O que devo fazer? - Capítulo 36
"As pessoas nunca desabam em um dia
É um lento desvanecer, é um lento desvanecer"
(Casting crowns)
Alguns meses depois...
Caleb
Os dias se vão assustadoramente e o ensejo para colocar as notícias em dia tem sido curto. Há semanas que não vou visitar meu pai e também não sei nem como anda minha irmã ou o que aconteceu a ela depois daquele incidente com a amiga. Meu foco tem estado somente no restaurante e pouco me distraio até porque nem ânimo para isso eu tenho. Saí da escola de culinária por conta da exaustão, mas ainda sinto saudades de ensinar aos alunos, porém eu entrei num acordo com Joseph e o Magnum's será, em breve, um dos locais de estágio da ETFS.
Desde a última vez em que vi Yasmim, tenho tido de vez em quando um sonho no qual sempre repete-se à maioria das vezes – sonho esse onde estamos juntos no campo, vendo os "nossos" filhos a correrem. Odeio ter que admitir isso, porém sinto falta de ver o seu olhar penoso eu diria, contudo ela sempre foi uma mulher incrível, mesmo sem eu ter muito conhecimento sobre ela. Quanto a Rebecca, não tivemos mais nenhum outro contato a datar de quando ela saiu de casa, no entanto acredito que esteja bem e o que eu mais desejo é que ela prossiga em realizar seu sonho de dançar.
— Caleb? — Ouço a voz de Natan soar, despertando-me dos pensamentos alheios, e eu o encaro, vendo-o com um enorme sorriso, levando-me a estreitar os olhos e perguntar o que acontecera, o fazendo se assentar na cadeira.
— Tomei a coragem de pedir Violetta em namoro, apesar de tudo o que já aconteceu entre a gente. E adivinha?
— Ela aceito. — afirmo. Ele se encontrava feliz por demais para ser algo diferente disso.
— Exatamente! — brada. — E eu estou muito feliz e aliviado. Pensei que poderia esquecer o sentimento que eu tinha por ela, mas não dá.
— E eu feliz por você. — Dou meu melhor sorriso. — Até que enfim ela aceitou.
— Sim. Agora quero saber sobre você. Até porque não vim aqui só para te dizer isso.
— Eu? — questiono.
— Sim. O que houve que não tem ido visitar sua família?
— Ah, isso é... Sei lá. Estive muito ocupado. — Fico sem saber o que dizer diante de sua pergunta. Sempre fui ocupado, mas muitas vezes tive tempo de sobra para visitá-los e não o fiz.
— Sei... Você é o dono desse lugar e pode sair quando bem entender — diz, arqueando a sobrancelha.
— Mas eu gosto de estar aqui.
— E sua família fica em segundo plano? — Encara-me e eu somente suspiro. — Olha só pra você. Está transformando o restaurante em um ídolo, eu diria. Sei que é seu trabalho e foi com esforço que conseguiu chegar onde estás agora, mas você precisa, sei lá, sair, se divertir, visitar seu pai... Você nem tem atendido o telefone.
— Olha, Natan... Da minha vida cuido eu. Eu preciso ficar um pouco sozinho... É bom para refletir, sabe? — Fico um pouco irritado, mas talvez o cansaço e estresse estejam me incomodando um pouco também, deixando-me nesse estado.
— Realmente precisas refletir. — Levanta da cadeira. — Principalmente rever suas prioridades e palavras, porque estás irreconhecível — diz e caminha em direção a porta, abrindo-a, retirando-se e fechando-a novamente. Eu suspiro e esfrego a mão no rosto, estressado, pois não meditei direito quando soltei as palavras e nem imaginei a força de ação delas, no entanto não dá para voltar atrás e depois irei desculpar-me com ele.
Ao invés de continuar a cogitar coisas, decido sair do escritório e voltar para a cozinha, mas ao chegar lá me sobrevém um desânimo me fazendo questionar: Deixei-me afadigar em demasiado? Após ponderar isso volteio e retiro o avental, pendurando-o no cabide, em seguida, ponho a mão no bolso apalpando as chaves e, então, saio do escritório e sigo em direção a porta de entrada do restaurante. Do lado de fora, caminho em direção ao carro, destravando-o assim que me acerco e, após adentrá-lo, giro a chave de ignição dando partida e seguindo para a casa de meu pai com o intuito de vê-lo.
Ao chegar, abro a porta, já que, também possuo a chave e depois que adentro, ando até a sala da família e o observo deitado no sofá lendo um livro que nem percebe a minha presença por estar tão concentrado na leitura, sentindo a minha pessoa somente quando eu o chamo.
— Pai? — Ainda sobre os pés o encaro.
— Sim? — Retira o olhar do livro e sorri. — Meu filho! — Põe o livro para o canto e levanta do sofá a fim de me abraçar.
— Olá, pai.
— Até que em fim apareceu! — Desfaz o abraço e brada com os braços abertos. — Já era hora.
— Perdoe-me por não tê-lo visitado... É que eu tenho andado tão disperso ultimamente, mas aqui estou eu — digo, meio exausto, sentando no sofá.
— Por que este semblante? — Cruza os braços e me fita.
— Só fadiga. Somente isso.
— Entendo. Algo para me dizer? —Senta do meu lado esperando que eu o diga alguma coisa. Porém eu verdadeiramente tinha algo para contá-lo.
— Pai? Se eu nunca tivesse sofrido aquele acidente, tudo seria diferente, certo?
— Com toda certeza. Mas tenho certeza que não é só isso que tens a me falar. — E ele sempre acerta.
— Tudo bem. Eu estou exausto sabe... Tenho meu restaurante que é um sucesso, vocês é claro e... Só?!
— Lembre-se de seus amigos, principalmente Natan.
— É, também, mas... — Fecho os olhos e me encosto na cabeceira.
— Fiquei sabendo que você não está mais na escola de culinária. Por que se demitiu?
— Não quis continuar — respondo.
— Mas você sempre gostara de trabalhar lá.
— Porém eu não quis permanecer. Há muito tempo havia pensado em sair, pois era muito trabalhoso para mim. — Esfrego a mão em meu cabelo, bagunçando-o. Toda a conversa está me deixando impaciente sem motivo algum.
— Eu não estou te entendendo. Estava tudo ótimo até você e Rebecca terminarem. Depois, as coisas desandaram por demais! Tome as rédeas da sua vida, meu filho! Cadê aquele homem decidido? Sepultou? — Dou risada de suas palavras, mas se fosse respondê-las eu diria: não sei, entretanto nem isso eu faço, pois prefiro permanecer calado, permitindo que o senhor Jonathan me dê algum sermão como ele sabe fazer melhor do que ninguém.
— Caleb. Se isso tudo é porque se sente carente ou... — Interrompo-o.
— Não é carência! — Miro em seus olhos.
Ao dizê-lo, Violetta surge na sala, destacando-se por suas vestes largas e assim que me vê, corre em minha direção, abraça-me e logo em seguida me dá um tapa.
— Sua maluca! Essa doeu. — Bate em minha cabeça.
— Isso é por você ter nos deixado — diz, ainda escorada em mim.
— Eu não deixei vocês e sai logo de cima de mim. — Afasto-a. — Aliás, eu soube que você e Natan finalmente estão namorando. Meus parabéns. — Sorrio para ela que fica logo corada.
— Ele foi correndo te contar, né?! — Esboça uma careta e eu assinto.
— Sim! — exclama, meu pai. — Violetta, filha, será que pode nos dar licença um instante? Preciso conversar com seu irmão.
— Ah, desculpe. — Lança um beijo e sobe as escadas.
— Voltando... Meu filho, tens estado carente e isso não está te ajudando em nada.
— Eu não estou carente, pai!
— Está sim. — Aponta o dedo para mim. — E já que está aqui, vamos sair todos juntos, em família!
— Mas... — Sou interrompido.
— Sem mais. Violetta! — Meu pai a grita.
— Oi! — responde.
— Se arrume porque iremos dar um passeio!
— Agora? — Põe-se a olhar através da fresta.
— Sim. Vamos almoçar fora, hoje.
— Pai, não precisa disso. Eu estou bem. — Tento convencê-lo, porém não muda em nada. Uma coisa que é típico dele é não voltar atrás em suas decisões.
— Caleb vai conosco? Que maravilha! — brada, minha irmã. — Irmãozinho não fuja. — Sorri, irônica.
— Não irei, bobona! — Sorrio e ela corre para o quarto.
— Vocês são como duas crianças quando estão próximos um do outro — responde, senhor Jonathan, levantando-se e indo em direção a cozinha. Eu, então, faço o mesmo.
— Pai. O senhor esteve só este tempo todo. Não acha que precisas de uma companheira? Nossa mãe morreu há tanto tempo e até agora tens insistido nessa ideia de ficar sozinho.
— Estamos aqui para falar sobre você e não sobre mim.
— E isso importa?
— Eu tenho estado bem até hoje. Por que isso mudaria? Tenho a vocês; é o que importa para mim. — Pega uma garrafa com água na geladeira e após fechá-la, despeja o líquido no copo de vidro e leva-o a boca.
— Quando Violetta casar, não estará mais aqui. E eu, bem eu moro lá e cá, porém assim que eu construir uma família também, pode ser que eu não esteja aqui e o senhor ficará só.
— Pelo menos não sou um homem carente igual a você. Já sou conformado com isso e não tem me empatado em nada.
— O que me parece é dor por ter perdido nossa mãe. O senhor deveria seguir em frente — digo, encostando-me no armário.
— E quanto a você, que mal está sabendo lidar com a vida, quer me dar lições de moral agora? —Encara. — Já sou homem vivido. Quanto a ti...
— Muito obrigado, meu pai. Suas palavras me comovem — falo com ironia, no entanto, no fundo, ele tem razão, mas eu também tenho senso naquilo que digo. Ele precisa de uma companheira.
— Pergunto-me se você realmente sabe sobre o amor entre duas pessoas — profere e eu estreito os olhos e dou risada.
— Eu sei, meu pai.
— Então o que é então? — Encara com a intenção de me intimidar, no entanto não deixo que seu olhar me afete tanto.
— Afeto, carinho, compreensão, fazer um ao outro feliz, pensar primeiro no seu parceiro... Pelo menos para mim é isso.
— Estás certo. Entretanto, alguma vez fizeste isso? — A sua pergunta me pega desprevenido, contudo, se eu o respondesse, a minha resposta seria: não. Eu não fiz tudo o que falei para com Rebecca, sendo o motivo para o nosso término.
— Receberei seu silêncio como um não. — Meu pai fala e eu o miro. No mesmo instante, o meu celular toca e quando olho para a ligação, de Guilherme, de imediato atendo estranhando o motivo, pois é raro ele me telefonar.
— Alô? — Atendo.
— Alô, Caleb? Temos uma emergência. Você precisa vim para o Magnum's agora. — Emergência? Logo, pondero o que pode ter acontecido, cogitando ser algum problema com o cardápio ou implicâncias de sempre, mas quero ouvir o que ele tem a dizer-me.
— Mas o que houve? — indago.
— Seu... — Dá uma pausa na fala.
— O que houve, Guilherme?! — Fico preocupado.
— Seu restaurante pegou fogo...
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