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Capítulo 1 - Meu Twitter vai à loucura


AO VIVO ●

— O jogo — ele leu, como se não tivesse se dado conta ainda do que isso significava.

— Perdi! — dissemos em uníssono, então começamos a rir. Meu coração se aqueceu. Eu amava aqueles momentos que nos conectavam de verdade. Então ele disse um palavrão e eu balancei a cabeça. Nathanael Dante fazia muito isso, quase o tempo todo. Quero dizer, não é como se ele dissesse um palavrão a cada frase, mas falava sempre que ficava indignado, o que acontecia bastante.

— Perdeu de novo, hein, Mille? — Ele piscou para mim e eu ri. Falava como se ele mesmo não tivesse perdido também. Parece que alguém não sabe perder! — Sem essa sua risada medonha, Mille! Eu sei muito bem o que está pensando! — Arqueou a sobrancelha, os olhos azuis brilhando na minha direção, e eu apenas escolhi ficar em silêncio. Ele fez careta ao perceber que eu não iria me pronunciar. — Mille? — Era engraçado lembrar que só ele me chamava daquele jeito, por causa de um erro primário. Ignorei, só para ver o que ele faria. — Mille? — Nada. Ele deu uma bufada descomunal. — Acho que as pessoas se sentem assim quando a web-namorada some — brincou, quase me convencendo a responder. Só consegui gargalhar com o termo. Todas as garotas do chat da Twitch queriam ser chamadas assim. — Vamos jogar Tricky Towers? — perguntou e, ao ver que não obteria resposta de imediato, disse: — Ah, dane-se. O computador é meu, eu jogo o que quiser! — E eu só consegui rir, já acostumada com seu mau gênio. Não deixei de dizer que ele era um grosso, o que o fez balançar a cabeça, ocasionando um brilho diferente em seus cabelos claros, adquirindo um tom amarelado que lembrava muito uma pétala de girassol. A luminosidade da led lhe dava um ar misterioso. — Você já devia saber pelo tempo que me conhece. — Foi sua resposta. Então lembrei aquele episódio em que ele me xingou por ter lido minha mensagem no contexto errado. Ao que parecia, ele também se lembrou disso. — Aliás, desculpa de novo por ter sido um babaca daquela vez.

Sorri, mostrando que estava tudo bem. Nathanael sorriu de volta e eu contive a vontade de gritar com a tela do meu notebook. A Twitch não merecia minha zoação, apenas o streamer que eu tinha diante dos meus olhos. Sempre gostara muito de como ele se esforçava para responder as pessoas que estavam constantemente no chat, como era o meu caso. Ele abriu o jogo que mencionara e começou a empilhar os bloquinhos. Isso me deu vontade de jogar também, mas me contive. Ele sempre seria melhor do que eu naquele jogo, e eu sempre seria melhor do que ele em Deponia. Isso me deixava contente, porque evidenciava como cada um tem a sua especialidade.

— Você precisa sempre aparecer tão tarde, Nathanael? — resmunguei, vendo que já estávamos chegando às dez da noite. Na mesma hora, a voz robótica dos bits, mensagens pagas que eram lidas por uma voz como a do Google, disse "Celebrity, você não vai jogar Fortnite?" e eu só suspirei. Lá vem!

— Amy-um-dois-quatro, valeu pelos bits. — Nathanael deu um sorriso, então soltou outro palavrão. — Não sei se você é nova aqui, mas eu odeio que fiquem fazendo spam com indicação de jogo, ou que fiquem me mandando bits com perguntas de jogos, ok?

E eu já pressentia que a garota o acharia um idiota. Bem, quem não o conhecia achava mesmo. E quem o conhecia sabia bem que ele era um tremendo idiota, mas não no sentido que as pessoas imaginavam. Também não vale a pena explicar para quem não o conhece. Se você o acompanhar e tiver a mente aberta, saberá o que quero dizer.

De qualquer forma, eu era uma "fã" – não acho que seja o termo correto, mas é assim que as pessoas chamam – que não tinha tanta dedicação, pelo menos não em comparação com as outras pessoas que acompanhavam Celebrity. Eu teria aula às sete e meia no outro dia; apresentação de trabalho, a tarefa acadêmica que eu mais odiava. E, pensando nisso e em tudo o que estava acontecendo, concluí que deveria dormir.

Dei uma última olhada para o cara que só sabia de minha existência por um nome de usuário na internet e mensagens em um chat com mais oito mil pessoas. Sorri, porque era bom às vezes ter alguém ali, para que eu não me sentisse sozinha, mas sabia que não passava disso, um cara do outro lado da tela. Ele dizia:

— Acho que vou jogar algum indie...

Fechei a Twitch, prevenindo-me da intensa curiosidade que me atingiria sobre o jogo da vez. Era melhor parar antes disso e assistir depois no Void – a desvantagem desses vídeos gravados era não poder comentar para que ele visse na hora.

Mas paciência.

Desliguei meu notebook.

Teria um dia cheio.

*

Entrei na sala de aula com quinze minutos de atraso, depois de ser esmagada no metrô por causa de um acidente nos trilhos – eu preferia ver desta forma do que enfrentar a realidade pela décima vez só naquele ano. Sem o mínimo necessário de fôlego e ouvindo minha colega dizer "é a sua vez", fiquei levemente desnorteada. Ainda pensando no ocorrido no transporte público, por um segundo, meu cérebro processou a informação de maneira perturbadora. Não é isso!

Pisquei duas vezes, tentando decidir qual era o problema do universo comigo. Dei um sorriso falso para espantar o nervosismo e caminhei até a mesa do professor. Tirei meu fone de ouvido e coloquei no bolso, fazendo o mesmo com o celular em seguida. A última coisa da qual precisava era ter o aparelho estilhaçado no chão. Naquele momento, um copo d'água, que eu nem tinha visto, caiu da mesa direto em minha calça jeans.

— Comecei bem — resmunguei, batendo em minhas pernas e dando um sorriso torto para a menina mais próxima. Toda a sala (cerca de cinquenta alunos) ficou me encarando enquanto minhas bochechas esquentavam. Dei um longo suspiro e abri a apresentação de PowerPoint. Geralmente, quando algo desastroso acontece comigo logo de manhã, o resto do dia acaba sendo surpreendentemente bom, então eu apenas me contentei. — Saussure apresentou-se ao mundo como um dos linguistas mais importantes e mais criticados...

Vinte minutos depois e após diversos elogios do professor, eu pude comprovar que não estava fora de minha tradição. Um momento desastroso e vergonhoso para um dia incrível. Acreditava muito que coisas ruins acontecem para que outras maravilhosas tomem lugar em nossa memória. Afinal, como você vai saber como é a felicidade se nunca tiver vivenciado a tristeza? Então peguei meus três ônibus no caminho de volta para casa aproveitando minha playlist ao máximo, sentada à janela, porque não há nada melhor do que ver a paisagem de São Paulo.

Apesar de ter carros demais e poluição, de Higienópolis até o Tatuapé há muita paisagem corriqueira e árvores aqui e ali, mas também prédios que apresentam mais história do que beleza, o que às vezes os torna ainda mais belos do que prédios modernos. São Paulo não é só prédio, para quem insiste em dizer. É história, arquitetura, arte, cultura, tudo em um lugar e por todos os lados que olhar. Eu observava isso da janela do ônibus, vendo as coisas de sempre, mas com detalhes novos. Nunca absorvemos o suficiente de São Paulo.

Após uma hora desse jeitinho, cheguei ao conforto do meu lar. Minha irmã ainda dormia e minha mãe estava trabalhando. Sorri para meus cachorros e sentei no sofá, tentando acalmar sua sinfonia. Então meu celular começou a vibrar sem parar, voltando à vida. Ou melhor, voltando a ter Wi-Fi, já que eu não tinha 3G. Estranhei mais do que teria estranhado ver o Papai Noel em julho. Primeiro porque não eram mensagens em grupos aleatórios do WhatsApp, mas em um grupo em específico: o dos meus leitores do Wattpad e da Amazon. Franzi o cenho, tentando decifrar quem começara o assunto.

Era um surto coletivo, na verdade.

Eles me mandavam olhar o Twitter, o que me deixou com uma dolorida ruga de curiosidade. Abri o aplicativo no mesmo instante, mesmo que tivesse uma lista enorme de capítulos para escrever. Cerca de quinhentas notificações me nocautearam mais efetivamente do que Muhammad Ali faria. Aquilo nunca acontecera antes! Abri as menções primeiro, pois acontecia muito de um amigo me marcar em um tweet e eu receber umas trinta notificações só de curtidas. Mas daquela vez parecia diferente. Primeiro porque muitas pessoas estavam me marcando em um tweet do Nathanael; leitores meus, em sua maioria. Como assim?

Com a mente mais confusa do que meu caderninho de inspirações literárias – e acredite em mim quando digo que ninguém mais saberia decifrar aqueles enredos –, toquei o dedo na tela, esperando ansiosamente para ver o que ele dissera.

"Estou precisando de um bom escritor, urgente!"

Fiquei boquiaberta. Era fofo da parte dos meus leitores tentar me indicar para meu ídolo assim. Ia responder cada um deles até perceber que pessoas aleatórias me mandavam ver outro tweet do streamer. O que diabos estava acontecendo? Voltei para a visão geral das notificações e percebi que existia uma penca de retweet. Virei twitteira de uma hora para a outra? A resposta era simples e curta: não. Longe disso. Extremamente longe disso! Era algo muito maior! Quero dizer, pelo menos era assim que eu via. E eu li as palavras que mudariam minha vida profissional:

"@CamilleEscreve preciso falar com você urgente. Ajuda aí, Twitter, para ela ver, porque acho que estou sendo ignorado na DM"

Nathanael Dante precisa falar comigo? Por quê? Como ele tinha descoberto minha existência? Será que vira as indicações dos meus leitores? O que estava acontecendo?

Meu coração ficou mais barulhento que uma escola de samba; até conseguia sentir a pulsação nos ouvidos. Só me dei conta de notificações na DM quando li aquela reclamação. Então descartei todas as que não vinham do perfil dele.

E meu coração parou.

Olá

Não faço a menor ideia de como falar com uma escritora, então já peço desculpas pelos erros idiotas

Não sei se me acompanha, mesmo que seja minha seguidora como vi agora, mas v

Droga, apertei enter sem querer

Mas você estaria disponível para me ajudar com um projeto?

Li seu livro de fantasia antes de falar com você, então não precisa ter receio

Quero dizer, li uma parte. Não dava para ler tudo de manhã

Teria como entrarmos em contato por outro lugar? Quero resolver uns negócios

Eu tô numa ansiedade idiota demais por causa dessa garota

Droga, mandei errado

Foi mal

Olá?

Espero que não me ache um louco

Um universo paralelo havia me sugado, essa era a única explicação.

Mas, por via das dúvidas, melhor responder antes que ele desistisse.

Olá, tudo bem?

Não precisa se policiar comigo! E, sim, eu te acompanho. Acabei de ficar de férias da faculdade, então posso te assegurar que estou disponível, apenas resta saber se posso ajudar mesmo. Sobre o que é?

Eu me surpreendi com o quão rápido ele respondeu.

Tô bem. Você pode ajudar, apenas prefiro não te dizer pela internet. Sou um imbecil paranoico.

O que sugere então?

Bem, como nunca nos vimos e isso só pode ser feito pessoalmente... Sugere algum lugar?

Não precisei nem pensar.

Conhece o shopping no fim da Avenida Paulista?

Sim

Pode ser lá?

Pode. Só temos um problema

Qual?

Eu já estou por aqui. Teria como você vir hoje mesmo? Esse projeto é meio urgente

Encontrar um estranho? Nunca. Encontrar um estranho em um lugar público? Talvez. Encontrar seu ídolo que tem uma vaga ideia de sua existência em um shopping? Claro que sim!

Por coincidência tenho o dia livre. Você me esperaria na livraria? A que tem a cafeteria dentro?

18h está bom para você?

Creio que sim.

Ótimo!

Espero poder ajudar.

Você vai ajudar mais do que imagina

E mandou um emoji de sorriso.

Então está combinado, Camille. Livraria do shopping, 18 horas

E as palavras dele ficaram se repetindo em minha cabeça. Aquilo era mesmo verdade? Eu tinha minhas dúvidas, mas só havia uma forma de saber.

*

Olhei para a tela do celular. Dezoito e três. Nathanael estava três minutos atrasado e eu estava me remoendo de ansiedade. Já tinha me preparado para agir profissionalmente com ele, deixando meu lado apaixonado de canto. Quero dizer, não realmente apaixonado, era só... Ah, deixa para lá.

Eu respirei fundo quando avistei sua costumeira blusa de frio raglan três quartos e uns dois números maior do que o necessário. Ela era preta e branca e provavelmente ficaria amarelada de tanto que ele usava. Diferente dos vídeos, ele não usava calça de moletom, mas um jeans escuro e um All Star preto. Ele me viu e ficou parado onde estava, com a boca aberta. Não entendi sua reação, então dei um passo à frente, me aproximando dele. Ele piscou e fez o mesmo; nos encontramos no meio do caminho.

A mistura do cheiro de livros novos e de café me fazia sorrir. Era uma combinação perfeita!

— Camille? — ele perguntou, fazendo-me sorrir mais e esticar minha mão.

— Sim. — Tentei conter uma risada quando ele me cumprimentou e eu senti algo estranho. — Você meio que já me conhece. — Resolvi deixar bem claro.

— Como assim? — Ele olhou ao redor, como se procurasse um cinegrafista. Não estamos em um programa de pegadinhas, meu amor.

— "Se você não gosta de ouvir palavrão, simples, saia daqui. Não diga que sou uma má influência para as crianças!" — Tentei imitar sua voz, fazendo-o ficar vermelho.

— Mille? — Seu espanto era notável.

— Exatamente. — Dei meu sorriso petulante, adorando poder brincar com a cara dele. — A garota que disse "eu vejo crianças falando palavrão o tempo todo por influência externa. O caso é que essa influência raramente vem da internet, mas sim dos pais, então não há mudança se você parar de falar palavrão. Elas falarão de qualquer jeito" — disse tudo em um único fôlego, tendo que me preocupar em respirar lentamente em seguida. — E você só leu a primeira parte, respondeu daquele jeito e me xingou. — Sorri novamente, só para mostrar que já não estava tão magoada.

— Eu me desculpei um monte de vezes por ser um estúpido. — Balançou a cabeça. — Uau, agora está explicado!

— O quê?

— Você é a melhor argumentadora de todo o chat, com a melhor articulação... e é porque você escreve.

— Só há vantagens em escrever. — Olhei para os livros ao meu redor. — Esses escritores podem argumentar de maneiras muito mais incríveis, mas eu consigo me sair melhor do que a maioria das pessoas que não escrevem.

— Mano, como você consegue gostar de ver minhas lives? — Nathanael estava visivelmente descrente. — Eu sou só mais um retardado que acha que consegue resolver mistérios.

Fiz uma careta diante disso, mas tentei não deixar evidente. Sabia que muitos gamers e streamers usavam termos capacitistas e falavam até de coisas criminosas como se fossem normais, mas também sabia que ele não entenderia se eu falasse do problema disso logo de cara, até porque ele odiava ser julgado – outro grande erro seu, depois da escolha de palavras. Eu estava apenas o conhecendo e talvez pudesse chamar sua atenção no futuro caso isso se repetisse em minha frente. Naquela hora, pensei que teria de deixar passar batido, porque eu não era alguém que ele fosse escutar. Aos seus olhos, era apenas uma pessoa que via suas lives.

— E seus vídeos — completei. — Eu sempre amei Scooby Doo, então...

— Está dizendo que eu sou como um personagem de Scooby Doo?

— Basicamente.

— Poderia ser pior... — Ele balançou a cabeça e eu dei uma breve risada. — Você está pronta para ouvir o que tenho a dizer?

— Acredito que sim. — Dei o sorriso mais fraco daquele dia. Nathanael me indicou o balcão da cafeteria e começou a andar, tendo-me logo atrás de si. — O vício por café já está se manifestando? — brinquei, lembrando as infinitas vezes em que ele corria para a cozinha para pegar a bebida durante as lives.

— Acho que fica mais fácil conversar se tomarmos algo. — Virou o rosto para sorrir para mim e eu não pude não sorrir de volta. — Posso te pagar um?

— Aposto que você fala isso pra todas as suas web-namoradas — brinquei, vendo-o revirar os olhos. — Mas, infelizmente, eu não gosto de café.

— O quê? — O espanto dele quase me fez rir. — Como consegue passar madrugadas escrevendo sem café?

— Como sabe que fico escrevendo de madrugada?

— Eu meio que stalkeei seu Twitter. — Deu de ombros.

— Parece que eu tenho um fã.

— Você quer dizer mais um, não é mesmo? Porque você tem uns duzentos mil leitores... e isso sem um livro físico publicado! — Ele parecia impressionado. — E você só tem vinte anos!

— Como se você fosse muito mais velho. Olha tudo o que conquistou!

— Mas não é isso que eu quero.

— Como assim?

— Não quero ser só um influenciador digital. Quero deixar um legado ao mundo, algum tipo de obra, entende? Como você com seus milhares de livros.

— Por enquanto foram dez em três anos e meio...

— E você acha pouco? — Nossa vez na fila chegou e eu resolvi não responder. Ele provavelmente me acharia louca por dizer que sim. — O que vai querer?

— Um suco de laranja está bom, obrigada. — Sorri e olhei para a livraria enquanto ele pedia e pagava. Aquela seria a única vez que eu o deixaria fazer isso.

— Então, Mille... — ele começou a dizer quando nos sentamos diante da bancada, após pegarmos nossas bebidas. — Posso te chamar de Mille?

— Você é o único que me chama assim, então acho que sim.

— Eu ignorei o K do seu nome na Twitch.

— Eu percebi.

— Então, Mille... — Ele voltou ao que queria. — Você já escreveu algum roteiro?

— Bem, eu já fiz um curta, na verdade.

— Sério?

Fiz que sim com a cabeça.

— Então isso é um sim?

— Sim.

— E você acha difícil escrever roteiros?

— Um pouco mais desafiador do que escrever um livro, porque não posso expressar pensamentos, mas não é tão difícil. — Então desconfiei da pergunta. — Por quê? Quer que eu te ensine a escrever um roteiro?

— Na verdade, eu quero que você escreva um roteiro comigo.

— O quê? — Eu não poderia ficar mais atônita do que estava.

— Não acho que seja um bom escritor, não ao ponto de fazer algo complexo como um roteiro de filme ou um livro.

— E acha que eu sou boa pra isso?

— Como eu disse no Twitter, li um pouco do que escreveu, Mille, e você é muito boa, de verdade.

— Mas eu não escrevo suspenses... ainda — murmurei a última parte, fazendo-o franzir o cenho. — Quero dizer, eu já pensei em escrever alguns romances policiais, mas nunca passei dos rascunhos. E eu vi os RPGs enigmáticos que você fez com seus amigos na Twitch e não acho que estou pronta pra isso.

— Eu discordo. — Deu um gole em seu café e sorriu para mim. — Mille, a vida é uma só, e ela é curta demais para todos os planos que temos, então por que deixar pra depois o que você pode fazer agora?

— Bem, não sei se concordo com isso de ser uma vida só, mas... — Suspirei. Ainda não nos conhecíamos o suficiente para falar sobre crenças. Suguei o suco de laranja com meu canudo de plástico, me odiando por aceitá-lo. No Rio, os canudos de plástico já tinham sido proibidos por matarem animais aquáticos. Era a vez de São Paulo dar o exemplo. — Você está certo. O que tem em mente, senhor Nathanael Dante?

— Eu não posso te contar muito sobre, mas... viu aquele enigma dos três amigos presos em jaulas? — Quando ele mencionou isso, lembrei vagamente algo que ele havia criado, semelhante a joguinhos de celular e computador com a missão de escapar de uma sala.

— Sim.

— É basicamente uma evolução dele. Acha que pode me ajudar?

— Eu posso tentar, mas...

— Eu vou te pagar! — Ele deu uma leve exaltada.

— O quê?

— Vou te pagar pelo roteiro.

— Não era isso que eu ia dizer, apesar de apreciar que valorize meu trabalho.

— Então o que ia dizer?

— Eu ia dizer que não posso garantir que ficará do jeito que imagina.

— Às vezes ser surpreendido é bom.

— Então eu aceito, sim. Amo um desafio.

— Somos dois. — E, sem motivo algum, Nathanael piscou para mim. — Então podemos começar amanhã?

— Calma! — Tomei um gole do meu suco, tentando digerir toda a situação. Meu ídolo acabara de me contratar para escrever um roteiro. Nem em meus sonhos eu havia pensado nisso! — Uau! — Mordi o lábio, impedindo que frases animadas demais escapassem. — Você tem certeza disso? Existem muitos escritores melhores.

— Mille, eu tenho certeza de que você é a pessoa certa para o trabalho.

— Como?

— Eu me apaixonei pela sua escrita logo de cara.

— Nossa... — E ele acabara de deixar uma escritora sem palavras.

— Eu não sou muito de ler, admito, mas sua forma de escrever me cativou na primeira frase, então não há nada mais certo do que isso. Seus leitores apenas me mostraram qual o rumo que quero dar aos meus projetos... e suas frases repletas de significados ocultos combinam com o que eu quero.

— Certo. — Como responder àquilo? — E quanto tempo eu teria? Porque eu costumo escrever meus livros em seis meses e geralmente mais de um ao mesmo tempo, mas eu não deixaria de escrevê-los para só escrever seu roteiro, então...

— Eu sei, já tinha pensado nisso. — Sorriu e fez sinal para alguém, que estava mais à frente na livraria, na seção de jogos.

Olhei para trás e me deparei com um garoto que conhecia muito bem, graças a Nathanael.

— Péppe? — chamei o melhor amigo dele, Pedro, por seu apelido na internet. Quando ele chegou perto de mim, esticou a mão livre, pois a outra estava ocupada. Eu a apertei.

— Você deve ser Camille.

— Sim. — Sorri, nervosa. Eu estava diante de dois streamers famosos.

— Péppe, ela é a Mille! Sabe? A Mille!

— Sério? — Pedro arregalou os olhos e deu um grande sorriso em seguida. — Que mundo pequeno!

— Pois é. — Nathanael sorriu para o amigo, então olhou para mim no exato momento em que Pedro colocou alguns papéis em minha frente.

— Celebrity me fez ajudá-lo a criar uma espécie de contrato, para não correr o risco de te perder, então... — Indicou os papéis, entregando outro exemplar grampeado para o amigo.

— Uau! E eu achando que eu era ansiosa!

— Não existe uma pessoa mais ansiosa que o Nathanael.

— Não exagera! — Ele balançou a cabeça e encarou as folhas. — Eu só gosto de ser precavido.

— Muito compreensível. — Pedro sorriu para mim, mostrando que sabia bem qual a motivação da precaução toda. Ele não queria correr o risco de eu aceitar o projeto, ter informações privilegiadas e depois desistir. Seria um risco que alguém soubesse sobre sua história sem estar de alguma forma comprometido a não contar a ninguém. Mesmo que aquele ainda fosse um contrato informal, eu com certeza não o quebraria, mas Nathanael não tinha garantia nenhuma de que eu não agiria assim e parecia determinado a tentar evitar qualquer possível problema.

— Podemos ler as cláusulas, sim ou não? — Ele parecia levemente irritado.

— É um contrato oficial?

— Não, apenas a primeira ideia do que podemos fazer para garantir que ninguém saia perdendo. Depois vamos contratar um advogado e oficializar.

— Ok. — Então encarei os papéis e comecei a ler, até minha atenção ser chamada por um número. — Dois mil e quinhentos por mês? — Arregalei os olhos e encarei Nathanael.

— Sim. Achou pouco? Podemos aumentar, eu só não sabia quanto pagar por um...

— Não!

— Não?

— Quero dizer, está ótimo.

— Sério?

— Sim, é mais do que recebo por mês com os ebooks atualmente.

— Dá para receber mais, certo?

— Sim, apenas não vendi muito ainda.

— E como faria para vender?

— Primeiro preciso escrever sobre o que as pessoas leem mais.

— Sexo?

— Você disse isso, não eu. — Tentei não rir.

— É só nisso que as pessoas pensam.

— Então eu sou um ET, porque não penso... Quero dizer, só se há clima para isso, o que não acontece porque estou solteira e... — Escondi meu rosto. — Só esqueça que eu disse isso.

— Eu também. Na verdade, é raro ver alguém que pensa assim. — E ele sorriu para mim.

Ok, então...

Tentei focar no contrato, lendo as cláusulas que Pedro escrevera. Um ano para elaborar o roteiro; poderíamos nos encontrar sempre que ambos estivessem livres, sem que precisássemos desistir de nossos compromissos... Então parei, pois Nathanael estava me encarando em vez de ler seu próprio contrato.

— Está tudo bem?

— Sim, sim, só tô ansioso.

— Ok. — Fiz careta, voltando a ler. Cláusula para desistência, cláusula para atraso...

— Cara, para de olhar pra ela como se você fosse um cachorro e ela, um frango de padaria. — Pedro chamou a minha atenção. Quando levantei o rosto, Nathanael estava vermelho.

— O quê?

— Nada, é só o Pedro sendo idiota!

— Eu não acho que essa seja a melhor frase para se dizer a alguém. — Suspirei. Comparar alguém com comida não é algo que deveria acontecer. Soava de forma pejorativa e, para ser sincera, me incomodava muito. — Aliás, Nathanael não estava babando por mim, estamos tendo uma primeira reunião profissional.

— É claro... — Pedro riu.

— Olha, eu sou profissional, ok? — rebati. — Não estou aqui para conquistar ninguém. Aliás, eu tenho maiores preocupações no momento, como alcançar meus sonhos, por exemplo.

— Uau. — Por algum motivo, os olhos azuis de Nathanael brilharam.

— Podemos apenas ler? E ver se estamos de acordo?

— Ok.

E dessa vez ele se focou. Assinamos o contrato, as duas vias, depois de lermos cada uma das cláusulas com extrema cautela. Claro que seria depois visto por um advogado, como eu bem sabia, mas era bom já descobrir de antemão com o que estava concordando. Ele sorriu para mim e Pedro bateu palmas. Entretanto, Nathanael não pareceu dar a mínima ao amigo, nem ao fato de várias pessoas terem começado a prestar atenção em nós após o barulho que Pedro fizera. Ele apenas me olhava, com um sorriso esperançoso e animador no rosto. Sorri de volta, sendo atingida pela beleza dele. Eu podia estar agindo da forma mais normal possível, mas tinha que admitir que aquele garoto era estonteante.

— Acho que deveria ter uma cláusula sobre vocês não poderem ter um relacionamento. — Com a malícia presente nas palavras de Pedro, eu arregalei os olhos e Nathanael riu.

— Você é um verdadeiro pé no saco! — o streamer reclamou.

— É pra isso que os amigos servem.

— Mano, qual é a de vocês? — reclamei, pegando a cópia de Nathanael e alinhando-a com a minha.

— Mano? — Pedro riu.

— Sou de São Paulo ou não sou? — brinquei.

— Você nasceu aqui? — Nathanael pareceu interessado.

— Nasci em Santos, mas vivo aqui desde que tinha um ano.

— Você provavelmente sabe que sou do Sul.

— Sei, sim, senhor gaúcho — brinquei. Peguei as duas vias do contrato, tomei para mim a que estava com Nathanael e entreguei para ele a que eu acabara de assinar. Eu precisava de uma garantia daquele acordo, até para poder comparar com o que o advogado nos entregaria depois. — Bom, acho que hoje fizemos o que era necessário. — Sorri.

— Ainda não acredito que você aceitou. — Ele balançou a cabeça, também sorrindo.

— Por que não aceitaria?

— Porque eu sou um idiota!

— Verdade. Mas é um idiota fácil de gostar.

— Valeu.

— Não foi nada.

— Então por hoje é só, pessoal — ele fez uma voz fina, imitando vários youtubers (inclusive ele mesmo em uma fase específica), e eu gargalhei. — Espero que você não acabe comigo — brincou. — Com minha reputação.

E, apesar de ter sido uma brincadeira inocente, aquilo me deixou preocupada.

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