A Rainha dos Bailes
Eles foram a uma festa qualquer. Um baile de gente rica somente. Magno os odiava, ele sempre faltava, mas sempre era convidado. Entretanto, sua dama era uma frequentadora ativa dessas festas e quando encontrou o convite sobre a sua mesa de escritório, ela não deixou de perguntá-lo se iriam. O homem respondeu que não, que não sentia vontade de sair à noite e que possuía uma leitura pendente de um novo livro que comprou, Rosalyn, porém, mostrou interesse e disse que iria, e como era quem ele era, Magno acabou por acompanhá-la sem muitas hesitações.
Ele ia para onde ela ia, não a perseguia mas sempre queria estar presente nos lugares em que ela se mostrava presente, em consequência, na festa, foi onde ele descobriu essa parte festeira de sua dama. Ela era ativa e muito popular entre os cavalheiros, sua fama a levou para o apelido de Sucúbus dos Salões, e Magno repugnou-se ao ouvir o apelido pela primeira vez. Não gostou que a beleza da senhorita fosse comparada a de um demônio do sexo e enojou-se quando um homem pouco conhecido dissera isso com o maior sorriso que já vira em seu rosto, o homem inocente não sabia que a dama vinha acompanhada de Magno, o instrospectivo que pouco comparecia e que permaneceu afastado dela por quase toda a festa, todavia, ao final da noite, tonto de nojo por todos os cavalheiros que a olharam longamente e comentaram luxuosamente sobre seu corpo, Magno minimizou sua distância da mulher e a puxou de surpresa ao salão. Fariam o que ele fazia de melhor, além de pintar quadros, desenhar e ler: dançar.
Fazia tempo que Magno não dançava e depois do show de horror contra seus ouvidos, ele sentiu que era o que mais precisava, estar agarrado e preso nos membros delicados da ruiva de olhos azuis, sem que pudesse recordar-se da multidão que os envolvia no mesmo local. O cavalheiro apenas apertou a mão da senhorita e enlaçou a cintura possessivamente, doente de frustração e vergonha, não resistiu ao desejo de esconder o rosto no ombro da mulher a que todos ainda pensavam estar solteira, e não censurou sua proximidade tentadora contra o pescoço dela, aproximando suas narinas daquele aroma floral que ele sentia em seu pescoço. Ela cheirava a flores silvestres e ele pensou ser pelo cheiro das flores de seu jardim, inundado pelas roseiras, pelos lírios e pelas begônias que ela mais amava, a mulher veio envolta de camélias artificiais e sorria com o rosto vermelho pelo calor de seu cavalheiro. Ela tentou encará-lo, mas ele sempre desviava o olhar, e então, cuidadosamente e suavemente, a mulher sussurrou encostada na cabeça dele:
- O que houve?
Pergunta simples.
Respostas complexas.
- Não sou bom.
O sussurro trêmulo verberou com um leve tom de choro e não querendo vê-lo chorar entre tantas pessoas, a mulher o acalentou um pouco e o permitiu esconder mais ainda o rosto contra seu corpo.
- Pode explicar mais?
Ela pediu, ouvindo depois sua voz abafada e quase irritada.
- Todos olham para ti como se fosse uma sereia os encantando. Falam do teu corpo como um brinquedo... Eu não gosto.
Rosalyn não evitou sorrir.
- Estás com ciúmes?
- Estou com medo.
- De quê?
- De que encontres melhor do que eu e queira me deixar.
Ele nem conseguiu pronunciar a palavra "outro", pois pareceu pesada demais para sua mente. Ele preferiu evitá-la, uma vez que não era sua hora de chorar.
- Magno, eu te amo.
- Eu sei...
Ele sabia. Mas ainda tinha medo.
- Não precisas ter medo. Não irei te trocar. Não sou mulher de deixar um homem por outro, e mesmo se fosse, não deixaria alguém tão bom escapar. O senhor não é inferior à ninguém.
Ele não pensava assim, mas deixou que ela continuasse.
Rosalyn sussurrou outros confortos, ela contou sobre suas qualidades, mas ele ficou surdo para tudo que ela disse, seus lábios foram ao pescoço feminino e beijaram ali, sentindo o leve estremecimento de sua figura depois que os dentes começaram a encostá-la suavemente. A sensação a deixou tensa e Rosalyn olhou ao redor intimidada, ninguém os via ou percebia seus movimentos, cada qual afundou-se na perfeita sincronia de seu par e com os dedos entrelaçados, eles bailavam tal como a dupla que acompanhamos, completamente alheios aos demais dos arredores, e como estavam no centro do salão, ninguém de fora os podia acompanhar, então ninguém notaria a sutil troca de carícias, ou assim ambos esperavam.
Os carinhos se solidificaram mais intensamente quando subiram na carruagem, Magno aproveitou a presença do xale por perto e marcou todo o maxilar e pescoço, mordeu e chupou levemente, ouvindo o som baixo de contentamento que a mulher expressou em sopros contínuos de sua respiração. Todos se perguntaram o que eles eram um para o outro e o que faziam juntos naquela festa, a ativa Rosalyn rainha dos bailes e o introvertido Magno rei dos negócios, um par pouco esperado no local, duas entidades de boa presença social, mas de poucos pontos em comum. Alguns já estranhavam a ausência da dama em festas atuais, e outros estranharam a ausência do homem nos meios dos negócios, e os encontrando ali, juntos de braços dados, tão repentinamente, rendeu um balanço inquieto no jornal e prejudicou a paz do casal por alguns dias.
A ruiva reclamou incessantemente, ela não entendeu o porquê de Magno sorrir tanto para a notícia, contudo, depois que os cavalheiros pareceram desistir dela lentamente, a mulher enfim entendeu a razão de tamanha felicidade.
Rosalyn o chamou de duas caras, o xingou por um tempo em seu escritório e com risadas altas, o beijou antes de partir. Ela também gostou que pudesse ter todos os homens longe de si mesma, enfim, contente por ter apenas aquele ao seu lado.
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