Bônus - Capítulo 23 (Inédito)
“It’s alright calling out somebody to hold tonight, when you lost your fire I’ll be your light, you’ll never feel like you’re alone, I’ll make this feel like home” – Home, One Direction
Porque tudo mudará esta noite
P.O.V. Felipe
A música fluía pelos autofalantes do carro, conectados ao aleatório do Spotfy e eu, inconscientemente, prestei atenção na letra. Ela tinha uma melodia que mesclava felicidade e lentidão, como se quem a escrevera queria provar que, mesmo com todas as dificuldades que a vida trazia, o amor por outra pessoa poderia sempre ser um alívio para qualquer dor. Talvez fosse por essa razão que a música se chamava, simplesmente, Home.
Parei no sinal vermelho e batuquei os dedos, as unhas ligeiramente pretas, devido aos desenhos em carvão que fiz naquele dia, lembrando-me de todo o trabalho que ainda tinha por fazer. Era impossível não lembrar de Tody e de nossa discussão boba de mais cedo ao ouvir aquela música e perguntei-me o que estava fazendo naquele exato momento, sozinho em casa. Eventualmente, a música terminou e outra se iniciou, muito mais animada, e eu, chateado, desliguei o som para não ouvir mais nenhuma palavra falsamente animada sobre as coisas boas que poderiam acontecer em festas.
Continuei dirigindo pela costa da cidade, o vidro aberto para permitir a entrada do vento úmido e frio vindo do mar. A lua cheia, brilhante no céu noturno, permitia que eu visse as ondas se chocarem contra a areia branca da praia e então retroceder para o oceano em uma violenta e harmoniosa sintonia. Meu cabelo voava sobre meu rosto e o cheiro de maresia enchia o carro, fazendo-me aspirar profundamente e passar a dirigir mais rapidamente, aumentando a intensidade na qual o vento se chocava contra minha pele. Quis poder simplesmente fechar os olhos e apreciar o carinho do vento sobre minha pele, mas forcei-me a continuar focado em dirigir.
Coloquei-me na faixa da esquerda, já preparado para virar na avenida que conectava o centro da cidade à costa. Parei em mais um sinal vermelho no mesmo instante que o painel automático do carro acendia, conectado ao meu celular para informar quando eu estava recebendo uma ligação. Apertei os botões para que os vidros se fechassem, evitando o barulho, e aceitei a chamada.
- Hey, Fê! – A voz animada de Marie Elizabeth ecoou pelo carro ao mesmo tempo que o sinal mudava para verde.
- Boa noite, flor. – Respondi e então bufei, vendo que imediatamente o trânsito ficava congestionado ao adentrarmos as zonas comerciais da cidade.
- Onde vocês estão? São os únicos que não chegaram ainda.
- Estou indo buscar Tody agora.
- Ainda? – Ela pareceu surpresa. – Você é sempre tão pontual.
- Eu sim. – Resmunguei. – Tody não.
Meu tom de voz rude, banhado de chateação devia-se somente ao fato de que meu marido não conseguia ser pontual em nossos compromissos. A carreira de modelo, durante os dois anos que se passaram, viera somente reforçar a característica de Tody de sempre querer sair perfeitamente arrumado de casa, o que rendia um longo tempo de preparação. Mais cedo naquela noite, ele ainda usava o secador para colocar o cabelo na posição que desejava quando eu já o esperava na sala totalmente pronto, o horário do encontro com nossos amigos se aproximando cada vez mais. O atraso fora o estopim para nossa briga se iniciar.
- O que aconteceu? – Marie falou depois de alguns segundos.
- Nós tivemos uma pequena discussão. Não foi nada importante, mas saí de carro depois para refrescar o pensamento.
Surpreendentemente, Marie Elizabeth riu. Sua gargalhada ecoou pelo carro e, mesmo que ela não pudesse ver, franzi o cenho em indignação e confusão. O trânsito estava parado em um cruzamento e isso me deu o tempo para chamar atenção da minha melhor amiga novamente:
- Por que está rindo?
- Porque você e Tody são o casal mais clichê que já vi na vida. – Ela ainda soltava risos baixos entre a fala. – Tenho certeza que ele estava se arrumando como se fosse desfilar em Paris e você se irritou. Isso faz de vocês um clichê romântico perfeito para Hollywood.
- Gostaria de entender porquê. – Reclamei.
- Não é óbvio? Vocês nunca brigam por coisas realmente sérias porque concordam em quase tudo nessas situações, então inconscientemente procuram formas de se alfinetarem por motivos bobos. – Ela fez uma pausa e ouvi quando falou um “só um segundo” para uma terceira pessoa. – Bom, continuando, isso é uma coisa boa.
- Brigar por motivos fúteis é bom?
- Não. Estou falando do fato de não terem brigas verdadeiramente sérias. Elas são as que mais destroem casamentos. Vocês são casados há três anos, mas estão juntos há muito mais tempo, o que torna compreensível essas discussões. Você deveria ver por quais motivos alguns casais vêm ao meu consultório.
- Não sabia que estava em uma de suas consultas de terapia de casais. – Falei, mais irônico do que com raiva. – Tody não deveria estar presente também?
- Não brinque com o meu trabalho. – Marie fez uma nova pausa e então ouvi ela resmungar um elétrico “já entendi, criatura!” para alguém. Revirei os olhos, captando o tom rouco da voz de Scott ao fundo. – Enfim, mudando de assunto: Scott está morrendo de fome e disse que vai matar vocês dois se não chegarem em 5 minutos.
- Estou preso em um congestionamento. – Como se o Universo confirmasse minhas palavras, um dos carros parados à minha direita buzinou fervorosamente. – Levarei alguns minutos para chegar em casa ainda.
- Scott estará morto até lá. Ele está prestes a assar Percy no forno à lenha daqui. – Ela riu graciosamente e tive que acompanhá-la. – Faremos assim: lerei o cardápio do restaurante e você me diz os pratos, assim, quando você e Tody chegarem, estarão prestes a servir nosso jantar.
Mais buzinadas soaram ao meu redor e capturei com o olhar o imenso caminhão de mudanças que causava todo o congestionamento ao mesmo tempo que ouvia o que Marie dizia. Ela leu todos os pratos presentes no cardápio do Restaurant La Rue, tomando cuidado de dizer os acompanhamentos previstos. O restaurante francês tinha um menu variado e vasto, passando por diversos tipos de carne, peixes, vegetarianos e veganos.
- Para mim, o salmão au parmesan com uma porção extra de arroz à grega. – Escolhi. – E para Tody peça o bife acebolado com purê de batatas. Lembre o garçom para deixar a carne bem passada porque os franceses tendem a gostar de carnes quase cruas e Tody odeia isso.
- Ok. Anotado. – Marie respondeu antes de comentar algo incompreensível com Scott. – Scott quer saber se vocês beberão algo.
- Estarei dirigindo, mas Tody provavelmente vai querer um tinto bordô para acompanhar a carne. – Respondi, bufando logo em seguida enquanto contornava o enorme caminhão para então, finalmente, ver-me parcialmente livre do congestionamento. – Marie, logo pegarei Tody e então seguiremos para o restaurante. Segure seu namorado esfomeado até lá, ok?
- Sim, senhor. – Ela riu. – Até daqui a pouco, Fê.
Quando a chamada terminou, o silêncio voltou a repousar no interior do carro e imediatamente a tristeza me invadiu. Brigar com Tody sempre me deixava miserável, especialmente quando o motivo sequer era importante o suficiente para ser relevante a ponto de gerar uma discussão, o que, infelizmente, acontecia com mais frequência. Nós estávamos juntos há tempo suficiente para sabermos exatamente os defeitos um do outro e não ser pontual era um dos do meu marido – assim como descontar o estresse profissional em alguém aleatório era um dos meus.
Naquela manhã, tive, mais uma vez, o projeto de filme animado contando a história de dois príncipes apaixonados recusado. Eu amava meu trabalho e sabia que queria continuar produzindo filmes de desenho animado para o resto da vida, entretanto era frustrante não poder usar esse meio para expressar algo realmente importante: crianças deveriam ter o direito de entende que casais homossexuais existem e que são como qualquer outro casal hétero. Uma história entre dois príncipes seria rechaçada por muitos pais, criticada por outros e até mesmo banida em alguns locais no mundo, mas ainda assim seria um primeiro passo.
A dor da recusa pela quarta vez, pela terceira produtora de filmes, desencadeou uma série de emoções que transformaram meu dia em puro estresse. O jantar com nossos amigos – inclusive com Percy, que nós não víamos havia quase um ano – parecia perfeito para me fazer esquecer dos problemas no trabalho e o atraso enorme de Tody fez a explosão acontecer.
Aproximei-me de casa e pude ver Tody na calçada diante do nosso prédio, encostado na parede com uma mão no bolso e a outra segurando um cigarro. Tinha passado a fumar às vezes, quando estava muito chateado com algo e, mesmo sendo um hábito horrível, não pude deixar de notar a beleza e graciosidade com que fazia isso enquanto eu parava o carro diante de si. Qualquer resquício de nossa briga dissipou de minha mente quando o vi abrir a porta do carro: usava um sobretudo longo e fino sobre uma camisa social com os primeiros botões charmosamente abertos, calça jeans que ressaltava suas coxas, tinha a barba aparada perfeitamente e o cabelo erguido em um topete gracioso e, a sua maneira, natural.
Tody Benson era lindo sempre, porém, a ausência de um sorriso em seu rosto fazia tudo perder um pouco o brilho. Não me dirigiu a palavra ao jogar o cigarro fora e se acomodar ao meu lado, mas baixou o rosto e percebi que não estava apenas chateado, mas também triste. Meu coração falhou algumas batidas e mordi o lábio inferior para impedir que as lágrimas enchessem meu campo de visão: todas as decepções do dia estavam transbordando de uma só vez e ver meu marido triste piorava tudo.
O silêncio era denso e impenetrável, regado pelos sons de buzina, freios, sirenes de ambulâncias, apitos do guarda de trânsito e o bater sonoro de nossos corações. Quis levar minha mão até a de Tody e entrelaçar nossos dedos juntos sobre a marcha do carro, como era habitual, mas segurei-me: precisávamos ter uma conversa e aquele não era o momento.
A verdade era que nossas conversas sobre nossas brigas acabavam sendo curtas e rápidas, com poucas palavras e muita emoção. Ficávamos miseráveis durante alguns dias até um de nós tomar coragem para se aproximar do outro e pedir perdão quando, na verdade, tudo o que ambos queremos é estarmos perto. Nossas conversas de reconciliação acabavam com choro, regado de abraços e beijos, e então uma sessão sexo e declarações de amor. Éramos imperfeitos em um mundo brutal, duas pessoas que passariam a vida inteira travando batalhas internas e externas para ficarmos juntos. Eu sabia que jamais conseguiria me manter longe dele por muito tempo e esperava que ele sentisse o mesmo em relação a mim.
- Quer que eu pesquise no GPS uma rota menos congestionada? – Sua voz estava rouca, fraca e triste, mas ouvi-la foi o suficiente para fazer meu coração disparar.
- Sim. – Sussurrei, incapaz de dizer mais.
Tody tirou o celular do bolso e o desbloqueou, indo até o aplicativo de GPS. Continuei dirigindo lentamente, acelerando e freando a todo instante devido ao gigantesco congestionamento que se formara, bloqueando nossa avenida quase por completo. Esse era um dos pontos negativos de termos nos mudado para o grande centro da cidade, onde as grandes lojas enfeitavam as ruas com gigantescos e brilhantes anúncios, os carros trafegavam 24hs por dia, as pessoas viviam às pressas e os metrôs faziam prédios antigos vibrarem a cada um minuto e meio. Era completamente diferente de onde tínhamos crescido, mas ainda não longe o suficiente para me impedir de ver minha mãe e Anne ou impedir Tody de visitar o pai quase todo final de semana. Tínhamos construído nossas vidas em meio ao caos da cidade e ela era boa.
- Tem uma ruela à direita que leva a um pequeno desvio. – Tody disse, baixinho e com os olhos focados no celular. – Isso nos permitirá voltar e contornar o engarrafamento por uma rua menor.
A ruela era estreita e mal iluminada, um pequeno vácuo entre dos prédios comerciais que era sabiamente ignorada pelos motoristas. Sabia do perigo de passar por um local como aquele, pois poderíamos ser facilmente encurralados, mas ainda assim arrisquei-me, cuidadosamente passando com o carro por ali, os retrovisores a poucos centímetros das paredes recobertas de pichações e frases de rebeldia adolescente em letras grandes e disformes.
- Estou com muita fome. – Sussurrou Tody e forcei-me a não virar para olhá-lo.
Pelo ligeiro reflexo do vidro, garantido pela escuridão do local onde passávamos, pude ver Tody lançar olhares tristes em minha direção, como se esperasse uma reação minha em sua tentativa de puxar assunto. Eu o conhecia muito bem para saber que aquela era sua forma de pedir desculpas implicitamente, testando-me para saber como eu estava reagindo à nossa discussão. Parte de mim, a criança rebelde que ainda vivia escondida de mim, queria continuar embirrada com Tody por mais tempo, entretanto essa parte perdeu e me vi respondendo meu marido em uma frase rouca e curta:
- Pedi bife acebolado para você.
- Pediu? – Ele tentou fazer contato visual comigo, mas ignorei-o, focando minha atenção em sair da ruela em direção à uma avenida movimentada. – Quando?
- Marie me ligou para perguntar porque estávamos tão atrasados.
A indireta cheia de significados fez Tody baixar a cabeça novamente e o minúsculo sorriso que aparecera anteriormente desaparecer mais uma vez. Bufei baixinho para mim mesmo, repreendendo-me por ser tão infantil em uma situação como essa, afinal, eu conhecia muito bem meu marido para saber que ele sempre iria demorar para de arrumar e que eu jamais conseguiria mudar isso sobre ele. Na verdade, sua forma de se vestir, sempre impecável, tinha se tornado uma de suas armaduras contra qualquer coisa que o mundo impusesse sobre nós em uma tentativa de nos destruir.
Ele nunca precisou me dizer, mas seu afastamento do futebol havia sido muito mais doloroso do que era possível prever. Tody sempre fora apaixonado pelo esporte e estar em campo, trabalhando com uma equipe em busca de um objetivo único, era uma de suas grandes felicidades. Alguns de nossos momentos mais emocionantes envolviam o futebol americano, momentos estes em que eu me sentira gigantesco, preenchido de amor e emoção ao ver o homem que amava ser o melhor jogador em campo e garantir a vitória para seu time. Vê-lo jogar era mágico, intenso a ponto de esquecermos de todos nossos problemas, e eu entendia o quanto estar dois anos longe da profissão que sonhara durante a vida inteira era difícil. A escolha entre nosso relacionamento e o futebol havia deixado marcas profundas em Tody, as quais ele tentava sempre cobrir com uma capa impecável.
Coloquei-me na faixa da direita ao avistar a placa do Restaurant La Rue ao longe. Entrei lentamente no estacionamento do estabelecimento, o solo de pedras fazendo o carro inteiro vibrar, e escolhi uma das poucas vagas disponíveis antes de desligar o carro.
Sem o som do motor, o silêncio entre nós se tornou ainda mais intenso. Agarrei o volante com mais força e encostei a cabeça nele, soltando um profundo suspiro e tomando coragem para finalmente virar o rosto em direção a Tody. Ele me observava intensamente com seus olhos cor de mel e suas sobrancelhas grossas em uma linha única, uma única mecha de seu cabelo caindo sobre sua testa de maneira tão charmosa que eu poderia ser enganado a pensar que ela fora colocada ali propositalmente. Fechei os olhos por alguns segundos antes de reabri-los e dizer:
- Meu projeto foi recusado pela quarta vez hoje de manhã.
Senti quando seu corpo tremeu, os olhos se arregalando ligeiramente, a boca abrindo-se para nenhum som sair dela. Assim como eu, Tody sonhava em ir cinema para assistir um filme produzido por mim tendo como casal principal dois homens. Seria uma revolução na história do longa-metragem animado.
- Sinto muito. – Ele sussurrou, sua mão deslizando lentamente no ar até encontrar meu ombro para, somente, infiltrar-se em meu cabelo. Soltei um suspiro ao sentir seus dedos acariciarem meu couro cabeludo com doçura e carinho. – Seria o filme mais lindo de todos e acho um absurdo nenhuma empresa perceber isso.
Assenti, fechando os olhos ao perceber o que aconteceria em seguida. Uma lágrima gélida escapou e deslizou pela minha bochecha lentamente antes de pingar, levando parte da minha tristeza consigo. Ela foi o estopim para que mais lágrimas a seguissem e logo me vi tremendo, meu corpo inteiro sendo sacudido por soluços intensos e miseráveis. A dor guardada estava sendo posta para fora.
- E-Eu só queria me sentir r-representado. – Falei entre um soluço e outro. Senti meu corpo pender para o lado quando Tody me puxou, obrigando-me a encostar a cabeça em seu peito. – Desenhos animados sempre foram m-minha grande paixão, a arte tomando movimento, mas hoje amo um homem e não existem histórias de “felizes para sempre” que representem meu amor por esse homem. Eu q-queria nos ver na tela do cinema, Todie.
- Eu sei. – Tody afundou o rosto no meu cabelo e seus braços me apertaram com força. Seu perfume, misturado ao ligeiro odor de cigarro, era calmante, fazendo-me fechar os olhos e me permitir chorar. – Um príncipe inspirado em você seria o mais lindo e cavaleiro de todos. Não quero que desista desse projeto, Fê, porque ele não é importante apenas para nós. Pessoas como nós precisam ser representadas.
Assenti, o choro se acalmando aos poucos. Funguei e limpei as bochechas molhadas, erguendo o rosto para ver Tody por inteiro.
- Eu não seria o príncipe do filme, você seria. – Falei.
- Deixe-me adivinhar: você seria um plebeu.
- Nunca. Eu seria o bruxo maligno do reino. – Resmunguei, um pequeno sorriso surgindo em meus lábios junto a um novo fungado. – Daqueles que só usam capas pretas.
- Isso seria familiar. – Tody riu e se curvou para frente no banco do carro, encostando sua testa na minha. Fez um pequeno carinho no meu nariz com o seu antes de dizer. – Eu não vou permitir que desista desse projeto, ok?
Mais uma vez, assenti. Levei minha mão até a sua e entrelacei meus dedos nos seus, brincando com a aliança em seu anelar e permitindo que a calma me tomasse mais uma vez. Todo o motivo da nossa discussão de mais cedo foi varrido de minha mente e desejei que não tivéssemos jantar algum para ir, assim poderíamos voltar para casa e nos aconchegar juntos no sofá da sala. Paradoxalmente, naquela noite eu estava carente, não ele.
- Eu sei como odeia atrasos. – Tody começou, apertando meus dedos. – Me desculpe por não ter ficado pronto na hora. Por algum motivo estranho, estava nervoso com esse jantar. É a primeira vez em anos que nós nos reunimos todos.
- Eu não teria surtado se soubesse que você sairia tão lindo de casa. – Sorri, flertando.
- Tenho uma pessoa em especial que quero seduzir esta noite. – Tody piscou um dos olhos e não resisti em rir.
- Bem, se ainda estivermos vivos até o final da noite. Estamos com uma hora de atraso e Scott vai querer nos engolir.
- Eu imagino. – Tody apertou mais uma vez minha mão e então se afastou, passando a mão pela gola da minha camisa antes de perguntar: – Vamos?
Saí do carro ainda com as bochechas recobertas de lágrimas secas, minha pele ligeiramente ressecada graças a isso, porém com o coração mais leve depois de colocar para fora a frustração. Não seria fácil continuar lutando para fazer aquele projeto existir, porém eu não desistiria. E, quando Tody contornou o carro e enroscou seus dedos nos meus, entrelaçando nossas mãos, tive certeza de que o pior havia passado.
••••
Ocupávamos grande parte do restaurante, nossa mesa sendo a junção de dezenas das pequenas mesas que normalmente recebiam os clientes. O terceira garrafa de vinho já havia se esvaziado e eu, mesmo sem ter bebido uma gota, não conseguia parar de rir do que os outros diziam, todos vermelhos e animados demais para manter uma conversa social racional. E, enquanto reabasteciam as taças de vinho, virei-me para Marie e fizemos um discreto brinde com nossos copos cheios de suco, isso porque ela também dirigiria naquela noite.
Olhei para meus amigos, reunidos naquela longa e barulhenta mesa. Seus sorrisos eram genuínos e únicos demais para não merecerem serem guardados em minha mente para sempre: depois de um ano e três meses fazendo uma turnê de shows na Europa, Percy estava finalmente de volta e isso era motivo de felicidade. De maneira improvável, ele havia se tornado um DJ, uma carreira completamente diferente da que pretendia como jogador de futebol, e, naquele momento, encontrava-se sentado diante de mim exibindo o cabelo pintado em um tom forte de vermelho. Ele tinha trazido sua namorada para o jantar e ela, com os curtos cabelos de pontas azuis, parecia combinar perfeitamente com ele.
- Não encare tanto. – Marie, sentada ao meu lado direito, disse ao apertar meu braço. – Ele realmente acha que está legal com esse cabelo.
- E eu sou o amigo sincero que lhe direi a verdade. – Sussurrei de volta.
- Não ouse, Felipe Benson! – Ela me lançou um olhar duro e ri.
No final das contas, todos nós éramos diferentes do que nossas mentes adolescentes haviam planejado. Will tinha aberto a própria padaria e, depois de muitos anos, reencontrado seu antigo caso, Nicholas, comprando cupcakes em seu estabelecimento, o que gerou em um clichê e romântico início de relacionamento. Scott, absurdamente, tinha partido para o ramo da administração de empresas e planejava se tornar sócio de Will em uma nova e perigosa empreitada: expandir a padaria para se tornar um restaurante. Marie Elizabeth tinha se tornado uma terapista de casais famosa na região e, eventualmente, se via obrigada a recusar clientes devido à sua agenda superlotada. E, por fim, Henry e Gus haviam se apaixonado pelo mesmo homem anos antes e, naquele momento, os dois e Elliot viviam juntos em uma animada relação de poliamor que também se transformara em trabalho quando os três resolveram ser palestrantes sobre o assunto.
- E teve aquela vez que Nico quase colocou fogo no nosso apartamento! – Will falou, alto e animado demais, puxando-me novamente para o assunto que discutiam.
- A culpa não é minha se namorar um padeiro me faça ser preguiçoso em relação a aprender a cozinhar! – Nicholas rebateu, cruzando os braços, mas impossibilitado de conter o sorriso.
- Namorar um padeiro não tem nada a ver com isso. – Scott falou, sentado na ponta da mesa, ao lado de Marie. – Vejam eu e Marie, por exemplo: ela fielmente acredita que sou seu escravo e que devo cozinhar todos os dias.
- Para outras coisas, você adora ser meu escravo. – Ela respondeu, piscando um dos olhos para o Scott enquanto ele ficava vermelho e o restante de nós gargalhava fortemente.
- Chega de piadas heterossexuais nessa mesa! – Henry berrou da outra ponta e nós gargalhamos ainda mais.
Minha barriga doía quando senti a testa de Tody pousar sobre meu ombro e virei-me para vê-lo sentado do meu lado esquerdo, curvado para o lado de tanto rir e com o rosto tão vermelho quanto um tomate maduro. Fiz um carinho em suas costas ao mesmo tempo que ria de sua situação: o cabelo estava caótico e a roupa pendia demais para o lado, os botões abertos permitindo que todos vissem grande parte de seu peitoral. Ele ergueu os belos olhos cor de mel para mim, brilhantes devido às lágrimas provenientes do riso, e não resisti em pousar um beijo sobre sua testa.
- Essa é a mesa mais gay que esse restaurante já teve, pelos céus. – Marie falou ao meu lado. – Tenho direito a resistir essa opressão homossexual fazendo meu lindo namorado passar vergonha!
Rimos ainda mais quando Scott bufou e ficou ainda mais vermelho, fazendo Marie pousar um beijo em sua bochecha em um pedido silencioso de desculpas. Estar entre amigos, todos nós, daquela forma, era como voltar ao passado: não éramos nada além que adolescentes cheios de sonhos, brincadeiras e risos, unidos por um sentimento de amor gigantesco que nos tornavam um só. Cada um de nós tinha seus problemas, suas dores e medos, porém, naquele instante, tudo isso era esquecido. Era bom, puro, quase mágico.
Os garçons chegaram trazendo nossas sobremesas e uma deliciosa mousse de morango com pedaços inteiros da fruta foi pousada diante de mim. Imediatamente afastei a taça para que permanecesse no centro do espaço entre eu e Felipe e enterrei uma colher na mousse antes de levá-la até a boca de Tody, que havia se acalmado de seu riso mas ainda mantinha o rosto sobre meu ombro. Ele absorveu o doce da colher e sorriu para mim, os olhos embriagados olhando-me de lado com carinho.
- Tem gosto do nosso primeiro beijo. – Sussurrou.
Em resposta, baixei o rosto e pousei meus lábios sobre os seus em um beijo simples e casto. Tody tinha o delicioso gosto de morango que, realmente, reacendia antigas memórias do nosso primeiro beijo, tantos anos antes. Muito havia mudado, inclusive nossos sentimentos, mas aquele momento sempre seria cuidadosamente guardado em meu coração.
Nosso beijo foi atrapalhado quando Marie Elizabeth se levantou, usando meu ombro de apoio para chamar nossa atenção. Naquela noite, minha melhor amiga usava um vestido azul marinho cintilante e usava o longo cabelo castanho em uma trança pendendo sobre seu ombro. Ela bateu seguidas vezes o garfo no meu copo de vinho, fazendo o tintilar atrair a atenção de todos para ela e a mesa repousar em silêncio.
- Bem, todos sabem que organizei esse jantar para que todos nós pudéssemos nos reencontrar e nos divertir, mas admito que esse não o único motivo. – Ela fez uma pequena pausa, sorrindo para nós ao mesmo tempo que suas bochechas coravam. – Na verdade, tenho um anúncio muito importante para fazer esta noite.
- Você e Scott finalmente vão se casar! – Precipitou-se Gus, quase saltando de sua cadeira.
- Isso não. Ela nunca aceita meus pedidos. – Scott respondeu, fazendo um bico triste com os lábios. – Para ser sincero, não faço ideia do que se trata esse anúncio.
- Sabe muito bem que acho o casamento desnecessário quando duas pessoas se amam para sempre. O fim dos contos de fada sempre são casamentos e não quero que o nosso termine. – Marie falou baixinho, diretamente para Scott, e então olhou para todos nós mais uma vez antes de continuar: – A vida nos traz surpresas inesperadas e, infelizmente, nem todas elas são boas. Semana passada, no entanto, recebi uma surpresa maravilhosa que está na hora de compartilhar com as pessoas que, mais que meus amigos, são também minha família. – Marie Elizabeth parou, os olhos brilhando de uma emoção que eu apenas poderia descrever como puro encantamento, e então virou-se para Scott antes de dizer: – Eu estou grávida.
Chocado, deixei cair a colher cheia de mousse sobre a mesa, sujando a toalha de mesa azul. De imediato, fiquei pé e abracei minha melhor amiga, sentindo diversos braços nos rodeando em um grande e bagunçado e barulhento abraço em grupo. A mesa bambeou, ameaçando cair, e isso nos obrigou a abrir um pouco de espaço para a futura mãe.
- Cara, isso é maravilhoso! – Henry exclamou.
- Parabéns, flor. – Ouvi Tody dizer atrás de mim.
- Será o bebê mais lindo que esse mundo já viu. – A namorada de Percy disse.
Os grandes olhos castanhos de Marie Elizabeth brilhavam com lágrimas acumuladas quando ela se virou para o namorado. Somente então percebi que Scott fora o único a não reagir à notícia, mantendo-se sentado como estava antes, os olhos arregalados e fixados em um ponto aleatório da mesa, a cabeça baixa escondendo parte de sua expressão. Imediatamente o silencio reinou e ficamos ali, todos de pé ao redor dos dois, aguardando infinitamente pelo o que aconteceria antes.
- Scott? – Marie sussurrou, a voz quebrando-se de medo e apreensão, o terror de ter seu namorado odiando a notícia.
Ao ouvir seu nome, ele ergueu devagar a cabeça, seu rosto perigosamente pálido e varrido por completo de qualquer expressão. Seus lábios quase não se moveram quando falou:
- Isso é verdade?
Marie agarrou a mão de Tody e apertou os dedos do meu marido fortemente ao mesmo tempo que assentia. Seu queixo tremia visivelmente, seus grandes olhos ganhando a tonalidade avermelhada devido às lágrimas acumuladas ali.
E então, Scott se pôs a chorar também. Confuso, troquei olhares com Tody, que apenas me respondeu com um duvidoso erguer de ombros: durante os anos, já tínhamos visto Scott quebrar algumas vezes, mas jamais em público, diante de tantas pessoas. Seu corpo inteiro tremia, a respiração mais acelerada que o normal, e as bochechas brilhando pelas lágrimas quando deslizou da cadeira em que estava, pousando os joelhos no chão e abraçando o quadril de Marie Elizabeth em seguida. Afundou o rosto sobre a barriga dela e chorou ainda mais, agarrando-se à namorada como se dependesse disso para sobreviver.
- EU VOU SER PAI! – Gritou, a voz abafada pelo vestido de Marie. Ele ergueu o rosto e meu coração transbordou de alívio ao ver o mais puro e gigantesco sorriso que eu já havia visto nos lábios de Scott. – EU VOU SER PAI! ESTAMOS GRÁVIDOS!
Ele gargalhou e não pudemos deixar de acompanhá-lo. O restaurante inteiro, naquele momento, nos observava, impressionados com a gritaria e a felicidade daqueles instantes. Tudo se ampliou com a verdade: havia uma nova vida crescendo no ventre de nossa melhor amiga e em alguns meses um lindo bebê experimentaria pela primeira vez o oxigênio passando por seus pequenos pulmões.
- Precisamos esvaziar o quarto de hóspede e pintar as paredes de azul e desenhar pequenas nuvens no teto! Nosso bebê acreditará que estará no céu! Ah, também precisamos organizar um Chá de Bebê, comprar o primeiro berço, preparar os convites para a recepção. Quero nossa casa cheia para eu poder exibir nosso filhote por aí! – Scott falava muito alto, ainda de joelhos e com lágrimas nos olhos. Marie, por sua vez, apenas conseguia rir e massagear o cabelo de seu namorado com a ponta dos dedos. – O pior vai ser escolher os nomes! São tantos! Podia ser Peter para um menino, como o nome de seu avô, e Eliza para menina, sabe, combinando com seu nome! Eu também adoro Charlotte e Frederick, mas acho que nosso bebê se sentiria velho antes mesmo de nascer com esses nomes.
Quando ele parou para respirar, Marie rapidamente segurou o rosto de Scott entre suas mãos e se abaixou, deixando um beijo em sua testa.
- Eu só tenho dois meses de gravidez, babe. Teremos tempo para pensar todos os detalhes.
- Não consigo parar. – Scott se pôs de pé repentinamente e afastei-me de seu caminho, trocando olhares com Tody devido ao estado caótico em que nosso amigo se encontrava. – Eu nem sabia que era possível se sentir tão feliz.
Sem que esperássemos, Scott abaixou-se e circulou as coxas de Marie Elizabeth, erguendo-a nos braços como se não pesasse mais que uma criança e segurando-a com cuidado no alto. Ela, por sua vez, gritou e balançou as pernas no ar, surpresa pelo gesto imprevisível.
- Scott White, me coloque no chão! – Ela gargalhou, as bochechas pintadas de vermelho devido à vergonha.
Naquele momento, o jantar de todos no restaurante já havia sido afetado de alguma forma: alguns sorriam para nós, outros assobiavam e batiam palmas, outros, ainda, cochichavam. Gus, Elliot e Percy tinham seus celulares erguidos, filmando e fotografando, guardando aqueles instantes de felicidade para sempre capturados em imagens. Alguns dos cozinheiros haviam saído da cozinha e cochichavam com os garçons, buscando atualizações para o barulho intenso que fizemos.
Marie permanecia nos braços de Scott, erguida no alto como uma rainha. Mesmo envergonhada e com a maquiagem ligeiramente borrada, ela sorria de maneira pura e infinita, agarrando-se nos ombros do namorado para não escorregar. Uma nova fase começaria para eles e eu esperava veementemente poder sempre continuar sendo uma parte dela. Uma salva de palmas varreu o restaurante quando finalmente Scott baixou a namorada para o chão novamente e a beijou apaixonadamente.
E, quando sentamos todos novamente para saborearmos o restante de nossas sobremesas, busquei a mão de Tody sob a mesa e entrelacei nossos dedos. Ele me encarou com olhos brilhantes e seu estúpido sorriso doce e juvenil e sorri de volta.
Era bom ser feliz.
••••
Já se passava da meia-noite quando parei diante do espelho do banheiro, a toalha ao redor dos meus ombros absorvendo a água que escorria do cabelo. Capturei a cueca boxe preta e vesti-a, pousando as mãos sobre a pia logo em seguida e encarando meu reflexo. O dia havia sido longo e o resultado disto eram as olheiras escuras sob meus olhos, corpo cansado e ombros caídos. Até minhas tatuagens pareciam destacadas demais, como se a exaustão tivesse drenado minha cor e deixado minha pele pálida.
Minha mente, entretanto, não parecia querer se acalmar tão cedo. A felicidade de Scott em saber que seria pai havia despertado novamente um sonho antigo e quase esquecido, um desejo que se tornara secundário após o início do meu relacionamento com Tody, mas que retornara profundamente em mim naquela noite. Desde quando segurei pela primeira vez minha irmã nos braços, minúscula e frágil, esperei o dia em que teria meus próprios filhos e poderia segurá-los da mesma forma, amá-los mais que qualquer coisa no mundo.
Eu era feliz com meu marido, sempre fora, independentemente das pedras que a vida nos impunha. Amar Tody era algo quase divino, um sentimento profundo de ter encontrado a parte que faltava em mim, de, de alguma forma, ser mais do que o ser humano que eu era anteriormente. Esse amor, entretanto, trazia questionamentos e restrições que, nem sempre eram discutidas por nós, certos sonhos sendo deixados de lado em virtude do surgimento de outros.
Baguncei o cabelo molhado e o reflexo no espelho me copiou. Com um suspiro sonoro, prometi a mim mesmo que não entraria em pensamentos como aquele novamente. Resignado, escovei os dentes de maneira desleixada e lavei a boca, permitindo-me um pequeno sorriso de pena para o meu próprio reflexo antes de sair do banheiro.
Assim que pisei no quarto, surpreendi-me com a imagem de Tody acordado. Ele estava enrolado em nosso edredom, sentado na borda da cama, os pés pendendo próximos ao chão, o olhar fixado em um ponto qualquer e os ombros curvados para frente, as mãos presas em suas coxas. Imediatamente meu corpo foi invadido pela preocupação e aproximei-me silenciosamente, parando diante dele e agachando-me para ficar a altura de seu olhar.
- Dy? Por que não dormiu ainda?
- Não consegui. – Ergueu os olhos e percebi incerteza ali. – Uma coisa não sai da minha cabeça.
Ele se moveu, abrindo os braços e as pernas, um sinal claro de que pedia carinho. Ergui-me e coloquei-me entre suas coxas, permitindo que Tody abraçasse minha cintura e encostasse a bochecha sobre meu peito. Levei a mão até seu cabelo e passei a massageá-lo, acalmando meu coração com o lento deslizar dos fios macios entre meus dedos.
- No que estava pensando? – Sussurrei.
- Não sei se devo dizer, Fê. – Respondeu.
- Achei que disséssemos tudo um para o outro.
- E eu faço isso. – Virou o rosto, observando-me de baixo. – Só tenho medo que o assunto cause outra discussão nossa.
- Marie Elizabeth diz que nossas discussões são clichês românticos. – Falei, deslizando as mãos até suas bochechas e acariciando a pele de seu rosto. – Segundo ela, isso é algo bom.
Ele riu fraco e contido, logo baixando o rosto mais uma vez. Segurou minha mão e levou-a até seus lábios, deixando um beijo sobre a palma antes de finalmente reerguer o olhar cor de mel para mim. O silêncio se prolongou ainda por longos e angustiantes segundos antes que ele tomasse coragem para dizer o que o perturbava:
- A verdade é que quero ser pai, Fê. – Sorriu. – Acho que sempre quis, mas ver Marie e Scott hoje só fizeram esse desejo se tornar mais forte.
As palavras sumiram de repente e me vi sem ter o que dizer. Em choque, feliz, incerto e surpreso, olhei para meu marido entre o silêncio, analisando o rosto que eu tão bem conhecia e amava. Da mesma forma em que via incerteza em seu olhar sobre abordar aquele assunto comigo, vi certeza no desejo que sentia sobre ter um filho ou filha. Meu coração disparou, batendo tão forte que poderia facilmente saltar para fora de meu corpo, e me vi jogando a cabeça para trás em uma gargalhada alta de alívio, emoção, amor e felicidade.
- Ah, não seja chato. – Resmungou Tody, afastando-se de mim. – Eu queria ser pai bem antes de conhecer você, só planejava que fosse no tempo certo.
- Não estou rindo disso. – Respondi, ainda sem conseguir controlar o riso que escapava dos meus lábios. Empurrei Tody para trás até que estivesse totalmente deitado na cama e subi sobre ele, apoiando todo o meu peso nos braços e observando-o de cima. – Ri da grande ironia de você estar me dizendo isso quando, poucos minutos atrás, eu estava pensando o mesmo.
- O que isso quer dizer? – Ele ergueu uma sobrancelha, lindamente esparramado sobre a cama.
- Quer dizer que eu amaria ser pai também. Amaria ser pai com você, criar um menininho ou menininha, compartilhar todos os momentos, aprender a sermos mais do que apenas homens, mas sim sermos responsáveis por outra vida. – O sorriso rasgava meu rosto de tão amplo, meu coração transbordando de sonhos. – Quero que nossa família se torne maior, Dy.
Tody demorou para traduzir o que eu acabara de dizer, mas, por fim, acabou rindo também e rodeando os braços sobre meus ombros, forçando-me a largar meu peso sobre ele. Ficamos cara a cara, nossas respirações misturadas, nossos corações adaptando-se às batidas um do outro a ponto de entrarem em sincronia, nosso futuro tomando forma os poucos. Ele ergueu o pescoço e capturou meus lábios com os dentes, mordendo-os e puxando-os suavemente, para logo em seguida aprofundar nosso beijo. Nossas bocas se fundiram e degustei-o lentamente, nossas línguas deslizando uma sobre a outra com perfeição. Deixei meus dentes rasparem seu lábio inferior e suguei a carne sem muita força, fazendo Tody soltar um suspiro forte e escorregar a mão para a minha bunda. Senti seus dedos entrarem sob a cueca e apertarem a pele sem piedade, o que causou um gemido inconstante saindo pela minha boca.
Afastei-me de seu beijo e baixei os lábios até seu pescoço, traçando sua pele com a língua e sentindo quando ele se arrepiava para mim. Abriu as pernas para que eu me acomodasse entre elas e então as rodeou em minha cintura, prendendo-me em um abraço de pernas e braços. Suas unhas curtas arranharam minhas costelas e o choque elétrico percorreu minha coluna, fazendo-me contorcer e gemer sonoramente contra seu pescoço.
- Não faça isso. – Reclamei. – Temos que dormir.
- Não me importo com isso.
- Tody. – Adverti quando suas mãos apertaram minhas nádegas novamente. Minha mente se tornou turva, entretanto obriguei-me a fazer algumas palavras saírem: – Photoshoot. Amanhã. Olheiras.
Ele bufou, porém afastou as mãos e pernas de mim, dramaticamente permitindo minha liberdade parcial. Meu coração batia aceleradamente e eu tinha um volume escandaloso sob a cueca, mas dei voz ao pequeno anjinho que morava em mim, o qual gritava que nós teríamos uma manhã trabalhosa no dia seguinte e que precisaríamos de qualquer minuto de sono. Fechei os olhos e repassei minha agenda de reuniões na cabeça, uma tentativa de esquecer o desejo e ser racional, mesmo que meu corpo estivesse muito mais quente que minutos antes.
- Eu vou cobrar amanhã. – Tody sussurrou.
Reabri os olhos e a imagem dele sob mim, o cabelo loiro escuro jogado sobre a cama, o peitoral descoberto exibindo a cicatriz – que apenas o tornava ainda mais sexy – e os olhos carregados de desejo, quase me fizeram desistir da razão. Como se visse minha indecisão, Tody deslizou sobre a cama, sua cueca visivelmente volumosa na parte da frente passando perto demais de mim, e virou-se na posição de dormir.
- Eu realmente vou cobrar amanhã. – Enfatizou.
- Não espero menos. – Deitei ao seu lado e deixei uma trilha de beijos de seu ombro até seus lábios. – Você pode me abraçar hoje?
Ele riu baixinho, mas se virou, deitando-se de barriga para cima e passando um dos braços ao redor da minha cintura. Confortavelmente me instalei sobre seu peitoral, pousei minha bochecha sobre seu coração e passei a ouvir o bater constante e bonito que ele fazia. Tody encostou o queixo sobre meu cabelo e então soltou um pequeno suspiro:
- Você tem certeza sobre isso?
- Está falando do sexo ou de nós sermos pais? – Ergui uma sobrancelha, mesmo que ele não pudesse ver.
- A segunda parte. Já me conformei com a primeira parte porque pretendo ser recompensado amanhã.
Ri, sem sequer me dar ao trabalho de imaginar como Tody gostaria de ser “recompensado” no dia seguinte, e ergui o rosto para vê-lo melhor. Tinha o rosto relaxado, tranquilo, mas seus olhos demonstravam dúvida.
- Eu tenho certeza, Dy. – Sussurrei em resposta.
- Ótimo. – Abriu seu gigantesco e infantil sorriso, focando os olhos em mim. – Suas orelhas estão vermelhas. Devo tomar isso como um sinal de que a parte do sexo não foi completamente deixada de lado ainda?
- Não!
- Você é muito chato, Fê. Alguém já te disse isso? – Tody fez seu bico dramático com os lábios e apertei seu nariz com os dedos.
- Você ama do mesmo jeito. – Dei de ombros e me acomodei sobre seu peito para dormir.
O corpo de Tody tremeu quando ele riu e senti seu queixo se apoiar novamente sobre minha cabeça, como ele gostava de dormir quando estávamos naquela posição. Ele sequer se deu ao trabalho de negar.
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Não sei se ficou muito claro, mas no capítulo eles estão casados há três anos, ou seja, ele acontece dois anos depois do capítulo anterior.
Não gostei muito dele porque me pareceu muito técnico, mas acho que senti isso porque eles estão mais velhos e tentei passar isso enquanto escrevia.
(A cada capítulo que se passa, acho Tody mais parecido psicologicamente com Lito, da série Sense8!)
Bom, espero que tenham gostado. O próximo capítulo terá um salto temporal ainda mais longo, então se preparem. Teremos mais de Marie e Scott também!
O que acham: Tody e Felipe serão pais de uma menina ou de um menino?
Até o próximo, meus amores. Muito obrigada pelo eterno carinho comigo e com essa história.
Kyv❤
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