Leve-me, daqui! (parte 1/2) - Capítulo 18
"Naquele lar, a vida não terá fim
Eu sei que te verei de novo"
(Newsboys)
Ao sairmos da encantadora piscina termal, decido levá-la ao teatro, mesmo que já esteja anoitecendo. Contudo, no caminho para o teatro, minha mãe empalidece de forma repentina. Miro-a e contemplo-a mais esbranquiçada do que o normal, o que me leva a estar preocupada a ponto de parar o carro numa esquina a três quadras de onde estávamos anteriormente.
— Mãe, mãe! A senhora está bem? — questiono, bastante preocupada.
— Só estou um pouco cansada, só isso — responde, mas não a ponto de me convencer que está tudo bem.
Logo, minhas suspeitas se concretizam ao vê-la querer vomitar. De imediato, retiro o cinto de segurança que a prende e me desprendo dele também, destravando as portas, em seguida, o que é o suficiente para eu contemplá-la abrindo a mesma e pondo para fora o jorro amarelo-esverdeado misturado a alguns traços de alimentos. Desespero-me, sentindo meus olhos lacrimejarem. Assim que ela se acalma, dirijo o mais rápido que posso para o hospital. No caminho, busco telefonar para o médico dela, porém nada. Tento ligar para a emergência e consigo ser atendida; prontamente, explico o que ocorreu e o que minha mãe já possui como patologia, sendo assim eles já me esperarão com uma maca do lado de fora.
No momento em que me aproximo da emergência, visualizo-os apontando uns para os outros e chamando. Então me acerco ainda mais, paro o carro e eles vêm até mim.
— Senhorita Yasmim Lahanna? — pergunta, uma enfermeira.
— Sim, e esta é minha mãe — digo, apontando para ela que ainda se encontra no assento de passageiro.
— Muito bem.... Jack ajuda aqui! Vamos colocá-la na maca. — Pede, e um rapaz se aproxima a fim de ajudá-la.
Quando tiram minha mãe do carro para a colocarem na maca, ela vomita de maneira consecutiva, até que suas pernas começam a tremer.
— Ela vai ficar bem? — pergunto a um médico que a acompanha para dentro da emergência após pô-la em cima da bendita maca, enquanto lágrimas vertem de meus olhos.
— Não podemos te afirmar nada ainda. E, se o caso for exatamente o que nos foi dito, eu sinto muito. Isso poderia ser mais do que o esperado, mas tentaremos fazer o possível.
Em seguida, olho para minha mãe e vejo o semblante dela desfalecer.
— Um, dois, três!
Eu observo tudo o que acontece, mas sem muita atenção aos detalhes em minha volta, não desviando os meus olhos dela por nenhum instante sequer.
— Ela não está conseguindo respirar! — Escuto dizer.
— A pressão dela não está boa!
— Pulsação caindo. Epinefrina!
— Pra já.
— O que está havendo?
Eu sinto a minha cabeça latejar e apenas continuo a ouvir o que estão a proferir de relance, pois tenho a sensação que é semelhante a algo que eu já presenciei antes: Caleb....
Pipipipipi!
— O que está havendo? — questiono, desesperada, assim que escuto o som que me desperta dos pensamentos alheios.
— Acalme-se, senhorita. — Pede.
— Tirem-na daqui! — Um outro profissional berra, e só consigo ver eles se preparando para uma desfibrilação à medida que eu sou puxada para fora.
— Mãe, minha mãe não pode ir, não agora! — Vozeio, suplicando, com minhas mãos erguidas ao meu peito que doí muito.
— Senhorita, acalme-se. Vai ficar tudo bem! Rogers pegue uma água para ela! — profere, a enfermeira, e eu me assento em um banco esperando que minha mãe não se vá.
Minutos depois, fito à minha frente e vejo o mesmo médico com um pijama cirúrgico azul e um jaleco que transparece bem seu nome por estar abotoado:
Joshua Simons.
Levanto-me de imediato, perguntando o que houve.
— Conseguimos trazê-la de volta, mas ela se encontra inconsciente no momento — responde.
— Por que inconsciente? — questiono, tentando achar alguma expressão lógica em mim mesma.
— Sua mãe está com o corpo no limite e ela já não tem mais forças para continuar. Conseguimos reanimá-la, mas o que garante que ela não tenha uma outra parada? — diz e suspira. — Eu sinto muito, senhorita — acrescenta.
Ele me mira por alguns segundos a mais, dá as costas e sai a fim de atender a outras pessoas, até que vem uma garotinha e segura a minha mão.
— Não chore! A minha mamãe está em coma e eu fico aqui com ela e o papai. Se minha mamãe não voltar, estará com os anjos no céu. Se a sua não voltar, também estará com os anjos. — Olho-a e ela mantém um doce sorriso em seu rosto. Depois, sai correndo em direção ao quarto onde a sua mãe se encontra. Posso ver seu pai pegando-a no colo e fechando a porta de vidro atrás de si, passando as cortinas por ela.
Suspiro e deixo o banco, indo para o quarto. Logo fico a observar minha mãe, que se encontra deitada, com a maca suspensa cerca de 45°, respirando com a ajuda de aparelhos.
— Eu te amo, mãe.
É tudo o que consigo dizer no momento, achegando-me à cama e pondo o meu rosto sobre a mão de minha mãe, fechando os meus olhos.
— Está na hora de ela ir.
— Não! Por quê? — pergunto.
— Ela precisa ir — dizia a mesma menininha de horas atrás, com um vestidinho creme, no meio do jardim. — Você tem muitas pessoas que te amam e nem todas irão te deixar tão cedo.
— Meu pai me deixou. Caleb me deixou, minha tia me deixou e agora minha mãe?
— Caleb.... Esse Caleb não te deixou. Ele ainda vive!
— Mas ele me amava e não se lembra mais de mim e não vai mais lembrar.
— No outono as folhas caem e são carregadas pelo vento... Na primavera são as flores, mas elas não caem. Elas desabrocham...Desabrocham... Desabrocham.
— An? —Esfrego meus olhos. — O que foi isso? — questiono-me ao despertar.
Observo ao meu redor e creio que já esteja de madrugada, pois há poucas pessoas deambulando nos corredores. Aproximo-me de minha bolsa e, quando estou quase abrindo, uma moça adentra o quarto.
— Com licença, senhorita Yasmim, certo? — pergunta.
— Sim — respondo.
— Preciso que assine esses papéis e preencha a ficha. Foi tudo muito as pressas e agora foi o melhor momento para fazê-las já que você antes não estava calma. Sente-se melhor? — questiona.
— Não tanto quanto gostaria — respondo e, com a visão meio turva por causa do sono, tento ler os papéis.
(...)
Uma semana depois
Passou-se uma semana e minha mãe continua internada e obviamente entubada. Eu não consegui me concentrar para ir ao trabalho nenhum dia sequer e acabei deixando Daianny cuidando de tudo, sendo que, depois, ela me passará os relatórios, pois gosto de ter um resumo em mãos sobre tudo o que é feito na galeria.
Robert me ligou para perguntar algumas coisas a respeito do trabalho que ele me pediu ajuda e acabei contando o que aconteceu. Sendo assim, ele decidiu trazer os nossos avós para vê-la ainda hoje.
Tenho passado a maior parte do tempo no hospital e mal saio a não ser para almoçar ou fazer as minhas necessidades diárias, como um banho, por exemplo.
Comecei a conversar bastante com os cuidadores da minha mãe, principalmente o médico Joshua, porquanto realmente tem me dado uma força.
O médico que sempre foi amigo de minha mãe está fora do país e quanto a sua filha Emanuelly, a enfermeira que cuidava dela, dispensei-a e sei que não irei mais precisar dela. Eu infelizmente sei.
Aquele sonho ainda me intriga bastante. Toda a vez que eu durmo, acordo assustada com o mesmo sonho e não entendo o porquê de tê-lo constantemente; apenas sei que quer me dizer algo que eu mesma não desejo mais pensar. Por que Caleb? Não faz sentido. Não para mim.
Cerca de quarenta e cinco minutos depois, Robert surge na sala juntamente com os meus avós.
— Robert, vô, vó. — Levanto-me do assento e caminho até eles a fim de lhes dar um abraço.
— Como você está prima? — pergunta, Robert.
— Bem, na medida do possível.
— Minha neta, você está tão triste. Não se torture assim. Se tiver que acontecer, vai acontecer mais cedo ou mais tarde — diz, minha vó.
— Vó? — digo com lacrimejo.
— Venha aqui meu anjo. — Achego-me ao seu afago. — Sua mãe sempre foi uma pessoa forte e decidida. Sempre a admirei por isso e meu filho não poderia ter escolhido uma pessoa melhor do que ela para casar. E olha só, fizeram uma mulher linda e forte. Você puxou muito a sua mãe e as habilidades de seu pai. — Termina de dizer a mim e suspira como se o falar demais a cansasse.
— Senta aqui minha vó. Vô? — Chamo.
— Oi, minha filha.
— Irei pegar uma cadeira para o senhor, está bem?
— Tudo bem, minha neta. — Assente.
— Deixa que eu pego. Fique aí Yasmim — diz, Robert.
— Não precisa — digo.
— Não insista — responde e sai pelo corredor.
Sempre teimoso! —digo a mim mesma.
Quando ele retorna e dá o lugar a meu avô, iniciamos uma conversa rápida até que eles dizem precisar irem embora. No entanto, fico mui contente que eles tenham vindo vê-la, porque nem meus tios maternos vieram visitá-la.
Após algum tempo, saio do quarto porquanto preciso lanchar já que estou faminta. Ao chegar numa pequena lanchonete, deparo-me com Joshua.
— Ei! Doutor, como vai? — pergunto, abrindo um leve sorriso.
— Oi! Vou bem Yasmim. Não precisa me chamar de doutor, só Joshua já está de bom tamanho. — Sorri.
— Tudo bem, Joshua — digo, sorrindo, quando de repente visualizo uma certa correria e uma técnica de enfermagem vindo até nós, mais precisamente até Joshua, dizendo que a paciente do leito 30, do segundo andar, teve uma parada cardiorrespiratória.
O quê? Leito 30? Minha mãe? — pondero e, de imediato, desespero-me.
— Ai, meu Deus! — Corro e percebo que Joshua corre na mesma direção que a minha. Subo rapidamente os degraus da escada e minha visão se mantém embaçada por conta das lágrimas que insistem em serem vertidas.
— Ei! Yasmim, espera! — diz, Joshua. — Espere aqui! — Insiste, puxando-me pelo braço, enquanto eu escuto um som contínuo do monitor:
Piiiiiiiiiiiiiiii...
Eu avisto pela vidraça, eles reanimando a minha querida mãe. Mesmo com as portas fechadas, eu ouço o abafamento do som pelas brechas que existem no ambiente.
— Joshua, não conseguimos.
— Tente novamente. Aumente a potência.
— Certo.
— Afastar! — (Choque)
Eu vejo e ouço, e, já de joelhos, sinto minhas forças desvanecerem, pois a dor da perda é imensa.
— A perdemos. — Olham uns para os outros.
— Hora da morte: 17:40h.
Contemplo Joshua tirar seu gorro e esfregar a mão nos cabelos. Em seguida, abre a porta e olha para mim com um semblante entristecido.
— Sinto muito, Yasmim. Fizemos o possível — diz.
Ele se achega a mim e me afaga em seus braços permitindo que eu pranteie. Meu coração doí tanto e eu não sei como reagir a não ser choramingar. Logo, flashbacks passam em minha mente lembrando de tudo o que eu já vivi junto a ela.
— Por favor, leve-me daqui. — Imploro a Joshua. Eu e ele em pouco tempo tivemos uma boa aproximação.
— Leve-me daqui, por favor. — Insisto. Porém ele diz que precisa ir preencher os últimos papéis da ficha de óbito para que possam ser entregues a mim a fim de serem assinadas. Antes de se levantar, ele me olha com aqueles belos olhos cor âmbar e diz mais uma vez que sente muito, retirando-se em seguida. Da sua direção, aproxima-se de mim uma enfermeira que me dá um comprimido, mais precisamente um calmante, e pede para que eu me assente em um banco do corredor. Ela se levanta e chama por um homem, que creio ser psicólogo, e esse logo vem até mim.
— Oi, meu nome é Jim Walker. Creio que você sabe quem eu sou e estou aqui para conversar um pouco contigo — diz.
— Tudo bem. — Assinto.
Sem delongas, ele me pergunta sobre o meu passado e, à medida que eu conto algumas coisas, eu sinto minh'alma aliviar; como se tudo o que eu precisasse neste momento fosse expor tudo o que me consome por dentro. Não demorou muito a sentir um alívio que me faz ser mais compreensiva com tudo o que já havia me acontecido até agora.
O senhor Jim Walker ouve, calado, sem revelar muitas expressões em seu rosto, até que se pronuncia:
— Como se sente depois de tudo o que acabou de me contar?
— Mais leve — respondo.
— Seja forte, continue forte como você está sendo agora. Nada em nossa vida acontece por acaso. Coisas vão e coisas vêm, mas nada é por acaso — fala e eu sorrio.
Continua....
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Nota: Epinefrina (adrenalina)- É usada como estímulo cardíaco, vasoconstritor nas hemorragias da pele e como relaxador muscular.
Desfibrilador- Usado no tratamento da desfibrilação ( tratamento das contrações das fibras do coração, quando rápidas e desordenadas (fibrilação), por meio de choque elétrico).
Capítulo nada muito grande.
Me digam o que estão achando....
Triste não? 😢😢
Mas a vida é feita de perdas.
[Revisado]
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