Respostas - Capítulo 14
"E se você partir, leve um pouco de mim"
(Oficina G3)
Caleb
— Meus alunos queridos, boa noite! — Olho para a turma e essa, extremamente sorridente, fita-me ansiosa para que eu a ensine, porém é a única turma que me dá mais trabalho para lecionar; ademais, alguns fazem questão de me verem no ano seguinte, o que me induz a imaginar como eles se comportavam no colegial.
— Boa noite! — exclamam, em uníssono.
— Bem a nossa aula de hoje será muito especial...
Após a aula...
— Caleb! Vai haver uma reunião com todos os professores amanhã às 04:30h p.m. Compareça. — Meu superior me avisa e eu assinto, respondendo-lhe conseguinte:
— Okay, Diretor Joseph. — profiro, à medida que me direciono ao armário a fim de guardar parte do material de aula.
— Hey, Nataly! Boa noite. Como vai sua turma? — pergunto a minha colega, que põe suas coisas dentro da bolsa, pronta para se retirar. Nataly é uma pessoa bastante reservada; e quanto a sua fisionomia, ela é uma mulata, esbelta, de cabelos medianos, além de possuir alta estatura; é consideravelmente uma modelo, só que da culinária, na minha opinião.
— Estão cada vez mais melhorando as habilidades. Acho que os meus ensinamentos valem algo. Eles realmente se dedicam e são bastante responsáveis. — responde, esboçando um leve sorriso.
— Que bom. — Sorrio de volta.
— E os seus, Caleb? — pergunta.
— Nem todos se dedicam. Alguns dão muito trabalho; mas dá para levar.
— Você já sabe que o diretor vai ter uma reunião conosco, amanhã à tarde? — pergunta.
— Sim, ele acabou de me comunicar. O que será, hein?
— Não sei. Vamos descobrir quando vimos — fala, receosa.
— Verdade.
— Já estou de saída. Tenho outra turma à minha espera — diz.
— Para mim também.
Dou um sorriso e esfrego a mão em minha cabeleira, ponderando sobre como farei para desarraigar do meu psiquê a Yasmim. Além disso, necessito conversar com Rebecca o quanto antes, visto que andou aborrecida, por minha causa, a semana inteira. Questiono-me sobre o que aconteceria se ela soubesse o porquê estou assim. Suspiro ao cogitar isso e, ainda estando eu em meus devaneios, não percebo quando o celular toca. Olho para ver quem é, e não está identificado.
— Alô?
— Alô. Amor! Sou eu, Rebecca. Tenho que conversar contigo sobre algo que surgiu.
— O quê, exatamente?
— Encontre-me em seu restaurante. Lá, eu te digo. Os créditos estão acabando. Beijos.
— Okay. De quem é esse núme... — respondo, e indago por ela está falando em outro celular; mas nem espera eu terminar de falar. Porém, mal penso nela e ela liga.
Após dar minhas últimas aulas, saio da escola e sigo para o restaurante. Em todo o caminho fico a questionar-me a respeito do que poderia ser, até porque dificilmente ela me telefona para falar sobre algo, assim do nada, e eu espero que não seja sobre mais viagens.
Depois de estacionar o carro, adentro o restaurante que ainda se encontra em funcionamento, com o meu vice sob o comando.
Encontro Rebecca em uma mesa retraída, no encontro entre duas paredes, apoiando o antebraço debaixo do queixo, olhando para a rua num ponto específico. Ela mantém o cabelo preso, deixando somente uns poucos fios caírem pelo rosto, mas se encontra trajada de uma blusa azul com mangas frisadas caídas nos ombros e calça jeans preta.
— Amor? — digo, assim que me aproximo.
— Oi! — diz, mais animada do que o normal, o que me leva a estar alerta.
— E então? O que houve? — pergunto, assentando-me.
— Eu tenho estas duas passagens para Dubai — retira da bolsa e me mostra —, e eu quero muito que você faça esta viagem comigo. Irei participar de um concerto especial que acontecerá lá! E, provavelmente, ficarei por lá bastante tempo.
— Quanto tempo? — questiono.
— Bom, 1 ano ou 1 ano e meio, talvez.... Já que é uma longa estadia.
— Tudo isso? — pergunto, descrente, no entanto, isso nem me surpreende mais, pois quase sempre ela está longe.
— Então, você não está animado? — questiona.
— Não, não é isso, é que... Bom, eu não posso deixar o meu restaurante e meu cargo de professor para fazer essa viagem com você, Rebecca! Um ano é muito tempo. Se fosse uma semana, somente, até que eu iria contigo.
— Mas... É que eu quero muito compartilhar a minha felicidade contigo.
— Mas não dá, Rebecca. Simplesmente não dá. — respondo, aborrecido, porquanto eu também possuo compromissos importantes pelos quais não posso abrir mão.
— Se eu for... É capaz de você ainda está aqui, esperando por mim? — pergunta, com um semblante magoado, mas não tenho como dar a ela uma resposta diferente desta:
— Por que você está me perguntando isso? — Franzo o cenho.
— Porque eu irei ficar muito tempo fora, ora! E se você me deixar ou me esquecer, ou... Me trair com outra mulher?
— Eu não te trairia, Rebecca. Eu jamais faria isso contigo. És uma pessoa especial, talentosa, digna de respeito. Sempre estivemos nos apoiando um no outro para o que desse e viesse. Sempre estive à sua espera, nas suas longas viagens. Eu poderia esperar por você.
— Será mesmo que eu poderia? — questionei, em pensamento.
— Eu não sei, Caleb. Você tem agido muito estranho ultimamente. Tem sido um pouco arrogante comigo.
— Para de imaginar coisas, Becca!
— Está vendo só? — indaga, alterando o tom de voz.
— O quê, pelo amor de Deus! — exclamo, nervoso.
— Você nunca me chamaria de Becca, novamente. Lembra?
— O quê? — Esboço uma faceta, descontente com suas palavras, porquanto ela me questiona tal coisa porque na última vez em que brigamos, eu a chamei pelo apelido que ela não suporta; também nunca fez questão de mencionar o porquê e eu acabei prometendo não chamá-la de tal maneira. E a discussão deu-se justamente por conta das viagens que ela faz, pois quando ela fica muito tempo distante, sinto-me carente; como se eu precisasse que ela estivesse ao meu lado a todo instante. Já não basta que eu sempre tenho que ficar esperando por ela, cerca de meia hora, na maioria dos nossos encontros, devido a sua mania de se arrumar demais.
— Amor... Eu... — Intento dizer algo, mas meus olhos voltam para o cardápio posto à mesa.
— Está vendo, Caleb! Você sequer faz questão de me olhar nos olhos.
— Eu disse sem querer. Não é como se eu não gostasse mais de você, poxa! — Realmente me aborreço pelas suas especulações.
— Tem alguém? — pergunta.
— Não! De onde você tirou isso? Meu Deus! — Passo a mão na cabeça, estressado.
— Então por que você se encontra tão irritado?
— Porque você está me deixando assim. Percebestes as bobagens que acabaram de sair da sua boca? — Acabo por berrar, sem ter me dado conta de que há uma multidão olhando para nós dois, principalmente meus funcionários.
— Vamos para o carro — falo, levantando-me da mesa e indo em sua direção, segurando-a pelo braço.
— Eu não vou a lugar algum — profere, desvencilhando-se.
— Tem um monte de gente nos observando — falo, sem deixar de mirá-la, até que, ela olha em volta, e, também, opta por irmos ao carro, por mais que esteja zangada assim como eu; tão emburrada que não me permite segurar a sua mão. Além disso, já está tarde e percebo isso ao olhar para o relógio no pulso vendo que irá marcar dez horas da noite.
— Pronto. Agora seja sincero comigo. Tem ou não tem alguma mulher envolvida com relação ao seu comportamento, Caleb? — pergunta, assim que entramos no carro.
— Eu já lhe disse que não — minto, mas de certa forma não se trata de uma mentira, porque Yasmim sempre foi uma incógnita para a minha mente.
— Não minta para mim. Você nunca foi bom em mentir.
— Aí! Conhece-me tão bem que não confia no que eu digo?
— Caleb, eu sei que estive muito ausente. Eu mal liguei para você, para avisar como eu estava. Mas, sempre estivestes em meu coração; quanto a mim... Não sei se faço parte do seu, ainda.
— Rebecca! — Passo a mão pelo meu rosto. — Eu estou meio confuso. É isso.
— Com o quê?
— Eu quero que você me prometa que só vai escutar, e não vai dizer nada, até eu terminar de falar.
— Está bem — suspira.
— Lembra que eu, uma vez, te disse sobre o acidente que eu tive?
— Lembro.
— Então... Eu não te contei tudo. — Respiro fundo antes de continuar. — Depois que eu me acidentei, fiquei em coma no hospital por longos dias; e sempre eu ouvia alguém falando algo para mim; algo como: Eu preciso que você acorde; amor; filho; essas coisas. Quando eu acordei, parecia que tudo estava normal para mim, menos o fato de eu estar em um hospital e cheio de enfaixes pelo meu corpo.
A primeira coisa que eu vi, foi uma moça gritando para as enfermeiras que eu havia despertado e essa moça me chamava de amor. Eu estava chocado e me perguntando quem ela era, até que o médico veio me examinar e perguntou para mim, o porquê eu olhava estranho. Eu só conseguia questionar o motivo de eu estar em um hospital e sobre o que havia acontecido comigo. Então, quando olhei para a moça, essa já não possuía um sorriso no rosto e percebi que ela perguntava o porquê de eu agir de tal maneira. Portanto, o doutor se voltou para mim e explicou que eu tinha sido atropelado após sair do carro que havia capotado na estrada, e batido a cabeça com força, o que resultou em um traumatismo craniano. Sobretudo, que era um milagre eu ter sobrevivido. Depois, perguntou-me qual era o dia, assim como realizou outros testes verbais e físicos em mim, e fez uma última pergunta: "Sabe quem ela é?", dissera, apontando para a mulher que me chamava de amor. O que me fez responder, "não". Sendo assim, ele se retirou, pediu mais alguns exames como o EEG*. Algum tempo depois, ele conversou com meu pai, com a minha suposta namorada e com a minha irmã; que ficaram chocados. Depois, ele se voltou para mim e disse que eu havia sofrido uma amnésia e provavelmente atingindo as memórias mais recentes, o que foi visto pelo meu comportamento; no qual não teria como saber se voltaria a lembrá-las ou não. A minha suposta namorada ia ao hospital quase todos os dias enquanto eu ainda não tinha recebido alta.
Por fim, esse ano, encontrei-a novamente, e foram duas vezes.
Não que eu esteja gostando dela ou algo do tipo, mas sinto que de alguma forma o seu olhar mexe comigo e isso é o que me deixa confuso e impaciente. Pronto, falei.
— Então, o que você está me dizendo é que possui o pensamento dividido entre eu e ela? Tudo só porque a viu duas vezes? — profere, virando o rosto para a janela do carro.
— Não... — Suspiro e ponho a cabeça no volante.
— Eu vou para Dubai — diz, abrindo a porta do carro e saindo.
— Rebecca, espera! — Abro a porta do carro e corro em sua direção, segurando-a pelo braço. — Deixa eu terminar de falar... Eu...
Paft!
— Solte-me!
Largo-a, atônito, pois eu não esperava ser esbofeteado na face.
De repente, meu celular toca e eu atendo, enquanto a vejo se afastar ainda mais, assim como sinto o meu rosto arder por conta do forte tapa dado.
— Oi.
— Ei! Caleb, aqui é Natan. Olha,será que podemos conversar depois? — pergunta.
— Hoje mais não, cara. Deixa para a próxima. Preciso resolver umas coisas; ficar um pouco sozinho.
— Aconteceu alguma coisa? — questiona, Natan.
— Não, está tudo bem — minto.
—Então, está bem. Até mais ver.
— Até mais — Desligo.
(...)
Yasmim
— Yasmim! Eu estou tentando me aproximar um pouco mais dele, sabe; mas ele é bem durão. — diz, Dai.
— Hum... Não sabia que você era interessada em Joseph! Isso é realmente chocante — respondo, fazendo graça.
— Na verdade, eu não era... Eu sou interessada nele! — responde, sorridente.
— Querida, ele é um bom partido, mas se você está atrás de um compromisso bastante sério, não sei se ele pode ser uma boa opção, até porque ele não parece ser o tipo de homem que gosta de relacionamentos sérios. Ou você acha que na idade que ele tem, já não era para estar casado? Você sabe que eu quero o melhor para você... E eu espero que você tome a melhor decisão! — digo, encarando-a.
— Tudo bem, Yasmim. Você tem razão! Vou pensar a respeito... Ah! Mas eu gosto tanto dele, tipo, ele tem um álibi fascinante! O jeito dele é... — Daianny esboça um olhar de menina apaixonada, o que me induz a gargalhar.
— Se realmente você gosta dele, então, vai em frente! Mas não conte comigo se algo der errado.
— Nossa, Yasmim! Você tem que estragar minha felicidade.
— Felicidade? Eu chamaria isso de ilusão! Não se iluda tanto com Joseph. Observe-o primeiro, sonde-o. Conselho de amiga — aconselho, sendo bastante sincera, afinal não tenho certo conhecimento quanto a situação sentimental de Joseph, mas a impressão que eu possuo é de que ele não está atrás de compromissos sérios no momento. Mas, posso estar errada e precipitada no meu julgamento.
— Tudo bem. — Revira os olhos e bafora. Eu apenos sorrio de viés.
Após isso, começo a analisar tudo o que já tem me acontecido até agora, pois, quando pequena, vi meu pai morrer atropelado. Cresci sonhando em ser uma artista, porquanto era exatamente o que meu pai fazia: Arte. Entretanto, meu primeiro emprego foi na área de computação e, nessa mesma época, eu conheci Caleb; quando tudo começou a ser diferente, tão diferente que, Caleb, sofreu um grave acidente que o fez perder as memórias e, até hoje, não se lembra de mim, de quem eu era para ele; minha mãe adoeceu por conta do câncer e perdi minha tia, Marie, num acidente; construí minha galeria; fiz novos amigos; fui traída por um imbecil e quase roubada; sofri um acidente e o principal, que, dentre tudo isto, reencontrei aquele no qual fora o grande amor da minha vida: Caleb. Porém, ainda não sei o que fazer estando com ele mais perto do que nunca, de mim. Minha mente está tão confusa que as vezes não sei o que fazer. Além disso, ele tem alguém em sua vida e esse alguém não sou eu.
O nosso amor era como uma poesia: sempre estava em constante rima com a vida. Tudo o que fazíamos juntos era como a arte: repleta de criatividade, de detalhes, sem cinismo; algo feito com a alma. Mas, no desfecho, nada se tornou como eu gostaria.
— Yasmim?
— An? Oi, o que foi? — pergunto, piscando o olho.
— Seus pensamentos estão longe, hein, amiga! — Cruza os braços e arqueia a sobrancelha, fitando-me de forma duvidosa.
— Hum... Deve ser o cansaço por causa do trabalho. Vou embora.
Eu não queria dizer o real motivo de meus devaneios.
— Sei... — diz, meio desconfiada. — Eu vou daqui a pouco.
— Daqui a pouco? Joseph já foi embora faz tempo — brinco.
— Não tem nada a ver com ele, sua chata — Esboça uma careta.
— Então, tá. — Dou de ombros, pego minhas coisas e caminho em direção a porta. — Tchau. — Miro-a e aceno.
— Tchau, Hanna.
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Nota: EEG ou electroencefalograma- Mapeamento da atividade cerebral.
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