Algo Próximo a Um Final (parte 1)
— Se eu fosse mordida por uma pessoa, eu seria uma pessoa-pessoa-lobo? — MB questionou para Wendy, na tentativa de puxar papo e cortar aquele silêncio constrangedor que os irmãos pareciam compartilhar a manhã inteira.
— Depende. Se você fosse mordida por um lobo, você viria uma pessoa-lobo-lobo? E se você fosse mordida por outra pessoa-lobo, você viraria uma pessoa-pessoa-lobo-lobo ou uma lobo-pessoa-pessoa-lobo? — Gretta questionou, tentando entender o raciocínio.
— Eu já fui mordido por uma garota. Isso me torna uma pessoa-pessoa? — Sully questionou.
— Você tem o dobro da força de uma pessoa? — MB perguntou.
— O que te faz pensar que uma pessoa-pessoa tem poderes? — Wendy questionou de volta.
— Esse assunto está me dando dor de cabeça. — Sully comentou.
— Eu quem diga. — o garoto de névoas concordou, se materializando e assustando o grupo.
— Minha nossa senhora defensora das balas de goma, você me assustou! — Sully disse, recuperando o fôlego.
— Eu sei, por isso é tão divertido. — a assombração respondeu.
— Não seja maldoso, névoas. — MegBeat o repreendeu. Sully já parecia sentido o bastante, não precisava ser assustado.
— Vocês estão aí. — Matthew disse, animado por achar as crianças embaixo da cabana de lençol improvisada.
A forma física do garoto de névoas se dissipou assim que notou Matthew se aproximando, fazendo MegBeat se questionar o porque do fantasma não parecer a vontade com a presença de adultos.
— Oi tio Matthew. Trouxe mais biscoitos? — Gretta perguntou, como sempre colocando o estômago acima de tudo.
A garota parecia estar se adaptando bem a vida na reserva, embora ainda se negasse a explicar para MB sobre seu passado.
— Dessa vez não, querida. Por que vocês não saem daí de baixo e vêem brincar comigo? — o loiro perguntou, com uma expressão gentil.
— Tipo quando você nos fez jogar o lixo fora dizendo que estavamos escondendo um tesouro pirata? — MB perguntou ao pai, desconfiada da amabilidade do mesmo.
— Ou quando você fez a gente tirar o pó dos móveis dizendo que estavamos limpando nossas digitais feito espiões. — Sully lembrou.
— É sério, vocês precisam sair daí. Não podem ficar se escondendo embaixo desse forte para sempre.
— Quer me ver tentar? — Wendy questionou, com seu tom de desaforo de sempre.
Matthew não estava brincando quanto ao medo que tinha de garotas na puberdade, desde a vez em que tentou espiar a festa de pijama da filha e ouviu Wendy reclamando por ter de usar sutiãs esportivos, ele praticamente nunca mais olhou nos olhos da menina. Por isso mesmo ele apenas abaixou a cabeça e tentou ignorar a presença dela.
— Gente, eu estou tão insatisfeito com isso quanto vocês, mas sabem o que eu aprendi com todos esses anos de vida? — o loiro questionou.
— Não tocar numa cerca elétrica para ver se dá choque mesmo? — Gretta questionou.
— Não, essa lição eu ainda não aprendi. Sempre toco. — ele respondeu.
— Que as vezes as coisas que parecem salgadas são doces e as vezes as coisas que parecem doces são na verdade remédios para dor muscular altamente viciantes? — Sully perguntou.
— Não. — Matthew respondeu de forma perplexa.
— É, meu pai também não aprendeu essa lição. Ele continua enfiando elas na boca. — ele comentou.
— Que se alguém diz que tem alergia a amendoim, não é uma boa ideia dar uma barrinha de chocolate com amendoim e caramelo para testar? — MB perguntou, certa de que aquela também era uma lição valiosa.
— Não. É sempre hilário ver eles inchando. — Matthew respondeu, mas MB não tinha certeza se concordava. Sully não pareceu muito satisfeito quando ela o fez ir parar no hospital — O que eu aprendi é que as vezes as coisas não vão ser como você quer, as pessoas vão fazer coisas estúpidas mesmo você as alertando sobre isso e não vale a pena ficar emburrado.
— Mas você sempre fica emburrado quando fazemos algo que você não quer. — MegBeat disse.
— Primeiro: nunca exponha minha hipocrisia na frente das outras pessoas. Segundo: a questão é que você até pode ficar emburrado, mas não para sempre. As vezes você precisa colocar uma expressão de deboche na cara, fingir ceder, deixar a pessoa se enforcar sozinha e depois mandar um grande e satisfatório "Eu te avisei".
— Você tem razão. — MB concordou, rastejando para fora do forte de edredom — Vamos logo para esse casamento idiota.
— Que seja. — Wendy concordou, obviamente ainda chateada.
— Temos que arrumar isso? — Sully perguntou, cabisbaixo, apontando para o montinho de cobertores bagunçando o chão do quarto.
— Deixa isso ai, o Saimon arruma depois. — Matthew respondeu, dando de ombros.
[...]
— Quer saber? Eu ainda não entendo como isso aconteceu. — Matthew comentou para Brenda em tom de reclamação, enquanto encarava os convidados que haviam chegado para a recepção com cara feia.
— Meu pai disse que ele gosta de loiras, os dois estavam tristes pelo time deles ter perdido de 3x0 e estavam bêbados. — Sully respondeu, também preferindo ficar afastado nos cantos encarando todos com um olhar cansado.
— A minha dúvida não era sobre como a minha prima acabou abrindo as pernas para um idiota, isso ela faz desde a faculdade. — Matthew comentou.
— Isso foi muito...— Brenda começou a proferir seu sermão, mas teve sua capacidade de fala ceifada ao notar a senhora asiática, com cabelos negros cheios de faixas cinzentas e vestido rosa escuro, se aproximando.
— Vovó Lotte! — MB disse numa voz animada, cortando a sala de estar e indo de encontro aos braços da senhora.
— Você não é a minha neta, a minha Meg tem esse tamanho. — a mulher disse, sinalizando alguns poucos centímetros com o dedo indicador e o polegar de sua mão direita.
— Eu cresci. Já sou praticamente uma adulta. — a menina disse com confiança, como se realmente acreditasse que a distância entre os nove anos e os vinte e um fosse minúscula.
— Não sei quanto a ser adulta, mas você com certeza é quase uma moça. — a mulher disse, apertando as bochechas da criança.
— Na verdade eu e ela temos um trato, nós vamos pular a parte da adolescência. — Matthew comentou, enfim se aproximando da mulher que parecia nova demais em comparação a ele para ser sua mãe.
— É. Quando eu fizer treze anos ele vai me ensinar a dirigir e a sonegar imposto, como uma adulta. — MegBeat disse, animada.
— Ainda tem medo de meninas adolescentes? — a mulher perguntou a seu filho.
— Tenho pavor. — o loiro respondeu.
— Meu pobre e louco garotinho. — ela disse, acariciando os cabelos de Matthew.
— Tia Charlotte! — Ruth a chamou numa voz animada. Ela até então estava de braços dados com Saimon, mas o soltou e foi de encontro a senhora sem pensar duas vezes.
— Olá querida. Imagino que esteja radiante. — Charlotte disse, aceitando o abraço da sobrinha.
— É, da mesma forma que ela estava nos últimos quatro casamentos. — Matthew comentou, emburrado.
— Não seja grosseiro. Hoje é um dia para comemorar. — Lotte disse, o que só fez Matthew ficar ainda mais estressado.
Charlotte e Ruth seguiram discutindo alguns detalhes sobre a organização do casamento, quando os pais da noiva enfim apareceram para a recepção. Trevor era como um Saimon escupido em carrara, apenas com algumas roupas um tanto mais antiquadas que as do filho. Não que Saimon fosse um grande exemplo de moda moderna, visto que usava roupas formais sempre que podia. Matthew podia jurar que já o viu dormindo de blazer. O homem também era um pouco menos encorpado que Saimon, e como resultado, se não fosse pelos poucos cabelos cinzentos e pela barba, ele pareceria mais novo que o filho.
Trevor estava de braços dados com uma versão muito mais elegante e madura de Ruth, a quem Saimon correu para cumprimentar. Sabrina, diferente do marido, que já havia se acostumado com as imprudências da filha, parecia tão descontente com aquela situação quanto Matthew, com a diferença de que ela encarava isso de uma forma mais tranquila.
Logo atrás dos dois surgiu o pai de Matthew, com seu bigode loiro antiquado e óculos redondos que combinavam com os da esposa, o que fazia ambos parecerem um casal que nunca superou os anos trinta.
— Andrew! — Brenda disse, cumprimentando o sogro. Como duas pessoas que tinham de lidar com as irresponsabilidades de Matthew, os dois tinham muito em comum.
— Ótimo, agora vão ficar o dia todo falando mal de mim pelas costas. — Matthew reclamou.
— Fofo você achar que a mamãe só faz isso quando o vovô está aqui. — MB disse de forma irônica, então se aproximou do avô para receber alguns dos doces de velho que ele sempre carregava.
Matthew estava só esperando o pai se aproximar e começar a dizer de forma passivo-agressiva o quão decepcionante ele era para a família, e sobre como se casar com Brenda e criar Meg tinha sido a única coisa decente que ele já havia feito. Para a sorte da sua pouca paciência porém, as atenções de Andrew e Charlotte foram roubadas pelo filho caçula. Oween podia ser um tapado, mas sabia ser útil as vezes.
— Mãe, pai...— ele começou, parecendo nervoso, então chamou Isaac, o lobisomem mais confiante, arrogante... E... Sinceramente... Barraqueiro daquela pequena alcatéia.
O homem alto e esguio, de pele negra e traços mestiços, bem característicos dos Afro-brasileiros, estendeu sua mão para cumprimentar os dois, deixando a mostra suas enormes garras de lobisomem, pintadas com esmalte preto e dourado, as quais ele se orgulhava muito de ter.
— Muito prazer. — ele disse com um sorriso simpático, bem diferente dos olhares de deboche que costuma lançar a Matthew. Embora Matt por sua vez tivesse de admitir que havia feito por merecer o destrato. As vezes ele esquecia que as pessoas não eram mais tão tolerantes com piadas homofóbicas, o que o fazia sentir falta dos anos quarenta.
— E você é...? — Charlotte perguntou, um tanto desnorteada, visto que o homem parecia supor que eles já sabiam de quem se tratava.
— E-esse é o Isaac...— Oween começou a dizer, envergonhado. Ele parou um pouco e tentou juntar coragem, então finalmente conseguiu pronunciar aquelas palavras — Ele é meu namorado.
— Ah....— Andrew disse, como se achasse que tinha de falar algo, mas não fizesse ideia do que — Bem, isso explica o porque de não estar indo nos visitar todos os meses como costumava fazer. Pelo visto tem se mantido ocupado...— o senhor disse, num tom de voz descontraído, então pousou a mão sobre o ombro do filho de forma preguiçosa e carinhosa.
— Muito prazer, Isaac. — Charlotte disse, parecendo um pouco sentida, o que não surpreendeu a ninguém, já que todos sabiam o quanto ela era protetora com seu caçula.
[...]
Por que todos pareciam se juntar para o crucificar quando fazia algo estúpido, mas eram tão passivos quando se tratava de Ruth? Para Matthew isso era uma situação completamente injusta.
Enquanto os outros ouviam aquela baboseira cerimonialista, Matthew decidiu dar uma volta e acalmar os ânimos. Realmente não era o maior fã de casamentos, achava a coisa toda exagerada, não é por menos que decidiu fazer algo simples quando se casou com Brenda. Isso é, simples na medida do possível. Por mais que não gostasse muito de tudo aquilo, Brenda não estava completamente livre do sonho de se casar com um vestido branco e um bom punhado de flores, e por mais imprestável que fosse o seu senso de empatia na maior parte do tempo, quem era ele para negar flores e um vestido para uma garota em um dia especial?
Ele continuou vagando sem um rumo específico, devaneando sobre flores, presentes, vestidos com caldas exageradas e uma vida toda tendo de suportar a companhia de outra pessoa. Não podia negar que embora a ideia parecesse ridícula, as coisas até eram aceitáveis na prática. Imaginava que a essa altura já estaria implorando por um divórcio, mas ter alguém preso a ele, tendo de lidar com suas paranóias e assumir suas borradas, era estranhamente satisfatório, causava um certo sentimento confortável de estabilidade. Se ao menos Brenda não estivesse firme na sua escolha de não ter mais filhos...
— O que você tá olhando? — Wendy perguntou com um olhar de desaforo, fazendo Matthew, que até então nem havia notado a presença da pré-adolescente naquela estrada de terra isolada, perceber que estava olhando em direção a ela durante seus devaneios.
— O que você faz aqui? — ele perguntou, notando que a menina não estava mais com sua roupa de festa, apenas usava seu visual de Skatista de sempre, com sua cabeleireira castanha completamente desgrenhada, mesmo com Oween tendo feito um belo penteado nela e em MB mais cedo. Ela também carregava uma mochila para campistas, que por sua vez parecia bem cheia.
— Não é da sua conta. — a menina disse, então continuou seguindo pela estrada.
— Não me diga que está planejando fugir da reserva simplesmente porque seu pai está se casando. — Matthew disse. Era justamente aquele tipo de comportamento impulsivo que o fazia detestar garotas na puberdade, e sim, ele enxergava a ironia nisso.
— Você também não gosta dessa palhaçada, então por que se importa!? — Wendy perguntou, irritada, parecendo realmente indignada por Matthew estar tomando seu precioso tempo.
— Porque eu sou o líder daqui, o que infelizmente significa que eu preciso garantir a segurança até do menor e mais irritante lobo dessa alcatéia. — Matthew se explicou. Ele não precisava fazer isso, mas aquela pirralha era boa em fazer adultos se sentirem crianças sendo encurraladas por bullyings no parquinho — Para onde você está pensando em ir?
— Se eu te contar você vai dizer ao meu pai, e caso seus dois neurônios não tenham deixado você entender isso, eu estou fugindo dele!
— Prometo que se for um plano seguro, eu não só não vou contar para o seu pai como te dou uma carona. — Matthew disse, tentando parecer sério, como se sua palavra tivesse algum valor (o que obviamente não tinha, mas aquele projeto de ser humano não precisava saber disso).
A menina olhou para ele com uma expressão desconfiada, o avaliando de cima a baixo, pensando se valia a pena arriscar confiar nele. Ela deu um longo suspiro e respondeu enfim: — Eu vou para o Último Reino. Vou ficar com a minha mãe.
O Último Reino? Aquela era uma parte do plano médio que havia sido isolada do restante do mundo, um subplano físico que apenas seres com alta concentração de energia mágica podiam adentrar. O portal mais próximo que alguém tão frágil quanto Wendy conseguiria atravessar ficava no Rio de Janeiro, e nem mesmo um sem noção como ele deixaria uma menina de treze anos ir da Amazônia para o Rio sozinha. Mas havia uma outra parte desse plano que não parecia fazer sentido.
— A sua mãe não está num hospício ou algo assim? — Matthew questionou, realmente intrigado.
— Está. E se eu fosse você ficava de olho na sua prima, ou aquela loirinha vai acabar em um também. — Wendy disse de forma fria.
— O que quer dizer com isso?
A garota suspirou, parou sua caminhada e então se virou para encarar Matthew — Sabe o porque dele querer tanto se casar outra vez? Ele é louco para ter um filho.
— Ele tem o Sullyver. — Matthew comentou, sem entender bem o rumo da conversa. Claro, sua filha tinha mais masculinidade numa perna do que sun tinha no corpo todo (se bem que ela corria por aí como um verdadeiro animal, acertava uma bola no alvo mesmo que esse estivesse a cem metros de distância e comia como um boi. Para uma garotinha de nove anos, Megan Beatrice era mais macho do que o pai) mas ainda assim era um filho.
— Ele quer um filho forte, um lobo. O Sun já tem quase onze anos e ainda não se transformou nenhuma vez. — Wendy explicou. — Para alguém como o meu pai, isso é inaceitável.
— Então você está indo embora porque seu pai não tem orgulho do seu irmãozinho e quer outro bebê? Não acha uma escolha drástica?
— Cheque o braço esquerdo dele, depois me diga se ainda pensa assim. — ela disse, impaciente, então seguiu caminhando.
— Ei, ei.... Você não pode ir sozinha. — ele começou a dizer.
— Pois venha logo então. — Wendy disse, quase que ordenando.
O casamento de Ruth estava quase começando, e ele definitivamente não queria fazer uma viagem daquelas ao lado de uma adolescente, muito menos se meter em um drama familiar. Dito isso, ele obviamente a seguiria para qualquer canto que fosse enquanto ela não tivesse mais ninguém para a proteger.
[...]
— Finalmente. — Wendy disse, aliviada por Matthew enfim ter retornado — Por que trouxe essa daí? — ela perguntou, apontando para Gretta. Não via como outra criança poderia ser útil em sua fuga.
— Bem, você é louca se pensa que vamos viajar até o Rio. Vamos pegar um atalho. — Matthew respondeu, mas Wendy continuou o encarando como se esperasse mais explicações, então ele prosseguiu — Essa pirralha é perfeita para isso. Ela tem mais energia mágica acumulada do que qualquer um que eu já conheci.
— Sério? — Wendy questionou, avaliando Gretta de cima a baixo, não parecendo muito convencida das capacidades da garota, o que resultou em Gretta a lançando uma careta.
— Nada de briga vocês duas. — Matthew disse, juntando suas forças. Era exatamente aquele tipo de deboche e implicância que o fazia detestar adolescentes. E novamente, sim, ele entendia a ironia disso.
Ele seguiu caminho até a passagem de ruptura mais próxima, com Wendy e Gretta o seguindo como dois patinhos seguindo a mãe. Obviamente preferia ir de Jeep, mas não queria correr o risco de verem que seu carro não estava mais estacionado e perceberem que havia fugido.
Depois de muita reclamação por parte de Wendy, o pequeno grupo se viu frente a um tronco de árvore incrivelmente robusto.
— Vai lá garota, faz a sua mágica. — Matthew disse a Gretta, já ansioso para vislumbrar a mesma habilidade que a menina havia demonstrado ter quando a acolheram.
Gretta colocou seus cabelos, que apesar de muito mais bem cuidados agora ainda permaneciam enormes, para trás, evitando que eles atrapalhassem sua visão. Ela se concentrou no trono, tentando criar algum tipo de ódio por ele, o que a pareceu uma ideia tão estúpida. "Quem odeia um tronco de árvore?" Ela pensou, e não pode evitar imaginar MB a fazendo a mesma pergunta. A menina tinha uma imaginação muito vívida e um pouco idiota, ao ponto de sempre estar fazendo perguntas estranhas como aquela.
"Quem odeia troncos de árvores?" — ela voltou a pensar, dessa vez ouvindo a pergunta sendo feita pela amiga. Na sua cabeça, MB a perguntava numa voz confiante, como se aquela fosse uma pergunta muitíssimo válida. "O que esse tronco te fez afinal? Ele pode muito bem ter xingado sua avó, talvez ele deva dinheiro ao seu pai, ou quem sabe ele tentou dar encima da sua mãe..." A MB argumentava em sua mente, o que para Gretta parecia exatamente o que a menina diria. Talvez não fosse tão estúpido ter ódio de um tronco afinal...
Ela focou naquele serzinho petulante, seja qual fosse seu erro, ela o julgaria. Suas mãos agarraram o tronco e Gretta sentiu todo um mar de energia fluindo de todas as partes de seu corpo em direção a ele, sua visão começou a escurecer a medida que aquela força saia de si e acertava o tronco infeliz, que rachou de dentro para fora, explodindo em dezenas de pedaços.
Ela iria comemorar sua vitória sob aquele ser inanimado, quando começou a ouvir um som estridente.
ALERTA DE PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL! ALERTA DE PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL!
ALERTA DE PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL!
Matthew e Wendy pareciam desnorteados, já ela se sentia cada vez mais sonolenta, como se algo no ar a estivesse dopando.
Uma mulher alta com um olhar de desgosto surgiu entre as neblinas da floresta, parecendo querer ir direto até Gretta.
O que ela havia feito?.......
— Fique longe! — Matthew disse, se colocando frente a Gretta, impedindo Hilda de se aproximar.
— Não basta ser um desertor, ainda tem a coragem de praticar feitiçaria no meu domínio? — a mulher perguntou, irritada.
— Essa área é para lobisomens! — ele se defendeu.
— A Amazônia é responsabilidade da tropa de contenção de anomalias e espíritos perturbados. — ela declarou, o que fez Matthew perceber que Hilda realmente usava o uniforme do exército de contenção.
— Não tem nenhuma anomalia aqui, muito menos um espírito perturbado. Pode dar meia volta! — ele declarou, sem sair da frente de Gretta, se recusando a deixar que Hilda sequer olhasse para ela.
— Chega a ser adorável ver você pensar que tem força o bastante para impedir o exército. — ela zombou, então Matthew notou que outros dois agentes haviam se aproximado por trás dele. Era tarde demais.
Apesar das tentativas de Matthew de relutar, aqueles dois homens eram muito mais fortes do que ele, que não estava no seu melhor físico, o que obviamente era culpa de Saimon e de suas malditas tortas de nozes com chocolate.
Gretta viu Hilda se aproximando. Aquele uniforme... Aquele olhar de medo e desprezo. Eles iriam a prender novamente, justo agora que havia conseguido uma nova família. Aquilo não podia ser...
Não podia
Não podia
Não podia
Não podia
Não podia
Não podia
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro