Capítulo 21 _ Maksin
Chateado. Irritado. Confuso.
Principalmente confuso. São tantas emoções e tantas contraditoriedades que se eu pudesse me transformar em uma "reação química" definitivamente daria em uma explosão.
Primeiramente. Eu beijo Allysson e, como tudo relacionado a ele, as sensações ficam marcadas a ferro quente em minha mente.
Tem este, para dizer no mínimo, hediondo desejo de fazer muito mais com ele, de provar ainda mais daqueles malditos lábios... e então a dificuldade de controlar o ímpeto e a curiosidade sobre o que mais aquela boca pode fazer.
Além de, obviamente, me enlouquecer.
E em meios há tantos hormônios, porque sim, isso não passa dos meus hormônios falando mais alto que meu bom senso, vem a razão. Razão. A grandiosíssima e centrada que me faz recordar o som agudo das sirenes da ambulância, do medo ante a possibilidade daquele bebê morrer, do pequeno Hunter nunca ter existido em nossas vidas. Por conseguinte, vem a memória deles escondidos como os covardes que são, depois disso a fuga e por fim vem Allysson e seu ridículo senso de lealdade.
Lealdade há pessoas que são capazes de machucar alguém que passou dos limites, pura e simplesmente por não querer se submeter a meios mais lógicos.
Ainda que não tivesse ocorrido nada com a mãe de meu primo, a professora poderia também ter se machucado seriamente com esse projetinho de vingança.
E Allysson os protegeu.
Porque é como eles.
Dessa conclusão, vem a ânsia. Ânsia e desespero, para com ele e para comigo. Tem esse profundo anseio por tomar de Gonzales mais do que qualquer um já tomou, de tê—lo entre meus braços, ainda que eu sinta raiva por ele ser um idiota covarde e potencialmente perigoso.
Duas emoções perigosas e sempre despertadas quando eu batia meus olhos nele. O ser dono dos meus mais devassos desejos e o gatilho da minha fúria e indignação.
Como eu não poderia não estar desesperado?
Desesperado para beijá-lo. Desesperado para não ceder. Desesperado para não ter vínculo emocional com ele.
Passei a evita-lo.
Uma solução mais fácil do que xingá-lo, ou pior, beijá-lo novamente.
Todavia, eu deveria ter percebido que a vida daria um jeito de ele conseguir foder com minha cabeça de novo, justamente quando eu estabilizei minhas emoções. Aquele Gonzales tinha que dizer as piores palavras a serem ditas:
Eu gosto de você.
Mas eu odeio você.
Foi a primeira frase que veio à minha mente. Seguida do seu crime, de todas as vezes que ele machucou pessoas propositalmente e todas as vezes em que essas pessoas eram importantes para mim. Basicamente, tudo o que me levava a odiar alguém como ele.
— Não importa, porque eu não consigo gostar de alguém como você.
A maior mentira e a maior verdade que já disse a ele em tempos. Ainda que o imbecil do meu coração bata mais forte por ele, ou que meus vulgares hormônios se aflorem. Eu não posso gostar de alguém como ele.
Gostar de Allysson é o mesmo que trair a ela.
E eu me recuso a fazê-lo.
Me recuso a sentir por Allysson.
— Não importa, porque eu nunca poderia gostar de alguém como você.
A frase vem de novo a minha mente. Fecho os olhos. Ainda assim as imagens tão vívidas de seu rosto passam por minha mente, tão nítidas, que é quase como se ele estivesse aqui, em minha frente, com as lágrimas enchendo seus preciosos olhos. Maldição, não são preciosos! A sensação do meu coração ser esmagado naquele instante corroborou a mentira por trás de cada uma daquelas sílabas.
Uma parte de mim, e raios não sei qual o tamanho dela, gosta dele, quer proteger e cuidar, até certo ponto isso é aceitável. Mas me relacionar com alguém com essas atitudes? Impossível.
Segui em frente sem olhar para trás. Faria com que o "não me importa" se tornasse real, não importa se meus malditos impulsos dissessem para eu secar suas lágrimas, para abraça-lo e pedir perdão por feri-lo. Não importa que no fundo eu queria esganar a mim mesmo por machucar Allysson.
Não vou me permitir gostar de Allysson.
Não mais do que já gosto.
Me recuso a deixar isso crescer.
— Você está com um humor do cão. — Arthur resmunga me olhando atravessado, deitado em cima da sua própria cama.
Bufo em resposta, meu humor azedando mais. A declaração de Allysson voltando uma e outra vez na minha cabeça.
Exasperante.
— Isso tá relacionado ao Gonzales, não está?
Ignoro suas palavras, não estou com vontade alguma de falar sobre Gonzales. Isso seria dar abertura para pensar nele mais do que eu já penso, o que já é absurdamente absurdo.
— Vou supor que sim... vamos ver... ele atirou em alguém? Aprontou com algum aluno? Jogou formigas na sua cama? — ele vai jogando verde para tentar colher maduro, porém em dado momento entrega uma risada nasalada e continua: — Sei lá, ele falou que gosta de você?
Trinco os dentes com força com seu chute tão acertado, ele percebe. Arregala os olhos ao máximo, a boca caindo em um "ozinho" e as narinas inflam antes dele soltar outra risada, dessa vez não tão divertida.
— Meu irmão, você deve estar um poço de emoções.
— Cale a boca.
Ele ergue as mãos como quem se rende e balança a cabeça num claro: "Não está mais aqui quem falou". Mas eu sei que, se tratando de Arthur, ele nunca vai parar.
Um minuto.
Sessenta segundos que ele passa no celular antes de abrir a boca novamente.
— Você tá surtando com isso não é?
— O que você acha?
— Eu acho que você está gostando de alguém de verdade verdadeira depois de, você sabe, dela... — ele dá ênfase na palavra, como se precisasse de especificações. — Que é justamente o tipo de pessoa que a atormentou durante toda vida e você deve estar odiando isso.
— Não gosto dele. — Falo tentando afirmar mais para mim do que para ele, Arthur percebe e revira os olhos discordando de mim em seus pensamentos. — Você é irritante.
— Eu sou irritante. E você está se apaixonando pelo cara que é a representação de uma das coisas que você mais odeia no mundo.
— Paixão é uma palavra forte.
— Mas é o que é. Admitir vai tornar mais fácil lidar com isso. E você vai ficar mais feliz.
— Não quero conselhos sobre felicidade de você. — Bufo, revirando meus olhos.
— Hey! Porque isso? Ataque gratuito?
— Não. O problema é seu mal gosto para ser feliz.
— Falou o cara que beijou o Allysson.
— Me julga o idiota que tá apaixonado por Renan.
— Apaixonado não é bem a palavra....
Tem razão, obcecado, talvez seja.
Pego o celular de suas mãos, confirmando minha desconfiança, ele está olhando é para o status de Renan. O cara está fumando um baseado, com um sorriso bobo estampado no rosto.
— Idiota.
— Um idiota lindo.
— Para com isso.
— Relaxa, Maks, não enfio meu pau no lixo.
Estreito os olhos em sua direção.
— Tá, tá, tá. Larga de ser implicante, agora vamos ao problema principal, você aprender a lidar com seus sentimentos sobre Allysson.
— Nada nunca tornará isso fácil de lidar! E você sabe muito bem disso.
— Porque ela morreu por causa de caras tipo o seu Allysson?
Ele cutuca bem na ferida. O encaro furioso, definitivamente não quero nem um pouco ter essa conversa. Mas antes que Arthur fale mais alguma coisa que, muito provavelmente, me deixaria a um passo de ir treinar no saco de boxe, a porta abre e Dani entra.
— Oii!!! Atrapalho?
Na verdade, você é o sopro de calmaria que estava faltando por aqui.
— Não, claro que não.
— Ótimo. — Ele entra sem aquele andar dançado, o que me causa estranheza.
— Você está bem?
A pergunta parece ser o que ele esperava ouvir, pois não há choque algum em sua reação. Porém ele, por alguns instantes não sabe como agir e mexe o corpo confuso antes de finalmente soltar:
— Ícaro me deu isso, ele foi muito gentil... só que eu não consegui comer. — ele me estende um pacote de chips.
Abro-o, engolindo algumas batatinhas. Alguns minutos silenciosos se passam antes de que Dani estenda a mão e coma algumas. Sorrio internamente, há um mês Daniel comer alguma coisa dada por alguém com quem não tem tanta confiança, ainda que eu provasse para ele, seria impossível.
Ele está trabalhando em seus traumas, a ajuda que consegui com a psiquiatra também deve ter melhorado sua evolução já que ela lhe passou alguns remédios. Passou a frequenta-la dois meses atrás, dois dias após seu aniversário de dezoito anos, ficou mais fácil ele para comprar remédios em seu nome com a maior idade e sem ter que pedir pela autorização da avó.
Dani e eu engatamos em uma conversa, Arthur se manteve propositalmente a margem mexendo avidamente em seu próprio celular, coisa que agradeço mental e espiritualmente, já que, tirando o Allysson, esse cara sabe realmente como me irritar.
— O que aconteceu foi o seguinte. Marisa ficou furiosa quando na festa eu fiquei com a Nayara, sua amiga.
— Porque você foi ficar logo com uma amiga da sua peguete?
— Não foi proposital, eu só queria deixar bem claro que a gente não estava com um compromisso sério, ou melhor relacionamento nenhum, fiquei com a primeira que eu vi, não sabia que era amiga dela.
— Não seria mais singelo afirmar para ela que vocês não tinham um relacionamento?
— Eu TENTEI. Desde o início falei, "não quero namorar", mas daí ela começou a mandar as meninas e os meninos se afastarem de mim, conversei com ela de novo. Ela disse que tinha entendido era só uma brincadeirinha, só que ela começou com as besteiras de novo.
— Foi aí que você cortou tudo com ela? — lembro-me dele ter falado sobre uma menina pé no saco que ele tinha dado o fora.
— Sim!! Você lembra? — ele bate a mão contra a testa, revirando os olhos para si mesmo. — Que pergunta! É claro que lembra. Enfim, ela começou a me perseguir, parei para conversar de novo. Entrou num ouvido, saiu pelo outro, resolvi tirar medidas mais drásticas.
— E como ela reagiu? — pergunto, ao mesmo tempo em que Arthur ri com ódio no tom.
— Me estapeou. — Imediatamente sinto a raiva inflar em meu peito.
— Por nada?
— Bem... por Nayara ser amiga dela, eu acho.
— E ela ainda manda mensagem te perturbando?
— Sim...
Pego meu celular digitando uma mensagem para Luís, um amigo policial da família. Raramente pedimos favores a ele, a última vez que fiz isso foi depois de quase ter sido "preso". Ele responde depois de um tempo, falando que dará um jeito.
— O que você fez? — Estava prestes a responder Dani quando, mais uma vez, Arthur solta uma risadinha forçada.
Mais uma vez Arthur solta uma risadinha forçada.
— Você quer parar com isso? — Falo para Arthur que está sorrindo para a tela do celular.
— Só porque você tá todo amargo com seu colega, barra, inimigo, barra, paixonite, barra, não sei mais o quê. Não quer dizer que eu não posso ser feliz.
— O que o Ally fez? — Dani questiona curioso, sua sobrancelha erguida em curiosidade e sei que se trata da palavra "paixonite". Faço um gesto com a mão para que ele ignore a palavra.
Ele toma isso como uma das loucuras do Arthur. Pois balança a cabeça rindo, mas percebo seu peito relaxando, um forte indicativo de alívio.
Uma pontada de um sentimento ruim atravessa meu coração. Eu seria tolo se não tivesse notado que Daniel tem algum tipo de carinho a mais por Allysson, ainda que ele não esteja de todo apaixonado, então o alívio é compreensível.
Minha reação a este alivio não.
Pelo que exatamente meu coração aperta? Por Daniel estar aliviado o que quer dizer que continua gostando de Allysson?
O que levaria a duas possibilidades: A) Estou chateado porque Daniel ainda gosta de Allysson, sendo que eu gosto de Daniel. B) Daniel é meu amigo, alguém que eu me importo muito e amo, e Allysson acabou de se declarar para mim o que poderia feri-lo emocionalmente.
Ao analisar meus sentimentos posso dizer duas coisas. Que, de fato a segunda parte me chateia bastante, Daniel ferido me chateia. Mas a primeira não. E é claro tem a letra C, aquela mesquinha e ciumenta.
Aquela que se chateia por Daniel ainda gostar de Allysson em nível romântico porque há a possibilidade de ele conquista-lo.
— Allysson não fez nada, Arthur é que está maluco. — Grunhi encarando meu primo que deu de ombros divertido.
— Corrigindo, querido Maks, ainda não fez, mas vai. — O tom de voz é obviamente sugestivo, despertando uma coceirinha de curiosidade em mim.
— Vai? — Dani faz a pergunta que eu quero fazer.
Arthur ri diabólico, antes de estender o celular. Logado no instagram de Dominic, ele mostra os stories de Renan, uma sequência de vídeos curtos dançando e fumando, um deles mostra um pó que reconheço como cocaína, alunos do primeiro ano e o pior:
O último storie.
Renan com um dos braços enrolado ao redor do ombro de Allysson, dando o cigarro para ele provar, algo que ele pelo visto não está acostumado, já que tosse bastante e, por fim, a promessa que faz o sangue em minhas veias ferver.
— Hoje eu vou mostrar para o nosso amoreco a primeira viagem mais alucinante da vida dele.
E, por fim, o foco na cocaína.
— Meu Deus! — Dani exclama horrorizado.
— Né? Eu jurava que Dom só traficava erva, mas ele tá mexendo com coisa pesada agora. — Arthur fala soltando um assobio, como se estivesse impressionado.
— Como assim Dominic é traficante? — Dai questiona com choque.
— Bom, é que a mãe dele cortou a mesada, ele queria grana.
— Mas porque traficar? — Dani pergunta mais para si mesmo, horrorizado.
Arthur olha para Dani e depois para mim, pensando em como responder à pergunta. Aceno com a cabeça para ele dando o sinal para ele não se aprofundar, já alertei várias vezes Daniel sobre Dominic, mas ele não acreditou em mim. Esta aí é só mais uma das provas, é Dominic sendo Dominic.
Traficar pelo único motivo de não ter dinheiro. Valha-me.
De qualquer forma, Dominic não é o foco aqui e sim, todas as regras da escola que, neste momento, estão sendo quebradas por esses desmiolados dos vídeos.
— Arthur, vá até o diretor e fale que por uma fonte anônima descobriu sobre a tal festinha.
— Espera, hoje eu queria descansar! — Protesta de braços cruzados e fazendo careta.
— Estou pedindo por favor.
— Só faltou dizer antes o por favor... — ele resmunga para "si mesmo" falando alto o bastante para que eu escute também. Mas pela sua postura sei que ele vai fazer o que eu peço.
Não só por mim, mas também por Renan. Este último vai ser em partes por evitar que ele se drogue, mas a maior parte é em vingança, porque Arthur pode até ter se apaixonado por Renan, mas ódio que sente por ele é maior que qualquer outro bom sentimento.
— Transfira o vídeo de forma que não mostre que é o instagram de Dominic, se algo ocorrer outra vez necessito dessa fonte. — Continuo dando as instruções. Resolvo deixar de lado a minha opinião sobre a "relação" desses dois.
— Entendi. Não vai me perguntar como tenho acesso?
— Isso é o que menos me importa. Pode ir agora?
— Claro que sim, senhor mandão. — Ele fala, já pegando o celular. — Todos eles?
— Não! — Dani grita, antes que eu fale. — O que o Allysson está não.
— Daniel... — começo já com todos os argumentos sobre como isso seria bom a longo prazo.
— Por favor! Por favor, Maks. — Ele me implora com os olhos se enchendo de lágrimas e não tenho como negar nada a isso.
— Ok.
— Entendi. Mais uma vez Allysson escapa. — Arthur resmunga irritado, mas sei que usará isso de desculpa para só mostrar o vídeo do quarto, e dos calouros, de forma que Renan não será punido intensamente. — O que esse cara tem, hein? A bunda dele é tão gostosa assim? Porque se for...
— Cala a boca! — Dani grita ao mesmo tempo em que praticamente rosno: — Vai procurar o diretor, agora.
Arthur sai rindo. O quarto fica em silêncio, Daniel perdido em seus pensamentos, o semblante preocupado. Sei que, por dentro, deve estar corroído de vontade de ir até Allysson e ajuda-lo, mas com o histórico de ressentimento do outro seria capaz da confusão ficar maior.
— Dani, porque não mostrar o vídeo do Allysson? — Pergunto depois de um tempo, querendo entender mais Gonzales. E Dani é uma das melhores fontes para isso.
— Não são meus assuntos para contar, Maks.
— Compreendo.
Não pressiono mais, não vou tentar obrigar Dani a falar algo que ele não está a fim de dizer.
— Se ele for pego lá, o que vai acontecer? — Dani pergunta segundos depois, a voz tremida pela antecipação.
— Provavelmente suspensão.
Dani empalidece.
— Ele, ele não pode ser suspenso Maks.
— Ele merece, por usar drogas na dependência da escola.
— Não, você não entende, Maks, se ele for suspenso... as coisas que ele poderia fazer.
O ênfase na palavra é tão forte que tenho certeza de que este ele Dani também teme.
— Ele? Ele quem?
— Não importa agora. Maks, qualquer punição, absolutamente qualquer punição é melhor do que suspensão ou expulsão. Pelo menos para o Allysson.
As palavras repletas de desespero fazem com que, na minha mente, alguns fatos sejam juntados.
Memórias antigas vem à tona. Na surra que dei em Allysson, ele saiu direto do hospital para escola. Em todos os feriados, ele nunca vai para casa, no natal do ano passado ele permaneceu na escola, assim como nas férias. Allysson não gosta de ir para casa.... Os ataques de pânico. O irmão.
— Entendi. — Falo já saindo do quarto, a voz de Dani me paralisa por alguns segundos.
— Você vai busca-lo. — Não foi uma pergunta, mas ainda assim afirmo que sim com a cabeça.
— Não o traga para cá, leve para o quarto de vocês, ele não vai querer me ver. — ele pede com delicadeza na voz.
— Ok.
Bato três vezes na porta, uma voz lá de dentro, meio altinha pergunta qual o código.
— Só abre a droga da porta.
Uma única fresta se abre, metade de um rosto surge ali. Cabelo ruivo, pele negra, olhos levemente rasgados da cor cinza. Só conheço uma pessoa ali com essas mesmas características.
— Não posso abrir sem o código. — Ele dá um sorriso, parecendo meio altinho.
Torço os lábios, transparecendo minha raiva e desprezo nesse momento.
— Escute muito bem Caleb De Almeida Prado. — O dito cujo arregala os olhos chocado, o fato de eu saber seu nome completo parece fazê-lo ter um pouco de sobriedade. — Ano passado você fez teatro, descobriu que tem talento e agora está no processo para a entrada do clube de artes cênicas que, vale lembrar, tem apenas cinco vagas e o professor não aceita, de maneira nenhuma, más condutas dos seus integrantes.
— Como você sabe tudo isso? — Ele questiona chocado, mas eu ignoro e continuo...
— Você ser pego aqui significa ter suas chances de ingressar no clube automaticamente eliminadas, não é mesmo? — Aproximo-me mais sussurrando para ele. — Não sei o que te trouxe aqui? Problemas emocionais? Expectativas demais? Frustrações? Porque se for uma dessas coisas, você está procurando fonte errada de consolo.
Ele abre a boca chocado.
— Mas suas pupilas não estão dilatas, sua boca não parece seca ou seus olhos avermelhados... o que poderia significar que você é acostumado com isso? — Questiono com um sorriso. Mais rápido do que ele poderia impedir, atravesso minha mão pela fresta e agarro seu pulso. — Batimentos cardíacos estranhamente normais.... Sabe o que eu acho que está acontecendo aqui? Você está fingindo estar chapado para impressionar alguém.
— Você é um maluco, Petrov.
— E, de repente, você sabe quem eu sou. — franzo os lábios em reprovação. — Escuta aqui Almeida, não estou nem aí se você quer afundar a porra da sua vida fumando ou se acha necessário fingir usar isso para parecer legal. Não somos amigos, sequer conhecidos. Mas vou te dar um conselho, abre essa porta e suma daqui antes que mais problemas apareçam.
— O diretor está vindo? — Ele associa meu recado e faz a pergunta com desespero, voltando o rosto para trás como se considerasse avisar os amigos, mas demora apenas alguns segundos antes de terminar de abrir a porta para mim e depois sumir corredor adentro.
Fecho quando entro no quarto. As pessoas ali dançam músicas sem som algum, embaladas demais na fumaça com odor fétido que para no ar. Alguns eufóricos outros apenas deitados, enrolados no chão, rindo para o nada ou parados refletindo.
Não olho para eles mais do que o necessário. A maioria dos que ali estão, assim como Almeida, nunca conversei na minha vida. Só reconheço seus rostos de passagem ou de documentos dos clubes que tive de organizar.
Fecho o capuz no meu rosto de novo, caminhando de cabeça mais baixa. Tudo o que eu não preciso é de Renan mandando todos para fora quando perceber que estou aqui dentro, ele não é idiota, associaria na hora que viriam problemas.
Caminho por ali. Pelo prédio ser um dos designados aos alunos dos primeiros anos, o quarto é maior do que os do terceiro por possuir quatro pessoas, ao invés de duas, enquanto os do segundo são três alunos por habitação.
Mas com alguns tropeços a mais na multidão, consigo encontrar Renan, sendo mamado por um aluno do segundo ano.
Além de tudo atentado ao pudor...
É bem capaz dessa festa terminar numa orgia.
O pensamento me enfurece de sobremaneira. Não exatamente por existir uma orgia envolvida, não faria uma, mas não tenho oposições contra a existência delas e de quem gosta de participar.
Mas Allysson está aqui...
Nem quero entrar em um looping mental de novo por causa disso.
Não vejo o rosto de Allysson em lugar nenhum, no final só me resta o banheiro para procurar. Vou até lá e finalmente o encontro, deitado de costas no chão, os braços erguidos no ar, completamente delirante.
— Allysson... — sussurro, mais feliz do que deveria, ele olha para mim, as pupilas mais dilatadas que o normal...
Ele inclina a cabeça para o lado, um sorriso adorável fazendo com que suas covinhas surjam, aparece em seu rosto.
— Sabia que a vaquinha faz buuuuuu? — Ele solta como se fosse a coisa mais incrível do mundo.
— Você.... — Balanço a cabeça exasperado, realmente não sei o que fazer com ele.
— Não, não, ela faz é Muuuuu. — Ele ri descontrolado. — Muuuu!
A boca formando um lindo biquinho enquanto ela solta uma e outra vez o mesmo fonema. Prendo o riso, que por algum motivo quer sair de mim e o ergo em meus braços. Ele automaticamente fecha as pernas ao redor dos meus quadris e enterra o rosto em meu ombro.
Inspiro sentindo seu cheiro doce.
Que o Senhor me ajude.
Levo-o para fora dando sorte de não encontrar com seus amigos. Dali para o nosso quarto é rápido, entro trancando a porta levando-o direto para o banheiro, tento colocá-lo dentro da banheira, já cheia de água. Dani provavelmente passou por aqui só para enchê-la.
— Não quero entrar na água.
— Você está fedendo maconha, depois o diretor pode querer vistoriar os outros dormitórios.
— Água não. Água não. — ele repete com fúria e desespero, agarrando-se em minha camisa.
— Maconha faz o que com você se transforma numa criança de cinco anos? — A exasperação exala de mim. Allysson continua com seu forte agarre.
Ele me encara, os olhos escuros brilhando com determinação. Seus lábios se contorcendo em um franzir, o rosto mostrando uma expressão emburrada.
— Água não. Água não.
— Você está fedendo, Gonzales! — Ralho com ele que, por sua vez, arregala os olhos assustados, antes de se apertar mais contra mim, o rosto voltando a afundar no meu ombro.
— Eu não quero entrar no rio! Não quero! — Ele começa a chorar desesperado e não sei como agir.
Ele continua chorando enquanto murmura: No, no en el água. No quiero adentrar. En el río no. Me voy ahogar. Iremos caer. Por favor. El rio no.
— Allysson. Allysson. — Sussurro da forma mais reconfortante que encontro, passando a mão em suas costas de forma suave. — Não tem rio aqui, ia ser só um banho, mas se não quiser não tem problema, ok?
— Repete de novo? — Ele fala entre soluços.
— Repetir o quê?
— Meu nome. — De novo com isso?
— Allysson. — Falo contrariado, mas falo. Qualquer coisa para fazê-lo parar de chorar.
— Gosto quando você fala meu nome. Faz com que ele luzca hermoso... — ele fala sorrindo, os olhos perdidos em meu rosto. — Creo que es porque tu eres lo más hermoso... Puedo besarte?
— Não, Allysson, você está chapado! Beijar você seria errado em vários níveis...
Sou calado quando seus lábios macios encostam nos meus. A sensação de eletricidade que percorre meu corpo com aquele simples toque é difícil de conter. É difícil não retribuir e tomar cada pedacinho de sua boca.
Ele se afasta de mim depois, um sorrisinho maroto surgindo em seus lábios vermelhos, tão sexy que sinto meu pau pulsar. Minha calça de repente se torna apertada e desconfortável demais.
— Se fui eu que comecei não é errado, né? — Ele sussurra provocativo em meu ouvido, e inconscientemente o aperto mais contra mim.
Definitivamente a palavra do dia é autocontrole. Autocontrole para não tomar sua boca contra minha e depois beijar cada centímetro de sua pele, beber de seus ofegares de prazer e depois o levar à loucura... para me levar na loucura.
Só de imaginar me dá água na boca. Allysson parece delicioso de várias formas.
Mas não é o momento. Talvez nunca seja. Mas com ele chapado definitivamente que não será.
— Vou tomar banho como você me pediu. — Ele fala se erguendo sobre mim e já tirando as calças, mas para e me olha em desafio, antes de dizer: — Mas vai ser de chuveiro, não vou entrar na banheira!
— Que seja. — Murmuro já me levantando forçando meus olhos a desviarem daquelas coxas macias e da cueca preta marcando o evidente volume que concretizava o quanto ele gostou de me dar um beijo.
Se ele imaginasse o quanto eu gostaria de retribuir... Basta! Repreendo a mim mesmo, eu não posso desejar o Allysson.
Como se escutasse meus pensamentos e quisesse refutá-los, ele vira de costas e eu perco o fôlego ao observar a bunda perfeitamente bem formada e redonda apertada contra aquele tecido preto. Meus dedos coçam com a vontade de aperta-la. Para completar, Allysson começa a baixar a cueca...
Antes que eu finalmente perdesse a cordura, saio batendo a porta atrás de mim, o coração acelerado. E um volume doloroso nada convencional nas calças.
Deito na minha cama. Relembrando todos os porquês dele e eu não coexistirmos de isso ser errado. Sequer o pensamento em Maria Antonieta abala o fogo que cresce em mim, me aliviar sozinho não é opção, não farei isso na cama e o chuveiro está ocupado por Allysson.
Não posso sair porque alguém tem que estar aqui por ele, graças a essa viagem impensada nas drogas.
Reviro-me, tentando pensar em outra coisa qualquer coisa...
Dessa vez Allysson é rápido no chuveiro, sai de lá em cinco minutos. O vapor com o cheiro do sabonete é um alento para o meu nariz, mas meus olhos buscam outro "consolo", deliberadamente encaro Allysson.
Ele está só de toalha para o meu deleite e tortura. Mas de um segundo a outro, meu corpo se esfria, pois, a visão que eu tenho baixa por completo meu ardor. Logo, uma fúria incontrolável enche minhas veias.
— Mas quem fez essa merda com você?
No peito de Allysson, há uma marca. Uma que não havia ontem, ou hoje depois do jogo. Uma marca preta e arroxeada, grande demais para ser algo sexual. Alguém bateu nele. No pescoço, uma linha verde e roxa demonstra que ele foi asfixiado.
Um ódio por quem quer que o tenha machucado nubla minha visão. Mas não quero assustá-lo, não quero que tenha um ataque de pânico.
Forço-me a manter o tom de voz calmo quando eu repito a pergunta.
— Quem fez isso com você, Allysson?
Porque quem quer que seja — completo em minha mente — O filho da puta vai se arrepender de se atrever a te tocar. Ah, se vai.
✨✨✨✨✨✨✨✨
Oiii pessoinhas que leem meu livro! Tudo bem com vocês?
Espero que sim! 🥰🥰🥰
Depois de séculos.... KKKKKKK eu finalmente enviei este capítulo. E, sim, já iniciei o próximo....
Não se preocupem que logo mais vocês vão saber exatamente o que aconteceu com o Allysson no capítulo passado... e mais ainda.
Quem vocês acham que desacordou ele? E o que acham que Maksin vai fazer com o(s) desinfeliz(es)?
Enfim, logo, logo eu volto, com um próximo capítulo e rumo à partes mais picantes da história.
Até uma próxima vez. 💖♥️♥️😻
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro