garante e eu duvido.
Tenho pensado muito sobre o que realmente pode estar acontecendo. Criei incontáveis teorias a respeito, que vão desde Thomas ter resolvido se mudar para a corte de Verena para ser informante do rei Aldrich e fazer lavagem cerebral na cabeça do Jack — o que pode estar funcionando de acordo com os últimos diálogos que presenciei entre eles — até mesmo estarmos vivendo na matrix.
— Ótimo. — Albert diz pouco tempo depois. — Isso é tudo.
Um silêncio se instala de repente. Um, dois, três segundos... Agora, ouço passos, alguns deles. Cacete. Cacete. Eles estão saindo!
O corredor é imenso, consigo sair a tempo, sem ser vista? Devo me esconder atrás de um dos vasos com as plantas enormes? Dentro de alguma das salas? Ou atrás de alguma cortina?
Corro um pouco pelo corredor para me distanciar o bastante do escritório do rei, paro no meio do percurso, giro sobre os calcanhares e torno a andar de maneira tranquila, como se fosse a primeira vez que piso nesse carpete avermelhado no dia de hoje.
Tecnicamente, não preciso fingir que não estava bisbilhotando, mas ninguém precisa saber. Especialmente o irmão do Jack.
Esse vai ser um segredinho que eu pretendo guardar com as pinturas dos tataravós do Tio Albert, penduradas por essas paredes. Eles estão me julgando. Tenho certeza. São olhares julgadores.
— Você tinha que abrir a boca, não é? Eu estava dando conta! — Escuto a voz de um dos gêmeos. Deve ser o Jack, parece com ele falando.
— Não tem que dar uma de herói e assumir a culpa para melhorar a minha imagem com ele! — Esse é o Thomas, tenho certeza. — Precisa parar de bancar o mediador.
Finjo mexer no celular, como se digitasse alguma mensagem para alguém. O que me faz lembrar que a Harper me mandou uma mensagem há alguns minutos e eu realmente podia estar respondendo a garota.
— E vocês dois precisam se entender. E... — Jack para de falar assim que me vê. — Isla? — Ele sorri enquanto me aproximo e Thomas une as sobrancelhas e parando ao lado dele.
— Ah, oi. — Engulo em seco.
— O quê está fazendo aqui? — Jack pergunta olhando em volta.
— Eu? Só passando. — Digo soltando todo o ar dos meus pulmões e posso ver o Thomas sorrir.
— Parece agitada. — Thomas comenta em meio ao sorriso crescente. — Está tudo bem?
— Sim, claro. E... Como vai o olho? — Pergunto ao Jack, buscando mudar de assunto. — Sem visões duplas e sem dor?
— É, eu estou bem. — Jack assente. — Aliás, eu recebi hoje uma intimação oficial da governanta do palácio...— Enfia a mão no bolso das calças para tirar uma folha de papel. — E, a intimação solicita que eu me mude de quarto.
Não imaginava que a governanta entregaria a intimação para ele hoje. Não saiu como eu planejava. Até porque não previ que ele receberia um soco no Salgueiro e nem que tocaria nesse assunto na frente do irmão que eu também não poderia prever a existência até algumas semanas atrás.
— Ah... Isso... — Coço a garganta. — Pois bem, é isso aí.
Meus olhos percorrem o papel dobrado em suas mãos, o rosto e os olhos azuis do garoto.
— Certo... E, eu posso saber o motivo?
Não quero falar sobre isso, nem agora e nem em momento nenhum. Mas especialmente agora, na frente do irmão dele e do lado do escritório do tio Albert.
— Não é óbvio? — Questiono colocando minhas mãos para trás e entrelaçando os meus dedos.
— É algum incômodo estar no dormitório ao lado do meu?
— Viu? — Rio de nervoso. — Óbvio.
Eu quero morrer.
— É, o inferno existe. — Thomas resmunga para si mesmo, e alto o bastante para conseguirmos ouvir.
— O quê disse? — Inquiro, cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas.
O assisto coçar o queixo, recuando em alguns passos.
— Que vou deixar vocês conversarem. Eu não preciso ver isso. — Finge sorrir . — Se me derem licença...
E é uma questão de segundos até ele se afastar por completo.
Devolvo a minha atenção para o príncipe Jackson, direcionando com as mãos para uma das salas de estar, na intenção de termos um pouco mais de privacidade.
— Is, sabe que não precisa fazer nada disso. — Ele diz assim que passamos pela porta.
Paro próxima a uma lareira dourada. Sem lenha e sem fogo algum. Nem sei se é de verdade.
— Jack, escuta... Estou tentando exercer mais a minha empatia, não sabia que o comunicado chegaria nas suas mãos hoje... E não era a minha intenção depois do dia você teve. — Aponto para o rosto dele. — Então, vou dizer muito tranquilamente e amigavelmente que se você não mudar de quarto, eu vou!
— Eu realmente adoraria entender o que se passa nessa sua cabecinha. — Ele ri. — Não consigo enxergar problemas nisso.
Eu vejo inúmeros. Milhares. Incontáveis.
— Eu estou tentando não misturar as coisas e para mim é desconfortável estar no quarto ao lado do seu. — Estou tentando ser sincera sem passar dos limites, como a Harper aconselhou. — Já temos que lidar com muita pressão midiática e agora o Dracma.
— Certo, mas não deve me afastar só porque está com medo!
— Eu não estou com medo! — Torço o meu nariz. A palavra é "pavor".
— Não?
— Não! Só acho que não vai funcionar. Você já teve uma pequena amostra do que eu sou. Não precisa ficar perto de mim e tentar essa coisa entre a gente só porque fomos intitulados noivos.
— Is... — Ele para de falar e suspira antes de continuar — Acha que ainda insisto nessas longas conversas com você somente por causa do compromisso?
— É não é? Por isso entrou no Salgueiro. Você mesmo admitiu.
— É eu entrei no Salgueiro para poder conhecer você, mas sobretudo para você ter a oportunidade de me conhecer sem tudo isso. Sem todas as reverências, formalidades e sem a coroa! — Ele dá dois passos na minha direção — Eu sou o mesmo garoto que você derramou aquela vitamina, o mesmo garoto que você beijou no aniversário da Harper!
Engulo em seco ao me lembrar.
— Você diz isso, mas não sinto que não era de verdade. Nenhuma dessas coisas — rebato umedecendo os meus lábios e tentando parar de girar os anéis dos meus dedos — Já disse isso é vou dizer de novo: Conheci o Jack e não o príncipe Jackson, filho do Albert. Você se aproximou de mim com a intenção de me analisar e me conhecer. Eu não tive os mesmos direitos e nem avisos prévios. Eu estava conhecendo um estranho... E... Não era pra fugir disso, e acabou saindo completamente do controle.
Jack eleva as duas mãos ao seu rosto e as deixa escorregar por ele. Eu o convenci? Sinto que sim.
— Por quê não começamos de novo? Do zero? — propôs tranquilamente.
Pisco múltiplas vezes. Do que ele está falando?
— E, como isso seria possível? Tem alguma máquina do tempo?
— Não... Mas tenho força de vontade. E graças a você estou ficando bom em insistir. — Diz e eu franzo as sobrancelhas. — Podemos ir com calma, sem a pressão da mídia ou do campeonato Dracma.
Jack se aproxima de mim ainda mais, mas eu paraliso; ter ele tão perto outra vez faz meu coração saltitar dentro do peito.
O assisto segurar a minha mão direita e a erguer-la para depositar um beijo leve e rápido.
— Senhorita Grant, príncipe Jackson, ao seu dispor — Ele fala com os olhos nos meus — É um prazer conhecê-la.
Não tenho certeza de onde estamos. Sinto que estou dando passos no escuro sempre que tentamos discutir nosso relacionamento. Não sei se devo encerrar isso de uma vez por todas, ou simplesmente concordar em começar de novo.
De qualquer forma, não preciso decidir nesse instante, não é? Só que, e se eu quiser?
— Boa noite, alteza. — Puxo a minha mão, mas por algum motivo, e provavelmente pelo motivo mais idiota de todos, estou sorrindo.
Tinha um riacho cintilante perto de mim.
A água limpa e serena fluía sobre as pedrinhas brilhantes espalhadas pela margem, e ainda assim não deixava de exibir o meu reflexo. Eu tinha sete anos.
— Rosana! Harry! Corram aqui! Precisam ver isso! — Gritei.
Tinha perdido a Rosana e o Harry de vista há pouco tempo, por mais rápidos que eles fossem, podia ser muito difícil ficar com os olhos grudados em várias crianças ao mesmo tempo.
— Maya! Megan! — Chamei as raposas. — Dá pra ver um arco-íris!
Cada pedrinha que eu colocava nas mãos refletia o brilho mágico dos raios do sol daquela tarde. Só que, tudo pareceu ficar escuro de repente, quando homem que eu ainda não conhecia surgiu na margem do riacho.
— Olá?— O cumprimentei.
Seus olhos escuros estavam fixos em mim, ao mesmo tempo em que seu peito subia e descia várias e várias vezes.
— O senhor está bem?
O homem não respondeu, apenas disparou na minha direção em passos largos e me segurou pelos ombros.
Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti meu corpo ser forçado contra aquelas pedras brilhantes que eu admirava.
O choque com as rochas e a água fria entrando no meu nariz irradiavam uma dor intensa pelo meu corpo. Eu não tive como pegar fôlego, não tinha como de debater, nem me defender.
Foram uma. Duas. Três pancadas... O que eu havia feito de errado? Por que aquele homem estava fazendo aquilo comigo?
Eu queria lutar, gritar e escapar, mas não podia. Não sentia mais os meus braços ou as minhas pernas. Acho que não havia mais dor depois de um tempo. É assim como os humanos sentem a morte? Ela pode ser indolor?
Gritos angustiantes começaram a reverberar ao meu redor, no mais puro desespero pungente e incontido.
Estavam gritando o meu nome. "Isla! Por favor, acorda!".
— Isla?!
De algum modo, consigo empurrar com força quem está me segurando.
— Isla! Sou eu!
Abro os olhos e então consigo ver que é o Jack. Cama. Quarto. Janelas. Arabescos.
Estou no palácio. Foi um pesadelo. Foi um pesadelo. Foi um pesadelo?
Meu coração está batendo mil vezes de uma vez. E dói. Está batendo tão rápido que dói. Respira, Isla. Respira.
— Calma... — Jack ergue as mãos e tenta se aproximar lentamente. Ele está me olhando como se eu fosse maluca. — Foi só um sonho ruim.
Recolho o meu corpo para o outro lado da cama, enquanto abraço as minhas pernas. Dói meu peito. Dói a minha cabeça, nuca, costas e pernas.
Sons de passos na minha direção me fazem olhar para a entrada do meu quarto onde já estão alguns guardas, Cecília e a vovó Ophelia que entra correndo.
— Cecília, precisamos de uma xícara de chá e da Lady Rosana. Pode chamá-la, por favor?
— Sim, senhora.
Vovó sussurra algo para Jack, ele parece estar muito confuso, mas assente devagar e se afasta aos poucos.
— Querida... — Vovó se senta na beirada da cama, e coloca as suas mãos na minha testa. — Meu Deus, você está ardendo em febre... Constance, traga toalhas úmidas! — Ela grita para a serviçal.
De onde estou consigo ver as gêmeas falando com o Fred, e o Harry cochichando algo para o Jack. É nesse minuto em que também posso observar Thomas aparecer na porta do quarto.
Acho que acordei o castelo inteiro.
Iiiiiiiiiiiiiiiii.
Oi, meu chuchuzinho da tasmânia.
Sei que o capítulo está menor que a nossa vontade de trabalhar em plena segunda-feira, mas em minha defesa, estou tendo crises horrendas de enxaqueca.
Não gosto desse capitulo como está, mas preciso dar as caras, não é mesmo? Se não eu não termino isso aqui nunquinha.
Mas me digam, o que acharam desse capitulo?
Da bronca do Tio Albert?
Isla está ficando boa em bisbilhotar?
O que acharam de Isla e Jack?
E desse pesadelo da Isla? Alguma teoria?
Ela é doida?
Vejo vocês na quinta, prometo, ta bom?
Beijos e queijos.
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