Coisas da vida - Capítulo 33
É aí que o capítulo termina
E um novo começa
(Tyrone Wells)
— Eu quero a esse Jesus! — digo sem arrodeios. — Não quero mais sentir-me só e eu quero paz.
Não sei se é a melhor decisão que faço, mas meu avô abre um imenso sorriso, retirando a boina de sua cabeça, porém logo olha para frente, não dando palavra alguma sobre minha escolha.
— Filha, já abriu espaço — diz.
— Ah, é mesmo! — Começo a acelerar vagarosamente e ansiosa por algum pronunciamento seu, mexendo meus dedos enquanto seguro o volante.
— Quando chegarmos lá, falarei contigo. No momento só dirija, está bem?
— Certo, vô — digo, suspirando, deixando-me mais aliviada, passando próximo das ambulâncias. Ergo o meu olhar rapidamente para cima e vejo a lua, em seguida, retorno a minha visão à estrada, sem dar-me tempo para pensar em muita coisa, no entanto a lua está linda estando cheia. Assim que nos apartamos do congestionamento, dirijo com mais facilidade, sem interrupções até chegarmos na frente do portão principal do sítio; desço para abri-lo, pois está com a corrente atravessada e ao voltar para o carro, acelero novamente até adentrarmos por completo e estaciono. Antes que eu possa descer para retornar e fechar os portões, meu avô me segura pelo braço me impendindo de abrir por completo a porta do carro.
— Espere, querida. Antes que vá, preciso falar com você.
— Tudo bem, vô. — Fecho novamente a porta. — Creio que sei o que é. — Encaro. — O que devo fazer agora?
— Repete comigo algumas palavras?
— Sim — digo, ansiosa.
— Mas antes, saiba de uma coisa. Queira a Ele pelo que Ele é e não só pelo que ele faz.
— Certo. — Assinto, entendendo suas palavras, sem deixar o anelo de lado. — E então?
— Repita comigo:
Senhor Jesus, eu, Yasmim, confesso a ti como único Senhor e Salvador da minha vida. Perdoa os meus pecados e escreve o meu nome no livro da vida. Ensina-me como proceder em tua presença, amém.
— Amém — respondo, assim que termino de recitar todas as palavras. — E agora? — E ele ri.
— E agora? Busque congregar numa igreja, compre... Ah! Tenho algo para te dar — diz e abre a porta do carro. — Vamos!
— Está bem. — Saio e travo as portas, acionando o alarme por meio do controle, acompanhando a meu avô e vejo minha avó surgir na varanda com as mãos na cintura com um olhar preocupado.
— Até que enfim! Já estava preocupada. — Ajeita o óculos e assim que me vê, sorri. — Yasmim! — brada, estendendo os braços.
— Vó! — Abraço-a.
— Eu também mereço um abraço — responde, meu avô.
— Eu já o abraço todo santo dia — resmunga, senhora Luiza.
— Venha querida. Diga-me o milagre da sua visita hoje — fala, levando-me a adentrar na casa.
— Vim trazer meu avô em casa — respondo, enquanto o espero trazer a tal coisa para entregar-me, assentando-me no sofá e observando minha avó. Ela está com os cabelos pintados de castanho médio, sombrancelhas feitas e unhas pintadas de incolor. — Como está chique. Foi ao salão dona Luiza?
— Você sabe. — Põe a mão na cintura. — Tenho que ficar linda para o meu velho. — Eu dou risada. — E também para mim mesma. Tenho que me cuidar até os meus últimos dias nesta terra.
— Devias cuidar da sua alma também querida! — Chega, meu avô, com um livro plastificado.
— Não me venha com isso de novo seu chato — retruca.
— Sei que me amas. — Estende o livro para mim. — Aqui está seu presente. Uma bíblia.
— Muito obrigada, vô. — Abraço-o.
— Você se converteu a mesma fé que ele? — pergunta, minha vó, com desdém.
— Sim, vó. Devias conhecer a Jesus também — digo, risonha.
— Ainda não quero.
— Filha, é bom que já se retires para casa. Está ficando tarde e bastante escuro.
— Tudo bem, já irei. — Olho para o relógio de pulso. — Já são quase 20:00h. Realmente está ficando tarde. Bom, fiquem com Deus.
— Igualmente, minha flor — responde, vó Luiza.
— Vá em paz, filha. — Beija-me na testa.
— Amém. — Esbanjo meu melhor sorriso e me retiro acenando para eles. — Tchau!
— Tchau — dizem em uníssono.
Saio e sigo em direção ao carro e, ao adentrá-lo, miro o livro e o coloco no banco de passageiro. Ponho a senha, ligo o carro e buzino para eles, que me observam à distância, acenando para mim.
(...)
Caleb
No momento em que me desentendi com Rebecca e ela simplesmente lançou a aliança no chão, eu fiquei desnorteado, porquanto não imaginaria que ela reagiria de tal maneira, levando-me a permitir que percorra uma lágrima desgostosa por minha face; porém não consegui proferir palavra alguma diante do acontecido. Quando eu retornei ao quarto para pegar uma roupa e ir-me ao banho, lá estava ela arrumando suas coisas numa mala. Por sentir meu coração apertado ao contemplá-la, não quis nem banhar-me no banheiro do meu quarto. Saí de lá sem falar coisa alguma, afinal não conseguia me expressar.
Já se passaram dois dias sem a sua presença, e me parecem ser uma eternidade, no entanto sinto-me estranhamente conformado. Pela manhã, passei próximo a galeria Lasmine e pude ver Yasmim com outras pessoas defronte a um terreno que estava à venda, adjacente a galeria, o que me faz pensar que irão fazer uma nova construção ou empreendimento. Quanto a Violetta, telefonou-me afirmando que recebera uma intimação por danos morais e vandalismo. Eu, claro, dei mais algumas broncas nela e suponho que ela faça trabalhos comunitários por alguns meses, somente. A sua ex-amiga, de acordo com as notícias, está deprimida por causa do ocorrido, apesar que a mídia exagera também; no mínimo deve estar constrangida pelo que lhe ocorrera e por isso não sai de casa. Não faz nem uma semana que isso lhe acontecera para ela estar depressiva, porém é capaz de estar encaminhando-se para tal.
— Caleb, há um problema com a receita que nos passara — responde meu vice, tirando-me de meus devaneios.
— Como assim? — Tiro o gorro por um instante, pondo-o no balcão de mármore.
— Não estamos conseguindo pôr todos os ingredientes em ordem. O sabor está ficando indesejável mesmo seguindo todos os passos. — Pega um pouco do caldo com uma colher e me dá. — Experimente. — Assim o faço, não conseguindo discernir o gosto que me vem.
— Realmente está horrível. — Esboço uma careta. — Nunca errei antes.
— É meu amigo, há uma primeira vez para tudo — diz e se retira.
— Guilherme! — Chamo o meu melhor aprendiz.
— Chef. — Enxuga as mãos em uma pano.
— Vou te passar outros dois ingredientes nesse papel e você acrescenta nos caldos que já foram preparados. — Anoto e dou-lhe. Ele assente e se aparta, ao mesmo tempo que eu fico pensando onde eu devo estar com a cabeça para trocar os ingredientes da receita que já fiz tantas vezes. Respiro fundo, cogitando que realmente não tenho estado bem e tenho andado um pouco estressado pelas coisas que têm acontecido.
— Deus me ajude — digo, pondo a mão na cintura e apoiando a outra no balcão, ainda pensativo.
— Caleb!
— Oi? — Volto aos meus sentidos.
— Ouvistes o que eu falei? — indaga, Guilherme, arqueando a sobrancelha.
— Não. O que foi?
— Não adiantou nada. Só piorou.
— Como assim? Os ingredientes que pedi para que colocasse anulam o sabor anterior.
— Eu também sei disso, mas não deu certo. Eu não sei o que está havendo. — Fecho os olhos por um instante, inspiro profundamente e expiro logo em seguida, decidido a tomar as rédeas de tudo.
— Joga todo o caldo que houver fora.
— Mas, chef!
— Só faça. Eu mesmo irei preparar a receita — falo, indo em direção ao armário, pegando todos os ingredientes que serão utilizados, observando o cheiro e nomes que há nos potes para melhor reconhecimento dos produtos. Começo a preparar, observando a coloração, degustando, até que, quando chega no ponto exato, dou uma última experimentada e sinto que o sabor é agradável ao paladar. Não achem que peguei a colher e coloquei na boca e depois na panela. Utilizei um pequeno recipiente para que fosse colocado uma pequena degustação do caldo. Quanto a massa, que se encontra em plena perfeição, possui como a parte mais importante, o líquido a ser derramado sendo que esse precisa estar na consistência exata e no sabor ideal. Sendo assim, o menor dos erros é fatal ao cardápio. Se há uma coisa que eu odeio são erros, principalmente quando são os meus.
— Pronto, Guilherme. Pode servir. — Olha duvidoso. — Experimente. — Sirvo-lhe um pouco.
—Ficou bom! — Abre um sorriso.
— Ótimo. — Viro-me para os demais. — Pessoal! O prato já pode ser servido!
— Okay — respondem.
Suspiro mais uma vez e fico atento a movimentação. Algo que para mim não é nada demais a não ser uma garota estranhamente nervosa escondida atrás do balcão.
— O que fazes aqui? — Surpreendo-a e esta me encara assustada.
— Eu... Eu estou me escondendo, senhor — diz, com as mãos um pouco trêmulas, fazendo-me estreitar os olhos.
— Por quê?
— Tem um homem me procurando e por isso adentrei aqui.
— Como se chamas?
— Por favor me deixe ficar aqui por mais uns instantes! — Implora, com um semblante preocupado.
— Calma. Só perguntei seu nome — respondo com mansidão. — O que ele quer contigo e como ele é?
— Fazer-me algum mal? Eu não o conheço. Ele está com uma calça jeans e camisa vermelha com alguns dizeres na frente, tênis e tinha um boné azul em mãos.
— Certo. Levante-se! — Ordeno que ela fique de pé. A moça parece ter uns 17 anos, com seu cabelo loiro e liso, rosto pequeno possuindo olhos verdes; estatura baixa e corpo esbelto, destacando certa beleza natural. — Irei verificar nos arredores, ok?
— Ok!
Deixo a garota no mesmo lugar onde a encontrei e passo o olho em todas as pessoas que ali há, sem visualizar um homem com as descrições que ela dissera. Entretanto, do lado de fora eu contemplo o tal encostado numa parede com as mãos no bolso, observando pelo vidro quem entrava ou saía. Volto à cozinha e encontro a moça de braços cruzados vendo o que Guilherme faz, mas esse não esboça nenhuma expressão facial.
— Ei, garota! — Chamo-a e ela me mira.
— Venha comigo. Vou te levar em casa. Confia em mim?
— Não. Mas parece ser mais confiável que o homem que me persegue.
— Tudo bem. Compreendo-te, mas ele continua do lado de fora do restaurante, então façamos o seguinte: iremos até lá e pegarei o carro para te levar para casa. Combinado?
— Combinado. — Assente e eu tiro meu avental, caminhando até a saída. Ela me segue segurando em meu braço e assim que passamos pelo indivíduo, esse a mira perplexo e eu percebo isto de viés. Após pegar o carro, adentramos-no e eu peço o endereço da residência para ela que me fala sem pestanejar. Então, seguimos para o condomínio de luxo onde ela mora com seus pais, segundo sua resposta e deixo-a lá, retornando para o meu estabelecimento. Assim que me aproximo do Magnum's, miro para o lado, na frente do restaurante e o ser já não se encontra mais ali, no que suspiro atenuado, encostando a cabeça no assento, destravando o cinto de segurança.
— Que dia! Espero que não piore — falo comigo próprio.
Saio do carro e entro no Magnum's, indo direto para a cozinha. Chegando lá, higienizo as mãos e volto aos meus afazeres juntamente com o pessoal, intentando postergar os suplícios da vida.
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Deus abençoe a todos que têm lido até agora este livro simples e que eu gosto de montão.
Votem e comentem, isso é bastante incentivador!
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