04 × Promessas sob a noite
A madrugada era envolta por um silêncio peculiar, quebrado apenas pelo som abafado de seus passos no asfalto úmido. Mathew caminhava ao lado de Blair, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto tentava não pensar demais. O ar carregava aquele frescor de fim de festa, e ele sentia o álcool ainda pulsando levemente em suas veias, trazendo consigo uma vulnerabilidade que ele não estava acostumado a exibir.
Blair andava um pouco à frente, abraçando o próprio casaco como se fosse uma armadura contra os pensamentos que a atormentavam. Ele percebeu isso no jeito como ela olhava para o chão, os passos curtos e hesitantes, e, por um momento, sentiu uma pontada de algo que ele não sabia nomear.
Quando chegaram ao banco do parque, ela sentou-se primeiro, e Mathew seguiu, jogando-se no assento com a despreocupação típica que ele ostentava, mesmo quando sua mente estava longe de tranquila. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregava um peso que ele sabia que logo seria quebrado.
Blair brincava com a bainha do casaco, os dedos inquietos dobrando o tecido e soltando novamente. Ele observou por um instante, percebendo que, apesar de todo o esforço dela para parecer forte, havia uma fragilidade evidente.
— Certo, Blair — ele começou, com um sorriso de canto. — Você me arrastou pra cá no meio da noite. Agora me conta: o que tá acontecendo?
Blair ergueu os olhos para ele, hesitante, mas não demorou a tomar fôlego.
— Eu achei algo sobre o meu pai... algo estranho e acho que tem a ver com o acidente, ou se é que foi um acidente. — Sua voz era baixa, mas carregada de intensidade. — E tem a ver com a Stone Enterprises.
Mathew franziu a testa, a expressão indecifrável enquanto absorvia o que acabara de ouvir. O nome não lhe era completamente estranho, mas ele ainda parecia cético. Ou talvez confuso. A coisa toda era absurda por si só, mas ouvir algo assim saindo da boca de Blair tornou tudo ainda mais surpreendente.
Ele piscou algumas vezes, tentando entender o que ela estava dizendo.
— Espera aí... a empresa da Lisa e do Dave? Você tá falando sério? Blair, você acha mesmo que eles têm algo a ver com... sei lá, o acidente? Isso parece coisa de série de suspense. — Ele riu, cruzando os braços. A pergunta saiu antes que pudesse processá-la completamente.
— Eu sei que parece loucura, mas não é! — Blair rebateu, a voz firme, surpreendendo até a si mesma. — Eu achei documentos. Transferências de dinheiro feitas pelo meu pai para eles. E essas datas... Mathew, elas são próximas ao acidente.
Mathew recostou-se no banco, cruzando os braços enquanto olhava para o céu por um momento, como se precisasse de algo concreto para ancorar seus pensamentos.
— Tá, mas... Blair, isso parece... eu não sei. Meio... — Ele pausou, buscando a palavra certa. — Meio coisa de filme, sabe? Tipo, teoria de conspiração.
Blair revirou os olhos, a frustração evidente em seu rosto.
— Eu não sei. Mas você não acha estranho? Meu pai nunca mencionou essa empresa. Nunca. E o pior... — Ela parou, olhando para o chão como se as palavras pesassem. — O notebook dele estava protegido por senha. A data do acidente era a senha, Mathew.
Ele respirou fundo, esfregando a nuca com a mão, uma expressão hesitante estampada no rosto. Ele queria dizer algo que a tranquilizasse, mas estava claro que ela não estava exagerando, pelo menos não do jeito que ele pensava inicialmente
— E o que exatamente você acha que isso significa? Que eles... sei lá, mataram seu pai? Blair, isso não faz sentido. A Lisa e o Dave... eles não são exatamente gênios do crime.
— E quem disse que são eles? — Blair rebateu rapidamente, a voz mais alta. — Eu não tô dizendo que foi a Lisa ou o Dave. Mas a empresa... ou talvez o pai deles... eu não sei! — Ela balançou a cabeça, exasperada. — Só sei que algo tá errado.
Mathew ficou em silêncio por um momento, observando-a. Havia uma convicção tão profunda na maneira como ela falava que ele sentiu um nó no estômago. Mesmo sem acreditar completamente, era difícil ignorar a intensidade de Blair.
— Tá, admito que é estranho. Mas talvez... — Mathew hesitou, escolhendo as palavras com cuidado, tentando suavizar a tensão. Ele sabia que Blair não desistiria tão fácil. — Talvez ele só estivesse fazendo algo que não quis te contar. Algum trabalho secreto, sabe? Isso não quer dizer que os Stones tenham a ver com o acidente.
Blair bufou, frustrada, os olhos fixos nele como se esperasse que ele finalmente entendesse.
— Por que você sempre tenta racionalizar tudo? Eu tô te dizendo o que vi. Senti que algo tava errado, e agora sei que tá. Você não pode simplesmente... descartar isso!
Mathew inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto olhava para ela. Ele sentiu as palavras dela, mas também a pressão de não ter certeza sobre o que estava acontecendo. E, de alguma forma, mesmo sem acreditar totalmente, ele sabia que não conseguiria se afastar disso.
Ele passou as mãos pelo cabelo novamente, soltando um suspiro. Se perguntou, com um toque de ironia, como sua noite de bebidas tinha acabado se transformando em uma espécie de iniciação para uma investigação que ele nem queria fazer parte. Não que ele tivesse planejado dizer sim, mas desde o início sabia que acabaria ajudando-a. Ele sempre ajudava.
Blair apertou os dedos ao redor do tecido do casaco, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e ansiedade. Mathew a observou de soslaio, tentando ignorar a sensação incômoda de que estava se metendo em algo muito maior do que imaginava.
Ele recostou-se no banco, encarando as árvores escuras à frente, os galhos balançando suavemente ao vento. Blair permaneceu em silêncio ao seu lado, esperando qualquer reação. Dentro dele, no entanto, as dúvidas começaram a crescer. Era fácil dizer "claro que vou te ajudar" no calor do momento, mas, agora, a gravidade da situação parecia maior.
Mathew soltou uma risada baixa e amarga, mais para si mesmo do que para ela.
— Eu realmente não sei no que tô me metendo.
Blair finalmente o olhou, o rosto sério, mas com um traço de suavidade.
— Mathew, obrigada. Mesmo. Eu sei que isso parece... muito. Mas eu preciso saber a verdade.
Ele encontrou o olhar dela, sentindo uma pontada de algo que ele não conseguia identificar completamente. Talvez fosse culpa, talvez fosse um desejo de protegê-la, mesmo de si mesma.
— Você sempre acaba me arrastando pras suas loucuras, sabia? — Ele sorriu de canto, tentando aliviar o momento. — Mas... tudo bem. Vamos descobrir isso juntos.
Blair não respondeu imediatamente, mas ele viu o alívio nos ombros dela, na maneira como sua respiração pareceu desacelerar. Isso fez com que ele soubesse que, mesmo com todas as suas dúvidas, havia feito a escolha certa. Ou, pelo menos, a escolha que ela precisava.
E, claro, havia outra questão que ele tentava ignorar. Por que ele sempre acabava cedendo? Por que era tão difícil para ele dizer não a Blair? Enquanto caminhavam juntos para fora do parque, ele se pegou olhando para ela de relance, a maneira como a luz fraca do poste destacava seus traços. Ela parecia frágil, mas havia uma força inegável ali, algo que sempre o puxava para perto.
"Talvez eu esteja só bêbado demais pra pensar direito", pensou, balançando a cabeça em descrença consigo mesmo. Mas uma parte dele sabia que isso não era verdade. Ele sempre acabava fazendo o que Blair queria, com ou sem bebida.
A madrugada continuava estranhamente serena, enquanto Mathew e Blair caminhavam lado a lado em direção à saída do parque. A distância entre seus passos não era apenas física; algo não dito pairava no ar, um peso que parecia aumentar conforme o silêncio se prolongava.
Mathew observava Blair de soslaio. Ela mantinha o olhar fixo no chão, como se as rachaduras do asfalto pudessem oferecer respostas que ninguém mais podia. Era uma imagem típica dela: forte por fora, mas carregando um mundo que raramente deixava alguém espiar. E ele? Ele era o idiota que não conseguia dizer não, não importava o quão absurdo tudo parecesse.
— Você sabe que isso vai dar um trabalho do caramba, né? — Ele quebrou o silêncio, o tom leve, mas com um sorriso de canto que não disfarçava a exaustão.
Blair finalmente levantou o olhar, a expressão carregada de um misto de cansaço e gratidão.
— Eu sei. E eu não tô te pedindo pra carregar isso sozinho, Mathew. Só... pra não me deixar carregar sozinha.
A honestidade na voz dela o desarmou. Ele soltou um suspiro e esfregou a nuca, o cabelo bagunçado ainda mais desordenado.
— Tá, Bee. Eu tô nessa. Mas eu tenho uma condição. — Ele parou, virando-se para encará-la. — Nada de surpresas do tipo "invadir uma empresa" ou "seguir o pai da Lisa no meio da noite". Se eu vou te ajudar, a gente faz isso direito. Com planejamento.
Blair ergueu as sobrancelhas, surpresa com a seriedade dele.
— Planejamento? Desde quando você se importa com isso?
— Desde que decidi que não quero acabar na cadeia por ser idiota o suficiente pra te seguir cegamente. — Ele sorriu, um brilho travesso nos olhos.
Ela deu uma risada curta, a primeira sincera da noite.
— Ok, sem surpresas. Prometo.
Eles retomaram a caminhada, o som abafado de seus passos ecoando no parque vazio. Mathew enfiou as mãos nos bolsos e olhou para o céu, as estrelas quase invisíveis sob as luzes da cidade. Uma ideia atravessou sua mente, algo desconfortável, mas inevitável. Ele sabia que as coisas ficariam mais complicadas antes de ficarem mais claras.
— Blair. — Ele falou de repente, o tom mais sério. — Por que isso é tão importante pra você?
Ela hesitou, como se estivesse ponderando a resposta. Finalmente, parou de andar e olhou para ele, os olhos brilhando sob a luz do poste.
— Porque eu preciso de um motivo. — A voz dela era baixa, quase um sussurro. — Eu preciso saber que a morte dele... que tudo isso... não foi só uma tragédia sem sentido. Que há uma explicação, mesmo que eu odeie o que vou encontrar.
Mathew sentiu algo se apertar no peito. Ele entendia. Talvez não da mesma forma, mas ele entendia.
— Tá. Então a gente vai encontrar isso. Seja lá o que for.
Blair assentiu, e por um breve momento, o silêncio entre eles não era desconfortável. Era uma trégua, um entendimento implícito.
— Agora — ele disse, retomando o tom leve enquanto retomavam o caminho. — Sobre essa empresa Stone. Tem mais alguma coisa que eu deveria saber antes de me meter nessa?
Blair pensou por um momento antes de responder.
— Eu acho que a Lisa sabe mais do que deixa transparecer. Acho que ela é um alvo difícil, talvez o Dave seja mais descuidado se souber de alguma coisa.
Mathew riu baixo, balançando a cabeça.
— Claro que ela sabe. Lisa sempre sabe mais do que qualquer um. É o hobby dela.
— E o Dave? — Blair perguntou, olhando para ele com curiosidade.
— Dave? Ele mal consegue lembrar onde deixou a carteira na maioria das vezes. — Mathew deu de ombros. — Mas é sempre o cara despreocupado que tem algo escondido, não é?
Blair sorriu levemente, mas havia uma sombra de preocupação em seu olhar.
— Você acha que a gente vai conseguir?
Mathew parou por um momento e olhou para ela, permitindo que a seriedade voltasse à sua expressão.
— A gente vai tentar. E, Bee... se eu achar que você tá indo longe demais, eu vou te puxar de volta. Entendido?
Ela sorriu, apesar da advertência.
— Entendido.
Os dois continuaram andando, o parque atrás deles e uma noite longa ainda pela frente. E embora Mathew soubesse que estava entrando em algo que provavelmente daria errado, ele também sabia que não tinha escolha. Não quando se tratava de Blair.
Matthew caminhava lentamente pela sala, os passos abafados pelo carpete espesso. A casa estava imaculada, mas o silêncio era pesado, quase opressivo. Ele parou na janela, olhando para o jardim perfeitamente aparado. A imagem refletida no vidro mostrava um rosto cansado demais para alguém da idade dele, mas era só a bebedeira da noite passada. Pelo menos, era nisso que ele queria acreditar. A irmã não saía de seus pensamentos. Era curioso como, mesmo em sua ausência, ela ocupava tanto espaço. Havia algo na maneira como tudo foi deixado em suspenso, como se a própria casa tivesse decidido ignorar o fato de que ela não estava mais ali.
Matthew passou os dedos pelo batente da janela, a mente vagando. "Por que ninguém fala sobre ela?", pensou, mas já sabia a resposta. Naquela casa, sentimentos não eram algo que se discutia. O pai mascarava qualquer tensão com trabalho, a mãe com caridade. Ele? Ele lidava da única forma que sabia: fingindo que não se importava.
O celular vibrou no bolso, quebrando o fluxo de pensamentos.
[08:55] Bruce: Cara, ontem foi insano. Onde você se enfiou? Sumiu com a sua amiga e a Lisa infernizou todo mundo.
Matthew soltou um suspiro. As festas com Bruce e os outros eram um escape fácil, uma distração que ele nem sempre queria, mas que parecia inevitável. Ele digitou uma resposta rápida. Guardou o celular e voltou a andar pela casa. Parou na entrada do corredor que levava ao quarto da irmã. A porta estava fechada, como sempre, mas ele sabia que não estava trancada. Era tentador entrar, olhar as coisas que ela deixou para trás, mas ele hesitava. Havia algo de sagrado naquele espaço, como se atravessar aquela porta fosse romper um pacto silencioso com ela.
Mesmo assim, seus pés o levaram até lá. Ele parou diante da porta e encostou a testa na madeira fria. Lembrou-se das discussões abafadas que aconteciam ali dentro, das risadas que costumavam ecoar. Era estranho como a ausência dela transformava tudo em memória.
"Você sempre fazia as coisas do seu jeito, Skyla", ele pensou, com um sorriso amargo. "E eu sempre acabava tentando consertar as coisas depois."
Finalmente, ele girou a maçaneta e abriu a porta.
O quarto estava exatamente como ela havia deixado. As cortinas, um tom de azul claro, deixavam entrar uma luz suave, quase etérea. A cama estava arrumada, mas havia uma pilha de livros no canto, como se ela tivesse saído apressada, sem terminar o que estava lendo. Um perfume discreto ainda pairava no ar, aquele aroma familiar que fazia o peito de Matthew apertar.
Ele caminhou até a pequena estante e passou os dedos pelas lombadas dos livros. Filosofia, sociologia, um pouco de literatura clássica. Ela sempre gostou de pensar além, de questionar coisas que ele nunca se atreveu a perguntar. Skyla tinha esse fascínio pela vida, por respostas e pela honestidade das coisas.
Pegou um dos livros e abriu, as páginas cheias de anotações nas margens. Letras inclinadas, comentários rápidos. Era como se ela estivesse ali, conversando com ele.
— Você sempre foi a inteligente, né? — murmurou, fechando o livro e voltando a colocá-lo no lugar.
Antes de sair, seus olhos pousaram em um porta-retratos na cômoda. Era uma foto dos dois, ainda crianças, sorrindo para a câmera como se o mundo fosse perfeito. Ele se aproximou, pegou a moldura e a encarou por um longo momento. Matthew sempre soube que perda era uma palavra com camadas. Para ele, havia um vazio constante, um eco de algo que foi e nunca voltou, mas ele também sabia que sua dor era silenciosa, quase anestesiada pelo tempo e pelas circunstâncias. Era um sentimento estranho, uma ausência que nunca se transformava em lágrimas nem em gritos, mas que também nunca o deixava em paz.
Por isso, ele não conseguia imaginar como Blair lidava com sua perda. O peso do que ela tinha perdido parecia muito mais visceral, algo que deveria corroer suas entranhas, deixando cicatrizes impossíveis de ignorar.
— Por que você foi embora? — perguntou em voz baixa, mas sabia que ninguém responderia.
Guardou a foto no mesmo lugar e saiu, fechando a porta atrás de si. Ele não se atrevia a comparar suas dores, mas às vezes sentia que a ausência em sua vida era uma sombra menor, um reflexo distante da tempestade que Blair parecia enfrentar diariamente. E talvez fosse isso que o fazia se sentir tão inquieto ao lado dela: a certeza de que, por mais que tentasse, nunca seria capaz de medir a profundidade daquilo que a machucava.
O silêncio continuou, mas dessa vez parecia mais denso, mais difícil de ignorar. No fundo, Matthew sabia que aquela casa não era um lar há muito tempo. E talvez fosse isso que o incomodava tanto: perceber que, enquanto todos fingiam normalidade, as rachaduras estavam por toda parte. Ele desceu as escadas da casa com as mãos nos bolsos, ainda digerindo o que tinha acabado de fazer. Entrar no quarto da irmã era um passo que ele não esperava dar, mas agora, o peso do passado parecia um pouco mais presente. O problema era o presente. Blair e suas teorias sobre a família Stone ocupavam espaço demais na mente dele.
Ele saiu de casa, o ar fresco da manhã batendo em seu rosto. A cidade estava acordando, mas Matthew já se sentia atrasado. Não para compromissos, mas para respostas. "Se a Blair quer tanto respostas, eu vou dar algumas pra ela. Mesmo que sejam pra provar que ela tá errada", pensou, um sorriso irônico surgindo no canto dos lábios.
Enquanto caminhava pelas ruas em direção ao centro da cidade para tomar um café, as ideias começaram a se formar. Ele sabia que Lisa e Dave eram, no mínimo, figuras intrigantes. Matthew pensou no que Blair havia dito sobre as transferências e a conexão com a Stone Enterprises. "Ok, supondo que ela esteja certa e que isso tenha algo a ver com os pais deles. Como eu me aproximo de alguém como o Sr. Stone? Ele não é exatamente o tipo de cara que você encontra por aí."
Foi então que a ideia surgiu. De início, ele riu, balançando a cabeça. "Namorar a Lisa? Sério, Matthew?", murmurou para si mesmo, incrédulo com o próprio pensamento. Mas, conforme a ideia amadurecia, ela não parecia tão absurda assim. Lisa era uma garota difícil de se aproximar, mas ele sabia que havia algo nela que gostava de controle. Talvez, só talvez, ele pudesse usar isso a seu favor.
A lógica era simples — ou pelo menos parecia simples na cabeça dele. Se ele conseguisse entrar no círculo íntimo de Lisa, eventualmente seria apresentado ao pai dela. E se houvesse alguma verdade nas suspeitas de Blair, ele poderia descobrir.
— Isso é ridículo. — Ele disse em voz alta, mas não parou de andar.
Mesmo assim, a ideia se enraizou. Lisa e ele já tinham uma dinâmica estranha. Não eram exatamente amigos, mas havia uma familiaridade que ele sabia que poderia explorar. Ela era esperta, mas também adorava ser o centro das atenções, e Mathew tinha certeza de que sabia exatamente como jogar o jogo dela.
Quando chegou a um café que frequentava, ele pediu um café com leite e sentou-se perto da janela, observando o movimento. Pegou o celular e abriu o Instagram, procurando o perfil de Lisa. Fotos cuidadosamente escolhidas preenchiam a tela: viagens, festas, momentos que pareciam casuais, mas claramente não eram.
"Ok, Lisa. Vamos ver até onde você me deixa ir", pensou, digitando uma mensagem rápida para ela.
[09:50] Mathew: Oi, Stone. Pensando em invadir sua pista de dança na próxima festa. Algum evento programado?
A resposta veio instantaneamente. Lisa era rápida quando queria.
[09:50] Lisa: Matthew Grier invadindo minha pista? Isso eu preciso ver. Talvez tenha algo em breve.
Ele não pôde evitar um sorriso ao ler a resposta. Como imaginou, seria fácil para ele conseguir o que quisesse com ela. Não era apenas boatos.
[09:52] Mathew: Mas só se você prometer me ensinar alguns movimentos.
[09:52] Lisa: Ah, querido. Você nem imagina o que eu posso ensinar.
Matthew riu, balançando a cabeça. A troca de mensagens era leve, mas ele sabia que estava plantando a semente de algo maior. O plano era louco, ele sabia disso. Mas, por algum motivo, não conseguia se afastar da ideia. Se Lisa era a chave para entender o que estava acontecendo, ele estava disposto a girar essa fechadura, mesmo que isso significasse brincar com fogo.
Enquanto terminava o café, Mathew olhou pela janela, observando o movimento da rua enquanto a imagem de Blair tomava conta de seus pensamentos. O rosto dela — aquele equilíbrio estranho entre determinação feroz e uma vulnerabilidade que ela fingia não ter — parecia preso em sua mente. Ele soltou um suspiro, girando a xícara sobre o pires, sem se preocupar em beber o último gole.
Se Blair soubesse o que ele estava tramando... ah, ela provavelmente o chamaria de idiota sem hesitar. E com razão. Afinal, ele mesmo havia insistido em regras, em ter planejamento antes de qualquer coisa. E lá estava ele, quebrando a própria regra antes mesmo de começar.
Ele podia quase ouvir a voz dela em sua cabeça: "Você não disse que a gente precisava ser cuidadoso? Então por que diabos tá jogando charme pra Lisa Stone?!" A possibilidade de uma bronca não o assustava; era algo que ele já esperava. O que o incomodava de verdade era saber que Blair tinha o poder de fazê-lo questionar cada passo.
Mathew passou a mão pelo rosto, uma risada amarga escapando de seus lábios. Talvez ela tenha razão, pensou. Ele sabia que sua ideia era arriscada, talvez até estúpida, mas, ao mesmo tempo, era o único caminho que parecia viável. Se Blair queria respostas, ele precisava encontrar uma maneira de consegui-las — mesmo que fosse jogando um jogo perigoso.
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