Idas e Vindas do Amor
"O amor é o único evento importante que restou no planeta".
Pov Katherine
O escritório é frio, sem muita decoração. Observo os ponteiros do relógio logo a minha frente completar duas voltas em torno do eixo, mantenho meu olhar fixo para evitar encarar a mulher elegante a minha frente. Margaret Hilst uma das maiores roteiristas que conheço, e ela está nesse momento lendo meu roteiro e nunca me sentir muito confortável vendo alguém analisar meus trabalhos.
Quando me formei há um ano atrás, comecei a trabalhar com a Olivia, fizemos alguns trabalhos juntos e hoje estou tentando produzir meu primeiro filme como roteirista e diretora.
A sala está silenciosa, enxerto pelas batidas ritmadas da caneta na mesa. É a minha quarta tentativa, as outras duas falaram o mesmo, não é bom suficiente, não vai fazer sucesso.
— Qual seu passado? — Olho para mulher a minha frente querendo entender sua pergunta — ninguém escreve algo assim, com um passado feliz. Faz muito tempo que não leio algo tão doloroso — baixo a cabeça pensando no que fiz de errado. Talvez escrever uma comédia romântica com Noah Centineo na capa seria mais atraente.
Já é a terceira produtora que mostro meu trabalho e recebo não como resposta. Duas falaram que preferem trabalhar com diretores homens, algo que achei bem machista e uma delas que não gosta de tanto drama, prefere uma comédia e ver todos rindo no fim da sessão de cinema.
Não sabia que iria ser tão difícil assim arrumar um emprego. A maioria me ver apenas como a ex do Jason Salvatore, a que só conseguiu um grande papel graças a ele.
Os únicos trabalhos que conseguir foi como assistente da Olivia. Até que eu gosto de está envolvida no set de filmagens e eu aprendo muito com isso, mas eu queria muito poder produzir minhas criações.
— Isso não tem nada ver com minha vida, é apenas um roteiro — ela me corta.
— Não... não, não existem roteiros bons, sem alma. Ou ele é uma cópia barata de milhares por aí, ou ele é algo original, no qual o roteirista tenha dado sua alma para isso. O seu com certeza pode ser algo extraordinário, você é ótima — engulo seco. Estou na frente de uma das maiores diretoras que conheço e ela gostou da minha história.
— Eu... eu... muito obrigada, senhora.
— Mas não se empolgue tanto. Você é boa, mas tem muito o que aprender ainda. Não tem que ser apenas uma boa escritora, tem que ser uma diretora excelente. Escrever é fácil, difícil é escolher os atores perfeitos para o papel, fazer ele entender a mensagem que tem que passar quando estiver atuando. Ter a melhor equipe de filmagem, marketing, designer e produção — escuto tudo atentamente — está entendendo o que estou dizendo? — Assinto — você tem uma semana para conseguir isso.
— O quê?
— O que está fazendo sentada aí, garota. Vai trabalhar, em uma semana eu quero sua equipe formada, vamos produzir esse filme e ganhar um Oscar com ele.
Não posso estar escutando bem, eu conseguir, é isso? Começo a pular e vou até a senhora Margareth e abraço ela.
— Muito obrigada, a senhora não vai se arrepender. — Saio pulando de empolgação, eu conseguir.
Ligo para Olívia e peço para me encontrar no meu apartamento em trinta minutos. Eu não acredito, conseguir meu primeiro trabalho como diretora e ainda vai ser com meu roteiro.
Será se eu vou conseguir, é tão pouco tempo, uma semana para conseguir uma equipe completa até os atores.
E foi aí que tudo começou, e onde eu virei uma das maiores diretoras da minha geração, ganhando vários prêmios internacionais.
Aah, mas antes não poderia deixar de explicar o que aconteceu. Olívia tinha vários contatos e uma equipe perfeita e completa, ela virou minha sócia.
E juntas conseguimos dirigir vários curtas, episódio de séries e o mais importante. Meu primeiro filme.
Ele foi um sucesso, digno de Oscar? Não, mas foi o bastante para alavancar minha carreira e ficar conhecida mundialmente. E hoje, dois anos depois, estou aqui produzindo o segundo filme da franquia, já que o primeiro foi um sucesso e estão todos pedindo uma continuação.
— Foi aqui que pediram um café — Dylan invade meu set com vários copos de café fazendo a maior bagunça.
Eu esqueci de comentar, ele também virou meu sócio. Apesar de viver viajando com sua namorada e estilista Mia Salvatore. Ele não confia muito, tantos caras babando por ela, mas não é por menos, ela é tão linda, nem parece ser de verdade, Deus realmente tem seus preferidos. Voltando, ele é mais um agente, descobre os talentos e envia para gente.
— Oli, todos os candidatos para o teste chegaram? — Hoje vamos fazer o teste com o elenco masculino para dá vida ao papel de Aeron Grant. É quando os dois se encontram depois de cinco anos separados.
— Sim, estão todos aqui, só tem um probleminha, a garota selecionada para o papel desistiu — ela faz uma cara de decepção.
— Como é que é? Só pode ser brincadeira, estamos com o prazo apertado, precisamos de profissionalismo — me irrito. Atores, já falei que odeio eles? Provavelmente, sim, eu odeio esses metidos que acham que são os donos do mundo só porque são famosos, só para lembrar, sem a gente, eles não são nada, somos nós que fazemos as mágicas.
Jogo as fichas encimam da mesa e vou para meu escritório, o que vou fazer agora?
— Ei calma. Achei que seu ódio por eles tinha acabado — estreito os olhos pra Olivia irritada — tenho uma ideia — ela diz com receio — você poderia fazer o teste com eles hoje, você sabe exatamente o que fazer, amanhã chamamos as melhores da seleção e fazemos o teste de química com o rapaz.
— Eu não sou atriz, Olívia. Não brinca, por favor. Se não conseguimos esse elenco vamos perder esse filme e não posso perder meu roteiro para outra direção.
— Então o que é aquilo — ela aponta para um dos meus troféus que ganhei alguns anos atrás — atriz revelação e melhor química — aquele eu ganhei com o Jason — ganhamos o prêmio de casal com mais química do cinema.
Que saudade eu sinto dele, espero um dia conseguir ele da minha cabeça, já faz três anos que não o vejo e ainda sinto um aperto no coração sempre que escuto seu nome.
— Terra para Kat — ela estala os dedos chamando minha atenção — posso saber onde estava? É em um certo caipira?
— Idiota — jogo uma bolinha de papel nela. Olivia e eu nos tornamos muito próximas, trabalhamos esses três anos juntas — tudo bem, eu topo fazer o teste com eles, mas amanhã cedo quero as garotas aqui. Dona Margareth está querendo me matar por não ter um elenco regular ainda.
— Ainda acho que você deveria fazer o papel, é sua cara e você pode muito bem dirigir e atuar ao mesmo tempo, eu vou te ajudar.
— Vou me preparar e te encontro lá em dez minutos e só para te lembrar, eu não sou atriz, só fiz aquele filme porque estava falida no dia. Foi tudo por interesse.
Tomo meu café enquanto leio o texto para lembrar as falas. Eu não sei mais fazer isso, é bem mais difícil decorar, do que criar. Apesar de ter sido todo escrito por mim, eu não lembro os diálogos perfeitamente.
— Senhora Grey — um dos assistentes me chama — essa é a lista dos candidatos, são quatro no total — agradeço e peço para colocar na minha mesa.
A cena é tecnicamente, o casal se encontrando no primeiro dia de trabalho, os dois acabam se esbarrando e ele derruba suco nela. Eles começam a discutir e é isso. Eu sou boa em brigar e estou estressada, então vai ser ótimo.
Como eles já fizeram teste individuais, já sabemos que são bons, ou melhor, a Olívia sabe, eu não cheguei a ver os candidatos masculinos ainda, foi a formatura da minha irmã no dia, não podia perder. A Lizzie já vai para faculdade, não acredito que minha irmãzinha já está crescida.
— Eu gostei muito do primeiro — digo enquanto tomo uma água, já fizemos com os três primeiros, falta só mais um.
— Ele é bom, mas tenho certeza que esse agora vai te surpreender — não sei qual a necessidade de fazer esse teste hoje, se ela já sabe a quem vai dá o papel. E sempre concordamos perfeitamente uma com a outra, se ela está dizendo que esse é o melhor, não tenho dúvidas.
— Vamos ver — pego o copo que estou usando na cena e preencho de água, vou para meu lugar e fico esperando ela avisar que pode começar.
— Cena 6, e gravando— Oli grita. Começo a caminhar com a cabeça baixa e mesmo na hora que esbarro no rapaz a minha frente, todo o meu corpo congela.
Lembro perfeitamente de quatro anos atrás quando esbarrei nesses lindos olhos azuis pela primeira vez. Foi ali que me perdi completamente, eu me apaixonei não somente pela sua beleza, mas por me sentir protegida pela primeira vez na vida. Eu penso em se tudo poderia ter sido diferente se aquele mal-entendido não tivesse acontecido, ou se a Nicole nunca tivesse entrado no meio de nós, se estaríamos juntos hoje.
Eu queria poder dizer o quanto eu ainda o amo, de uma forma que ele acreditasse que tudo que fiz foi por medo de perder minha irmã, de me magoa, de não ser amada de verdade. Que eu me sinto completamente culpada por não ter tentando mais, por não ter dado uma chance para a gente. Mas que apesar de tudo, eu sempre o amei.
— Me desculpa, por favor — sua voz calma soou como um delírio. Depois de tanto tempo, como ele ainda tem esse efeito em mim?
— É parece que vai ser do seu jeito, parabéns, Ja... Austin Grant — tento não demostrar o quanto estou abalada com sua presença, entrando no papel.
— É, parece que vamos se esbarrar muito ainda nesse escritório... — seu sorriso me derruba completamente, mas ele não pode perceber meu estado ansioso. Eu nem sei por onde ele andou todo esse tempo, não sei de nada da sua vida.
— Olhe bem... você não está falando com aquela garota imatura de antes. Então diz logo o que está fazendo aqui, no meu trabalho.
— Eu trabalho aqui agora, vai ter que me aguentar. Seria mais fácil admitir logo que não me esqueceu, por isso não consegue ficar perto de mim — olho em seus olhos e fico sem palavras, eu não vou conseguir fazer isso.
— Você poderia me dá os relatórios eu preciso ir — peço.
— Eu ainda te amo...
— O que você está falando? Para de bobagem e me deixa em paz — tento passar por ele, mas ele me impede.
— Se o que está dizendo é verdade, vou te deixar em paz. Me fala a verdade, diz que não me esqueceu e peço demissão agora e vou embora.
— Eu não tenho que te dá nenhuma explicação, entendeu? — Minha voz falha ao passar pela garganta.
— Não faz isso — ele segura em meu braço. — Estou apaixonado por você... eu nunca esqueci de você. — Não sei em que horas esquecemos que estamos atuando e começamos a discutir.
Riu desconfortável. Ele passou todos esses anos saindo com diversas mulheres diferentes, toda semana era notícia que ele estava com uma modelo famosa e ainda vem dizer que não me esqueceu?
— Apaixonado? Você vem me falar de amor depois de todos esses anos? — Eu sei que foi eu, quem terminou, mas ele me esqueceu rapidinho, já que no outro dia já estava com aquela idiota da Nicole em todos os jornais. — O que você está pensando hein? Que vai chegar para mim depois de tudo e dizer que me ama e vai ficar tudo bem?
— Eu sinto muito, eu não sabia o que estava fazendo, eu estava com raiva e me deixei levar pelo momento, eu sinto muito e se você não quer mais nada comigo, tudo bem, eu só preciso que você fale que me esqueceu, que vou te deixar em paz — disse ele, olhando diretamente em meus olhos.
— Eu não te amo mais, eu nem lembrava da sua existência até entrar pela aquela porta, entendeu? O que você estava pensando, que eu ia passar o resto da vida pensando em você e vendo você sair com aquele monte de mulher todos os dias, você acha isso, em Jas... — Ele me puxou em seus braços. E mal tive tempo de pensar antes de ele me beijar, eu estava totalmente despreparada para aquilo.
Meus olhos se fecham por vontade própria. Eu sonhei tanto com esse beijo.
— Isso foi perfeito — nos afastamos com alguém falando, olhamos para porta de entrada onde a minha chefe entra — eu quero você no meu filme — minha cabeça ainda está meio zonza, é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, e quem ela pensa que é? O filme é meu, meu roteiro, minha equipe, meu elenco, e daí que o dinheiro é dela.
— Desculpa, mas eu não sou atriz... — digo e saio deixando todos de boca aberta. Bato a porta com força do meu escritório e me jogo sofá — me deixa em paz...
— Que feio, não sabe que é errado falar assim com os mais velhos? — Margareth entra e só então percebo que é ela.
— Desculpa, não sabia que era a senhora — sento direito e ela senta ao meu lado — desculpa por aquilo, acabamos passando dos limites.
— Aquilo não era atualização, certo? — Nego. Eu nem sei exatamente o que falamos, me perdi completamente e comecei a colocar para fora tudo que sempre quis. — Namorado?
— É complicado, não chegamos a namorar, só nos envolvemos em uma loucura e deixamos nos envolver por sentimentos que não podemos corresponder e foi isso.
— Faz quanto tempo?
— Três anos... — ela arqueia a sobrancelha surpresa.
— Ainda o ama?
— Nunca deixei de pensar nele, um momento se quer.
— Eu li o roteiro inteiro, três vezes, e em nenhum o protagonista perguntou para ela, se ela ainda o amava, e também não falou que ainda era apaixonado por ela, então, porque não o respondeu quando ele perguntou para você, Katherine, se você ainda o ama?
— Eu não sei, medo, talvez. Quando ele entrou em minha vida, tudo virou de cabeça para baixo, e estou bem agora, tenho medo de acontecer novamente.
— Vem cá — deito minha cabeça em seu ombro. Há dois anos atrás eu conheci uma das melhores pessoas da minha vida, ela não só fez eu realizar meu sonho em ser uma diretora de sucesso, quanto fez eu ter alguém na qual posso contar sempre. — Minha menina, entenda uma coisa, o amor é algo mágico, inexplicável e lindo, quando se é permitido ser vivido. — Enxugo uma lágrima que se forma em meu rosto antes que ela veja.
— Margareth, não vai me enfeitiçar com seus conselhos dessa vez, não funciona quando se trata dele.
— Tudo bem, eu não vou dizer nada — ela faz um sinal de zíper na boca. Eu a conheço e quando ela diz, não vou fazer nada, sei que vai aprontar. — Mas.... — Lá vem — em troca do meu silêncio eu quero que você seja a protagonista do meu filme.
— Não vai rolar não, nem vem — levanto — já disse, eu não sou atriz, e a outra menina nem se parece comigo, nada ver.
— Tudo bem, depois não diz que não avisei. Ela levanta e coloca a mão no coração como se estivesse passando mal.
— Tudo bem? — Ajudo ela a sentar novamente.
— É que já estou numa idade avançada e você sabe que não tenho filhos, eu te considero muito e você não faz nada por mim, eu só queria ver minha menina atuando novamente, mas você é uma sem coração.
— Você não vai desistir, não é? — Ela nega com a cabeça — fazer o que se não tenho escolhas.
Bom... E como ela é uma senhorinha muito safada, ela conseguiu comprar todos os atores e fazer eles desistiram do papel, fazendo apenas o Jason ficar. Então tudo começou de novo, ele e eu em um set de filmagens atuando na história da nossa vida.
Mantive o máximo de profissionalismo possível, por mais que ele tentasse, eu nunca dei brecha para ele se aproximar. Teve dias dolorosos, dias que eu queria que aquela atuação virasse realidade, que eu pudesse beijar aqueles lábios sempre que eu quisesse, sem hesitar, sem medo de passar dos limites e ele acabar descobrindo que eu ainda o amo, como nunca amei ninguém.
Mas eu conseguir, acabaram as gravações, os eventos, e eu não preciso mais ver ele. Hoje toda equipe vai se juntar para ver a previa, antes do lançamento juntos. Mas eu não gosto de ver minhas produções, então resolvo ficar em casa e evitar mais um encontro conturbado com o ele.
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