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Bônus - Capítulo 22 (Inédito)

Le bonheur est une bulle de savon qui change de couleur comme l’iris et qui éclate quand on la touche. – BALZAC

Tinta, pizza e reencontro com o passado


O pincel fazia cócegas, o toque leve e úmido sobre minhas costelas. Tentei veementemente ficar parado, mas a risada escapou dos meus lábios antes que eu pudesse controlar.

- Tody, assim eu não vou terminar nunca. – Felipe resmungou, afastando o pincel para não borrar o desenho que fazia sobre minha pele.

- Me desculpe, me desculpe. – Ergui os braços, tendo cuidado para não esbarrá-los em lugar algum, já que os desenhos sobre eles ainda secavam. – Vou me comportar, juro. Sabe que quero ir para casa o mais rápido possível.

- Não parece. – Revirou os olhos para mim.

Felipe mergulhou o pincel fino na tinta roxa e novamente começou a pintar minhas costelas. Mordi o lábio para não rir e me concentrei ao meu redor: o chão protegido por um plástico branco, os dois holofotes sobre nós, a cortina transparente que nos dividia do restante da sala, dando-nos o mínimo de privacidade, já que eu me encontrava somente de cueca. Vez ou outra, uma pessoa da produção entrava no nosso espaço para espiar o avanço de Felipe e perguntar se precisávamos de algo.

Estávamos em um estúdio fotográfico e, em pouco tempo, eu e Felipe iríamos fazer o photoshoot para uma das mais importantes revistas de moda masculina do país. Eles queriam fazer uma matéria especial sobre casais homossexuais com influência e haviam nos convidado para ser a capa, uma proposta maravilhosa que, ainda assim, demorei muito para convencer Fê a participar. Mesmo sem tantos receios como no passado, ele ainda não se sentia completamente a vontade com fotos – algo muito ruim para quem estava casado com um modelo.

A ideia para a capa conosco tinha sido fantástica e, além de promover minha recente carreira de modelo, também colocaria a arte de Felipe para ser vista por todos aqueles que comprassem a revista: tiraríamos as fotos sem camisa e descalços, possibilitando que todas as tatuagens do peito, braços e costas de Fê ficassem expostas. O trunfo das fotos era, então, me mostrar ao seu lado, com as mesmos desenhos de suas tatuagens pintados sobre a minha pele em todas as cores possíveis, tornando-me um verdadeiro arco-íris com pernas. Obviamente, o único que poderia fazer esse tipo de trabalho com perfeição era meu próprio marido e isso explicava porque estávamos ali nas duas últimas horas, Felipe copiando suas tatuagens sobre minha pele cuidadosamente.

- Todie, eu estou vendo você fazer bico. – Ele resmungou, sem erguer os olhos de seu trabalho.

- É claro. – Bufei e recebi um olhar de reprovação. Qualquer respiração desregulada da minha parte poderia borrar a pintura em andamento sobre minhas costelas. – Eu queria que estivéssemos em casa hoje, só nós dois. De todos os dias do ano, eles tinham que marcar esse photoshoot justo para hoje?

Felipe soltou o pincel sobre a mesa de ferramenta, coberta por potes de tinta e outros utensílios que tínhamos trazido de casa, e andou até estar na minha frente. Segurou meu rosto entre suas mãos e pousou um beijo calmo sobre minha boca antes de se afastar e dizer:

- Eu também adoraria passar o dia só com você, mas teremos nosso tempo depois que tudo isso acabar. Por enquanto, estou feliz apenas de trabalharmos juntos no dia do nosso primeiro aniversário de casamento.

- Eu quero te abraçar. – Pedi, manhoso.

- Não ouse! – Deu um passo para trás, as magníficas bolotas azuis arregalando-se. Eu sempre seria apaixonado por seus olhos e isso me deixava ainda mais carente. – Um abraço agora é algo que não posso dar.

Assenti, resignado. Ele sorriu, o repuxar de lábios mais lindo de todos, e fez um carinho na minha barba, como se eu fosse um cachorro. Voltou ao trabalho, terminando a sereia sobre as costelas da direita, a âncora sobre as costelas da esquerda, a gaiola aberta que repousava na omoplata, a flecha longa que tracejava a coluna de cima a baixo, a rosa sobre o ombro e a xícara de chá sobre o osso do quadril. Felipe possuía ao menos uma centena de tatuagens espalhadas por seu corpo – algumas das quais eu era o único a conhecer a localização – então seria impossível reproduzir todas. As maiores e mais significativa, somente, seriam desenhadas em mim.

Quarenta minutos se passaram antes que as pinturas terminassem. Com cuidado para não borrar nada, Felipe me ajudou a vestir a calça jeans rasgada que eu usaria no photoshoot antes de finalmente irmos ao encontro da produção. Uma dezena de pessoas nos esperavam do lado de fora e imediatamente uma mulher puxou Fê para uma cadeira, onde começou a cobrir seu rosto com pó, passar um pouco de gel em seu cabelo preto e bagunçado e óleo sobre seu peitoral para destacar a cor preta das tatuagens. Era um ritual pelo qual também fui submetido: um adolescente – não deveria ter mais de 16 anos – se aproximou de mim e corrigiu meu rosto com um pouco de maquiagem. Depois, permitiu que eu me sentasse e ligou um secador de cabelo, passando-o sobre os desenhos de tinta para se certificar que estavam secos.

- Sinto muito que teve que escolher entre seu marido e sua carreira de jogador. – O garoto falou em um sussurro baixo e constrangido. – Apenas queria dizer que é uma honra conhecer o senhor e Felipe. Vocês são motivo de inspiração para muitas pessoas.

- Obrigado. – Respondi e fui presenteado com um sorriso de aparelhos por parte do jovem.

Quando ele se afastou e me deixou sozinho, esperando que terminassem com Fê, minha mente inconscientemente reviveu os acontecimentos de um ano antes, anteriores ao nosso casamento. Em uma manhã, fui levado à direção do clube de futebol na qual jogava para renovar meu contrato. Entretanto, a situação se tornara a pior possível: o time estava perdendo muito apoio e torcedores por ter um jogador bissexual e a direção só me permitiria assinar o contrato novamente se eu terminasse tudo com Felipe publicamente. Chocado, humilhado e profundamente triste, eu tinha deixado a sala no minuto seguinte para nunca mais voltar. Três meses depois, consolidei-me na carreira de modelo que, até então, era somente acessória.

- Sr. Benson, podemos começar. – O fotógrafo chamou minha atenção.

Encontrei-me com Felipe diante da parede branca onde as fotos seriam tiradas e imediatamente sorri. Graças a leve maquiagem, os gigantes poços azuis que eram seus olhos pareciam ainda mais claros, vivos e intensos, um verdadeiro e puro Mar do Caribe atingido por raios de sol. O cabelo, propositalmente bagunçado para o lado, e a calça jeans preta sobre os quadris o deixavam parecido com uma estátua grega, especialmente ao ser atingido pelas luzes.

Ele parecia nervoso, mordendo os lábios volumosos com frequência. Segurei sua mão para acalmá-lo, franzindo o cenho ao vê-las sujas de tinta seca, algo que a produção deveria ter tirado. Como se lesse minha mente, Fê explicou:

- Acharam que ficaria interessante se eu ainda parecesse ter acabado de pintar você. – Apertou meus dedos, as mão claramente trêmulas. O fotógrafo avisou em alto e bom som que deveríamos fazer nossa primeira pose e Fê sorriu nervosamente antes de resmungar, piscando um dos olhos: – Eu não devia ter escolhido um marido modelo, mas acho que é tarde demais para voltar atrás.

Puxei-o em minha direção e, surpreso pelo gesto, ele caiu sobre mim no mesmo instante que a primeira foto foi tirada. Segurei seu rosto com as mãos e pousei um beijo sobre seu nariz, sorrindo ao sussurrar:

- Realmente, tarde demais, Felipe Benson Clavien.

••••

Estávamos sentados cara a cara, nossas pernas envolvendo o corpo um do outro, minhas mãos arranhando levemente suas costas e ele com os dedos infiltrados em meu cabelo molhado. Os beijos subiam pelo meu ombro, passando pelo pescoço e chegando perto ao meu ouvido, causando-me gostosos arrepios que corriam por todo o meu corpo. Involuntariamente, gemi.

Felipe riu, adorando a forma como eu reagia fácil quando ele me tocava. Afastou-se ligeiramente, a água movendo-se em um som familiar e calmo junto com ele. Tínhamos espaço suficiente no interior da banheira redonda feita para caber quatro pessoas, entretanto, eu não conseguia me afastar do corpo de Felipe. Ele, em resposta ao meu gemido, recomeçou o traçar de beijos pelo meu pescoço, desta vez do outro lado, e deslizou lentamente as mãos sobre minhas costelas, arrepiando-me. Elas, entretanto, não pararam: continuaram o caminho para baixo, passeando calmamente sobre a parte interna das minhas coxas, chegando extremamente perto da virilha, mas recuando em seguida para a coxa mais uma vez.

- Isso é tortura. – Resmunguei.

- Você já fez pior, Dy.

Fechei os olhos, meu corpo sobrecarregado pelo desejo, e quase inconscientemente me aproximei ainda mais de Felipe, na esperança por mais contato com seu corpo. Desci minhas mãos sobre suas costas até chegar à sua bunda e apertei a pele, adorando a forma como o volume arredondado cabia perfeitamente no aperto dos meus dedos. Das muitas coisas que eu amava no corpo de Felipe, aquela era uma das minhas preferidas.

- Você joga baixo. – Fê sussurrou.

- Te tirar do sério é uma das minhas poucas habilidades.

- Eu diria sua melhor habilidade. – Ele respondeu ao mesmo que sua mão parou de me provocar e segurou meu pênis com firmeza.

Ofeguei quando Felipe começou o lento e delicioso movimento de sobe e desce, seus dedos pressionando meu pênis na medida correta e justo como sabia que eu mais gostava. A água ajudava o movimento, possibilitando que ele variasse a velocidade quando quisesse, aumentando-a aos poucos antes de diminuir bruscamente, deixando-me ainda mais excitado e desesperado. Era como ter uma bomba dentro de si, prestes a explodir.

- Isso que é jogo baixo. – Reclamei.

Felipe riu baixinho e, como se concordasse silenciosamente comigo, levou os lábios até meu mamilo, lambendo a pele lentamente antes de sugá-la de maneira fraca. A eletricidade correu por todo o corpo, fazendo minhas costas arquearem, um gemido alto e obsceno sair pelos meus lábios e meus quadris balançarem para a frente, minha bunda deslizando sobre o pênis de Felipe. Senti-o, duro e quente, entre minhas nádegas.

Mais uma vez ofeguei. Ele retomou o movimento acelerado sobre o meu membro ao mesmo tempo que largava o mamilo e se afastava ligeiramente. Seus olhos azuis estavam mais escuros e brilhavam de desejo, deslizando descaradamente sobre o meu corpo enquanto eu perdia aos poucos o sentido do mundo. Seu olhar era faminto, como um animal visando sua presa, e esse foi o meu limite: com mais alguns movimentos fortes, apertados e úmidos de sua mão, gozei extremamente forte, meus testículos sendo pressionados pelo seu pênis sob mim enquanto eu rebolava lentamente para prolongar o prazer.

Tudo entrava em colapso sob o toque de Felipe. Pontos coloridos cobriram minha visão, minha respiração ficava descompensada, meu coração batia tão rápido que poderia sair correndo por si só, minha pele se arrepiava e meus músculos pareciam derreter, deixando-me mole e sem forças. Joguei para trás, ri, descarregando parte da energia vibrante deixada pelo recente orgasmo, e então olhei para meu marido com carinho.

- V-Você ganhou. Pode e-escolher o sabor das pizzas do nosso jantar. – Falei.

Sua resposta foi somente um riso fraco que não alcançou os olhos. Não, os olhos continuavam ferozes, brilhantes de desejo, e sua expressão se tornava ainda mais animalesca devido às sobrancelhas grossas, ao corpo delgado apoiado sobre os cotovelos, ao peitoral tatuado e definido. Ele era uma visão do meu paraíso pessoal e eu adorava.

Aproximei-me novamente, levando uma das mãos para o tornozelo de Felipe e puxando sua perna esquerda para fora da água. Começando do pé, tracei uma linha de beijos pelo interior de sua coxa, demorando-me mais em alguns pontos, provando o sabor de sua pele com a língua, provocando-o tortuosamente, com havia feito comido. Quando fui impedido de continuar pelo nível da água, levei a mão ao dreno e puxei a corrente do buxão que impedia o líquido de partir. Segundos depois, o nível da água já tinha baixado consideravelmente.

- Posso saber o que pretende fazer? – Ele estava relaxado, suas costas apoiadas nas paredes da banheira e o olhar faminto.

- Retribuir um favor. – Respondi, piscando o olho.

Continuei com a sequência de beijos sobre o interior de sua coxa, os chupões fazendo-o soltar gemidos baixos enquanto me observava. Levei uma mão até seus testículos, massageando-os, enquanto a outra deslizava sobre suas costelas, arrepiando-o. Baixei o rosto até seu mamilo direito e lambi-o lentamente, imprimindo a mesma paciência e lentidão que ele havia usado em mim, tocando-o intimamente apenas o suficiente para deixá-lo ainda mais consciente do que eu poderia fazer com seu corpo se quisesse. Larguei seu mamilo para descer os beijos e lambidas pela barriga, deixando leves mordidas vez ou outra, e continuei para baixo.

Seu pênis estava majestosamente duro, a glande rosada brilhando devido ao pré-gozo e às gotículas de água ainda presentes ali. As veias se destacavam em toda a extensão e não resisti em enrolar meus dedos ali e começar o movimento lento de sobe e desce, apertando-o na medida que gostava. Felipe soltou um gemido alto e esse foi meu segundo ponto de ruptura: o obriguei a pousar um dos pés sobre a borda da banheira, abrindo suas pernas ao máximo naquela posição, e me curvei para frente.

Inicialmente, provei somente a glande, sugando-a de maneira fraca com os lábios e adorando o ligeiro tremor que correu pelos músculos das pernas de Felipe. Com apenas a ponta de seu membro na boca, continuei a tocá-lo com as mãos, provocando-o mais um pouco ao ver que estava prestes ao seu limite de paciência e desejo: de repente, Fê ergueu o quadril, forçando seu pênis a entrar até a metade na minha boca.

Degustei-o, subindo e descendo a boca e traçando a extensão com a língua ao mesmo tempo que continuava com os movimentos fortes e constantes com a mão sobre o restante do pênis. As veias grossas pulsavam sob meu toque e eu podia sentir o calor molhado por todo o membro, o gosto ligeiramente salgado sobre minha língua advindo da enorme quantidade de pré-gozo que saia dele, os gemidos que saiam por seus lábios aumentando consideravelmente ao mesmo tempo que ele levava a mão até meu cabelo e passava a ditar o ritmo no qual eu o chupava.

Felipe veio com um gemido quase animalesco alguns movimentos depois, derramando-se na minha boca como consequência disso. Deslizei meus lábios por todo seu pênis, capturando qualquer resquício do seu prazer com a língua e sugando a glande para prolongar ao máximo o estado eufórico em que se encontrava. Ele agarrava meu cabelo com tanta força que meu couro cabeludo ardia e  as pupilas de seus profundos olhos azuis estavam dilatadas quando sorriu para mim.

- Vem cá. – Ordenou, ofegante.

- Mandão. – Resmunguei, mas fiz o que pediu, deslizando meu corpo sobre o seu até estar deitado sobre ele, nossos corpos largados no piso da larga e vazia banheira.

Felipe respirava fortemente e gotículas de suor brilhavam sobre sua testa quando rodeou os braços sobre minha cintura, levando sua boca até a minha e iniciando um beijo lento e delicioso. Nossas línguas se tocavam calmamente, nossos dentes derrapando sobre o lábio do outro e deixando mordidas. Os beijos de Felipe eram como declarações de amor silenciosas e me deixavam flutuando na inconstância, perdido demais para acreditar se tratar da realidade, achando ser somente um sonho.

- Você ainda está com tinta nos ombros. – Falou, de repente, a boca ainda colada na minha. – Só percebi quando se abaixou.

- Estou surpreso que ainda tenha prestado atenção nisso.

- Você se acha demais, Benson. – Carregava o tom brincalhão e fez carinho na minha barba, como estava habituado.

- Apenas sei no que sou bom.

Fê riu e meu corpo tremeu junto. Cansado e feliz, pousei meu rosto sobre seu peitoral e passei a prestar atenção em seus batimentos cardíacos, que ainda retomavam o ritmo normal. Ele enterrou as mãos no meu cabelo molhado e passou a massageá-lo, um delicioso cafuné que me fez bocejar e fechar os olhos.

- Não durma aqui. – Resmungou, porém não parou o carinho.

- Eu não vou.

- Não seria a primeira vez.

E realmente não seria. Eu adorava quando tomávamos banho de banheira juntos, mesmo que, devido aos nossos trabalhos e correria do dia-a-dia, esses momento estavam se tornando raros. O corpo de Felipe rodeado por nada além de água era magnífico e eu tinha a vontade de abraçá-lo para nunca mais soltar, ouvir o bater de seu coração para sempre. O “para sempre”, em realidade, durava até eu adormecer em seus braços, ainda deitados na banheira. Cada momento com ele era único, mas ainda assim alguns eram meus favoritos.

- Me desculpe por não ter preparado nada especial para o nosso aniversário. – Fê sussurrou e isso me fez abrir os olhos.

- Espero sinceramente que não esteja falando sério. – Ergui a mão até sua bochecha e belisquei-a. Ele tinha os olhos pesarosos, inseguros, e eu odiava isso. – Estar aqui abraçado com você é mais do que especial. Tenho vontade de congelar nossas vidas nesse minuto, nessa banheira sem água, e ficar eternamente preso aqui.

O sorriso que se abriu diante de mim não poderia ter sido mais puro. Estávamos juntos há longos anos, mas algumas coisas sobre Felipe nunca mudaram e uma delas era o sorriso jovial, quase infantil. Seu rosto se iluminava e suas bochechas ficavam gigantescas. Mesmo com a idade que tinha, ele quase não tinha barba e a junção disso com o sorriso o deixava simplesmente precioso.

- Sua vez de ser romântico. – Brinquei.

- Ok. – O sorriso era travesso, impecável. – Estou negando meu direito de escolher o sabor das pizzas de hoje. Você vai poder fazer isso.

- Você chama isso de ser romântico? – Ergui o rosto de seu peito e ele gargalhou da minha expressão, jogando a cabeça para trás.

Mas logo eu estava rindo também e me acomodando sobre seu peitoral novamente. A noite tinha caído quando chegamos em casa, o que me permitia supor que  não tínhamos passado das sete da noite naquele momento, o horário pico de entrega em domicílio de pizzas na cidade inteira. Ainda teríamos que fazer a comanda e esperar elas serem entregues, mas utilizei o horário como argumento para continuar onde estava. Deslizei o nariz sobre o peitoral de Felipe e absorvi seu perfume de floresta e maresia.

- Dy? – Ouvi o chamado e ergui o rosto. Os profundos poços do Mar do Caribe me observavam de cima, brilhantes de algo que eu só poderia identificar como amor. – Obrigado.

- Pelo o quê?

- Não sei exatamente. – Respondeu, as palmas de suas mãos se abrindo sobre minhas bochechas. – Você estar comigo hoje, aguentar meus momentos de chatice durante todos esses anos, nunca me deixar sozinho, ser terrível fazendo piadas e adorar filmes de animação infantil. Obrigado por sempre me fazer sorrir, por ter entrado na minha vida há anos e ter me salvado de todas as formas possíveis. Obrigado por me deixar preocupado, irritado, carente, eufórico e até desesperado em alguns momentos. Obrigado por existir, Tody Benson.

Ele me puxou até meus lábios estarem presos aos seus novamente. Fora um beijo calmo, sem línguas, somente nossos lábios unidos e apertados em selinhos barulhentos e seguidos. Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço e, com o coração batendo ferozmente, jurei nunca deixar aquele homem sair dos meus braços. Teríamos continuado nos beijando se, de repente, minha barriga não tivesse roncado de fome sonoramente.

Felipe se afastou de mim e gargalhou por longos segundos antes de falar:

- Acho que essa é nosso despertador. Você devia ter me dito que estava com tanta fome.

- E você me fazer sair daqui antes? Nunca! – Pisquei o olho. – Última ducha?

- Ok.

Nós nos levantamos cambaleantes, os músculos endurecidos depois de tanto tempo na mesma posição, deitados no duro. Peguei o chuveiro e liguei-o, dirigindo o jato de água para Felipe e lavando seu cabelo pela última vez. Depois, passei o chuveiro e ele fez o mesmo comigo, esfregando meu ombro demoradamente para tirar os restos de tinta que ainda se encontravam ali.

••••

Vasculhei o armário, levantando a tampa de algumas panelas vazias, olhando nas gavetas e desarrumando tudo. O meu ketchup apimentado preferido tinha simplesmente desaparecido de casa.

- Fê, você viu o tubo de ketchup? – Gritei, ainda de joelhos na cozinha, a cabeça enterrada no armário.

- Você que quis guardar em um lugar secreto para que eu não usasse. – Felipe disse, adentrando a cozinha e encostando-se no quadro da porta.

- Eu sei. O problema é que escondi tão bem que não acho mais.

A gargalhada encheu o ar em seguida e revirei os olhos, erguendo o rosto para ver meu marido curvado para a frente, segurando com a mão a própria barriga enquanto ria fortemente. Felipe tendia a usar ketchup em combinações inusitadas e, diversas vezes, o tubo estava vazio quando eu o procurava, por isso, tinha passado a escondê-lo em algum local da cozinha. Encarei Fê, o cenho franzido, até que se acalmasse o suficiente para respirar corretamente e falar:

-

Sabia que isso acontece com esquilos? – Ele sequer conseguia esconder o sorriso e a vontade de rir novamente. – Eles esquecem onde guardaram os avelãs no verão e morrem de fome no inverno.

- Muito engraçado. – Levei as mãos até o fundo do armário, somente para encontrar o mesmo de antes: nada. – Você quer que eu morra de fome.

- Não seja dramático. Eles entregam ketchup com as pizzas, mesmo não sendo seu preferido.

Bufei e me levantei do chão, fechando a porta do armário e seguindo para a próxima. Sob a pia, estavam os produtos de limpeza: garrafas contendo líquidos coloridos que jamais deveriam ser misturados com algo comestível. Mesmo no desejo de esconder o ketchup, eu não o teria colocado ali, então fechei a porta e me ergui mais uma vez. Felipe continuava na porta da cozinha, mas já não prestava mais atenção na minha caça ao tesouro: os olhos azuis clarissímos  se dirigiam à tela do celular. Ele digitou algo rapidamente antes de olhar para mim novamente:

- Seu pai acabou de confirmar nosso almoço de amanhã.

- Eu queria entender o porquê do meu pai enviar mensagens para você ao invés de mim quando quer notícias de nós. – Reclamei.

- Pelo mesmo motivo que Anne respondeu sua mensagem e não a minha. – Fê franziu o cenho e então abriu o sorriso esperto e travesso que eu tanto amava. – Será que nossos pais usarão o almoço de amanhã para finalmente assumirem que estão juntos?

- Não sei, mas já é tempo. – Falei, tirando a caixa de cereal da prateleira e passando a mão atrás dela, entre os potes de geleia, Nutella e chocolate em pó. – É notícia velha isso. Sabemos que estão juntos desde o nosso casamento e eles sequer desconfiam.

- Eles não foram discretos naquele dia. – Soltei um som raivoso ao perceber que, mais uma vez, o ketchup não se encontrava ali. Felipe deve ter sentido pela primeira vez meu desespero, pois disse: – Dy, você já olhou na geladeira?

Fiz o que ele disse e, na gaveta inferior da geladeira, entre as cenouras e maçãs, estava o tubo de ketchup. Ergui-o acima da cabeça, sorrindo abertamente para um Felipe que somente riu ligeiramente e resmungou:

- O que seria você sem mim?

- Absolutamente nada. – Dei um passo para a frente e pousei meus lábios sobre os seus em um selinho demorado. Afastei-me, prestes a agradecer, quando a campainha tocou avisando a chegada das pizzas. – Timing perfeito!

Saí da cozinha em direção à porta do apartamento e Fê ficou para trás, fora da vista que a entrada de nossa casa fornecia. Tínhamos aprendido muito cedo a jamais irmos juntos até a porta para receber uma entrega pois éramos observados com repugnância. Ao longo dos anos, não foram poucos os restaurantes que se negaram a enviar nossos pedidos somente pelo fato de que éramos um casal homossexual. Nossa pizzaria usual mais recente possuía uma forte política de respeito e integração: ela contratava pessoas de qualquer cor ou sexualidade e rechaçados sociais, como ex-prisioneiros e moradores de rua. Um exemplo entre poucos que havia colaborado para nos tornar clientes fiéis – além do sabor especial de seus produtos.

Feliz e com fome, abri a porta. Imediatamente meu sorriso sumiu, o rosto diante de mim sendo aos pouco traduzido pelo meu cérebro: o mesmo cabelo castanho, o mesmo queixo dividido, a mesma pele clara e sobrancelhas grossas. Meu coração disparou e inconscientemente abri a palma da mão sobre a marca de queimadura na minha barriga descoberta em uma tentativa de escondê-la do entregador de pizza. As duas caixas de papelão nos dividiam, porém continuamos em silêncio, os olhos arregalados de surpresa e choque em nossos rostos.

- Dy, você não pegou a carteira. – Ouvi a voz de Felipe e senti sua aproximação, entretanto eu não conseguia me movimentar. Meu corpo estava paralisado pelo puro terror e descrença do que estava acontecendo. – Você me ouviu?

Desistindo de ficar escondido, Felipe se colocou atrás de mim, minha carteira em sua mão. Entretanto, seu sorriso também morreu quando focou o olhar na pessoa em nossa porta e suas mãos imediatamente seguraram a pele da minha cintura, subitamente geladas.

- E-Eu... Hum... – Samuel disse, equilibrando o peso entre as pernas. A pequena luz verde de uma tornozeleira eletrônica chamando atenção sobre a bainha da calça jeans que usava. Ele parecia tão confuso quanto nós, incapaz de saber qual deveria ser seu próximo passo, então pousou o olhar sobre as pizzas e falou. – Bom... V-Vai ser dinheiro o-ou cartão?

Ainda capturado pelo meu próprio choque, percebi que Samuel estava, na verdade, com medo de nós. A última vez que tive um vislumbre dele fora no último dia de julgamento, quando fora condenado a aproximadamente 9 anos de prisão, logo após o juiz entender que seus problemas psicológicos não eram suficientes para tratar Samuel de maneira diferenciada ou substituir a prisão por uma internação em um hospital psiquiátrico. Então, sua presença diante de mim naquele momento viera como um choque, mas não se tratava de algo absurdo: depois do cumprimento de parte da pena, o condenado tinha o direito de progredir de regime, ou seja, no caso dele, poderia viver livremente ao cumprir pequenas obrigações, como ter um emprego e jamais ultrapassar os limites territoriais impostos pelo GPS na tornozeleira eletrônica.

- C-Cartão. – Ouvi a voz baixa e falha atrás de mim. Felipe apertava minha cintura de maneira quase dolorosa e eu entendia que era sua forma de manter a coragem.

- Certo. – Samuel estava agitado e dirigia o olhar para qualquer ponto do ambiente, menos para nós. Observei quando tirou a máquina de cartões da grande mochila pendurada em seu pescoço e a estendeu para nós, os músculos de seus braços visivelmente trêmulos. – Preciso que c-coloquem a senha, p-por favor.

Nesse momento tive a confirmação do quanto Felipe era forte, resistente a qualquer adversidade. Mesmo atordoado, saiu de trás da proteção do meu corpo e se estendeu para frente, pegando a máquina e inserindo meu cartão de débito nela para, logo em seguida, digitar a senha que nós dois conhecíamos. Ele respirava profundamente e seus olhos estavam avermelhados, como se fizesse uma força insuportável para conter a dor, as lembranças e as lágrimas para si. E, quando devolveu a máquina para Samuel, mais uma vez percebi o quanto Felipe me lembrava o titã Atlas: ambos seguravam o céu nas costas.

Samuel pousou as caixas de papelão contendo as pizzas nos braços de Felipe e então, finalmente, ergueu o olhar para nós pela primeira vez. Vi sua boca se abrir, como se estivesse prestes a dizer algo, mas então mudou de ideia e somente sussurrou o que todos os entregadores de pizza da empresa sempre diziam:

- Agradecemos a preferência e esperamos que aproveitem bem a refeição.

Segundos depois, ele se virava para partir. Agoniado demais para esperar o elevador, Samuel simplesmente se lançou pela porta que levava às escadas de emergência e desapareceu. Como se nunca estivera ali, o corredor repousava novamente em seu silêncio profundo.

O soluço sonoro, profundo e caótico veio logo em seguida e isso fez meu corpo finalmente voltar ao movimento: virei o rosto a tempo de ver Felipe pousar as pizzas sobre a bancada da cozinha e apoiar seu peso nela com os braços, as costas tremendo visivelmente por causa do choro soluçado e intenso. Em tantos momentos da minha vida eu havia congelado, paralisado completamente enquanto Fê ficava responsável de tudo suportar por nós. Culpado e com as lágrimas se acumulando no meu campo de visão, fechei a porta de casa e me aproximei do meu marido com passos hesitantes e lentos.

Pousei a mão sobre suas costas e ele ergueu o rosto em resposta. Seus olhos estavam intensamente vermelhos, as veias inchadas e visíveis, e suas bochechas brilhavam devido às lágrimas. Ele estava devastado e imediatamente puxei-o para mim, permitindo que encostasse a cabeça no meu peito e apertasse minha cintura com os braços. Infiltrei meus dedos em seu cabelo ainda úmido e passei a massageá-los ao mesmo tempo que tentava chorar sem, entretanto, fazer barulho. Ver Felipe daquela forma estraçalhava meu coração.

- Ele não mudou nada, Tody. – Sussurrou. – Por um segundo, achei que ele estava aqui para terminar o que começou tanto tempo.

- Eu jamais permitiria que Samuel encostasse em você de novo. – Prometi, mordendo o lábio em seguida para evitar soluçar. – Além disso, você viu o quanto estava com medo de nós? Uma palavra nossa para o juiz e Samuel estará preso novamente.

- Eu sei. – Ergueu o rosto do meu peitoral e o que vi me destruiu. O olhar azul estava profundamente devastado, sem qualquer brilho de felicidade ou esperança, e o queixo tremia incontrolavelmente. – Eu sei disso tudo, mas ainda assim senti medo.

- Eu também, Fê, eu também. – Segurei seu rosto e encarei-o como forma de fazer minhas palavras ganharem mais intensidade. – Se não fosse por você, eu ainda estaria de pé na frente de Samuel, paralisado como uma estátua. Você é muito mais forte que imagina.

Ele assentiu, porém mais lágrimas tomaram forma em suas bochechas. Desesperado, afastei-me ligeiramente de Felipe para então puxá-lo em direção ao sofá, onde me sentei e o fiz ficar sobre o meu colo, uma perna de cada lado do meu quadril. Ele enterrou o rosto no meu pescoço ao mesmo tempo que encostei a testa sobre seu peitoral, exatamente acima do coração. Segurei-o em meus braços com força, subitamente assustado com a possibilidade de que ele poderia sair da minha vida um dia.

- Você ainda está com fome? – Felipe perguntou, passando as costas da mão no nariz e fungando, o choro ainda ali.

- Essa é a última coisa na minha cabeça agora. – Confessei. Ergui a mão até seu rosto e sequei as lágrimas de suas bochechas.

- Podemos simplesmente ficar aqui, então?

Em resposta, puxei-o para estar ainda mais colado a mim, permitindo que nossos corpos se tornassem apenas um. O passado ainda nos aterrorizava: um pesadelo que, mesmo muitas vezes esquecido, fazia questão de retornar de tempos em tempos. Eu ainda acordava berrando, saindo bruscamente de um sonho na qual meu corpo inteiro queimava ou que eu assistia minha mãe morrer repetidamente. Felipe ainda pintava imagens tenebrosas de monstros, fumaça e muito fogo, assim como carros destruídos e sangue. Éramos felizes, tínhamos um ao outro como poucos casais tinham, entretanto, ainda éramos assombrados por demônios poderosos e destrutivos.

- Podemos ficar aqui para sempre. – Finalmente respondi, depois de um longo minuto. Absorvi o perfume de Felipe e senti uma lágrima gélida dele atingir meu rosto. – Só quero que esteja perto de mim. Nada mais que isso, Fê.

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SURPRESA! 👻👻

Fazia muito tempo que eu não me empolgava tanto escrevendo um capítulo dessa história. É bom trazer algo novo: sinto aquela adrenalina de fazer vocês receberem o capítulo inédito logo.

Como podem perceber, eles estão casados há um ano nesse capítulo. Preferi pular a cerimônia porque ficaria muito clichê. Ele foi focado nos pequenos detalhes do dia-a-dia (os pais deles estão juntos! Imagina!?)

Próximo capítulo pode demorar um pouco (ou não, já que eu posso me empolgar como com esse) e teremos notícias do meu outro casal preferido, Scott e Marie, assim como de alguns outros personagens desaparecidos da história.

Estou nervosa postando esse capítulo! Ahhh! Contem aqui o que acharam!

Só mais uma coisinha: na imagem da mídia as tatuagens de Felipe não condizem com as que descrevi isso porque achei a foto a mais semelhante de como imagino ele nessa parte da história.

Leiam meu conto “Colorido quando tiverem um tempinho.

Até a próxima, meus amores.

Kyv❤

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