30 | Desaparecimentos
Enquanto servia a mesa, Léia mandou a filha atrás dos outros enquanto Lissandre tentava ajeitar as roupas e o cabelo, se sentindo desconfortável, quase como se usasse peças íntimas diante de estranhos.
Aquele pijama lhe caía como uma luva, mas ainda não parecia adequado para socializar, embora isso não parecia importar para aqueles plebeus simplórios. Estava pensando em se esconder no quarto quando o riso de duas crianças invadiu a sala, aquelas crianças que o espiavam da janela entraram correndo com seus cabelos num tom verde musgo. Usavam roupas simples, mas bem cuidadas, agora sujas de terra.
Os rostos estavam suados e eram cheios de sardas, com olhos castanhos assim como Léia e Anastácia que entrou logo em seguida. Pessoas com cabelos assim eram aqueles que possuíam núcleos de maana, então ele considerou que todos ali tinham habilidades, diferente dele que, apesar do cabelo e olhos exóticos, mal conseguia soltar uma faísca.
— Cuidado, Irick, você vai cair! — Léia exclamou quando o garotinho se pendurou na pia, a fim de molhar o rosto. — Vai para o banheiro, garoto! Temos convidados, pelo menos finge que tem modos! — ela estapeou a bunda do menino, que riu saltando e correndo pelo corredor.
O outro garotinho encarava Lissandre fixamente ao ponto de deixá-lo desconfortável e Anastácia deu um tapa na cabeça dele para que seguisse o irmão para se lavar no banheiro.
— Crianças, sabe como são... — Léia soltou um riso curto, começando a servir a mesa. — Aqueles dois são meus caçulas, Irick e Briar. São um pouco atentados e curiosos, não se preocupe com eles. Ana, pegue aqueles pães do armário pra mim e depois separe a marmita pro seu pai e pro seu irmão. — a garota obediente, tirou uma sacola de papel com vários pães de um armário, antes de buscar duas tigelas e servir uma quantidade generosa da comida. — Meu marido e o mais velho estão nos campos agora.
— Mamãe, já lavei! — um dos garotos veio saltitante com o rosto molhado e as roupas ainda sujas, mas as mãos pareciam limpas ao se sentar ao lado de Lissandre. — Você é muito bonito, de onde veio?
— Ei! Eu que ia perguntar! — o outro garoto veio correndo e empurrou o primeiro, os dois brigando pra ver quem se sentava ao lado de Lissandre, mesmo que a outra cadeira estivesse livre.
— Eu já perguntei, o que isso tem a ver com você? — o primeiro fez careta, levando um puxão de cabelo, resultando numa troca de tapas que Léia teve de intervir, puxando a orelha de ambos e mandando que se sentassem longe de Lissandre.
— Estão incomodando o menino, suas pestinhas curiosas! — Lissandre espremeu os lábios por um instante, contendo o riso ao ver os dois fazendo caretas e se xingando em silêncio para evitarem outro puxão de orelha da mãe que havia voltado a servir a mesa.
Mesmo desconfortável e deslocado na mesa, Lissandre se serviu sem cerimônia alguma quando todos estavam à mesa. Estava faminto, sequer sabia a última vez que experimentou uma refeição decente e para ele, que viveu à base de frutas por dias, o tempero caseiro daquela dona de casa parecia divino.
Soltou elogios elaborados para ela, que ria corada e feliz, sequer se ofereceu para ajudar a tirar a mesa e teve de suportar a curiosidade infinita das crianças, até que Anastácia os interrompeu e enxotou para fora, mandando-os brincar na rua.
— Céus, eles falam demais! — ela exclamou, apoiando as mãos na cintura. Ela era quase duas cabeças mais baixa que Lissandre, mas agia como se fosse mais velha ao encará-lo. — Mamãe irá até a casa da minha avó levar o almoço dela e eu levarei o do papai. Você estará bem sozinho por alguns minutos?
Lissandre considerou um pouco, vendo as duas já preparando lancheiras e mesmo que quisesse só se deitar e dormir o resto do dia, ainda tinha de descobrir de qual livro o demônio falava. Seu prazo era curtíssimo, e não queria ser torturado, então mencionou que queria passear pela aldeia e ver como era.
Depois de considerar um pouco, Léia concordou, mas insistiu que levassem uma sombrinha já que ele era tão branco, temia que acabasse queimado de sol ou tendo uma insolação.
Anastácia tirou um par de sapatos do irmão para que ele usasse, eram muito grandes para os pés de Lissandre e ele não queria usar coisas de outras pessoas, mas sua situação não o permitia ser mesquinho. Com relutância, calçou os sapatos e seguiu Anastácia para fora.
A casa ficava em uma boa localização, com vizinhos em ambos os lados e na frente, algumas donas que saíam com lancheiras os cumprimentou, lançando olhares curiosos para Lissandre que usava sapatos enormes e carregava uma sombrinha. Mesmo com faixas e curativos, ainda parecia muito bonito, seus olhos azuis destacavam-se na pele pálida e o cabelo prateado dava um ar ainda mais exótico à ele.
— Esse é o rapaz que acharam na beira da floresta? — uma das vizinhas perguntou e Anastácia acenou, não estendendo muito o assunto dizendo que se atrasariam pra qualquer compromisso. Quando já estavam longe o suficiente, ela se inclinou na direção de Lissandre.
— Não dê muito assunto pra essa mulher, ela tem a língua solta. Espalhou pra aldeia toda que o encontramos na beira da floresta, saiu dizendo que "colhemos uma fada". — e bufou, pro divertimento do Lissandre.
Já havia sido chamado de muitas coisas nessa vida, entre elogios e ofensas, mas fada? Essa era nova.
O design da aldeia era similar às cidades mais movimentadas, mas com ruas de terra batida, casas de pedra ou madeira, dispostas em fileiras iguais direcionadas ao centro da aldeia. As plantações ficavam em uma zona mais distante das casas, cercado por muros. Lisdandre pôde ver muitas casas com cercas baixas que criavam alguns animais e outras com pequenas hortas nas laterais. As pessoas eram simples, crianças corriam por aí com as roupas sujas e algumas menores nem usavam roupas. Corriam desgovernadas atrás de algum cachorro ou usando paus como espadas, enquanto algumas pessoas trabalhavam e seguiam suas vidas.
— Nossa aldeia está pouco movimentada agora que a maioria dos homens estão nos campos. — Anastácia explicou. — Geralmente tem muitos pequenos comerciantes e barracas abertas, mas depois de amanhã haverá uma feira na praça no centro da aldeia.
— Uma feira? Como... as da cidade do porto? — Anastácia o olhou confusa por um momento. Nunca havia deixado a aldeia, então não sabia como seria a feira de outros lugares.
— Não tenho certeza, mas é bastante divertido. Acontece a cada quinze dias, vendem muitas coisas e pessoas de outras aldeias vem aqui para participar. Vendem de tudo, comidas, tortas, queijos, animais, tecidos... acho que até lá estará bem o suficiente pra participar, mas mamãe não me deixa ir sozinha já que recentemente... — suas palavras pararam enquanto ela olhava ao redor, se aproximando um pouco dele com um ar conspiratório. — Recentemente muitas meninas tem desaparecido. Não só aqui, mas nas vilas ao redor. É outra razão para a maioria das mulheres preferirem ficar em casa ultimamente, para ficarem de olho nas crianças já que todas que sumiram eram mais novas que eu. — e suspirou, antes de contar mais sobre a feira.
Lissandre fingiu prestar atenção enquanto sua mente se prendia no que a garota havia dito: meninas estavam desaparecendo em diversas aldeias, ninguém sabia como, nem para onde iam, elas apenas desapareciam assim, de repente.
Um calafrio desceu por sua espinha ao pensar no demônio. Se já faz dias que ele estava ali, poderia ter feito isso?
Demônios eram criaturas esquisitas, com impulsos acima da razão, se ele quisesse sequestrar alguém para comer ou se saciar sexualmente, o fariam sem hesitar. Mas por que sequestrava apenas crianças?
Continua...
A Autora tem algo á dizer:
Irick Hernande
Idade: 8 Anos
Altura: 1,57
Alfa Comum
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Briar Hernande
Idade: 8 Anos
Altura: 1,56
Alfa Comum
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