Capítulo 1
A aposta
O dia estava ensolarado, porém o vento era frio e a combinação dos dois deixava a manhã com o clima perfeito. Estávamos em pleno verão, então isso não duraria por muito tempo, pois logo o outono voltaria, e eu deveria estar feliz pela temperatura gostosa. Entretanto, entrei na escola com a cara fechada, forçando-me a tentar sorrir e fingir que estava tudo maravilhosamente bem - ou pelo menos parcialmente.
Parei diante do meu armário e o abri, jogando alguns livros ali dentro sem me dar ao trabalho de arrumá-los. Não é como se eles já não fossem desgastados e rasgados.
- Ei, que humor matinal! - Brincou Scott, batendo no meu ombro seguidas vezes e se encostando no armário ao lado do meu. Ele mascava um chiclete.
- Só não dormi direito. - O que não era mentira, mas também não era totalmente verdade.
A verdade era que eu tinha tido mais uma das muitas noites envoltas em pesadelos. Eles viam fortes, fazendo com que eu acordasse afobado e suado no meio da noite e não conseguisse voltar a dormir. Infelizmente, aquele já era um hábito antigo para mim e os monstros do passado que me perceguiam eram sempre os mesmos.
Scott suspirou e fez um gesto com a cabeça, apontando para algo e me fazendo virar para ver.
- Dá uma olhada nisso. - Disse.
Segui seu olhar e vi Marie Elizabeth passando pela porta principal da escola, seguida por suas duas fiéis escudeiras loiras oxigenadas.
Marie era a garota mais cobiçada pelos garotos da escola e a mais invejada por todas das meninas. Ela tinha o cobelo longo e da mesma cor de chocolate, seios grandes e cuidadosamente arrumados em um decote profundo, o que chamava atenção a distância. Tinha um corpo definido, com todas as formas que se ditavam como as mais bonitas.
Sorri travesso, lembrando que já a levei para cama uma vez.
- Oi, Tody. - Ela disse quando passou por mim, lançando o cabelo para trás charmosamente.
- Oi. - Foi tudo que eu disse antes de virar as costas.
Enquanto ela ia embora com uma carranca no rosto, Scott virou para mim com os olhos castanhos arregalados e sussurrou:
- Qual é o seu problema, cara? Ela quase tirou a roupa para você nesse minuto e tudo que você disse foi "oi"?
Ri.
- Pode ficar. - Fiz um gesto de desdém com a mão na direção na qual ela tinha partido. - Ela é grudenta demais para o meu gosto. E além disso, tenho certeza que é incapaz de ficar com um cara só.
Scott suspirou, sonhador, e encostou a cabeça no armário, olhando fixamente para o teto.
- Quem dera se ela grudasse em mim. - Resmungou baixinho.
- Me deixa adivinhar: ele tá sonhando com Marie de novo? - Perguntou Peter, surgindo do nada com Percy e Will ao seu lado. Os três pararam perto de nós.
- Vai babar assim. - Percy bateu no queixo de Scott, que ainda olhava na direção que Marie tinha ido, e começamos a rir feito loucos da cara de perdido que ele fez.
Foi nesse segundo que o sinal bateu, um grito estridente cortando os corredores. Peguei um único livro no armário, fechei-o com força e segui com meus amigos para nossas salas.
O dia passou tão lento que acabei dormindo na aula de Astronomia. Por que eu iria querer saber onde estão as principais estrelas da Via Láctea e qual a distância entre uma e outra? Entre escolher Culinária e Astronomia como matéria complementar, escolhi por aquele que me daria menos trabalho, infelizmente, não sabia que seria tão entediante.
Quando a aula finalmente acabou, segui em direção à cantina. A fila era ligeiramente longa, mas logo consegui chegar ao buffet com os lanches disponíveis. Enquanto me servia, Percy falou:
- Olhem lá o Garoto-Morcego! - E depois pegou um punhado de macarrão de seu prato, pronto para jogar.
Segurei seu braço, impedindo que ele realizasse o gesto.
- Você vai acabar suspenso e perder o jogo de quarta, imbecil.
Ele pensou um pouco e depois bufou, soltando o macarrão dentro no prato novamente. Continuei olhando-o intensamente até ter certeza que podia soltar seu braço sem ter problemas.
- Não vou fazer nenhuma merda, ok? - Confirmou para mim
O Garoto-Morcego nos observava, perto da porta da cantina, e percebeu o que estava acontecendo, saindo o mais rápido possível dali com o rosto baixo.
Não lembro bem quando começamos a chamá-lo assim, mas sei que foi por causa das roupas que ele usava. Sempre eram totalmente pretas, sem que nenhuma peça escapasse: blusa preta, casaco preto, jeans preto! Até o cabelo do garoto, um pouco longo e completamente bagunçado, que às vezes cobria seu rosto, era tão preto quanto a noite.
Fiquei com pena dele.
- Aposto que ele é gay. - Resmungou Scott, enquanto sentavámos na nossa mesa de sempre.
- Duvido. - Will falou. - Se fosse já teria se apaixonado pelo garanhão aqui. - Apontou para o próprio peito, estufando-o. - Todos nós sabemos que sou o mais gato aqui.
Ri com isso.
- Bem mais provável que ele se apaixonasse por mim! - Discordei e depois tive que me esquivar da mão de Will, que tentou acertar meu rosto.
- Se você conseguisse chegar perto dele, talvez. - Scott gargalhou do outro lado da mesa. - Nunca vi ninguém conseguir conversar com o Garoto-Morcego.
Tomei aquilo como um desafio. Não podia ser impossível falar com aquele garoto, não é mesmo? Por mais estranho e recluso que ele fosse, deveria ter uma forma de se aproximar
- É claro que, se eu quisesse, podia muito bem fazer um cara se apaixonar por mim - Bati a mão na mesa, erguendo uma sobrancelha.
Scott parou de rir e me encarou, suas sobrancelhas claras se franzindo no ato.
- Pois eu aposto que não. - Cruzou os braços sobre o peito.
Fuzilei-o com o olhar. Scott estava me desafiando de verdade.
- Quer mesmo apostar isso? - Falei.
- Você tem um mês para fazer o Garoto-Morcego assumir que é gay. - Ele começou, apontando com o dedo para mim. - Se em um mês você não juntar provas suficientes para isso, vai ter que ir para um dos treinos pelado.
Dei de ombros e também apontei para Scott. Se eu perdesse, e eu não iria, o máximo que iria acontecer seria uma suspensão para mim por alguns dias. Não era como se eu tivesse problemas com aquilo.
- E se eu ganhar?
- Você pode passar qualquer desafio para mim que eu farei. - Scott me olhou intensamente e vi um brilho travesso na cor castanha.
Estendi a mão para ele, tomando a decisão de tornar oficial aquela aposta.
- Fechado.
Scott segurou minha mão e a apertou com força, confirmando aquilo com nossos amigos de testemunhas.
- Fechado!
A caça tinha começado.
••••
Aos meus leitores antigos : estou repostando a história com algumas modificações. Elas não terão importância no desenvolvimento.
Aos novos leitores: sejam bem vindos.
Por favor, tenham paciência com as repostagens. Estou tentando meu melhor para deixar essa história mais completa, mas isso leva um certo tempo.
All the love
Kyv❤
Leiam, também da minha autoria:
Sinopse:
Vincent é um anjo da morte como muitos outros, com seus olhos vermelhos e suas grandes asas de plumas pretas, entretanto, ele adora observar os humanos e se questiona como fora sua vida antes - antes de morrer, antes de se tornar um anjo.
O que Vincent não esperava era encontrar Evan, um humano cheio de luz e com o mais belo sorriso que o anjo já viu. Saber que Evan tem os dias contados de vida, entretanto, não impede que Vincent se apaixone perdidamente - e fique cara a cara com seu passado.
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