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Não é o fim, mas um novo começo - Capítulo 37

"Há esperança para aquele sem esperança
Descanso para o cansado
Amor para o coração partido
Há graça e perdão
Compaixão e cura"
(Third day)

Algumas semanas depois...

Yasmim

Quanto mais os dias passam, mais alegre estou; apesar de que, ao mesmo tempo, não estou tão tranquila, porém tenho paz visto que a graça do Senhor me basta e a minha felicidade se deve ao fato de estar vivendo em novidade de vida na qual muitos deveriam estar vivendo, no entanto eles têm outras preferências mais supérfluas e banais que as fazem temporariamente felizes; e eu já experimentei boa parte dessas escolhas degustando o passageiro ao invés do eterno. Há quem diga que me tornei uma alienada e que sou fraca por me render a uma crença, ainda mais sendo essa o cristianismo, mas não vi noutra o que pudesse me trazer a paz que sinto na qual outrora não possuía. Todo ser humano sempre irá crer em alguma coisa no fim das contas e eu creio em um Deus que É e que trabalha em favor daquele que o teme. Além disso, meu trabalho está cada vez melhor e o meu novo projeto está quase pronto. Programamos a inauguração para daqui há dois meses, uma vez que necessito rever alguns detalhes que são úteis e até contratei um rapaz para entregar panfletos anunciando sobre a abertura e o que será realizado.

E quanto a Daianny e Joseph, eles irão fazer uma festa de noivado semana que vem; e os convites para os amigos mais próximos serão entregues essa semana.
Já com relação a Violetta, encontrei-a no mês passado e ela me disse que estava terminando o serviço comunitário, na qual foi imposta por decisão judicial, juntamente com o rapaz propagador das filmagens, cada um em um setor específico, claro. Entretanto, ninguém mais tem comentado acerca desse caso, graças a Deus. E, neste exato momento, eu estou no escritório fazendo alguns ajustes relacionados a galeria juntamente com Daianny, mas já nos aproximamos do horário de almoço, o que significa que darei uma pausa porque trabalhar a manhã inteira em frente a uma tela de notebook não me agrada e me deixa esfomeada, e aliás, prefiro mil vezes estar pintando.

— Daianny, vai almoçar agora? — pergunto a mesma, que está sentada à minha frente, mexendo no celular.

— Sim, eu irei. E você? Não desgruda daí, não? Deixe sua secretária fazer alguma coisa senão a demita. — Encara por cima do óculos.

Fecho o notebook, pego a minha bolsa e me ponho de pé, ajeitando minha saia.

— Vamos? — indago.

— Vamos! — E ela se levanta, pondo o celular no bolso.

Após sairmos do meu escritório, seguimos em direção ao elevador, adentrando-o, e nos locomovemos para o térreo. Tipicamente prefiro usar as escadas porque me é mais cômodo, sem muita gente, diferente do elevador e, já no pavimento a rés-do-chão, aceno para alguns dos meus funcionários que me olham e eles sorriem, enquanto andamos até a porta principal, saindo porta afora, à medida que os raios solares resplandece em nossa face, com um pouco de quentura. Realmente o dia está mais quente do que os demais estiveram.

— Eles amam trabalhar com você — diz, Dai, e eu esboço um leve sorriso.

Seguimos a pé, atravessando a avenida e andando pela rua, à nossa direita, até ouvirmos um estrondo e contemplarmos uma fumaça acinzentada no ar junto a altas chamas. Apenas não dá para saber exatamente de onde vem. Talvez uma loja, mas não temos uma grande dedução.

— Ai, meu Deus! — Dai põe a mão na boca. — Vem, Yasmim. — De imediato, ela começa a me puxar pelo braço para que sigamos a imagem assustadora nos ares.

— Dai! Não iremos até lá! — vocifero, ansiosa.

— Por quê? Estou curiosa. — Esboça uma faceta dengosa.

— A curiosidade matou o gato. — Fito-a e ela bafora, cruzando os braços, indignada por eu recusar a mudar o nosso rumo inicial. Por fim, ela assente e, então, damos largas andadas sem deixar de presenciar o fogaréu e, em mais alguns metros, acercamos-nos do local onde iremos almoçar, porém Dai decide parar um homem que vai passando por nós para indagar-lhe alguma coisa. Observo o seu semblante, percebendo o quanto está assustado.

— Ei, moço! O senhor sabe dizer onde foi essa explosão? — Fico boquiaberta com o questionamento de Daianny e estreito os olhos para ela, que dá de ombros, ignorando-me totalmente.

— Ah, parece que foi no restaurante Magnum's. Houve uma explosão de gás e está cheio de ambulâncias e bombeiros por lá — diz, apontando na direção da fumaça e eu, ao ouvir, estremeço dos pés a cabeça e engulo em seco as palavras proferidas, sentindo um aperto, porquanto o nome me é familiar.

— Alguém morreu? — Dai pergunta, enquanto eu continuo paralisada.

— Não sei dizer. Mas que está cheio de feridos, isso sim.

— Obrigada, moço — agradece.

— De nada. 

Então ele se afasta, dando continuidade ao seu trajeto interrompido pela audácia de Daianny.

— Ai, meu Deus, Yasmim! — Arregala os olhos para mim.

— O que foi? — digo, sem entender.

— Caleb. — Assim que ela menciona o nome, paraliso de vez porque, ao dizer o seu nome, recordo-me de que o restaurante é dele, e também não havia cogitado até então que ele pode estar entre os feridos.

(...)

Caleb

Contemplo o meu restaurante em chamas, à medida que os bombeiros tentam apagar o fogo. Visualizo pessoas feridas, outras a observar o trabalho que era feito pelos socorristas e Guilherme vindo em minha direção, sujo de poeira, com alguns estilhaços pelas vestes e pelos membros visíveis. Ponho a mão na cabeça e sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos.

— Co...mo isso aconteceu? — questiono ao se aproximar.

— Alguns disseram que foi o gás. — Tosse e continua. — Parece que dois dos nossos não resistiram as queimaduras... — Percebo seus olhos lacrimejarem.

— Sempre tudo estivera em ordem... Se eu estivesse aqui... — Sou interrompido.

— Se tu estivesses aqui poderia estar na mesma situação que eles. Nunca sabemos o que nos pode acontecer; não temos como prever o futuro. A perícia dará um laudo amanhã ainda, provavelmente. Mas que foi o gás isso é comprovado pela maioria.

— Gás... Maldito gás! Feriu meus funcionários e destruiu o que tanto quis construí. — Derramo-me em lágrimas.

— Tudo pode começar novamente, senhor Caleb — diz, Guilherme.

Balanço a cabeça em negação, e um desespero toma conta de mim. De repente, sinto alguém tocar em meu ombro; viro e vejo minha irmã me puxar para um abraço.

— Maninho.

— Vi. — Deixo cair algumas lágrimas. — O que vai ser de mim agora?

— Reconstruíremos.

— Não será a mesma coisa.

— Mas pode ser melhor até do que esse. — Afasto-a e a miro. Seu semblante triste e convencido me faz dar um leve sorriso.

— Falas como se fosse fácil.

— Nada nunca foi. Mas é questão de superação.

— Você filosofando? Tem alguma coisa errada — falo e ela ri.

— Vá consolar os familiares. Poderia ser você junto a eles também. — Bate em minhas costas.

— Tudo bem, mamãe. — Sorrio de viés.

Acerco-me de algumas pessoas na tentativa de consolá-las. Dois dos meus melhores funcionários faleceram e, obviamente, eu irei no velório deles. Eu nunca pude nem imaginar que isso aconteceria, não comigo, e o que mais desejo saber agora é como esse gás explodiu.

— senhor, Caleb? — Um policial se aproxima, tirando o óculos escuro e pendurando na gola da camisa.

— Sim? — respondo.

— Eu preciso que você nos responda algumas perguntas e depois gostaríamos de ter em mãos o alvará do estabelecimento e as notas para ver se estão em dia.

— Ah, sim. Tudo bem. Mas terei que buscá-las em casa. Não estou com elas agora, mas garanto que tudo está em perfeita ordem.

— Creio que sim. Mas são os procedimentos. Só estou seguindo-os. — Pegou uma prancheta e uma caneta e me fitou. — A quanto tempo o restaurante tem estado à ativa?

— Há 5 anos.

— Qual a última vez no qual a agência de saúde local fez vistoria?

— Há 6 meses. Como eu disse as coisas estão em ordem, por mais que este acidente tenha ocorrido. Nem eu mesmo sei como esse bendito gás explodiu.

— Tudo bem, após a perícia saberemos com mais clareza. — Olha para o colega que o chama. — Muito obrigado, senhor Caleb. — Aperta a minha mão e se vira para ir embora, porém retrocede e arqueia a sobrancelha. — Só mais uma coisa. O senhor não estava no local certo?

— Correto. Eu havia saído para fazer uma visita a meu pai no horário de almoço e até perdi a fome. — Suspiro, colocando as mãos na cintura.

— O senhor teve foi sorte. — Guarda a prancheta no bolso da camisa. — Receberás uma intimação para comparecer a delegacia. Leve os documentos que te falei. Tudo será devidamente esclarecido logo mais. Passar bem.

— Okay. — Mal termino de atender ao policial e,  surge de um carro, mais repórteres preparando-se para filmar.

— Com licença, senhor. — Viro-me e observo uma repórter muito bem trajada com blusa branca de manga franzida em tamanho ¾ e calça jeans preta. Provida de pele parda, cabelos enegrecidos e olhos castanhos, encara-me seriamente com o microfone estendido. — Chamo-me Clarie Foster e pertenço ao jornal local de Seattle;  será que o senhor pode nos dizer sobre o que exatamente aconteceu? Como se sentes ao ver um dos restaurantes mais prestigiados em cinzas?

— Eu não estava presente quando ocorreu, então o que eu sei é o que eu creio que você já saiba. E bem, respondendo a outra pergunta... É um prejuízo enorme e houve perdas de colegas e ver muitos feridos é mui angustiante para mim. — Busco ser íntegro diante da situação, porém me retiro da frente da câmera por sentir-me incomodado. — Desculpe.

Observo parte das ambulâncias saírem do local e as chamas finalizarem, terminando o trabalho dos bombeiros, também, porém não é tão fácil e ainda precisam ter a cautela de analisar se não há pequenos focos o que é previsto pelos vestígios de fumaça. Não sobrou muita coisa do Magnum's a não ser parte das paredes junto ao lamaçal e algumas partes de ferro pois tudo foi muito rápido. Isso é perceptível e eu terei de reconstruí-lo 100%.  Ainda em meus devaneios, surge uma pessoa próximo de mim e eu me viro para visualizar quem quer que seja, mas meu olhar não é tão prazeroso como eu gostaria que fosse. Enquanto eu a miro com um olhar enfadonho, ela me encara pesarosa e tristonha, creio eu que se deva ao acontecido.

— Eu sinto muito. Nós vimos o estrondo a distância e...

— O que você faz aqui? — indago, buscando entender porque tanta preocupação com o que se diz respeito a minha pessoa, não a deixando terminar de falar, já que eu preferia não vê-la novamente. Quanto mais ela parece se importar comigo, mas eu me destroço por dentro e fico me questionando se eu não possuo algum sentimento por ela que tento ignorar.

— Eu, quer dizer nós realmente sentimos muito. Co...mo estás? É... — Rio de suas palavras, incrédulo, encarando-a e contemplando seu olhar nervoso.

— Como achas que eu estou? Veio aqui zombar de mim? — falo, sem meditar nas palavras proferidas.

— Não estamos aqui para zombar de ti! — Altera o tom de voz, abrindo-a a boca para falar algo mais, porém logo se cala, mudando o semblante para parecer mais rude. — Aliás estamos de saída. Passar bem! — Encara-me profundamente, na medida que respira fundo, e dá-me as costas, seguindo em direção contrária a minha, junto a sua amiga. Miro-a enquanto caminha e admiro os seus cabelos castanhos balançando levemente junto ao vento, até que ela desaparece da minha vista e, então, uma lágrima solta cai sobre minha face, mas, de imediato, enxugo-a percebendo a besteira que fiz ao falá-la daquela maneira quando na verdade só tentou ser gentil. Verdadeiramente a minha vida se tornou um caos.

— Mas que droga — murmuro comigo mesmo.

— Filho, vamos para casa! — Meu pai brada,  aproximando-se de mim e eu o encaro, questionando-o.

— Onde estavas? — pergunto.

— Comprei seu almoço. — Estende a sacola com uma pequena marmita dentro.

— Eu estou sem fome.

— Precisas descansar e comer; para pensar melhor nas coisas. Vamos para casa. Eu dirijo — responde e eu apenas assinto sem questionar.

— Cadê Violetta? — pergunto, olhando para os lados.

— Não sei. Ela estava próxima de mim, porém, depois, sumiu do nada. — Dá de ombros. — Daqui a pouco ela surge de algum lugar.

— Pai! — Violetta vocifera vindo em nossa direção.

— Eu não disse? — Arqueia a sobrancelha e abre a porta do carro.

— Onde se metestes? — indago, entrando no carro e sentando no banco dianteiro do carona.

— Encontrei uma pessoa — responde, adentrando também, assentando-se na parte de trás, fechando a porta.

— Quem? — Fico curioso.

— Yasmim. Falei com ela há poucos instantes. Ela estava com a amiga perto de uma lanchonete do outro lado da avenida, quando as vi. Nosso pai não viu por estar com os passos adiantados — diz.

— Ô que pena! Gosto tanto daquela moça — retruca, meu pai, fazendo-me revirar os olhos.

(...)

— Filho, tome um banho e descanse um pouco após comer. — responde, meu pai, assim que chegamos em casa. No caminho para a moradia, não comentamos muito sobre as coisas, afinal nem eu estava com cabeça para conversar. — Depois resolveremos tudo com mais calma — diz e se joga no sofá, suspirando. Quanto a Violetta, logo vai para o quarto e eu fico em pé sem saber como reagir a tudo isto. Por fim, sigo para o meu quarto, e, ao adentrá-lo, sigo em direção ao guarda-roupa, abrindo-o; pego uma das poucas roupas que tenho deixado nele e desço para tomar banho.
Durante o banho, permito que a água escorra levemente pelo meu corpo na medida que eu, com o braço apoiado no box, reflito sobre como agi até o momento. Reflexões essas que me trazem certos sentimentos de culpa.

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Uma foto que mais se adequa a Guilherme, um dos cozinheiros de Caleb.

Já era para mim ter colocado faz tempo, mas lembrei só agora.

[Revisado]

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