Decisão - Capítulo 41
"Todas as coisas me levam para a esperança agora"
(Addison Road)
Caleb
Após deixar o hospital com os resultados dos exames em mãos, que não deram nada, a não ser uma pequena lesão no cérebro que na verdade foi do primeiro acidente que eu tive, no qual afetou as minhas memórias, direciono-me para a delegacia. No caminho, sinto exaustão e fome, mas preciso acelerar as coisas para começar a reconstrução do meu restaurante, então não posso deixar nada para depois. Talvez de tanto trabalhar e pouco descansar que meu corpo não está acostumado a aquietar-se mais, ou realmente tenho estado afadigado por todo este tempo. Mas enfim, ao aproximar-me, vejo um restaurante espanhol, o que faz a minha fome aumentar.
Depois, retorno a mirar a delegacia e adentro as portas. Na recepção, peço que a recepcionista avise ao xerife sobre a minha presença. Ela usa o telefone para comunicá-lo e não demora muito para que ele apareça.
— senhor, Caleb. — Estende a mão para mim e eu a aperto em cumprimento.
— Xerife.
— Trouxe toda documentação?
— Sim, aqui está. — Mostro-lhe os papéis.
— Ótimo. Vou pedir para que seja registrado e também para que traga o laudo à minha mesa. Espere aqui por um instante.— diz, coçando o bigode, e sai com os papéis em mãos. Eu somente assinto com a cabeça.
Sentado defronte a mesa do xerife, observo a sala, que continha alguns quadros com medalhas e fotografias do conjunto policial. Uma mesa mais no canto esquerdo com um computador, e deduzo que seja de um escrivão. Na mesa do xerife, essa amadeirada, continha a plaquinha de identificação, um computador, um pote com canetas diversas e alguns papéis com nomes de detentos. Ainda observante, ele entra trazendo consigo todo o laudo da perícia.
— Eles não precisaram de muita coisa para dar todo o parecer. A causa principal foi o gás que explodiu, o motivo: a válvula mal posicionada fazendo com que escapasse o ar e, por haver fogo nas proximidades, além de certo confinamento, levou a explosão.
Poucas janelas estavam abertas no momento em que aconteceu a explosão, o que é contraindicado. Onde há várias pessoas trabalhando é sempre bom que o ar circule bem. Seus documentos estavam em dia, realmente, porém, para o seu azar, no dia do incidente esta parte ficou fora dos conformes. E, de acordo com o laudo, para haver uma explosão daquele porte seria necessário uma broca maior até para que atingisse tamanha abrangência. Então foi relatado a probabilidade de haver mais de um com a válvula dessa maneira, e provavelmente eles ainda eram novos. Durante a instalação ou os responsáveis não perceberam, o que é pouco provável, pois utiliza-se até mesmo uma bucha com sabão para identificar escapamento, ou realmente quiseram-no sabotar, meu caro. Por esse motivo, também foi usado as câmeras de segurança para descobrir qualquer suspeita e foi visto algo bastante interessante como um rapaz desconhecido de boné com um capuz por cima, entrando logo após a saída dos rapazes e minutos depois ele sai correndo — explica e eu observo as imagens. — Acredita-se que defeituou propositalmente.
— Mas eu não tenho nenhum inimigo, não que eu saiba — digo, sem entender porque fariam algo desse tipo.
— Seu restaurante é um dos mais prestigiados na cidade. O rapaz da foto não foi identificado ainda, mas estaremos investigando minuciosamente. Até inveja da concorrência ou ato terrorista, meu caro, pode levar a isso. Suposição minha, porém trabalhamos com provas e fatos. — Recosta-se na cadeira e me encara esperando que eu diga mais alguma coisa.
— É muita informação para a minha cabeça. — Levanto, segurando o laudo. — Senhor xerife, muito obrigado. — Aperto a sua mão.
— Não tem de que. Boa sorte, meu rapaz — diz.
— Vou precisar. Tenha um boa tarde — digo e me retiro ainda em choque com tudo. Tento processar cada coisa dita.
Saio dali, e logo atravesso a rua porque a fome bateu de vez agora e mal consigo ficar de pé.
Adentro o restaurante, porém rapidamente procuro um lugar para me assentar e me dirijo para lá. Perto da mesa onde decido me assentar, visualizo um rosto conhecido, porém nem para falar alguma coisa estou com cabeça. Aproximo-me e me assento na mesa vaga à frente da que eles se encontram e um garçon vem até mim, então eu peço o melhor prato que há na casa que sirva para um belo almoço e suco de frutas. Ele anota o pedido e se retira, enquanto eu fico perdido em meus pensamentos. Por que Deus? Por que fizeram isso comigo?
Ainda em meus devaneios, o garçon volta com o meu pedido o que me desperta os sentidos. O cheiro da comida adentra as minhas narinas com tanto gosto que minha boca começa a salivar bastante. Pego o garfo e começo a apanhar a comida e abocanhá-la com muito esmero. A cada garfada eu sinto a sensação de quero mais. No término da refeição, eu pago a conta e, antes que eu saia, observo a mesa detrás de mim e não há mais ninguém. Ao sair, vejo que tem um táxi vindo e aceno para que ele venha até mim. E, à medida que o táxi se acerca, eu busco recordar-me ao menos da pessoa que eu tinha visto no restaurante. Cogito ser Yasmim, mas não sei.
— Era ela, não era? — Discuto com meu consciente.
O táxi para à minha frente e eu entro, fechando a porta, em seguida.
— Rua D, por favor — digo para o taxista, enquanto esfrego as duas mãos no rosto e suspiro. Olho para o laudo mais uma vez e, depois, retiro minha visão para a janela do carro. O sol brilha com bastante intensidade exatamente na direção em que eu me encontro, salvo quando passamos próximo dos prédios.
Cerca de meia hora depois, estou eu defronte a casa de meu pai. Pago a corrida e miro para o portão que está trancado, porém, como sempre tive uma das chaves reserva da casa, não preciso chamar ninguém, destrancado então o portão, abrindo-o, fechando-o em seguida e, seguindo para a porta principal. Passo a chave e giro, abrindo a mesma e adentro. Logo, ouço alguns zumbidos no que deduzo que estão conversando. Atravesso as duas salas, indo em direção a cozinha e deparo com minha irmã, meu pai e Natan, almoçando e rindo uns com os outros, o que me deixa mui feliz por estarem bem.
Meu pai é o primeiro a perceber a minha presença e, assim que me vê, sorri.
— Meu filho! Junte-se a nós. — Faz o convite, mas paraliso ali mesmo.
— Eu já... Almocei. — Esboço um pequeno sorriso.
— Aconteceu alguma coisa? — Violetta pergunta. — Você está estranho, meu irmão. — Limpa a boca num lenço.
— Estou...bem. — Fixo o olhar em meu pai. — Pai, será que, quando o senhor terminar de almoçar, tem um tempinho para conversarmos? Em particular — pergunto e ele olha para Natan e Vi, encarando-me logo após, assentindo com a cabeça. Digo que vou esperar na sala e me retiro, deixando-os terminarem a refeição. Na sala, sento-me no sofá e fecho os olhos por alguns instantes, suspirando fundo. Após alguns minutos, ouvindo o TIC TAC do relógio de parede e dos talheres batendo uns nos outros na cozinha, meu pai aparece. Violetta e Natan ficam na cozinha provavelmente lavando a louça suja.
— E então. — Se aproxima de mim e se assenta no sofá. — O que queres conversar?
Paro um pouco, mirando o quadro com uma foto da família, na parede, e depois retrocedo a mirá-lo.
— Fui no centro policial pegar o resultado da perícia e parece que o incêndio do restaurante pode ter sido criminoso. Pelo menos é o que suspeitam.
— E?
— E a pessoa que fez tal coisa ainda não foi encontrada.
— Minha nossa! — exclama e se ajeita no sofá — Filho, sei como se sentes. Aquilo sempre foi muito importante para você e descobrir que pode ser algo criminoso, é devastador. Mas não dá para voltar no tempo e fazer com que as coisas fluam como antes. Não dá para trazer o seu restaurante e as pessoas que morreram de volta. E, mesmo se a justiça não for feita aqui na terra, Deus há de fazer justiça.
— Pai... — Sou interrompido.
— O que estou tentando dizer é: reconstrua o restaurante por completo e dê a volta por cima. Você não pode ficar se lamentando pelo que perdeu ou pelo que fora tirado de você. Tens como reerguer tudo isso e deixar um grande legado e eu quero ajudá-lo nisso. O que fora tirado não irá se comparar ao que será colocado no lugar. E te digo para todas as áreas de sua vida.
— Todas as áreas? — indago. — E quando o senhor deixará ir a minha mãe?
— De novo esse assunto?
— Pai, acabastes de me dar um sermão, mas nem aplicastes em sua vida sentimental.
— Eu a deixei ir! — brada. — Mas é impossível esquecê-la.
— Eu jamais esquecerei do que aconteceu ao meu restaurante.
— Eu não disse para que tu esqueças e, sim, recomece.
— E eu já disse que precisas recomeçar, mas dizes tu que não precisas.
— Por que esta foi a minha decisão. Isso é suportável. Porém você — Aponta para mim. — Não suporta ter perdido tudo e sei que a decisão de não querer recomeçar jamais sairá da sua boca! É o seu sonho, é o seu trabalho! E os sonhos dos dois são os meus sonhos e isso já me basta.
— Não podes viver os nossos sonhos para sempre!
— Ao menos os viverei até que eu morra! — Levanta, indignado. — Eu prometi a mãe de vocês que cuidaria dos dois. Podem já ser adultos, mas ainda agem como crianças indecisas...! Precisando de um ponta pé o tempo todo para conseguir acordar para a realidade das coisas. Encare a realidade, Caleb!
— Pai! — Violetta surgem com Natan, de mãos dadas, indagando sobre suas palavras rudes. — Precisa ser tão duro com Caleb? E comigo? — Aponta para si enquanto Natan, que ainda se encontra ao seu lado, fica em silêncio.
Meu pai tem razão de suas palavras. No fim, ele sempre tem.
— Vocês dois ainda precisam de mim. — Miro-o e percebo seus olhos marearem.
— Como então aprenderemos da vida se estamos enjaulados com o senhor? — Violetta diz e eu fico perplexo por cada palavra dita. — Precisas cuidar da própria vida ao invés de se preocupar somente conosco. — Miro o olhar triste da minha irmã.
— Gente, eu já estou de saída. — Natan nos observa e pensa em dizer mais alguma coisa. — É... O almoço estava agradável. — Natan se pronuncia e diz algo para Violetta. Meu pai nada diz e eu logo percebo a discussão que eu instaurei em nossa família.
Natan vai em direção a porta, enquanto nós três ficamos encarando uns aos outros.
— Não o Culpe, Vi. A culpa é nossa. — Levanto.
— Mas...
— Somos nós quem estamos aqui. Temos a chave da casa para poder entrarmos aqui e estamos porque queremos. E aqui nos encontramos porque realmente necessitamos. Se não fosse pelo nosso pai o que seria de nós. — Encaro-o. — Perdoe-me, meu pai. O senhor tem toda a razão. — Violetta apenas ouve, calada.
— Caleb... — Tenta se pronunciar, mas o interrompo.
— Irei reconstruir o restaurante, como também reconquistarei Yasmim — digo, bastante esperançoso.
— Você o quê? — Violetta arregala os olhos, boquiaberta.
— É isso mesmo que você ouviu, Violetta.
[Revisado]
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