Capitulo 19
As horas seguintes se arrastaram como se estivessem diluídas em um eterno sofrimento. Em um momento eu estava nos braços de Conrad, beijando seus lábios intensamente, mas no momento seguinte, estava encurvado sobre minhas próprias pernas, esvaziando meu estômago em convulsões dolorosas.
Aquela noite não foi um conto de fadas, longe disso. Foi uma batalha interna, uma luta contra meus próprios demônios. E, ao contrário das poesias românticas que prometem auroras felizes, as alegrias não vieram com a manhã. Ao raiar do dia meu corpo continuava igualmente dolorido e maltratado. Eu precisava de mais ópio para me livrar disso, simultaneamente, precisava me afastar daquela substância a todo custo.
Não sei se você pode compreender quão difícil foi esse momento, lutar uma batalha tão grande contra si. A ânsia de que tudo isso desaparecesse era esmagadora. Não foi romântico, apesar da entrega dos meus sentimentos a Conrad. Eu ainda estava confuso, perdido, e cada parte do meu corpo clamava por alívio.
Não preguei os olhos a noite toda. O tormento do vício que assombrava minha mente e corroía minha sanidade. Cada vez que fechava os olhos, via a sombra do ópio chamando por mim, oferecendo alívio imediato para minhas dores, mas afundando-me ainda mais em um abismo obscuro.
Conrad a meu lado. Ele tentava acalmar meu tormento, acariciando minhas costas nos momentos mais dolorosos, forçando-me a beber água para hidratar meu corpo debilitado.
O sino da manhã ressoou pela sétima vez, e com ele veio a consciência de que eu não poderia fugir do castelo para sempre. A realidade me espreitava, e suas garras afiadas eram impossíveis de ignorar.
— Preciso voltar, antes que mandem uma equipe de busca atrás de mim — murmurei, sentindo a urgência da situação.
Conrad me lançou um olhar apreensivo, sua preocupação acentuando as olheiras que marcavam sua face após uma noite mal dormida.
— Maxence, ainda vai demorar alguns dias até que esses sintomas passem. As pessoas vão notar.
— Vou dizer que estou doente. — Minha resposta é quase instantânea.
— As pessoas vão comentar. Não querem um rei frágil. Você tem estado doente com frequência nos últimos tempos.
— Duvido que alguém se importe o suficiente comigo para ligar. Não importa o que digam, o futuro já está traçado. E as decisões não estão nas mãos do povo.
Conrad soltou um suspiro pesado e seus olhos buscaram os meus.
— Você é ingênuo, Maxence. Em poucos dias aqui, já temo conhecer você melhor do que você mesmo. As pessoas não te odeiam, elas apenas não te conhecem. Muitas jamais viram o rosto do príncipe. Você precisa mudar isso, fazer algo pelo povo, fazer seu nome ser não apenas conhecido, mas respeitado e lembrado.
Olho para Conrad e noto o brilho nos seus olhos, algo que nunca notei antes. Ele parece animado e verdadeiramente empolgado em falar sobre isso, algo então vem em minha mente.
— Você… Gostaria de ser rei — deixei escapar, não como uma pergunta, mas como uma constatação.
— Eu seria executado se alguém soubesse que sequer concordei com a sua pergunta, Maxence.
— O que quer dizer?
Conrad suspirou e passou a mão pelos cabelos ruivos, um gesto que revelava sua agitação interior.
— Meu pai. Já não anda com a saúde como deveria, meu irmão, ainda não tem um herdeiro apesar dos anos de casado. Diferente daqui Maxence, Gilliam não aceita mulheres no reinado, sendo assim…
— Então, se algo acontecesse com seu irmão… você seria o próximo na linha de sucessão.
— Você entende que até mesmo falar sobre isso é traição? Meu irmão sempre foi obcecado com a coroa. Toda a vida dele, todos os seus sonhos se resumem a governar. Se ele suspeitasse que desejo o trono, ele faria de tudo para me manter longe.
— E você quer a posição dele?
— Nunca pensei seriamente sobre isso. Gosto de estar entre as pessoas, Maxence, de ajudá-las. Todos em Gilliam me conhecem, mesmo quando causo problemas. Eles me veem como um deles, alguém que pode estar ao lado do povo, não apenas olhando de cima, como…
— Minha mãe e seu irmão. É por isso que você… Faz as coisas que faz?
— O que quer dizer?
— Fiquei sabendo de suas atitudes, mas, devo dizer que, apesar de tudo, você tem se comportado bem, pelo menos na maior parte do tempo, aqui em Driscia. Fico me perguntando qual é o motivo por trás disso.
— Temos muitas razões, Maxence, e essa é uma delas. É muito mais fácil ser conhecido como o rebelde, o causador de confusão, do que como um concorrente em potencial pelo trono.
— E quais são as outras razões? — Minha curiosidade era genuína, queria entender as motivações por trás de suas ações.
— Causar uma boa impressão na rainha e na minha futura noiva. — Ele diz e meu coração parece murchar dentro do meu peito.
— Entendo…
— Além disso, desde o momento em que te vi, Maxence, eu quis você para mim. Mas isso é óbvio, não é? Eu não queria que você visse essa parte de mim. Queria te impressionar a todo custo… Mas, parecia que tudo o que eu conseguia era seu desprezo.
— Conrad, eu nunca o desprezei, mesmo que tenha tentado com todas as minhas forças… — Minhas palavras são interrompidas por uma onda de náusea, e tenho que me concentrar em respirar profundamente para controlá-la.
— Você não pode voltar para o castelo assim. As pessoas vão falar coisas de você.
— As pessoas já falam coisas de mim Conrad. Se eu não voltar será pior. Especialmente agora, com o conde aqui.
Me obrigo a levantar ainda que precariamente. Conrad não diz nada, mas seus olhos mostram seu descontentamento. Ainda assim, ele passa seu braço por trás das minhas costas. Me ajudando a caminhar.
A cada passo me sinto mais próximo da morte certa. Meu estômago embrulha, minha mente se revira em pensamentos. Sou a sombra do que já fui um dia. Tudo por uma única dose de ópio, o que aconteceria se eu fizesse uso frequente dessa substância? Pelo que Conrad já deve ter passado para se sentir normal ante alguém nesse estado?
— Ela nunca ficou assim. — A resposta de Conrad é inesperada, e só então percebo que fiz essa pergunta em voz alta. Minha condição é ainda pior do que eu imaginava.
Mas antes que eu possa formular outra pergunta, Conrad para abruptamente. Levanto os olhos para ver o que está acontecendo.
O conde está lá, nos observando com uma expressão carrancuda. Seus olhos percorrem o braço de Conrad ao redor das minhas costas e sua expressão se torna mais severa.
— Maxence, todos estavam preocupados com você. — Ele declarou, sua voz contendo uma mistura de autoridade e reprovação.
— Estava na cidade, bebendo. — Minha resposta saiu tão frágil quanto minha condição.
— Não ouse mentir para mim, Maxence. Acha que eu não conheço tipos como você? Acha que serei tão condescendente quanto sua mãe?
Antes que pudesse me preparar, a mão do conde atingiu meu rosto com um estalo cruel. Senti o gosto metálico do sangue em minha boca e meus olhos se encheram de lágrimas, enquanto a dor se espalhava como fogo.
— Você mal pode ser considerado um homem, Maxence. É uma criatura fraca, uma criatura que merece um tiro direto na testa.
Minha respiração vacilou, e eu não consegui articular uma resposta. O ar parecia escapar dos meus pulmões, e a impotência me sufocava. Minha visão embaçou enquanto lágrimas caíam livremente. Não sei como reagir quando sinto o braço de Conrad se desenroscando das minhas costas, e antes que eu perceba, ele está parado à minha frente.
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