Capítulo 9
A bebida deixa um gosto ocre da minha boca, e, me lembra das refeições puladas por mim, péssima ideia, mas, agora não vejo sentido em me lamentar, ao menos não no momento.
Ouço os sons de gemido, mais graves e mais altos a cada milésimo de segundo. Pigarreio na intenção de que percebam que têm companhia, mas eles sequer notam, ou, não se importam o suficiente para me dar a devida atenção.
Meus olhos permanecem fixos na parede ao meu lado, infelizmente não consigo impedir meus ouvidos de escutar o som cadenciado que vem da cama.
— Vejo que não possui nenhum amor a própria vida, príncipe Conrad. Qual a próxima lei punível com pena de morte que cogita quebrar? Assassinato, talvez? Agora que já pode sinalizar “trair sua noiva”, como feito na sua listinha de comportamentos depravados, imagino que não demore até o próximo delito acontecer. — Digo quando não consigo mais conter minha língua.
Apesar de não ver o que acontece, pois continuo com meus olhos voltados para a parede, consigo imaginar cada movimento pelos sons que vão deixando de existir. Quase posso ouvir o constrangimento que se instala naquele quarto.
— Você está noivo? — Uma das garotas questiona.
— Você é a droga de um príncipe? — Pergunta a outra quase em simultâneo.
— Obrigado por isso, Maxence. — Dessa vez é a voz de Conrad que fala, soando terrivelmente mordaz.
— Não há de que. — Respondo com o mesmo tom. Dois podem jogar esse jogo. — Mande-as para fora.
— Que tal se ao invés disso eu continuar de onde parei e você dar o fora daqui? Não tem nada melhor para fazer principezinho? Um livro para ler ou outra pessoa para chatear?
— Meninas, saiam por favor. — Digo calmamente, ignorando o comentário irônico de Conrad.
— Quem você acha que é para mandar alguém embora daqui? Elas vão embora quando EU decidir que vão. — Conrad fala com um tom mais alto, agressivo.
— Sou porra do futuro rei desse país e com a autoridade que possuo, estou ordenando que vocês duas saiam. — Falo usando um tom imperioso, que raramente uso.
— Sim, sua alteza. — As garotas respondem em uníssono e se apressam em sair do quarto com uma reverência, ainda vestidas apenas parcialmente.
— Vocês não precisam ir, ele nem é rei ainda… A gente estava se divertindo… — O príncipe ruivo tenta argumentar.
As garotas sequer respondem antes de fechar a porta atrás delas.
— O quê você pensa que está fazendo? — Conrad grita para mim.
— Não. O que você pensa que está fazendo? — Grito de volta. — Desde que chegou você só sabe se comportar como uma criança se metendo em confusão. Se a guarda real te pega aqui, na cama com outras mulheres, traindo minha irmã e a rainha, você está morto. Não parece se importar com isso, então pelo menos pense em sua irmã. Por um acaso você sabia que Amery pretendia vir sozinha atrás de você? Portando uma faca que duvido que sequer saiba usar muito bem. Sabe tudo o que poderia ter acontecido? Entende a gravidade dos seus atos? Pode parar de ser um egoísta de merda e pensar além do teu umbigo por um minuto? Porra.
Passo as mãos pelo cabelo, a bebida com certeza me deu uma onda a mais de coragem para falar dessa forma. Os olhos de Conrad estão arregalados, não o culpo.
— Quem é você para vir me dar uma lição de moral? A droga de um covarde, que age como de fosse algo superior, quando é tão problemático quanto eu. Ninguém gosta realmente de você, gosta? Percebi que você não tem amigos, isso se deve a sua personalidade incrível? Talvez isso se de graças a sua arrogância inigualável ou será que é apenas porque você é incrivelmente chato?
— É por isso que está na droga do meu pé desde que chegou aqui? Por que sou chato e arrogante?
— Eu estava te fazendo a porcaria de um favor. Seu ingrato de merda.
— O único favor que quero que faça para mim é ir embora desse lugar horroroso, e que nunca mais volte para que eu não tenha que sair da minha casa para vir atrás de você, como a droga de um príncipe encantado.
— Não venha atrás de mim, então, não estou pedindo para ser minha babá. Não preciso de você aqui me atrapalhando a viver minha vida da forma que eu quero. Sou isso aqui Maxence, esse sou eu e sinto muito que te desagrade, mas não mudarei quem sou devido a um garotinho que não consegue ser sincero nem comigo e muito menos com si próprio.
— Ótimo. Viva sua vida de merda enquanto pode então. Pelo menos até a rainha descobrir que a sua alteza está dormindo com metade do reino ao invés de respeitar a filha dela. Não sei como as coisas eram em Gilliam, Conrad, mas, ninguém aqui passará a mão em sua cabeça por ser um Príncipe não. — Digo e me viro para sair, me esforçando ao máximo para manter o equilíbrio e não despencar ao chão como manga madura.
Entretanto, claro que falho miseravelmente em meu objetivo e não somente faço uma bela cena indo ao chão de forma patética como tenho a proeza de torcer o pé, o que me faz dar um grito doloroso.
— Merda. — Reclamo consternado enquanto tento me levantar, meu pé parece queimar conforme tento apoiá-lo novamente no piso de linóleo, e meu equilíbrio já precário me faz ir ao chão novamente.
— Espere aí, vou ajudar você. — Conrad suspira e começa a se aproximar de mim.
— Nem mesmo pondere encostar suas mãos sujas em mim, príncipe. Sei muito bem onde estavam seus dedos ainda há pouco.
— Prefere se arrastar até o castelo? Ótimo, vou me divertir quando te vir chegar, na próxima semana.
— Você é uma praguinha insuportável. Maldito seja o dia que minha mãe ofereceu a mão da minha irmã para um… Alguém como você.
— Um, o que Maxence? Diga as palavras. Pensei que finalmente estávamos sendo sinceros aqui. — Ele responde, a essa altura já está em pé a minha frente, a mão estendida na minha direção, seu peito ainda sem camisa brilha de suor, a calça ainda nem sequer está com a braguilha fechada.
— Um libertino, cínico e desavergonhado. — Digo e estendo minha mão para pegar na dele.
O príncipe me puxa para ele, e eu quase perco novamente o equilíbrio conforme tento me levantar usando de apoio apenas uma das pernas e o braço de Conrad. Desta vez, no entanto, quando meu equilíbrio se esvai, dou de encontro com o corpo forte de Conrad ao invés do chão duro. Meus olhos e os seus se encontram, seu braço envolve minha cintura visando não me deixar cair, meu coração parece que a qualquer minuto sairá pela boca. Não consigo dizer sequer uma palavra.
— Vou te levar até a cama. — Ele diz segurando mais forte em mim.
— Me larga, seu excelentíssimo idiota. Não quero ir para sua cama. Quero ir embora. — Tento me debater conforme falo, mas a dor me atrapalha.
— Acaso já te disseram que tens uma boca muito suja para um futuro rei? Se acalme donzela. Vou apenas te deixar sentado na cama enquanto termino de me vestir, não quero ir preso, ou morto, como um certo príncipe insiste em me lembrar.
Não respondo à provocação dele, fico sentado na cama, tentando evitar olhar para o príncipe enquanto ele se veste e tentando mais ainda evitar minha própria mente que insiste em me recordar o tipo de coisas que aconteciam no móvel no qual estou sentado.
Logo que Conrad termina de se vestir, ele me ajuda a sair daquele lugar. Meu braço apoiado em seu ombro contrapõe com o equilíbrio que eu precisava. Ainda é uma cena estapafúrdia, claro, mas ao menos não estou me arrastando até o castelo como ele ousou indicar que seria.
— Volte mais vezes, príncipe Maxence. — O homem de antes grita por detrás do balcão, eu apenas aceno com a mão em resposta.
Subir no cavalo foi a tarefa mais árdua que eu poderia imaginar, mas, depois de muita luta, finalmente consigo me pôr em cima do animal. Conrad sobe sem dificuldade no próprio cavalo, e trotamos até o castelo.
Não sei dizer se esta foi uma decisão muito esperta. Minha cabeça dava voltas e mais voltas conforme o cavalo se movia, meu estômago parecia trotar com o animal. Quando chegamos, eu nem mesmo conseguia descer da montaria. Estava enjoado, dolorido e confuso, feria meu orgulho precisar de ajuda para coisas tão básicas do meu dia a dia, me jurei que nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca.
Eu deveria imaginar que era uma promessa em vão, ainda mais quando aqueles olhos verdes tão penetrantes me diziam tão claramente, que os problemas estavam apenas começando.
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