Prólogo
Querido diário. Hoje imaginei. De Novo. Ééé! Mas fala sério, eu gosto. Alguns diriam que sou louca se contasse. E é exatamente por isso que a partir de hoje só irei dividir isso contigo. Ou talvez seja pela falta desses "alguns" na minha vida.
Porém, "presumindo" que você irá se comunicar ou no mínimo me ouvir de alguma forma, como uma criança carente e ingênua faria, prefiro continuar sem ninguém para tornar a minha vida pior do que ela já é. Ter você e a minha imaginação já é bastante, o suficiente para mim. O suficiente para uma criança ingênua como eu. Até porque, as oportunidades não me convêm muitas vezes... E quando convêm, eu fujo. Enfim, quem iria se interessar em saber da vida de uma idiota que sofre bullying, seus pais são viciados, tem uma irmã mais velha com câncer e uma irmã caçula cujo tanto ama e não quer decepcionar. Que como "hobby" ou válvula de escape, projeta imaginações em sua mente e em algumas vezes as vivência como se fossem reais. Que mesmo vivendo em dois mundos, o real e o da sua imaginação, talvez não seja o suficiente para ela. Não... Só um diário é o suficiente.
Viajar em meu mundo particularmente mágico se tornou um hobby vicioso, eu admito. É como em um mundo em um jogo. Todavia, não utilizo aparelho tecnológico algum, somente a minha mente. Para que você possa ter uma ideia, hoje pela manhã eu estava andando em direção à padaria quando levantei minha mão direita por cima das plantas de uns jardins que eu encontrava pelo caminho. O tempo não tão quente, a calmaria na rua e o toque macio das flores me ajudaram. Delicadamente, comecei a imaginar como eu queria que tudo fosse... Não era difícil, nunca foi.
Como se dançassem em direção à minha mão, as plantas cresciam na medida em que meus dedos se cintilavam por cima delas. Era um tanto gostoso. Um momento perfeito para entrar em meu universo particular.
Entrei em um beco, largo até, e em um momento repentino comecei a flutuar. O som da música transmitida para meus ouvidos pelos fones me ajudaram a me conectar em uma trilha gostosa de se ouvir.
Minha roupa naquele momento, quando vi, já não era mais a mesma. Desta vez era como a de uma fada, ou algo parecido. Eu estava me sentindo poderosa, conseguia sentir o poder em minha respiração até.
Com os olhos fechados respirei fundo enquanto direcionava meu rosto em direção ao sol. A estrela mais poderosa já conhecida. Eu conseguia sentir seu calor, sua energia...
— Isso é muito bom!.— Gritei alto. O entusiasmo me consumiu naquele mesmo momento em que esbanjava risos de felicidade que ecoavam pelo local.
Como flechas, uma enorme chuva de bola de fogo ameaçou a cair em minha direção. Fora obra da minha imaginação, certeza. Mas eu gostava dessa diversão.
Em uma ação de impulso, levei as duas mãos para o alto e com um gesto, (como se eu limpasse o ar) as bolas de fogo viraram cinzas levadas pela brisa daquele momento, antes mesmo de chegarem perto de mim.
Em um gesto repentino em um pequeno espaço de tempo o suficiente para piscar os olhos, tudo ficou sem cor. Como se estivesse se apagando. Eu estava me desconectando. Minha mente me alertara de que eu precisava voltar ao mundo normal.
Quando me deparei, voltei ao mundo real, onde eu simplesmente continuei andando em direção à padaria, como se nada houvesse acontecido em minha mente, como se nada nunca tivesse acontecido.
Mas eu gostaria de mais! Desejava sentir mais. Eu me encontrava sedenta. Todo aquele poder em minha mente lutava para fluir de alguma forma. Não me conformando, fiz um gesto em minha mão, e na própria, vi um triângulo azul reluzente com gráficos matemáticos e uma aura azul em sua volta.
Estava tão distraída com os cálculos que nem ouvi a atendente me chamar.
— Pois não ?.— Alguém perguntou.
Toquei e movi o triângulo, o virando e o fazendo abrir outras opções.
— Ou! garota ?.— A mesma voz insistiu.
Olhei para frente e como quem ouviu pela primeira vez, percebi que uma mulher já poderia me atender. No momento, percebi o quão "estressada" ela poderia estar por ter esperado a minha "boa vontade" para fazer o pedido.
— Dois reais de pães, por favor. — Pedi enquanto discretamente fechava uma das mãos e com a outra a pagava.
Depois de um tempo aguardando, a própria me trouxe os pães. Não pareceu ter guardado rancor. Quando agradeci, ela até chegou a sorrir. Sério, nem eu imaginei. Gentil e educada, retribuí o sorriso e dei meia volta. Nas voltas para casa, sempre abominei os ruídos e barulhos que ecoavam pelas ruas. De um modo que penetrava em meus ouvidos, aquelas pessoas com suas reclamações sobre suas vidas e comentários sobre as vidas alheias agiam como uma multidão gritando com desespero por estarem sós. Com o tempo, passei a me esforçar para ignorá-las. Dando continuidade, voltando para casa, ignorei qualquer tipo de olhar retórico alheio, qualquer som supérfluo.
Nesta volta, percebi que o sol não estava tão gostoso como antes... Ele estava quente, muito quente. Estranhamente de um momento para outro. Se bem que acabei demorando demais para fazer o pedido.
Sabe quando a volta para casa se torna entediante, enfadonho, sacal, ou melhor dizendo, massante? Então, naquele momento eu comecei a pensar em como seria ótimo poder voar e voltar para casa, ou até me teleportar. Seria muito melhor e fácil, com certeza. Mas como nem tudo são flores, caminhei até a pista que eu atravessava sempre, sem perder o foco de olhar para os lados, óbvio, como sempre. Todavia, não, nunca foi comum, pois em minha cabeça, calculava o tempo e tudo mais. Ao atravessar, levantei minha mão esquerda ao ar e a fechei, como se estivesse prendendo algo com ela. Não foi diferente naquele dia. Em minha mente os carros ficaram lentos o bastante para que eu conseguisse passar.
Era como se tudo o que eu vivesse no mundo real, se tornasse um gatilho para que eu conseguisse me mover pelo meu mundo particular. O mundo onde tudo que eu imaginasse, poderia acontecer, tudo o que eu quisesse poderia ser construído e feito, mas, apenas naquele mundo.
Chegando em casa, coloquei a sacola com os pães sobre a mesa da cozinha e subi para me deitar na cama. Sofia, minha irmã caçula, ainda estava dormindo então eu poderia dar mais uma cochilada.
Fechei meus olhos e pus minhas mãos acima de minha barriga. Respirei fundo, e deixei o sono me levar até o estado mais forte do meu mundo quase que perfeito.
~
Uma intensa neblina me cobria em uma noite vazia e intensa. Ao sentir seu frio cobrindo minha pele, também sentia o meu medo. Preocupada, comecei a correr para longe dali. Eu precisava enxergar melhor para saber com o que eu precisaria lutar. Ao olhar para as vestes em mim, percebi que não era uma comum, e sim com características de sobrevivência; preta. Aquelas que geralmente são parecidas com um típico masoquismo.
Por estar no estado mais forte do meu mundo — digo; sonho/imaginação — eu teria que demonstrar força de querer caso quisesse fazer algo mágico. Esse era o gatilho. Mas se eu pensasse em coisas ruins, as mesmas ganhariam vida neste mundo facilmente. Mais rápido e fácil do que eu conseguisse fazer algo normalmente.
Porém, por descuido meu, comecei a imaginar como seria uma cena de zumbis alí. Sei lá do porquê de imaginar essa cena, só veio à mente naquele momento e eu não pude bloquear tão rápido.
Seus olhos brancos e sedentos por mais sangue para se banhar, me atacavam um por um, enquanto seus "corpos" corriam atrás de mim.
— Droga!.
Mesmo desesperada, ao olhar para frente, fiz aparecer uma escada e eu consegui subir nela. Eu não faço a menor ideia de como eu sabia que havia uma escada naquele lugar, somente acreditei, pois a mesma se encontrava invisível. Porém, ao olhar para o lado e não ver a escada, passei a me preocupar pois ela talvez não pudesse ter efeito algum naquela forma, talvez ela nem estivesse realmente ali. Já não dava pra ver, agora é que não tem nada mesmo.
— Não, não, não! — Eu insisti, na tentativa de algo dar certo.
Eu precisava, então esforcei minha imaginação para começar a imaginar que eu estava voando. Não podia ter medo naquele momento. Caso contrário, morreria a cena ali.
— Consegui. Consegui. — Dizia, me dando ânimo e certeza.
Aquele som de bocas famintas e pele gosmenta por sangue que eles faziam, acabou me fazendo imaginar como seria horrível se eu caísse. E então, sem mais delongas, o mesmo acontece. Infelizmente, por eu estar demonstrando medo, acabo não conseguindo fazer mais nada. Absolutamente nada.
— NAAAO!. — Um grito de dor ecoou para todos os lados que pudessem ter.
~
Acordando daquele horrendo pesadelo, respirei fundo e tentei me concentrar ao máximo de que aquilo não havia acontecido realmente. Eu estava respirando de uma forma ofegante. Por uns segundos, enquanto eu me levantava da cama, tudo aquilo ainda parecia ter sido um tanto real. Chegando na cozinha, peguei um copo, o enchi com água e tomei. Pensei que talvez pudesse me ajudar.
Em casa sou eu, minhas duas irmãs e meus pais. Eles trabalham, então tenho que cuidar delas, por mais que uma delas seja a mais velha.
Tomei o restante da água que havia no copo, lavei, pus para secar e comecei a preparar o café da manhã.
— Sofia, vem tomar café da manhã. — Ecoei minha voz vinda da cozinha.
Com seus passos lentos e delicados, ela veio e se sentou próxima da mesa do jeitinho que eu ensinei. Que orgulho.
— Pra quem tem apenas três anos até que você é rápida. — Disse colocando leite de coco em um copo e dando a ela, acompanhado de um sorriso.
Sofia com seus pés sendo sacudidos debaixo da mesa, deu uns risos em troca, usou seus dedinhos fofos e tomou um gole do seu leite de coco.
— Vou arrumar a casa. — Disse pondo o meu copo sobre a pia. — Comporte-se.
— Tá.— Respondeu ela tentando pegar um biscoito do pote que estava acima da mesa antes que eu a ajudasse.
De um modo ligeiro comecei pegando os copos sujos pela casa e os pondo na pia. Voltando, peguei as roupas jogadas, tirei os tapetes, limpei os sofás e comecei a limpar o chão. Terminado, pus tudo no lugar depois de passar um pano nos móveis. Tudo isso, para que quando meu pai chegasse, não reclamasse, já que esse parecia ser o seu hobby mesmo com a casa arrumada. Isso que dá ser a irmã mais velha.
Nesse dia meu pai chegou bem, enfim. Nada como um dia dele chegando em casa com uma expressão não muito agradável (comum). Odeio quando ele chega em casa rindo à toa, falando desnecessariamente e agitado... Por quê... ah, Problemas. Pelo menos desta vez tudo correu bem. Então aproveitei que eu estava de férias do colégio ainda e me deitei na cama novamente para descansar. Por mais que fossem os últimos dias, eu precisava usufruí-los. Era quinta, conforme as regras ditadas, eu não poderia sair para andar pela rua a não ser que fosse nos finais de semana. Então, todavia, mais tempo em meu mundo particular, cujo tanto aprecio.
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