06 | Sequestrado
Era um dia agitado na cidade, havia chegado uma infinidade de viajantes com algumas embarcações que vieram do exterior, uma equipe de teatro estava promovendo shows, aventureiros indo e vindo, diversos barcos atracavam no porto e a cidade parecia mais cheia do que nunca.
Enquanto aplaudia e rodopiava junto de estranhos na roda de dança, as empregadas rodopiavam ao redor tentando não o perder de vista. Lissandre riu, vendo uma empregada esbarrar em outra e então ambas tropeçaram em seus vestidos.
De repente, alguém segurou em sua mão e quando olhou pra trás, havia um rapaz ali, sorrindo pra ele num claro convite.
Como usava uma máscara negra cobrindo o nariz, a boca e o pescoço, concluiu que era um alfa e com um leve sorriso, se curvou e segurou sua mão, antes de começarem a dançar.
Por algum motivo, mais e mais pessoas se uniam à roda de dança e Lissandre fez questão de puxar alguns dos que estavam à margem observando.
Enquanto rodopiava pela roda trocando de par a cada volta, ele deslizou para fora, se infiltrando em meio à multidão que observava e enquanto se afastava. Olhando ao redor atentamente, teve certeza de que não era seguido antes de se apressar para o beco mais próximo e se escondendo atrás de uma lata de lixo, tirou o traje que usava.
Por baixo, usava uma bermuda, camiseta branca e tirando do anel espacial um par de botas, terminou de se vestir, antes de colocar um colar de ilusão que fez seus cabelos prateados se tornarem pretos.
Seus olhos azuis ficaram verdes e algumas sardas apareceram em seu rosto, que engordou um pouquinho, torcendo para que o colar de disfarce ocultasse sua verdadeira aparência.
Também havia desejado alguns brincos e piercings pelo rosto, um na sobrancelha, outro no nariz e dois no lábio inferior, além de cinco piercings em uma orelha e outros dois na outra.
Prendendo o cabelo em um rabo de cavalo alto, caminhou para fora do beco enquanto ajeitava o colar em seu pescoço. Também havia utilizado um adesivo supressor em sua nuca, ocultando seu rastro ômega, mas não teve coragem de retirar a máscara que cobria os lábios e nariz.
Saindo do beco, passeou um pouco entre as pessoas e até ousou esbarrar em uma das empregadas que o havia seguido e enquanto se desculpava, conteve o riso ao ver a garota olhando ao redor aflita e rapidamente se afastando, enquanto o procurava.
Não iria sair da cidade logo, então depois de encontrar uma pousada, alugou um quarto para os próximos três dias. Já estava anoitecendo quando viu da janela de seu quarto, alguns dos guardas que o acompanhavam na caravana.
Eles observavam atentamente os arredores e, em certo momento, começaram a parar algumas pessoas, que sacudiam a cabeça em resposta. Apoiando–se no parapeito da janela, ele sorriu vendo uma das empregadas que o seguia mais cedo, seguindo aflita aqueles guardas.
Estavam fazendo uma tempestade em copo d'água. O arquiduque daria graças a deus por aquele ômega problemático ter desaparecido. Quando se sentiu faminto, decidiu tomar um banho antes do jantar.
Retirando o colar, sua aparência original retornou, e depois de um longo e relaxante banho, ele se jogou na cama usando um pijama longo e verificou o espaço em seu anel.
Concentrando–se um pouco, guiou o pouco de maana que tinha no corpo até aquele colar que emitiu uma fraca luz que lentamente desapareceu e em sua consciência, surgiu um espaço que mais parecia um depósito. Havia duas longas mesas postas lado a lado e inúmeras estantes, além de outras mesas menores com alguns objetos e pergaminhos.
Em uma das mesas longas, havia uma quantidade ridícula de moedas empilhadas, moedas de drac, toten e lins, além de notas. As notas tinham o valor de cem lins, cada uma valendo mais dinheiro do que uma família média veria em toda a sua vida.
Em outra, havia alguns itens mágicos que continham feitiços e runas de uso único que serviam para fugas e disfarces. Também havia um armário, não muito grande e com uma quantidade modesta de roupas. Mantos, capas com capuz, botas, calças, trajes que para ele, um ômega, não eram permitidos usar.
As roupas no armário não eram assim. Shorts, bermudas, calças de couro, blusas, regatas e camisas de manga longa, luvas e havia até mesmo máscaras para cobrir o rosto, todos com runas de encantamento para mantê-lo aquecido ou dando alguns bônus de algum poder como velocidade ou resistência.
Na outra mesa longa, havia inúmeros pratos de comida que se conservavam pelo espaço, já que o tempo não seguia o fluxo ali dentro, também havia alguns livros, uma barraca para aventureiros e até alguns pergaminhos de barreiras mágicas de longa duração para afastar bestas demoníacas, mapas e bússolas. Estava completamente preparado.
Pegando um prato de sopa do anel, ocupou a pequena mesa do quarto e comeu enquanto folheava um livro. Depois de alguns pães, sopa e uma fruta, se sentiu cheio e se deitou para ler mais um pouco, até adormecer sem sequer apagar as luzes.
Nos dois dias que se seguiram, ele observou como o caos se instalava naquela cidade. Além dos guardas que o acompanhavam, havia os guardas reais perambulando por aí, interceptando carruagens, bloqueando a entrada e a saída da cidade e até impedindo partidas dos barcos nos portos.
Durante o banho naquela manhã, cortou os cabelos diante de um espelho. Seu cabelo que antes caía até a cintura, agora mal passava das orelhas.
Não queria se assemelhar com o possível retrato que espalharam dele por aí, mesmo que tivesse que se desapegar de seu cabelo que sempre foi tratado como um tesouro pelas criadas.
Depois de limpar a bagunça que havia feito, deixou o quarto para tomar café da manhã no restaurante da pousada.
Atraía olhares enquanto seguia até a mesa, mesmo com uma aparência diferente do seu eu original, ainda era muito bonito. Agora, com os cabelos pretos, olhos verdes e sardas, seria adorável se não fosse pelo corte de cabelo rebelde e os piercings, além de estar usando uma camiseta vermelha, shorts e tênis. Pelo colar, era obviamente um ômega, longe de parecer puro e delicado como qualquer outro ômega, atrairia atenção mesmo sem piercings e um moicano.
Depois que pediu o que queria comer, observou como aquele restaurante lentamente enchia de gente de todos os tipos, inclusive alguns demi-humanos. Para ele, era a primeira vez que os via.
Um tipo grande com o corpo coberto de escamas laranjas e amarelas, olhos de réptil e presas afiadas na boca, uma longa língua que sobressaía pela boca cada vez que a abria para abocanhar algo da mesa.
E então havia uma garota com orelhas de gato no topo da cabeça, a face era uma mistura humana e felina, com nariz e boca de gato, além de bigodes e pêlos rajados por todo o corpo. Ela tinha uma cauda felpuda se sacudindo em suas costas, Lissandre estava fascinado observando as diferentes raças pelo local até que um dos guardas entrou pela porta e cada músculo de seu corpo enrijeceu.
O guarda seguiu primeiro até um atendente atrás de um balcão, antes de voltar, os olhos atentos em cada um ali e Lissandre sentiu o coração parar por um instante ao ser encarado pelo homem.
Fingindo indiferença, tirou a máscara para se servir da comida que foi trazida por uma moça talvez mais nova que ele e mordeu um pedaço de pão, o sentindo seco e áspero na boca. A comida dos plebeus era mesmo insípida.
O guarda logo perdeu o interesse, aquele jovem ômega tinha a aparência inadequada, vulgar até. O jovem mestre era o completo oposto daquilo. Após verificar todos que estavam ali, o guarda deixou o restaurante e Lissandre, trêmulo, se ergueu e correu de volta para o quarto.
Os guardas estavam ocupados procurando pelo ômega desaparecido e mesmo sendo filho de um arquiduque, não poderiam impedir a movimentação da cidade portuária por mais de três dias, isso atrapalharia exportações e importações, seria problemático lidar com as consequências disso.
Na mesma tarde, pagou pela estadia na pousada e buscou por outra, para não correr o risco de se encontrar com outro guarda.
Podia coletar mais informações sobre o desaparecimento "daquele jovem mestre" e a mobilização que isso estava gerando na cidade. Boatos aqui e ali mudavam os fatos, e no final do terceiro dia, havia a notícia de que um misterioso homem havia agarrado um jovem com trajes brancos e o arrastado até um beco, antes de desaparecerem.
Lissandre estava impressionado com a maneira em que as coisas de repente se tornaram extravagantes, havia sido raptado por alguém segundo os rumores e o suposto homem já tinha até descrição: usava preto, botas preta, armadura de couro preta, um manto preto, cobrindo seu rosto, e tinha até cicatriz na face. Era surpreendente.
Mas se queriam criar toda uma história pela sua fuga, ele não iria impedi-los
Continua...
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