Lembranças - Capítulo 1
"Eu não tenho o dom com as palavras
Mas o coração
Ele vai lhe dizer"
(Marcela Taís)
Dois anos depois
Yasmim
Dois anos se passaram, desde que me afastei de Caleb e deixei partir junto a ele o amor que eu sentia. Depois de tudo o que eu passei, preferi colocar dentro de um baú as velhas coisas. No baú do meu coração encerrei meus sentimentos por ele e decidi seguir em frente. Pesou-me e muito ter que fazer isso, mas a vida as vezes é cruel a fim de nos oferecer um novo rumo e a melhor coisa que fiz foi agarrá-lo. Como consequência, mudei de emprego e, por algumas andadas, acabei conhecendo um homem chamado Jason que tenho me relacionado desde então. Ele tem sido um bom amigo e namorado também. E, quanto ao meu emprego, consegui com muito sacrifício montar uma galeria própria com a ajuda de alguns amigos que a vida acabou me dando. Agora inicia-se uma nova história para mim e eu só desejo que tudo termine bem.
— AH, por favor! Pode colocar este quadro — mostro o mesmo, disposto em minhas mãos — naquela parede? — Peço ao jovem que está me ajudando com a nova arrumação da galeria.
— Sim, deixa comigo dona! — profere.
O dia está sendo bastante cansativo para mim e por isso sempre estou com a minha agenda em mãos a fim de não esquecer de absolutamente nada. Dever de secretária? Sim, mas gosto quando eu mesma me atualizo das coisas. Observando, então, minha caderneta, a folheio e vejo que tenho um encontro de negócios com Daianny – minha amiga e sócia –, uma sessão de fotos para minha nova coleção, entre outros. Dá preguiça até de mencionar todos por serem inúmeros compromissos.
Antes que dê meu horário para voltar ao trabalho, saio da galeria e sigo em direção a uma lanchonete bem próximo do local. O dono da lanchonete se chama Jorge – um jovem senhor, natural do Brasil, bastante simpático – e já estou bem acostumada a comprar algo para comer em sua mão. Às vezes dialogo com ele.
Assim que me aproximo, o vejo com um gorro na cabeça, escondendo os poucos cabelos grisalhos, e um avental amarrado em si, colocando na chapa quente mais outro misto, que aliás é o meu preferido. Seu estabelecimento é pequeno, porém bastante aconchegante. A fumaça que sai da chapa impregna as minhas narinas, no entanto, o cheiro de algo sendo frito somente faz com que surja mais saliva em minha boca.
— Oi, Jorge! — Abro o meu melhor sorriso, como sempre.
— Oi, Yasmim, como vai você? — pergunta, sorrindo de volta.
— Vou bem — digo, assentando-me em um banco.
— E hoje, o que vai querer? — pergunta.
— Hoje quero um cappuccino e um misto, só para desviar a fome por enquanto, pois logo mais parto para o almoço.
— Okay então! — diz, preparando o meu pedido.
— Aqui está! — Põe na bandeja e me entrega.
— Hum... Maravilhoso! — digo assim que saboreio o lanche. — Aqui está o dinheiro, Jorge! E pode ficar com o troco — profiro, entregando a cédula, e ele esboça um sorriso na face.
Permaneço ali, apreciando a vista, e observo algumas pessoas sentadas nas mesas que há e outras alvoroçadas, que passam por nós, a fim de irem fazer compras ou levarem seus filhos ao colégio. Assim que termino de comer, levanto-me do assento, limpando meus lábios, num guardanapo, que se encontram um pouco sujos de ketchup e me despeço de Jorge.
— Até mais e tenha um bom-dia! — digo e ele acena com a cabeça.
Quando regresso para a galeria de artes Lasmine – nome referente ao meu próprio nome Yasmim –, eu recebo uma ligação de Daianny e, como sempre, cheia de euforia em suas verbalizações. A minha loira, a irmã que eu nunca tive, baixinha, de olhos castanhos escuros, que usa óculos e ainda por cima é mais nova do que eu, possuindo três anos de diferença, têm os quesitos chamado impaciência e ansiedade na composição de sua personalidade. Sendo assim, se ela se encontra muito entusiasmada significa que algo de muito importante aconteceu e não esperou muito para me comunicar. Não é a toa que mal atendo e ela dispara no telefone.
—Alô? Yasmim! Eu consegui uma negociação com uma grande empresa artística e que possui uma das galerias de artes mais famosas do país, sem falar que ele é o dono da Escola de culinária! — profere, com tamanha empolgação.
— Ai que maravilha! — Fico saltitante com a notícia.
— Então, o dono ficou interessado em ver suas obras. Consegui marcar um dia para nos reunirmos e mostrar todo o trabalho na sexta da semana que vem.
— Com toda certeza estaremos — digo, risonha.
— Bye, bye! — Encerra a chamada antes mesmo que eu o faça ou diga mais alguma coisa. Dou de ombros e agradeço a Deus pela oportunidade dada.
(...)
Caleb
— Tudo pronto? — pergunto, adentrando às portas da cozinha e visualizando meus funcionários a todo gás. O vapor que sai das panelas faz com que as minhas narinas apreciem o odor maravilhoso que se alastra. Alguns novos contratados e estagiários lavam as pias que estão cheias de panelas sujas, além de vasos e talheres. Outros ajudam com os produtos e sua organização, sendo que todos sempre estão bem uniformizados para evitar quaisquer incidentes como um fio de cabelo, porquanto gosto que tudo esteja bem higienizado e organizado.
— Quase pronto chefe, os pratos serão devidamente servidos logo — responde, um dos meus mais novos aprendizes.
— Guilherme, venha aqui! Ajude-me com estas sobremesas — profiro, com os pratos em meus braços — irei levá-los pessoalmente à clientela. Quero ver de perto se eles gostarão e principalmente porque temos convidados especiais em uma de nossas mesas; e estão aqui exatamente para nos avaliar — falo, bastante ansioso, estendendo alguns dos para o rapaz colocar no carrinho.
— Ah! Certo, chef! — responde, Guilherme, e eu, claro, preciso dar um bom incentivo para meus cozinheiros, por isso exclamo: — Pessoal! Ouçam todos.
No mesmo instante, sem tirar um dos olhos da comida que está sendo preparada, param rapidamente o que estão a fazer.
— Há pessoas lá fora esperando para ver algo diferente nestes pratos. O nosso restaurante foi selecionado entre vários, para um concurso de melhores refeições do País. Então vamos mostrar a eles do que somos capazes! Entendidos?
— Sim, chefe! — exclamam todos.
(...)
— Alô? Aqui é Rebecca. Não posso atender no momento. Ligue novamente mais tarde ou deixe um recado na caixa de mensagens! — Escuto a mensagem de voz e suspiro.
Estamos perto do fim da tarde, e o ambiente no restaurante está menos caótico. Devido a pressão por estarmos participando de um concurso de culinária as coisas têm sido bem mais agitadas do que o normal, mas, isso é bom, é desafiador e instigante. Contudo, nem isso consegue ser mais difícil do que lidar com minha namorada: Rebecca. Seus treinos de ballet deixam-na incomunicável. Terei que ligar mais uma vez, mais tarde, a fim de buscá-la.
Coloco o celular sobre a mesa e esfrego as têmporas, exausto. Porém, o meu restaurante só encerra o expediente às 10:00h p.m. Bocejo e, antes que eu possa pensar em mais alguma coisa, meu estômago chia. Pouco comi hoje, então, agora, sinto o peso da falta de uma boa refeição. Portanto, decido preparar uma breve janta. Observo que alguns poucos funcionários ainda circulam pela cozinha e deduzo que a maioria deve estar descansando em algum assento do salão à espera de clientes.
E, para descontrair um pouco, ligo a TV, que fica bem próximo de um dos armários do canto norte da cozinha e lá está mencionando mais uma vez sobre o quanto a tarde de outono tem sido bela, como se não houvesse todo ano a mesma estação.
— Até agora o dia tem sido perfeitamente esplêndido, mas também trabalhoso para os garis. Neste outono, muitíssimas folhas foram espalhadas pelas ruas por causa das ventanias... As árvores estão praticamente nuas; as pessoas que passam, registram o que veem e acham incrível — diz, a repórter. À medida que escuto o que profere, preparo meu lanche: Um bife à milanesa junto a uma macarronada gourmet.
— Nossa! É lindo o que a natureza faz e melhor ainda para mim que consegui ótimas imagens — profere, uma fotógrafa, e essa mostra para a câmera algumas fotos tiradas.
Por um instante, permaneço focado no que está sendo exposto e, de imediato, recordo-me de uma cena que me ocorreu quando estive no leito do hospital por causa de um acidente que me aconteceu.
— Como você pode dizer isso? Essas fotos não significam nada para você? Eu sei que você pode não se lembrar de mim, mas não me deixe ir dessa maneira! Por favor, Caleb! — A mulher, da qual não lembro o nome, simplesmente se encontrava desesperada e aflita por minha culpa, porém não havia nada que eu pudesse fazer.
Sorrio de viés, questionando-me porque lembrei disso, porquanto aquele dia foi um tanto constrangedor. Senti-me tão receoso, ainda mais quando tinha uma mulher linda, dos olhos castanhos, corpo esbelto, cabelos castanhos e medianos, levemente ondulados, na minha frente e que me dizia o tempo todo que éramos namorados; não sei quantas vezes já disse, a mim mesmo, ser um homem sortudo por, talvez, tê-la tido em meus braços. Entretanto, não dava para conseguir acreditar, não possuía absolutamente nada em minha mente que pudesse afirmar aquilo mesmo que eu tentasse e me esforçasse ao máximo. Até hoje não há nada que me faça crer nisso e eu prefiro que seja assim. É mais confortante.
Espero que estejam gostando! ❤❤
POSSUI ALGUMAS ALTERAÇÕES, MAS SEM MUDANÇAS QUE REFLITAM NO RUMO DA HISTÓRIA.
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