Sem escrúpulos - Capítulo 30
"Algumas pessoas têm que perder tudo para descobrir o que elas realmente querem"
(Hollyn)
Mesmo depois de tanta preocupação consegui uma oportunidade de trabalhar em um restaurante. Eu havia entregue um outro currículo e, por sorte, no mesmo dia em que desisti do emprego na companhia Stuart, fui chamada. E agora, aqui estou eu trabalhando como garçonete e, apesar do salário ser inferior comparado ao de secretária, é mais estável para minha sanidade mental.
— Mesa 4! — Uma colega, no qual ainda não consegui gravar o nome, vocifera para que sejam levadas as refeições.
O estabelecimento é de tamanho mediano e bastante movimentado porque muitas pessoas que estão de viagem param para fazer uma refeição. O restaurante fica nas proporções das estradas que levam aos municípios próximos, assim como à zona rural. Esse foi o único local onde coloquei currículo que é mais distante do centro e havia o feito alguns dias antes de ser chamada na empresa Stuart.
— Rebecca, leve esses aqui. Os pedidos estão atrasados — diz, meu chefe, logo me entregando dois pratos de macarronada com queijo suíço.
— Certo — respondo e saio pela porta, indo em direção a mesa que será recepcionada no momento. Essa se situa cerca da janela de vidro que se encontra aberta para uma maior ventilação do ambiente, e, aliás, é o lugar mais refrescante que há. Um casal conversa no instante em que me acerco pondo a refeição sobre a mesa. — Bom apetite — digo, retirando-me.
Não demoro muito a pegar jeito com esse tipo de tarefa, no entanto meus braços doem constantemente de tanto estendê-los e minhas pernas sempre pedem por arreio. Caleb ainda não tem conhecimento disso e eu estou tentando manter em oculto pelo menos até eu estar fixa no emprego.
Ontem ele me perguntou o porquê de estar tão cansada e dei uma desculpa que foi por tanto treinar ballet. Uma parte foi verdade, porque eu sempre treino. Daí mais outro motivo de eu me cansar rapidamente.
Não tive mais nenhum contato sequer com Jason esses dias e isso é maravilhoso. Meu relacionamento com Caleb reavivou-se demasiadamente e não vejo a hora de me casar e constituir uma bela família.
Violetta
— Victoria eu já te disse que não dá para ir à sua festa! Você sabe o quanto é desconfortável tais festas depravadas que, se eu fosse você, jamais deixaria por os pés nem mesmo no corredor! — digo, gesticulando.
— Ah, Vi! Por favor, por mim. — Faz beicinho e eu cruzo os braços, revirando os olhos, baforando.
Nunca simpatizei com as festas que ela promove na casa dos pais, dos pais! A sorte dela é que os serventes limpam absolutamente tudo sem deixar vestígios dos entretenimentos ali ocorridos. Eles devem ganhar muito para aturar isso.
— Chame Natan, seu amor! Vamos Violetta!
— Ei! Somos amigos. — Estendo o dedo indicador em sua direção.
— Mentira! Amigos não se beijam —fala, com malícia. Ela retrata isso porque eu disse o que houve entre mim e Natan numa certa vez.
— Você é como uma pedra no meu sapato e um chiclete que não quer sair da sola dele — digo, cerrando os dentes.
— Sou? — Apontou para si. — E você é como uma rocha em pessoa. Para sair do lugar só com um bom abalo.
— Pode ser. — Dou de ombros.
— Você sabia que a namoradinha do seu irmão andou beijando outro? E aliás eles se encontraram essa semana na empresa dele — diz, olhando pros lados e balançando a perna.
— De novo?! — brado e percebo olhares pousarem em mim.
— Como assim de novo? — Vic arrasta a cadeira e se senta.
— Espera! E você o conhece? — pergunto, sentando-me também.
— A ruivinha é boa em cálculos e ainda não raciocinou isto?
— Meu melhor raciocínio será socá-la se não parar de sarcasmo e me contar tudo o que sabe. E aliás, você também é boa com em cálculos senão não cursaria matemática também.
— Verdade. — Dá de ombros, enojada. — Eu conto.
— Comece! — Cruzo os braços e me deito na cadeira.
— Tem uma condição — fala e, de imediato, franzo o cenho.
— Eu não vou! — Faço um bico.
— Então nada feito. — Admira as suas unhas pintadas, ironicamente.
— Eu vou — digo com desdém.
— Aí! — Dá um grito, abrindo um sorriso gigante e abraçando-me em seguida. — Eu amo você querida, amiga!
— Mentira! Se me amasse não me colocaria junto a tanta gente esnobe — Afasto-a.
— Acabou de me desmoralizar. — Assenta-se novamente.
— Sabes que a maioria dos seus convidados são exatamente assim.
— Okay, vamos pra aula. Estamos atrasadas. — Levantamos dos assentos, pegamos as nossa mochilas e saímos do refeitório, seguindo para o corredor que está cheio de pessoas que se acham os donos da bola.
—Olha a ruivinha! — Alguns rapazes mencionam e eu somente arqueio a sobrancelha sem deixar de mirar a minha frente.
Assim que chegamos em frente a sala, adentramos e buscamos lugares vagos para nos sentarmos.
— Pode me contar — digo, baixinho, para Vic que se senta do meu lado.
— Depois. Quero prestar atenção nessa aula. É a que tenho mais dificuldade — fala, ajeitando-se na cadeira e olhando de canto para o rapaz que está do lado dela. Reviro os olhos com isso.
(...)
Assim que terminam as aulas, Victoria logo sai e eu apresso os passos, seguindo-a, pois preciso descobrir mais sobre Jason e o que Rebecca andou fazendo.
— Victoria Lambert! Pare aí já ou eu juro que te dou uma voadora.
— Minha ruivinha, eu preciso ir para casa agora! — Estreito os olhos e percebo sua mentira ao olhar para o lado e ver o mesmo rapaz da nossa sala nos encarando na portaria com as mãos no bolso, impaciente. Sabia!
— Ou você para e me conta o que quero saber ou ponho seu parceiro para correr em segundos. — Cruzo os braços e me mantenho séria. Ela bafora, rendendo-se à minha ameaça.
— Tudo bem. Eu me encontrava em um dos prédios, próximo a uma praça que há perto do edifício Exodus. Nevava, e eu a vi através da vidraça tentando afastar-se de Jason, porém ele a beijou e ela não pareceu tanto recusá-lo. Essa semana, dei uma passada em sua empresa e a vi conversando com uma moça que é secretária dele e acabou que Jason chegou, viu a namoradinha do seu irmão e a puxou para dentro do seu escritório. Deu para ver pelas frestas da escada. Por baixo do corrimão é de vidro transparente e eu, claro, parei para observar toda a cena. Depois, subi às escadas e perguntei rapidamente à moça, que disse que ela, talvez, seria a nova secretária, o que fiquei chocada. Conheço Jason o suficiente para dizer o quanto ele é um cafajeste — diz, fazendo cara de nojo.
— E você adora um cafajeste — respondo.
— Esse eu não suporto.
— De onde vocês se conhecem mesmo? — pergunto, curiosa.
— Meu pai tem negócios com a firma que agora ele se tornou o presidente. Acredita que o pai dele deixou somente metade das ações para seus irmãos, mas o colocou na presidência antes de morrer?
— Eu sei lá. Mal sei sobre ele e você quer que eu saiba sobre sua família.
— Ele é um dos empresários mais famoso da região. Pelo amor de Deus, Violetta! Assiste a TV! "Tá" precisando — fala, olhando para trás, e eu passo o olhar para ver com quem ela começa a gesticular e contemplo o sem vergonha sorrindo para ela.
— Tem mais algo que preciso saber, Victoria? — vocifero por detrás dela chamando a sua atenção.
— Quer que eu descubra mais alguma coisa?
— Adoraria. — Sorrio.
— Okay, então. Verei o que posso fazer. Agora estou atrasada. Adiós! — Acena, afastando-se. Balanço a cabeça em negação e suspiro um pouco aliviada, pondo as mãos na cintura. Não houve nada novamente como achei que tinha acontecido. Parte do que Victoria me disse eu presenciei e eu espero de coração que Rebecca não tenha traído meu irmão senão acabo com ela e destroço aquele projeto de gente que colocou um par de chifres, ou mais, na cabeça de Yasmim.
(...)
— Minha filha, tenha cuidado por lá. Por favor não chegue muito tarde — fala, meu pai, dando-me um beijo na testa.
— Tudo bem, pai. Volto antes da madrugada.
— Por que não chamou Natan para ir com você?
— Prefiro que ele não vá. Não quero nem pensar que ele queira voltar aos seus tempos de faculdade e desfrute da liberdade.
— Está com ciúmes, minha criança?
— Pai! — Baforo e cruzo os braços. — Ele tem trabalho e chega cansado. Não irei importuná-lo.
— Então está bem. Vai com Deus.
— Amém. — Beijo seu rosto.
Vou de táxi para o lugar onde está ocorrendo a festança e, nas proximidades, ouço o alto som que deve incomodar a vizinhança.
O carro para na frente do portão e o taxista estende a mão para que eu lhe dê o dinheiro da corrida.
— Aqui. Obrigada. — Abro a porta e saio do carro. Como sou prevenida, vim com calça folgada, camiseta não muito justa e um all star. Fora de moda, mas não sou ligada a modinhas.
Avanço a pequena trilha de pedras por entre o gramado e meus ouvidos começam a sentirem um certo incômodo.
— Vi! Você veio! — Victoria me vê e vem até mim, abraçando-me. Suas vestes extremamente sensuais as vezes me deixam envergonhada. Ao me abraçar seu vestido sobe ainda mais, atraindo olhares para nós.
— Tudo bem, tudo bem. Chega de abraço. Tem algo comestível aí dentro? — digo, desfazendo o abraço e adentrando a porta, que recostados aos umbrais, há alguns rapazes com copo de cerveja em mãos.
— Nojo — murmuro em pensamento e esboço uma careta.
— Tem batata frita, pizza e outras coisas — diz e se afasta, sumindo por entre o povo.
— Legal! — Fecho a cara quando me vejo sozinha na multidão de desconhecidos.
— Gatinha! — Viro-me e vejo um rapaz loiro a me encarar dos pés a cabeça. — Está afim de dançar? — pergunta e não demoro em dizer-lhe um 'não'.
— Espera! — Segura minha mão, fazendo-me voltear para mirá-lo.
— Ao menos comermos alguma coisa e sei lá... — Dá de ombros, pressionando os lábios. — Nos conhecermos melhor?
— Não. — Sou curta e direta.
— Tudo bem, então — fala, passando por mim e indo em direção a cozinha, no qual acabo desistindo de ir até lá para não me deparar com o rapaz novamente, apesar que ele é bonitinho, porém fico imaginando a réplica de chiqueiro que deve estar, porque o povo é muito educado para não dizer o contrário.
Vou para o lado de fora da casa com o intuito de respirar melhor e me sentir mais a vontade, seguindo para o pátio quando alguém me toca na cintura, o que imediatamente pego a mão dele e viro bruscamente e o mesmo queixa-se de dor, porém logo a largo ao me dar conta de quem estar defronte de mim.
— O que você faz aqui, Natan? — Observo-o massageiar o pulso.
— Eu é que pergunto. Você não gosta desse tipo de festa — diz, extremamente sério.
— Por que estás aqui, Natan?— digo, entre os dentes, com raiva estampada em mim, ignorando o que dissera anteriormente.
— Fui em sua casa e seu pai me disse que você tinha vindo para cá! Se não gosta de lugares assim por quê veio? — Vi o desgosto explícito em seu rosto. — Você vem comigo — fala, puxando-me pelo braço.
— Natan, espera! — E ele para e me encara.
— O que foi?
— Eu não posso ir agora. Eu estou aqui porque fiz um trato com Victoria.
— Que tipo de trato? — Encara-me, indignado.
— Ela me contava sobre Jason e eu vinha na festa dela.
— Quem é Jason?
— O conhecido de Rebecca, esqueceu? Estou imaginando onde isso vai dar... E quem vai sofrer é meu irmão. Ele vive impregnado naquele bendito restaurante que se esquece que pode perder aos poucos sua noiva. — Fecho o punho com força. — Aquele lerdo!
— Isso não é da sua conta ou você esqueceu da nossa conversa?
— Não dá, Natan! Era para Caleb estar verdadeiramente feliz! Eu amo muito meu irmão para vê-lo magoado e destroçado.
— É a vida dele, não a sua! É a decisão dele, não a sua decisão.
— Mas ele precisa de uns tabefes meus para ver se acorda. — Ergo as mãos indignada.
— Acho que é de família, certo? Você também necessita de uns tapas. Eu sou um tolo por me rebaixar a esse nível por ti. — Sorri, sarcasticamente.
— Porque és egoísta! — brado.
— E tu, orgulhosa! Quer saber, vou embora. Nem sei para que eu vim — Vejo-o se distanciar e não consigo obter coragem para ir até lá. Ele tem razão. O meu orgulho não deixa. Suspiro e decido ir atrás de Victoria se é que conseguirei achá-la. Logo, procuro pelo pátio e não a encontro; subo as escadas e sigo abrindo porta por porta, ignorando os atos presentes e nada. Dou a volta e sigo para o banheiro, porta trancada, mas com zumbidos lá dentro. Coloco meu ouvido mais próximo do Buraquinho da fechadura e ótimo! Acertei onde ela poderia estar. Reconheço sua voz a distância.
— Victoria! — Bato na porta e alguns próximos me olham rindo. — Victoria abre a porta! — brado novamente.
— Não atrapalha Violetta!
— Como é? Eu vou embora! — grito.
— Se você for esqueça o nosso trato! — diz, continuando a fazer sabe lá o que. Como sempre fui sem escrúpulos e já me encontro bastante irritada, não penso duas vezes e chuto a porta com força, quebrando-a. Okay, exagero na dose, o correto seria eu dar as costas e ir embora ao invés de destruir a porta do banheiro e visualizar a coisa mais vergonhosa do que tudo que pudera ter visto antes.
— Você me fez vim a esse lugar e o transformou em um projeto de cabaré. Fazer sexo é uma coisa, mas se expor ao ridículo dessa maneira é outra bem diferente. — Prefiro não comentar sobre o que contemplo. — Eu irei descobrir o que preciso sem a sua ajuda! Se seus pais vissem isso teriam vergonha de você! Nunca pensei que fosse para tanto.
Tudo bem, sou mui bruta em minhas atitudes me prestando a contemplar a vergonha estampada em sua face assim como algumas pessoas filmando toda a cena. A minha fúria com isso torna-se maior do que a que eu já possuo, fazendo-me pegar um pote de barro pequeno e acertar em cheio o celular de um rapaz que está na escadaria.
— Continuem a filmar e não medirei esforços para quebrar de um por um. — Viro-me e vejo Victoria choramingando, ainda semi despida. — Posso ter agido da pior forma possível, Victoria. Mas é melhor do que vê-la tendo uma atitude... — As palavras fogem de minha boca e meus olhos enchem de lágrimas. Victoria sempre foi a minha amiga, apesar de tudo.
— Você não podia fazer isso comigo, Violetta! — diz, com a voz embargada. — Nunca mais se meta na minha vida! Eu gosto disso e não é você quem tem que me dizer como devo agir.
— Agir igual uma prostituta? — digo, erguendo as mãos e deixando que lágrimas escorram de meus olhos. — Olha só para a sua situação agora!
— A culpa é sua! — diz, vestindo-se de uma maneira desajeitada enquanto os rapazes que estavam com ela, riam. E ao ver isso emana uma ira tão grande que não me contenho mais e os soco com tanta vontade, além de jogar um sobre a mesa de vidro que acaba por quebrar pelo peso. Ninguém tenta me impedir, porque eu não sei o que faria se tentassem.
— Pare Violetta! — vocifera, Victoria.
— Não percebes o quanto foi filmada? Aqueles babacas riram de você! — Aponto para os quais desci a madeira. — Quem sabe assim você para de ser tão mimada e patricinha e faz algo que preste para si e para a sua família. Esta casa está horrível. Vê se acorda para a vida! E saiba que ela não se resume a sexo e drogas como aqueles otários ali o fazem. — Aponto para os mesmos que transformaram a sala de jantar em um ponto para drogaditos.
Largo-a lá e saio enxugando algumas lágrimas que insistem em jorrar por minha face. Todos me dão espaço e nenhum deles atreve-se a me dar qualquer resposta. Sei que amanhã isto vai estar nos noticiários: A filha de um dos maiores empresários do estado se envolve em um escândalo por conta de sua amiga brava. Também tenho consciência de que humilhei-a bastante, porém um dia ela vai me agradecer e, se eu tiver amor no coração, ainda pedirei perdão mesmo que ela não aceite.
Agora, vou me acertar com Natan de uma vez por todas, porquanto o amo mais do que eu queira admitir, e acabar com essa palhaçada de Rebecca. Que ela se decida do que ela quer, também.
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Gente esse cap é nesse estilo mesmo, pq Vic ainda faz parte da trama, mesmo com pouca participação.
Espero q não se choquem tanto com nada descrito!
Essa personalidade de Violetta magoa qualquer um, mas também faz com que pessoas a ame também.
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