Capítulo 7
Eu irrompo pelas portas duplas do castelo. Não é a minha primeira vez tendo que salvar a pele de minha irmã. Eu acreditava que com seu noivo no castelo ela diminuiria um pouco sua postura irresponsável, e suas "saidinhas" ocasionais, todos estamos fazendo concessões afinal, mas, pelo visto estou errado.
Emma não é a boa moça que aparenta a todos, com todo aquele negócio de "amo flores" e o ar de "sou uma princesa recatada". Não é à toa que minha mãe aceitou tão fácil uma oferta desesperada de casamento como esta.
Conrad pode não saber, mas é a salvação de minha mãe, um príncipe, de um lugar com o qual ela tem certa afinidade. Não importa se ele será ou não um bom marido, minha mãe se importa muito mais com o reino que com essas coisas.
Eu sei o que você pode estar pensando, mas, não sou o filho ingrato que não vê tudo o que minha mãe fez por mim.
Todos passamos por muita coisa depois da morte do rei, sei como foi duro para minha mãe se tornar rainha, ainda que o povo não veja problemas no fato dela ser mulher, como acontece em alguns lugares. Talvez, eu esteja passando por tudo com muita pressa, talvez você precise de um pouco de contexto para entender como tudo aconteceu, e eu pretendo, sim, te contar, caro amigo leitor, só vos peço um pouco de paciência, e, que acredite em mim quando digo que minha mãe não é uma boa mãe, afinal, sou eu que convivo com ela a vida toda, não você.
Sigo apressado até os estábulos, onde o cocheiro já me espera com meu cavalo a postos. Após algumas reverências e muitos "minha alteza" estou galopando em direção ao vilarejo de onde já tirei minha irmã algumas tantas vezes.
Conforme adentro no vilarejo, os olhares me seguem, vejo algumas pessoas um pouco mais discretas cochichando baixinho, enquanto outras apontam e falam alto sem o mínimo de pudor.
As pessoas não gostam de mim, não me acham preocupado o suficiente com o reino, não me acham "humano" o bastante. Sou uma eterna lembrança a eles, de que não sou tão bom com as pessoas quanto minha mãe, nem firme e forte como meu pai e ainda assim, um dia serei o rei deles.
Eu paro em frente a casa, não é minha primeira vez ali. O casebre feito de madeira continua com a mesma aparência precária das últimas vezes em que estive ali, e eu, continuo achando injusto como alguns têm tanto e outro tem tão pouco.
A senhora sentada em frente da casa, afiando um pedaço de madeira, me observa de forma matreira enquanto eu desço do cavalo. Até mesmo ele parece deslocado naquele lugar.
— O que é que "cê" quer? — A mulher pergunta.
— Eu vim buscar minha irmã.
— Num tem ninguém em casa, não. — Ela diz e eu vejo um sorriso petulante se formar em seu rosto.
— Ela está noiva sabia? O príncipe com quem ela vai se casar está no castelo. A senhora sabe o que ele poderia fazer com seu filho?
— Acha que eu sou burra? — Ela pergunta e estreita os olhos, apontando a faca que usava em minha direção. Antes que eu possa responder, no entanto, ela volta sua atenção para a porta. — O príncipe veio buscar a moça.
E logo meus olhos e os de Frederico Bronson se cruzam. A expressão fechada do jovem caçador de olhos puxados faz um arrepio subir pela minha espinha, sua pele levemente queimada de sol está levemente suada, seus lábios apertados em uma linha fina, ele parece querer comprar briga, mas, nós dois sabemos que isso não vale a pena, eu não valho a pena.
— Sua irmã não está aqui, alteza. — Sinto a raiva por mim brilhar nos seus olhos.
— Precisamos mesmo passar por isso todas às vezes? Você sabe que ela vai se casar não sabe? Sabe que o príncipe está no castelo não sabe? Sabe qual a punição por deflorar a princesa, que está prometida a outro?
— Não me tome por burro príncipe, não é porque passa seus dias debruçado em livros que pode agir como se fosse melhor do que eu. Ela. Não. Está. Aqui.
— Se eu precisar ir embora, eu volto com a guarda real. Você quer que eles vasculhem sua casa até por fim achar ela enfiada em sua cama? Quem vai trazer dinheiro para sua casa, para sua mãe se você morrer? Não pense que sou idiota, não pense que eu não entendo o que acontece aqui.
— Você entende alteza? Entende como é viver com migalhas? Entende como é precisar arriscar a vida para por comida na mesa? Qual foi a última vez que precisou trabalhar? Qual foi a última vez que se deu ao trabalho de vir até a vila com alguma intenção que não seja egoísta?
— Não vou ficar aqui ouvindo você me insultar.
— Então vá embora e volte com a guarda.
Ele diz e dá uma cuspida no chão à sua frente, conforme eu subo no cavalo ele e sua mãe trocam olhares. Não é a primeira vez que tudo isso se desenrola, é quase uma dança, ele diz que ela não está, eu ameaço ir embora chamar a guarda, então ele magicamente se lembra de que minha irmã realmente está ali.
Eu tenho muita, muita sorte por ele nunca tentar ir além. Por ele nunca pagar para ver e descobrir que eu jamais chamaria a guarda realmente.
Eu amo minha irmã, apesar de todos os problemas que ela causa na minha vida, e eu sei que ela ama o senhor Frederico Bronson. Eu nunca machucaria ninguém que é tão importante para ela. Num mundo ideal, eu amaria poder vê-la se casar com ele. Eu casaria com quantas Amerys fossem necessárias se isso garantisse a felicidade dela.
— Eu vou chamar a princesa Emma. — Ele diz depois de um tempo, como o esperado, apenas aceno a cabeça em concordância.
Alguns minutos se passam até que ela saia, seu vestido quase fica preso na porta estreita e eu vejo o rosto de Frederico corar de vergonha da situação.
— Vamos, suba.
— Não posso montar a cavalo Maxence. Eu estou de vestido. Imagine o escândalo que seria se as pessoas me vissem assim.
— Não pensou no escândalo quando se embrenhou nos lençóis daquele homem.
— Você está sendo injusto. — Ela grita.
— E você está sendo irracional e egoísta. — Grito de volta.
— Olhe o jeito com que fala comigo.
— Eu falo como quiser quando preciso vir até aqui, passar pelo constrangimento de te resgatar de você mesma. Se você realmente amasse esse sujeito, teria a decência de pensar na vida dele, no fato de que se alguém te descobre no quarto dele ele pode ser morto. Você não se preocupa com isso, só quer satisfazer seus desejos sem ter a menor empatia e sem pensar no mal que pode causar as pessoas.
— Quem é você para falar alguma coisa sobre satisfazer vontades, quando estava com meu noivo... — Ela não termina de falar, mas, deixa implícito o que quer dizer, ela sabe dos rumores e acha que estou próximo de Conrad porque me deitei com ele, claro que ela não vê que sou apenas uma peça no tabuleiro de xadrez da nossa mãe.
— Da próxima vez, eu falarei para a guarda vir no meu lugar. — Eu falo, blefando completamente.
— Ótimo, Maxence, ótimo. Você será um ótimo rei. Cada dia que passa está mais parecido com a mamãe. — Ela para de falar no momento em que a fala sai pela boca dela, sabe que foi longe demais, mas, não me importo.
— Suba no cavalo. — Eu digo baixo.
Dessa vez ela não questiona, apenas sobe de lado no cavalo. Faço o caminho mais demorado, visando evitar o máximo de pessoas possível. Não quero que ela vire boato por aí, já basta me olharem torto, não quero o mesmo para ela.
Eu galopo até chegar ao castelo, não trocamos sequer uma palavra no caminho.
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