Quem é você? - Capítulo 23
"Eu não posso te perder
Céus, eu preciso de você"
(NF)
— Alô, alô! Rebecca!
Aflito, ponho a banhar-me abruptamente, mal enxugando-me em seguida, e, depois, enfiando uma veste qualquer. Tomo em mãos a chave do carro e da casa, como também o celular, e saio em disparada ao meu apartamento, pois sinto que ela deve estar lá. Meu pai ao me ver em passos largos até a porta, questiona onde eu irei dessa maneira e eu respondo da forma mais direta possível:
— Atrás de Rebecca, meu pai.
Quando chego e abro a porta, encontro-a desacordada com as malas postas ao seu lado. Insisto em despertá-la, porém em vão. Coloco-a em meus braços e a carrego até o quarto. Ao sentir a sua temperatura, receio estar um pouco febril. De imediato, faço uma compressa morna e ponho em sua testa, até que, no mesmo instante, ela acorda lentamente. As suas pálpebras abrem e fecham por duas vezes seguidas antes de realmente perceber que eu estou presente.
— Rebecca, amor. O que houve? — pergunto, preocupado, alisando a sua cabeleira.
— Caleb? — diz, quase num sussurro.
Por impulso, ela tenta se levantar; mas a impeço, pois vejo que ainda continua tonta, por sua expressão feita.
— Nem pense nisso! Você não está bem. Diga-me que houve? — indago, novamente.
— Eu... Só fiquei tonta e apaguei. — responde, suspirando vagarosamente. — minha cabeça dói — murmura. E creio que tenha sido por conta do desmaio. Ela não caiu em um lugar macio.
— Você está pálida. — Coloco a mão direita em seu rosto. — Se não melhorar, iremos a um médico amanhã. Irei marcar uma consulta, pela tarde, se conseguir.
— Onde você estava? — pergunta, não dando muita atenção ao que eu havia dito.
— Na casa de meu pai. Iria dormir lá — falo, naturalmente.
— Mesmo sabendo que eu iria chegar hoje? Me deixaria sozinha? — questiona com um semblante entristecido.
— Não... Eu pensei em dormir lá porque faz tempo que não vejo minha família — falo, tirando a toalha da fronte. — Você está com um pouco de febre. Vou pegar um remédio para que tomes — digo e ela não recusa.
Logo, vou à cozinha, abro um dos armários em que sobreponho alguns poucos remédios que julgo necessários, que não precisam de receitas médicas, e pego um comprimido antipirético.
Não demoro a retornar para o quarto, tendo comigo um copo com água fria sob medida e o comprimido em mão.
— Tome. — Entrego o remédio e o copo com água.
— Obrigada. — Entrega-me o copo e eu o coloco em cima da cômoda.
— Não sou sua família também, Caleb? — pergunta, após se recostar no travesseiro novamente.
— Por que falas de tal maneira? É claro que és minha família, também, porém a minha primeira família são eles; e não é hora para esse tipo de conversa; descanse e amanhã falaremos. — digo, tentando não ser rude.
Sempre ela age como se eu não me importasse com ela, contudo eu me importo e muito. Eu é quem deveria estar chateado por não me telefonar nenhuma vez (tirando o fato de ela só me ligar quando estava voltando para cá), enquanto eu fiquei discando para ela milhares de vezes e nada.
Rebecca se acomoda na cama e eu deito do seu lado. Deixo-a descoberta para não esquentar ainda mais e ela retruca, no entanto, a febre precisa baixar e não o contrário. Pela manhã, irei telefonar para meu pai e dar uma melhor satisfação; porém ele sempre me entende e quando eu saio assim é porque algo aconteceu e não voltarei para casa tão cedo.
(...)
Ao amanhecer, eu me coloco de pé, primeiro, e miro-a por um instante, antes de sair do quarto. Ela dorme como um anjo. Toco em seu rosto e já não sinto a quentura, acima do normal, de sua pele, como outrora. Logo, curvo-me e beijo-a na testa, colocando-me em posição ereta, em seguida, e indo em direção a porta do quarto. Depois, destino-me à sala e pego o telefone celular, que está em cima do braço do sofá, para ligar para Jonathan, meu querido pai. Aviso acerca do que ocorreu e, como eu tinha certeza absoluta, ele compreende tudo mansamente .
— Amor? — Ouço Rebecca me chamar, vindo em minha direção enrolada a um lençol. Por mais que ela não esteja mais febril, está muito frio estes dias e, mesmo com o aquecedor ligado, dá para sentir um pouco de ar gélido das frestas das janelas.
— Oi, Bom-dia — digo, achegando-me a ela e beijando-a. — Dormiu bem? —pergunto.
— Sim. Para quem telefonava? —pergunta, abraçando-me.
— Para meu pai. Desculpei-me com ele pela forma que saí ontem. Creio que ele ficou preocupado, principalmente com você — respondo, tocando o seu rosto.
— Mesmo? — pergunta um pouco incrédula, eu diria.
— Sim. Ele perguntou como você estava e eu disse tudo o que aconteceu e que você já está bem melhor. Agora vamos tomar café da manhã e depois iremos conversar — respondo, afastando-me e indo em direção aos armários. — Que tal torradas? — pergunto, enquanto pego a jarra de café.
— Pode ser — diz.
— Pode me dizer o motivo da febre de ontem e sem falar de seu descoramento. O que houve? — questiono.
— Pensei que fôssemos conversar depois do café — responde.
— Esquece o que eu disse antes. Preciso saber agora — digo. A preocupação fala mais alto.
— Cansaço demais, só isso.
— Só isso? Tem certeza? — questiono mais uma vez. — Eu não acredito que você tem se esgotado nesse trabalho. Tens se alimentado bem, amor? Seja sincera comigo — digo encarando-a.
— Um pouco — diz, meio sonolenta e, prontamente, observo-a com mais atenção e contemplo sua face mais emagrecida com o queixo mais afinado do que antes. Nem se completou um ano distante e ela está dessa forma.
— Esteve fazendo algum tipo de regime ou dieta? — pergunto, sério, colocando as torradas à sua frente junto ao café; e também pego algumas frutas.
— Não exatamente — responde se endireitando à mesa.
Logo, fico nervoso e preocupado, tapeando, com força, a mesa.
— Rebecca, você vai me dizer direitinho o que houve enquanto esteve lá. Eu não acredito que estou te vendo dessa forma — digo, fazendo gestos com as mãos defronte dela.
— Caleb, eu não tenho nada para dizer. Esse tempo que eu estive lá foi ótimo, juro! Só que... — Diz e não completa.
— Só quê? — Desejo que ela continue a dizer.
— Eu fiquei um pouco mais gordinha, então entrei em um mini regime. Mas também fiz muito exercício físico e só comi coisas fitness e saudáveis. Fora isso eu só tenho estado esgotada por causa do meu trabalho. Quando eu decidi retornar, foi por ti e porque estava sendo bastante cansativo para mim. — Suspira. — E eu só peguei um leve resfriado. Esqueci que aqui estaria super frio esta época do ano — acrescenta.
Ela expõe tudo e eu fico meio aliviado, porém irritado.
— Mas amor isso é muita irresponsabilidade! E gordinha? Desde quando? Seu corpo é lindo! E, mesmo se estivesse com uns quilos a mais, não diminuiria a sua beleza. Quantas vezes vocês se apresentavam por semana? —indago.
— Umas quatro vezes, praticamente, e em concertos extremamentes longos, por causa dos festivais. Quando não nos apresentávamos nas ruas, para o público mais humilde.
— Realmente esgota e principalmente com a falta de descanso sua. — Suspiro. — Já que é assim, esqueça seu bendito regime. Vais continuar comendo alimentos saudáveis, mas irá descansar para recuperar as energias. E, se teimar, eu peço a ajuda de Natan — digo e ela ri.
— Obrigada. E não... Pode esquecendo Natan. Não quero ele vindo preparar refeições nada agradáveis para mim —responde e começa a comer as frutas que até então não havia nem tocado.
Encaro-a pesaroso. E em pensar que algumas semanas atrás eu estava com o psiquê focado em outra mulher. Eu já tenho o que preciso e está bem na minha frente. Ela sim é a minha felicidade e eu desejo profundamente fazê-la feliz. Se um dia foi a outra, com certeza já não é mais. Tenho convicção que é com Rebecca que irei formar uma família tão desejada por mim e pela minha parentela.
(...)
Yasmim
O mês passado fiz toda a investigação, sobre o roubo de dados da empresa coreana, com Robert, meu primo. Conseguimos encontrar tudo o que faltava no sistema, além do indivíduo que desviava informações, através de algumas espiadinhas na rede. Claro que não foi fácil e tive que pedir ajudar do meu antigo colega de trabalho, Carter. Nem precisamos ir para a Coréia do Sul. Fizemos tudo daqui de Seattle.
Meu primo nos gratificou pelo rude trabalho e, o dinheiro recebido, pelo menos da minha parte, doei para uma ONG a fim de ajudar na manutenção da mesma. Relutei para que não viesse a receber quantia alguma, mas teimosia é o que não falta em minha parentela. Entretanto, gostei de poder desfrutar novamente de parte das minhas antigas funções. Fazia tempos que não mexia com isso, afinal, tudo o que eu não quero é ser enjaulada por ferir a integridade de alguém, mesmo que fosse para descobrir coisas ultra secretas. Este ponto arriscado deixo para Carter que tem trabalhado para o governo ultimamente. Só fiz para meu primo, porque bem, é meu primo e a empresa dele, então não havia problemas.
De volta ao mundo das artes, tenho pintados novos quadros e obtive um bom lucro com eles. Esses meses foram ótimos no requisito trabalho; e agora estamos na época do natal, mas é uma pena que minha família não está mais presente. Sinto falta deles.
Joseph e Daianny estão cada dia mais chegados e eu permaneço na torcida por eles, agora. Ele provou ser verdadeiramente um homem honrado quanto a relacionamentos e eu, bem... Melhor sozinha do que mal acompanhada.
Hoje estive pensando em visitar Jonathan, porém pode ser que eu encontre pessoas indesejadas, então, contento-me somente à vontade de visitá-lo. Daianny vai passar o natal com a família e, Joseph, eu posso dizer que o mesmo. O jeito é eu ficar na minha, em casa mesmo, do que incomodar alguém. Mas se bem que tenho me sentido um pouco carente esses tempos.
— Ei, Yasmim! — bradam, alguns funcionários meus, quando me aproximo da recepção.
— Sim? — pergunto, receiosa.
— Será que a nossa chefe poderia ir a um almoço conosco, hoje? — pergunta, Demétria. Uma pessoa bastante carismática e que, no pouco que a conheço, não para a língua um instante sequer. Alguns brincam-na dizendo que irão passar uma super cola com o intuito de que sua boca permaneça fechada. Eu acho uma maldade ser desprovida de palavrear por outros se incomodarem, apesar de que se deve haver um limite.
— Para quê? — pergunto.
— A senhora tem passado a maior parte do tempo sozinha, então, que tal? Sabemos que senhorita Daianny está de férias e que senhor Joseph viajou antes de ontem, então... — Marcus se dispõe a responder. De estagiário, foi colocado como permanente aqui e é um rapaz adorável com uma beleza considerável.
— Tudo bem. — Dou um pequeno sorriso.
Eles leram os meus pensamentos.
Algum tempo depois, faço algumas ligações e peço para que a secretária marque uma reunião com o pessoal do administrativo para amanhã. Após isso, vou ao memorável almoço sob a companhia de minha gente.
— Então, Marcus, quem era aquela moça que você estava conversando ontem? — questiona, Scarlett, enquanto beberica o suco de goiaba. Eu observo tudo calada, degustando de minha refeição.
— Minha prima. Chegou ontem de viajem — responde.
— Ah, que pena — diz. — Quase shippo os dois.
— Que pena nada, que bom que é somente sua prima, baby — fala, Selena, dando uma piscadinha para ele. Que óbvia!
— Sim, a gente joga conversa fiada fora, mas a nossa chefe só abre a boca para comer. O que a gente faz com ela pessoal? — indaga, Tony, encarando-me com os olhos semicerrados. De todos, ele é o mais divertido e com um estilo que só ele mesmo pode definir. Seu cabelo espichado, por exemplo, me lembra um porco espinho.
— Ei! Prefiro ficar na minha e comer em paz — digo, sem mais delongas.
Minha intenção é somente comer e nada mais. A fartura posta à mesa chama-me mais atenção do que qualquer outra coisa. Ganhar uns quilinhos não será um problema.
— Não, você só pode estar de brincadeira conosco — fala, Selena.
Por mais que eu realmente queira permanecer séria e farta, eles não me deixam em paz. No entanto, estou feliz por ter dividido a mesa com eles.
Ao terminarmos, pagamos a conta e saímos. Logo, adianto alguns passos e fixo meu olhar na neve, pensativa. No entanto, nem sei o que pensar, para falar a verdade. Mas, de repente, ouço alguns cochichos perto de mim. Viro-me para entender o que se passa, e recebo uma bolada de neve na face, fazendo-me cambalear para trás. Eu fico boquiaberta com tamanha audácia.
— Serão todos demitidos! — exclamo, apontando para Marcus. De certo modo é brincadeira.
— Isso não foi sério — diz, Selena. —Não pode nos demitir fora do local de trabalho. — Ri. Deveras é verdade.
— Minha deusa, onde acharei tamanha formosura? Onde poderei desfrutar do seu olhar, da sua arte, senão perto de ti. Ajoelho-me aos seus pés — fala, Tony, com sarcasmo, prostrando-se. — Não vou beijar seus sapatos. — Encara-me com o pescoço erguido e eu começo a ri da cena mais descabida que já vi. — Ela riu, minha gente! — vocifera.
— Sim, precisamos voltar ao trabalho. E já chega de graça — respondo, tentando segurar o riso.
— Não, não mesmo! Ainda temos... 45 minutos antes de voltarmos — diz, olhando para o relógio.
— Deixa de desculpa, madame. Vamos às compras — diz, Demétria. Ela é uma das mais velhas da minha equipe. Tem 31 anos, mas com aparência de cerca de 26. Já os outros que estão comigo agora, são de 29, decrescendo.
Devido a insistência deles, acabamos por andarmos mais alguns metros e entrarmos em algumas lojas. Eu, particularmente, recuso-me a levar algo, mas eles decidem fazer algumas comprinhas e eu os acompanho.
Algum tempo depois, Julian decide passar em um restaurante perto de onde estamos para falar com seu tio; e fomos juntos a ele. Esqueci de mencionar que Julian, o loiro de olhos castanhos, está conosco também.
Ao pararmos em frente ao restaurante, fico um pouco distraída, conversando, que nem observo a placa do local. Mas, assim que deparo com aquele nome, meu corpo literalmente petrifica: Magnum's.
— Yasmim! Vamos entrar e pedi alguma coisa? — pergunta, Selena, tirando-me de meus pensamentos lastimosos.
— Não, flor. Não... — digo, ainda olhando para a frente do lugar.
— Realmente não. Acabamos de almoçar. Ninguém tem uma lontra no estômago. — Tony retruca, tapeando o braço de Selena. — Você está bem, chefe? — pergunta a mim, franzindo o cenho.
— Sim, estou — respondo, afastando-me um pouco da porta principal, quando, repentinamente, surge um carro e para próximo donde estamos.
Esbugalho meus olhos quando vejo Caleb e o mesmo rapidamente me fita surpreso. Tento me mexer, porém não consigo e, de imediato, recordo-me do convite que me fora feito no qual passei batido, até que visualizo a porta do carona se abrir e sair a sua namorada, eu diria. Lembro-me dela de relance.
— Rebecca? — fala, Marcus, e ela olha em nossa direção.
— Marcus! — Sorri e se dirige até ele, dando-lhe um caloroso abraço.
— Nossa, que bom te ver de novo — diz.
— Ainda cansada? — pergunta.
— Sim. Um pouco — responde. — E você, quem é? — pergunta, encarando-me, por está do lado dele.
— Yasmim Lahanna — respondo, meio sem graça.
— Já nos vimos antes? Me parece familiar — diz.
— Talvez... — respondo e ela me olha tentando decifrar alguma coisa.
— Ah, já sei quem és! A dona da galeria Lasmine! Por isso que vi Marcus com vocês — profere, alegremente, apontando para mim e os outros. Eu apenas dou um sorriso fechado e logo vejo Julian vindo até nós e, em seguida, Caleb.
— Vamos, gente. Já está em nosso horário. Desculpa a demora — diz, e somente assentimos.
Até eu estou atrasada para outros afazeres, mas não me arrependo de ter almoçando com eles, apesar desse desfecho indesejado. Eu e Caleb trocamos rapidamente alguns olhares, mas depois desviamos o olhar. Admito que, ao vê-lo, namoro novamente do ocorrido em nossa estadia no hotel. Suspiro e aperto as mãos, uma na outra, freneticamente, até perceber que alguém não deixara passar nada.
— Vocês se conhecem, não é mesmo? —pergunta, Selena.
— Eu e quem? — pergunto, fazendo-me de desentendida.
— O dono do restaurante. Nós vimos a troca de olhares — diz e o pessoal logo ri.
— Não sei do que vocês estão falando — digo, com desdém.
— Mas eu sei — profere, Demétria.
— O que você sabe, querida? — questiono, temerosa.
— Há alguns anos, aquele homem sofreu um acidente e, quando ele estava no hospital, você estava lá e chorava bastante. E eu sei disso porque meu pai estava no quarto seguinte, decorrente de um AVC. — Conclui sua fala e todos os outros me olham perplexos, mas não dizem nada, enquanto eu fico desejosa em afundar minha cabeça num buraco.
— Vocês já tiveram um relacionamento e ele não lembra de você, correto? Pois eu me recordo também que saiu no jornal e dizia que ele havia perdido algumas memórias — acrescenta, Demétria, e eu, em mente, cogito esganá-la ali mesmo.
— Já chega! A minha vida particular não é da conta de nenhum de vocês —brado, irritada.
— Desculpe-nos, chefe. — Tony profere e logo retomo a pacificidade.
— Eu que peço desculpas. Mudem de assunto por favor e isso morre aqui. Considero bastante vocês pela excelência e pela amizade que possuímos uns com os outros, mas não irei admitir que passem dos limites —respondo, com seriedade.
Sem demora, entramos cada um em seu carro, que deixamos estacionados, e seguimos para a galeria.
Falar sobre Caleb e aquele acidente ainda me deixa receosa. E se me perguntarem se esse sentimento por Caleb ainda mora em meu coração, com toda certeza ele mora, porém não afirmaria isso para ninguém.
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Oi, pessoal! Votem e comentem. Isso me incentiva bastante.
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