15 | Ultimato
Com uma pessoa ferida caída bem diante de si, Mirabel sequer hesitou em apoiá-la, a fazendo se deitar no chão antes de começar a tratar seus ferimentos com sua magia.
Felizmente, não parecia algo grave, mas ainda causou algum alvoroço na guilda enquanto ela carregava a garota para o segundo andar, onde ficava alguns quartos onde aventureiros sem lugar podiam descansar.
O atendente Gus, as seguiu de perto, impedindo que qualquer outro os seguisse, considerando que ela poderia ter alguma reação extrema ao acordar com várias pessoas ao redor.
Quando apoiou a menina na cama, verificou se havia outros ferimentos como os de sua perna, mas além da exaustão física e desidratação, não havia mais nada. Usando uma magia simples de água, limpou seu corpo antes de olhar de relance para Gus, que esperava na porta, um sinal para que as deixasse sozinhas.
O homem entendeu, fechando a porta ao sair e Mirabel retirou algumas peças simples para trocar as roupas rasgadas dela, mas no instante em que desabotoou sua camisa, a garota despertou de repente, seus olhos se arregalando em pânico antes de afastar as mãos de Mirabel e saltar para trás, encarando Mirabel alerta.
— Calma, está tudo bem. — Mirabel ergueu as mãos em sinal de rendição, tentando mostrar que não representava perigo, mas a garota ainda desorientada tentou sair da cama, quase caindo do outro lado e cambaleando ao pisar no chão.
Mirabel retirou o emblema do templo, explicando brevemente quem era e viu como a menina relaxou um pouco, seus olhos vagando ao redor por um instante enquanto acenava devagar.
— Eu apenas queria trocar suas roupas, estão rasgadas e... bem, revelando muita coisa. — disse com algum tato, tentando não envergonhar a garota que tinha parte dos seios expostos, além das coxas e até parte do bumbum.
Ao ouvir isso, um tom rubro surgiu no rosto da garota, que se encolheu. Parecia muito nova, seu corpo ainda começando a se desenvolver com a puberdade, o rosto ainda contendo alguma graça infantil, os cabelos curtos castanhos avermelhados e os olhos em um tom cinzento, parecia ainda mais jovem agindo tímida.
Mirabel a acalmou e sugeriu um banho para ela se limpar enquanto ela buscava algo pra garota comer e beber e a menina concordou após hesitar um pouco. Tinha interesse em saber o que a fez chegar naquele estado, mas antes preferia vê-la curada e bem, era o mais importante no momento.
Não precisou ir longe, quando alcançava as escadas para o primeiro andar, Gus surgiu subindo, segurando uma bandeja com uma sopa e pães, além de um copo com água. Ela pegou a bandeja e ia seguir para dentro do quarto, quando parou por um momento, resolvendo fazer seu pedido de uma vez.
Retirando a carta discretamente, a entregou nas mãos de Gus.
— Quero que contate a guilda dos informantes, faça com que essa carta chegue ao palácio. — e estendeu seu emblema, além do selo imperial que conferia ela prioridade entre qualquer pedido.
Gus não esboçou reação ao ver o selo imperial, acenando ao perceber que ela queria alguma discrição com o pedido.
Ao entrar no quarto, Mirabel esperou a garota sair do banheiro com as roupas que ela havia separado e quando mostrou a bandeja mostrando a comida, a garota arregalou um pouco os olhos, encarando a comida com expectativa.
Quando se serviu, não podia sequer considerar alguma etiqueta, comendo de forma voraz e até desleixada. Enquanto ela comia, Mirabel tratou de verificar com sua magia se havia algum outro problema em seu corpo, a garota não se importava de erguer um pouco mais a tigela de sopa ou estender uma mão ou outra para que Mirabel a verificasse aos poucos, a magia dela era suave e quente, a deixava confortável.
Nalim viu sua vila ser atacada por bandidos, muitos vizinhos e conhecidos mortos e que havia escapado durante o ataque no meio da madrugada, correu para a cidade mais próxima para pedir ajuda e enquanto explicava após se saciar, começou a chorar ao lembrar da irmã mais velha que não sabia se estava bem ou não e algumas outras garotas da vila que haviam sido sequestradas pelos bandidos, além de todos os conhecidos que foram mortos ou feridos durante o ataque.
Mesmo que estivesse assustada e receosa, ainda era uma criança que se sentiu confortável o suficiente com Mirabel para pedir ajuda. Quando a garota adormeceu após tanto chorar, Mirabel desceu para informar Gus e solicitar uma caça aos bandidos com todas as informações que Nalim havia passado.
— Suname? Essa vila era a mais segura daquela região. — Devon franziu as sobrancelhas e Helena se apoiou contra o balcão, enrolando uma mecha dos cabelos vermelhos no dedo, um olhar despreocupado enquanto acenava.
— É, bem seguro, com uns sentinelas meia boca e caçadores treinados no mato. — encolheu os ombros, olhando para Mirabel, que estava aflita. — Não se preocupe, Mira. Vão enviar alguns aventureiros fortes para lá e irão salvar essas garotas. — sorriu, mesmo que pensasse que a essa altura, as garotas sequestradas ou já haviam servido de objeto sexual ou já haviam sido vendidos para traficantes humanos.
— Vamos cumprir essa missão. — Mirabel decidiu, pro espanto dos outros dois que a encararam com olhos arregalados.
— Nem pense nisso, Mira! Temos uma missão urgente, não podemos mudar a rota só por... — Devon dizia quando Mirabel bateu o punho no balcão, mais irritada ainda.
— Não parece tão urgente assim já que paramos a cada três horas na estrada. Estamos tão lentos que até uma lesma chegará naquele lugar antes de nós, então qual é o problema de ajudar alguém pelo caminho?
— Mira, não é tão simples assim, parando para ajudar uma menina esfarrapada aqui ou um outro mendigo ali. — Helena a encarou irritada. — Precisamos partir o quanto antes pra...
— Para parar outra vez daqui duas horas e então, ficar quatro horas acendendo fogueira, comendo e vocês conversando alegremente como se não tivessem milhares de pessoas morrendo por causa de uma doença que eu poderia já estar investigando há dias se não estivessem servindo de peso morto! — ela explodiu, já irritada. — Um ou dois dias, que diferença faz? Vamos chegar lá daqui um ano mesmo, quando a doença tiver se espalhado por todo o país e quem sabe, chegado até a capital. Se eu puder ajudar alguém pelo caminho, seja uma menina esfarrapada ou um mendigo moribundo, eu vou ajudar! E não ouse me dizer o que devo ou não fazer, Senhorita Behenor, pois eu não lhe dei esse direito! — enquanto falava, se aproximou da alfa, que recuou ao vê-la com tanta raiva. Pela primeira vez, Mirabel aumentava o tom, assustando Helena e impressionando Devon, que arqueou ambas as sobrancelhas.
É claro que aquele grupo discutindo na frente do balcão atraiu a atenção dos aventureiros que vagabundeavam bebendo e comendo na guilda, alguns assovios soaram ao ouvirem o que ela havia dito, outros explodiram em uma gargalhada escandalosa, erguendo os copos.
— Isso mesmo, diga pra ele!
— Eu não deixava uma mulher falar assim comigo!
— Olhe para ela com raiva, é uma gracinha!
Diziam, voltando a beber como se observassem um show interessante.
— Eu farei essa missão e nenhum de vocês vai me impedir! — Mirabel estava decidida.
Continua...
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