Capítulo 1
Janeiro de 1876, reino de Driscia.
Tudo começou em Janeiro, quando fui chamado a uma reunião com minha mãe o dia estava frio e chuvoso, assim como meu humor ficaria após a reunião.
Pode soar estranho para você, o fato de eu precisar ir a uma reunião com minha própria mãe, mas, quando se é filho da rainha, essas coisas acabam se tornando parte do cotidiano.
Eu, como qualquer filho que se preze, amo minha mãe, mas, é um fato que nós divergimos muito de pensamento, ela leva toda essa coisa de reino e de sociedade muito a sério, enquanto eu, bem, podemos dizer que eu tenho outras preocupações maiores na cabeça.
Eu gosto de estudar, gosto de ler e de aprender novas coisas. Prefiro em um milhão de vezes a companhia de um livro, mesmo que de um livro ruim, a companhia de uma pessoa, coisa que minha mãe sempre se mostrou extremamente contra, afinal, um rei precisa ser popular entre a corte e os plebeus, e eu não sou exatamente popular, ou, pelo menos, não sou popular pelos motivos certos, não é a toa que não tenho nenhum amigo e nenhuma pretendente.
Tudo bem que a parte da pretendente se dá principalmente ao fato de que eu afasto todas mulheres que se jogam aos meus pés, mais interessadas na minha futura posição que em mim, até o momento minha mãe teve paciência e tem me deixado escolher sozinho minha futura esposa, mas, a verdade é que nós dois sabemos que meu tempo está se esgotando.
Entro em sua sala de reuniões, é um milagre que minha mãe não tenha decidido por me ver na sala do trono, onde ela pode ser ainda mais imponente e me olhar de cima com aqueles olhos de águia.
— Boa tarde mamãe. — Eu digo, conforme me jogo na cadeira de madeira polida a minha frente.
— Boa tarde Maxence, temos um assunto importante a tratar. — Diz ela enquanto me reprova com seus olhos acusadores.
— Claro, foi o que eu imaginei, mas que assunto seria esse?
— Amanhã pela manhã chega no castelo o futuro marido de Emma, juntamente com sua irmã.
— Minha irmã? Mas Emma já está no castelo mamãe. — Respondo em tom quase zombeteiro.
— A irmã dele Maxence, ora, por favor, não se faça de estúpido. O príncipe Conrad e a irmã Amery chegam ao castelo ainda pela manhã, ele vem com o objetivo de cortejar sua irmã, e ficará até o casamento.
— Certo, só não entendi onde eu me encaixo em tudo isso.
— Amery, é uma moça muito bonita e de boa posição. Ela é a terceira na fila de sucessão do trono, logo depois do príncipe herdeiro e de seu futuro cunhado, o príncipe Conrad e pelo que me disseram é uma moça de inúmeras qualidades.
— Ceeeeerto.
— Seria muito bom para todos se você cortejasse a moça. Uma aliança firme com Gilliam é algo de extrema valia para o reino.
— O casamento da minha irmã com o tal príncipe não vai fortalecer a aliança o suficiente?
— Ainda que de fato fortaleça, Amery é a candidata mais adequada que pode arrumar. Você precisa de uma rainha pra quando se tornar rei, meu filho.
— E se eu não quiser nada disso?
— Do que está falando Maxence?
— De tudo, casar, conhecer esses irmãos, fortalecer alianças... — Faço uma pausa e completo em voz baixa. — Ser rei.
— Você não tem escolha, não percebe? O povo espera que assuma o trono na minha falta. Não pode decepcionar seus súditos Maxence. E quanto a moça, terá que se casar um dia, precisa de uma rainha e de herdeiros, como eu disse, Amery é a mais adequada para o cargo. Quero que corteje a moça.
— Você não parece estar me dando muitas opções...
— Porque não tem opções Maxence, chega de brincar de príncipe. Está na hora de assumir suas responsabilidades. Estou cansada de esperar que você saia dos livros e cumpra com seus deveres, eu fui muito permissiva até aqui, e já passou da hora de você tomar jeito. Você vai cortejar essa moça Maxence. E vai passar um tempo de qualidade com o príncipe também. Vão virar amigos e estreitar os laços com Gilliam. Não por você, mas pelo reino, suas opiniões já não valem aqui, isso é uma ordem, como sua rainha.
— É claro vossa majestade. — Digo com um suspiro e me levanto, minha voz soa rouca devido as muitas palavras não ditas que pairam pela minha cabeça.
— Eles estarão aqui no badalar do sétimo sino. Esteja pronto para recebê-los. Pode se retirar.
Eu faço uma reverência exagerada e saio pisando duro, divergências de pensamento, como eu disse.
Minha mãe sempre foi muito rígida em tudo que se refere a coroa e ao reinado, ela nunca se importou em viajar durante meses para resolver assuntos pelo reino deixando as duas crianças sozinhas com os funcionários do castelo.
Nem mesmo quando papai morreu, quando eu ainda tinha meus 5 anos de idade ela se importou em deixar os negócios de lado, tendo feito uma viagem de trabalho no dia subsequente ao seu velório. Não é que ela seja fria, ela apenas tem o reino como prioridade, sempre foi assim e desconfio que sempre será.
Eu entro no meu quarto, frustrado. O peso de uma coroa que ainda nem é minha pesando na minha cabeça, eu nunca quis isso, mas minha mãe tem razão, não é como se eu tivesse escolha.
Eu só não queria ser forçado a casar com alguém que eu não ame, tínhamos um combinado, eu cumpro minhas obrigações e em troca posso escolher com quem me casar. Essa gentileza não tinha se estendido a minha irmã, já tem anos que ela e o príncipe Conrad estão prometidos um ao outro, em nome da aliança. Aparentemente, a gentileza acabou para comigo também.
Eu me deito em minha cama de dossel, sem nem mesmo me dar ao trabalho de tirar as roupas, ou comer o meu jantar. Apenas deito do jeito em que estou e adormeço, cansado de tudo que ainda está por vir.
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Me levanto ao raiar do dia, devia ser crime uma visita chegar tão cedo na casa de alguém.
Me arrumo como mandam os bons modos, visto um traje elegante, um sorriso brilhante e desço as escadarias. Na cozinha posso ver o banquete sendo preparado, pelo menos teremos ótima comida.
É minha obrigação como anfitrião verificar se todas as coisas estão em ordem, e assim eu o faço, checando cada pequeno detalhe para a chegada dos convivas.
Falta pouco para o sétimo sino quando eu termino de conferir se está tudo pronto. Eu preciso dizer que odeio ser o anfitrião?
— Já está tudo certo? — Diz minha irmã chegando junto a mim.
— Não graças a você. — Digo emburrado.
— Ora, não faça todo esse drama. Eu também estou em uma situação ruim aqui, sabia? Não é você que terá um casamento arranjado com um cara que nunca viu na vida.
— Ah, vejo que não sabe das boas novas ainda.
— Do que está falando?
— Devo cortejar a princesa Amery, ordens da rainha.
— Oh, por Deus Maxence, não sabia... Eu sinto muitíssimo. Tinha fé que ela deixaria que alguém aqui se casasse por amor.
— Ela desconhece o significado dessas palavras minha irmã.
— Ora, não diga isso, sabes que não é verdade.
— Não sei se realmente sei isso Emma.
— Ela amou o papai.
— Ela nunca amou o papai, casou-se com ele por obrigação. Assim como faz conosco no dia de hoje.
— Ela... Nos ama.
— Eu nem preciso argumentar quanto a isso preciso? Olhe bem para você e para mim, realmente acha que ela nos ama?
—Ela ama o reino e seus súditos.
Quando abro minha boca para responder que minha irmã tinha razão, o guarda entra anunciando a chegada dos príncipes Conrad e Amery, exatamente no mesmo momento em que os sinos começam o badalar da sétima hora.
— Com vocês, príncipe Conrad Percival Danet Wade e sua irmã princesa Amery Beatrice Danet Wade, de Gilliam. — Anuncia o guarda conforme os dois adentram no salão.
Não posso evitar o olhar para ambos, conforme me adianto para cumprimentá-los. A princesa Amery veste um vestido com mangas bufantes que se arrasta pelo chão, seu cabelo ruivo brilhante está solto emoldurando a bela face, que poderia ser descrita como angelical, com seu sorriso largo e seus olhos azuis cristalinos. Ela de fato é muito bonita. O príncipe Conrad por outro lado tem uma expressão quase ferina, seus olhos tem um semblante que eu descreveria como arrebatador, a boca carnuda, não esboça o menor indício de sorriso, seu corpo é esguio, alto e de ótimas proporções, e ele está trajando roupas típicas de príncipe, semelhante as minhas.
Me ponho em frente aos irmãos e estendo a mão para capturar a mão de Amery e depositar um beijo em seu dorso, meu coração está acelerado nesse momento, borboletas parecem dançar no meu estômago conforme eu me curvo e encosto meus lábios ligeiramente em sua pele alva.
Talvez não seja um sacrifício tão grande cortejar Amery afinal.
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