Distância
Eles se acostumaram na velha casinha de boneca. Era o lar de suas felicidades e absorvia os ares tóxicos a serem inalados agora. Ela era uma deusa intocável de mãos suaves e dedos hábeis, era a magia da escrita que sobrevoava sobre a ponta de seus membros, os pincéis e as penas fluindo sobre o papel que ela escrevia com uma doce classe de moça jovem. Seu rosto era impenetrável, seus véus densos de renda enriqueciam o mistério de sua figura e o leve vento que o levava para cima transparecia uma pele de pêssego com bochechas avermelhadas e tímidas. Magno envergonhou-se na presença da jovem, o véu de renda fino revelando os olhos decepcionados aos quais ele evitava. O cavalheiro já não sabia mais a cor deles.
Diferente de dias em que não pararia de encarar aos seus olhos, naquele último encontro de 5 anos ele não conseguia encará-la na loucura de suas drogas, não conseguia ver algo além dos cachos alaranjados escorrendo por sua nuca em seu coque frouxo enquanto suas mãos continuavam a encantá-lo na delicadeza de seu toque sobre o pincel. Ela usava luvas, mas ele sabia haver calos em suas palmas. As mãos há muito antes tocadas parecendo seduzi-lo antes mesmo que a moça o notasse pelo canto de seus olhos.
Quando ela o fitou a leve brisa ergueu parte do véu, e interiormente o poderoso homem estremeceu com um arrepio que surgiu em seu pescoço. Foi como um calafrio escalando todo seu corpo até que ele se sentisse tonto demais para continuar em frente com seu passo. Rosalyn continuava com aquele olhar de mágoa que ele odiava, aquele olhar que o constrangeu tanto que o impediu novamente de encará-la.
A lembrança que tinha de seus olhos era somente a cor morta do véu, contudo ele lembrava de suas irises serem da mais brilhante e suave das cores, aquela que parecia tão presente e ele não conseguia dizer o nome.
"Nem mesmo olha-me no rosto."
Ela comentou em seu desprezo. Perdão fluindo em suas ações, mas rancor permanecendo em suas expressões. Ela ajeitou sua gravata antes de deixá-lo partir novamente, ele passou três horas na casa dela mas ambos não conversaram, foi um silêncio enlouquecedor, uma sensação penetrante de saudades, algo que ele aguentou até que o sentimento fosse pesado demais para segurar na frente da dama, então Magno partiu pela noite e seu coração pesou ainda mais de culpa. Ele não queria chorar mas acabou acontecendo, olhar para o céu na manhã seguinte o lembrou da cor dos olhos de sua dama: o azul celestial do qual apenas ela tinha. Eram duas safiras impenetráveis e cortantes, como lâminas de brasa o atacando indiretamente.
Quando arrumou as malas para retornar à Austrália, ele passou fronte a porta de sua casa, quis voltar na noite anterior e falar tudo o que deveria dizer, ou que ele achava o certo a dizer, contudo soube que a mulher não o permitiria entrar novamente. Ela vigiava a porta de sua casa sentada na varanda e o encarava com lamentações frias em sua passagem, ela fumava um cigarro e trajava um longo vestido liso de flores, sem luvas, as mãos desnudas capturaram o olhar masculino, e o desejo irresistível de tocá-las o afugentou para longe da dozenla novamente. Ela contorceu o rosto ainda mais decepcionada e o chamou de covarde pelas costas. Ele não a ouviu, mas sabia que ela o dissera minutos antes de voltar para casa, se a conhecesse um pouco melhor, diria que ela desejava que ele entrasse com ela.
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