41 | Para o Submundo
Atenção:
Esse capítulo contém violência explícita e assassinato.
Leia por sua conta e risco.
O corpo decapitado do reverendo caiu lentamente de joelhos, o sangue jorrando quando sua cabeça caiu ao lado, seu corpo tombando na outra direção.
O silêncio durou longos segundos e os membros restantes da seita ficaram paralisados, a expressão de adoração em seus rostos rapidamente se transformando em choque e terror.
— Não... — um deles murmurou, os olhos arregalados. — Isso não era para acontecer...
Ainzart olhou para os membros daquela seita com uma arrogância e desdém dignas de um demônio, um sorriso desdenhoso surgindo em seus lábios.
— Vocês, idiotas... — sua voz ecoou pelo templo, profunda e cortante. — Achavam mesmo que conseguiriam me usar? Me controlar? — e soltou uma gargalhada rouca, como se aquela ideia dos humanos fossem ridículas. E elas eram.
Lissandre estremeceu, o coração falhando enquanto sentia que aquilo havia sido dito para ele, uma facada certeira em qualquer ilusão que havia criado sobre domesticar aquele antagonista louco.
Os membros começaram a recuar, o terror estampado em seus rostos. Alguns caíram de joelhos novamente, suplicando, mas Ainzart não parecia interessado em suas preces.
Lissandre observava a cena com um misto de horror e alívio. O reverendo estava morto, mas as garotas ainda não estavam à salvo, Ainzart poderia querer matar todos naquele templo. Ele pressionou a mão contra o ferimento entre as costelas, tentando conter o sangue enquanto lutava para se manter consciente, ciente de que pelo menos ele não entraria no radar daquela besta. Ou pelo menos torcia para esse ser o caso.
— Você vai ficar bem, Noah, eu... e-eu estou aprendendo alguns feitiços, mas a mamãe é ótima curando os outros, vai te deixar bom outra vez... — Anastácia disse, tentando soar confiante, mas sua voz ainda era embargada, a face molhada pelas lágrimas.
— Nós temos que sair daqui... — Kalil os lembrou, erguendo as duas garotas desacordadas e Lissandre acenou, abraçando o livro com uma mão, tentando se levantar com o apoio de Anastácia.
No centro do templo, Ainzart virou-se novamente, encarando os membros restantes da seita. Ele ergueu as asas, e a energia no templo começou a mudar.
As paredes do templo começaram a rachar, e o chão tremeu violentamente quando as sombras do chão se ergueram, como uma onda em suas direções. Os membros da seita tentaram fugir, mas muitos foram engolidos pelas sombras, que se agarraram em suas pernas como tentáculos, os puxando. Ainzart não mudou de expressão, fazendo as sombras esmagarem ossos, carne, o sangue explodindo, se misturando aos gritos dos membros daquela seita.
Lissandre, com a ajuda de Anastácia, conseguiu se levantar, mas apontou para ela erguer a outra garota, insistindo em ir sozinho.
— Vamos! — Kalil sussurrou e a pequena criatura felpuda surgiu novamente, latindo e puxando a barra da roupa de Anastácia, como se tentasse ajudá-los.
Lissandre estava com dificuldade até mesmo de respirar, os últimos membros daquela seita estavam mortos, mas o templo estava desmoronando, ele não queria voltar, nem enfrentar aquele demônio, quando uma dor aguda atravessou seu corpo.
Ele tentou ignorar, mas a sensação se intensificou, como se algo o estivesse dilacerando por dentro. Ele cambaleou, uma mão indo até as costelas, um estalo alto o fez arfar, sentindo algo quente fluiu em seu corpo, percorrendo cada músculo, cada órgão, cada veia, a dor que antes o paralisava se desfez.
Quando a sensação passou, ele olhou para a sua mão, a afastando e observando a leve marca do ferimento em suas costelas que se desvanecia, o corte havia desaparecido.
Ele virou a cabeça, vendo o demônio ainda parado no centro daquele selo, suas asas batendo de forma suave, seu corpo planando a quase trinta centímetros do chão, o encarando fixamente.
As últimas palavras do demônio quando o deixou na floresta vieram em sua mente: ele podia encontrá-lo em qualquer lugar, assim como matá-lo de qualquer lugar. Fugir não era uma opção.
O peso das palavras do demônio fez o coração de Lissandre disparar. Ele olhou para trás, vendo Kalil e Anastácia à distância, quase saindo por uma fenda na lateral de uma parede do templo, quando o rapaz, ao tirar outra das garotas, ergueu o olhar e o encarou.
Ainzart levantou uma mão, o ar ao redor dele se distorcendo como se uma fenda estivesse prestes a se abrir.
— Vem aqui, humano. — a voz do demônio soou baixa e Lissandre se virou para encará-lo, vendo-o estender a mão em sua direção, o chamando.
— Noah! — a voz de Kalil o fez saltar, o encarando alarmado. — Ele é um demônio invocado, não pode deixar o selo sem um pacto! Vem rápido, quando o selo se fechar... — dizia, quando sua expressão mudou, olhando na direção do demônio em choque ou quem sabe, pânico.
Lissandre seguiu sem olhar, vendo Ainzart agora fora do selo, seus pés tocando suavemente o chão quando um sorriso surgiu em seus lábios, suas asas se abrindo de forma preguiçosa, como se se espreguiçasse.
— O que disse, humano? — seu tom era cheio de zombarias e Lissandre sentiu o coração falhar.
É, fugir estava fora de questão, mas um temor ainda maior do que ser morto surgiu: o demônio matar aqueles dois que só tentaram ajudá-lo.
Viu como a fenda no selo parecia se distorcer, como se estivesse prestes a se fechar, talvez se empurrasse o demônio, ele seria arrastado para o submundo? Aquilo era uma fenda, um portal para outra dimensão, qualquer um podia ver isso, mas ele conseguiria empurrar Ainzart?
— Noah... — Anastácia o chamou e, após uma rápida olhada para aqueles dois, Lissandre cerrou a mandíbula, dando a volta, seus dedos se apertando ao redor do livro ao caminhar na direção do demônio.
O sorriso de Ainzart se aprofundou. Pretendia perseguir o humano e matá-lo caso seguisse aqueles dois cabelos de algas, suas asas se abriram e ele planou de volta para o selo e Lissandre parou diante dele, hesitante. Por um breve momento, ele se virou, dando uma última olhada para os irmãos. Kalil estava tentando se aproximar, mas estava longe demais para alcançá-los. A expressão do rapaz era desesperada, quase como se o visse saltar para a morte.
Ele se virou novamente para Ainzart e ergueu o livro, estendendo-o em direção ao demônio, mas antes que o entregasse, a mão de Ainzart se estendeu também, puxando seu pulso enquanto a outra mão envolvia sua cintura, o erguendo de uma vez e o puxando contra seu corpo, surpreendendo Lissandre ao ser arrastado pra dentro do selo, o som da fenda se quebrando o atingiu como um soco, a energia dentro do selo era dolorosa, como se facas o cortassem de todas as direções, rasgando até os ossos.
— Vou te mostrar meu reino, coisinha feia. — a voz do demônio soou zombeteira aos ouvidos de Lissandre, que mal conseguiu entender o que ele quis dizer com isso.
O mundo pareceu girar ao seu redor enquanto a realidade se distorcia, sabia que não teria volta, seu coração pesou e cerrou a mandíbula, se impedindo de gritar pela dor. Ele olhou para trás uma última vez, para os dois que deixava para trás, Kalil gritou seu nome (não, não era seu nome, era o falso nome, Noah), mas Lissandre não respondeu.
O selo se rompeu, uma fissura na realidade se formou entre os mundos e um portal de pura escuridão se abriu, uma forte força os impeliu para fora, como se o mundo banisse suas existências. O mundo que ele conhecia desapareceu, e ele sentiu o ar se tornar mais pesado, mais denso, enquanto o chão desaparecia sob seus pés.
Lissandre mal suportou a expulsão do mundo, seu corpo já fraco foi pressionado e forçado para outra realidade, sua consciência se esvaiu num segundo, não viu quando a criatura felpuda saltou atrás dele na fenda que se quebrou, nem quando o demônio fechou as asas ao seu redor para impedi-lo de se quebrar com o impacto, tudo desapareceu num instante.
Quando ele lentamente despertou, viu um céu vermelho como sangue acima de si. O ar cheirava a enxofre e sangue, seu corpo estava caído em uma superfície arenosa e seus olhos se moveram ao redor, vendo apenas uma vastidão sem fim de cinzas e pedras.
Ainzart estava ao seu lado, mas algo estranho acontecia com o demônio. Sua aparência estava mais ameaçadora, mais sombria, como se o lugar onde estavam o estivesse tornando mais poderoso. Lissandre, ainda atordoado, tentou se levantar, mas o cansaço o tomou rapidamente. Seus olhos se fecharam involuntariamente, e sua consciência se foi outra vez.
A última coisa que passou pela sua mente antes de desmaiar foi que aquele demônio maldito o havia arrastado para o inferno.
Fim do Arco I
A Autora tem algo á dizer:
E finalmente fechamos o primeiro arco!!
✧*。٩(ˊᗜˋ*)و✧*。
Não sabem o quão feliz estou por chegar finalmente aqui! Estava um pouco indecisa entre separar a obra por livros ou arcos e talvez eu mude de ideia no futuro, mas por enquanto, vou seguir mantendo ela em arcos, pois seria maldade terminar o livro 1 com o pobre Lis lá no quinto dos infernos, não é? Kkkkk
Esse arco foi inteiramente focado no Lissandre, ainda tenho algumas coisinhas pra acertar aqui e ali, mas em breve, terei tudo organizado, tenham paciência comigo ୧(﹒︠ᴗ﹒︡)୨
Algumas coisas serão abordadas no segundo arco, mas outras serão deixadas de molho para o arco três e o que eu estou mais ansiosa pra postar (ainda bem que o arco dois é o mais curto, humildes trinta e poucos capítulos (•̀ω•́)✧), espero que continuem comigo até lá e por favor, tenham paciência com esse casal abilulados, o slowburn aqui não está de enfeite \(;´□`)/
Enfim, até mais! Beijocas!
( ˘ ³˘)♥
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