4 - Planos
"Homens mantém as mulheres sob seus domínios, pois sabem que se as libertarem, elas conquistarão o mundo".
— Lady Anastácia Lumb
O clube de cavalheiros The Royal fora fundado há algumas décadas atrás pelo pai de Any, o duque de Pennesburg, e desde a sua inauguração, todos os mais renomados Lordes londrinos ansiavam em associar-se ao Clube.
Quando Anastácia retornou a Inglaterra com Matthew, seu pai cuja idade já estava bem avançada, não era mais capaz de comandar o estabelecimento cujos lordes se tornavam mais exigentes a cada ano que passara. Por um momento, passou pela cabeça do duque vender Clube a qualquer cavalheiro que tivesse a capacidade de manter o nome e o status do referido estabelecimento. Contudo, para seu deleite Anastácia era demasiada competente nos negócios, além disso sua filha sempre teve uma boa mente para a contabilidade. Por essa razão, Lorde Thomas Lumb a incumbiu de assumir o comando do The Royal, embora soubesse que a presença de uma mulher na gerência de um clube de cavalheiros com certeza provocaria comoção entre os Lordes que não acreditavam no potencial de qualquer mulher.
Anastácia, todavia, jamais se importou com os homens ou tampouco com as regras da sociedade que nunca favoreciam as mulheres. Com muita determinação, ela assumiu o posto do pai e aos poucos foi ganhando a confiança e respeito dos associados do Clube.
Any era uma mulher viajada, conhecia os homens como a palma da sua mão. Ela sabia o que eles ansiavam; sabia como conquistá-los. No primeiro ano em que esteve sob o comando do clube, a Lady implantou um salão de esgrima com direito a instrutor para aqueles que gostariam de aprender a esgrimar. Aquela foi a sensação do momento. Muitos Lordes migraram para o clube devido ao diferencial que encontrava-se apenas no The Royal. Além disso, Any sabia que aquele deveria ser um local para negócios, mas também para diversão.
Na época de seu pai, o clube mantinha algumas damas da noite na folha de pagamentos. Tais mulheres serviam apenas para propiciar o prazer aos Lordes libertinos. Anastácia tinha noção de que precisaria manter as damas, ainda que não gostasse da ideia de ver as mulheres serem tratadas como objeto sexual. Mas se fosse para mantê-las, era necessário que elas tivessem ao menos seus direitos assegurados. Foi assim que Lady Lumb determinou que os Lordes teriam a melhor experiência sexual de toda Londres, desde que não forçassem nenhuma mulher. O ato teria de ser consensual, permitindo às damas a possibilidade de recusa caso assim desejassem. Além do mais, seus valores seriam demasiados altos e Anastácia não ficaria com nenhuma comissão. Ela não era capaz de lucrar em cima de mulheres cuja vida já tinha sido destruída ao ponto de venderem o próprio corpo de uma forma tão vil.
Claro que aquela foi uma ação deveras perigosa, Any correu o risco de perder associados ao cobrar valores tão caros por suas damas. Porém, a Lady estava determinada a seguir adiante com suas propostas, e no final, felizmente tudo correra muito melhor do que o esperado. As mulheres sentiam-se seguras em seu estabelecimento e puderam mudar significativamente de vida, algumas até tinham conquistado suas próprias propriedades. Os Lordes, por sua vez, tinham a melhor experiência com suas damas, do que poderiam ter em qualquer outro lugar de Londres.
Entretanto, apesar da prosperidade dos negócios, Any ainda não estava satisfeita. Frequentemente recebia em sua porta, à procura de emprego, mulheres grávidas que foram enganadas por homens que as abandonaram a miséria, bem como infelizes que foram violadas por familiares e já não mais serviam para o matrimônio. Aquelas situações a deixava revoltada. Ah como Any odiava o mundo que era tão injusto com as mulheres. Por aquela razão, ela decidirá abrir a Casa Minerva, situada no subúrbio londrino: um local que abrigava as mulheres desamparadas pelos homens e pela Coroa, concedendo segurança e a esperança que um dia lhes foram usurpadas.
— Any, por favor, perdoe-me. Juro que não a deixarei na mão da próxima vez. — Lucy suplicou, aos soluços, jogando-se aos pés da Lady, assim que ela abrira a porta do quarto que pertencia à jovem de pálidos olhos azuis cinzentos.
— Pelo amor de Deus, mulher! Levante! Não vejo motivo para tanto drama! — Anastácia revirou os olhos. Ela sempre soube que Lucy não era mulher para aquele tipo de serviço. Só a jovem ainda não tinha se dado conta do fato.
— Venha, Lucy. — Rose depositou a mão no ombro da moça, incentivando-a levantar-se do chão. — Sente-se na cama. Acredito que Any viera para conversar contigo. — explicou a mulher que a conhecia muito bem.
Lucy enxugou as lágrimas, ajeitou o vestido amarelo no corpo e caminhou a passos inseguros até a cama.
Rose sentou-se ao seu lado e segurou a pequena e pálida mão nas suas. Pelo menos naquele local as mulheres se apoiavam. Talvez nem tudo estivesse perdido.
Anastácia respirou fundo antes de caminhar até ambas mulheres e ocupar o espaço ao lado de Lucy que a fitou com os olhos arregalados, temendo por seu futuro incerto.
O que a jovem não sabia é que Any jamais fora uma carrasca. Lady Lumb já tinha um plano para Lucy; um plano ambicioso de fato.
— Não tentarás deitar-se com homem algum. Você não serve para isso, minha cara. — declarou Anastácia, segurando a mão de Lucy que começou a suar frio.
— Eu imploro, Lady Lumb, não me dispense. Prometo que darei conta da próxima vez. Juro que não a desapontarei. Preciso de dinheiro para criar meu filho. Farei o que for preciso por Sebastian. Ele precisa de mim. — Sua voz mesclou-se com o choro. A moça estava desesperada.
Any conhecia Sebastian. Era um garotinho deveras agitado de apenas dois anos que encantou a Lady com sua gargalhada cheia da mais pura alegria. Any adorava crianças, apesar de saber que nunca teria um filho, pois casar-se nunca esteve em seus planos.
— Acalme-se, Lucylle! Eu não a dispensarei, apenas encontrarei outra função para ti. Acredito que teremos um futuro deveras promissor.
Tanto Lucy, como Rose, fitaram a Lady evidenciando tamanha confusão.
— Trabalhou como costureira no ateliê da Srta. Spinnel, estou correta?
— Sim, eu trabalhei. — Lucy respondeu a Lady que ainda mantinha as escuras sobre o seu plano.
— Tenho visto seus desenhos espalhados pelos cantos deste clube. Devo acrescentar que tens o dom para a moda e também possuí entendimento da arte de costura. Desejo investir nisso. Acredito que podemos encontrar mulheres dispostas a trabalhar em um novo ateliê. Londres está precisando de uma nova modista e você, minha querida, é perfeita para o negócio.
Por um momento, o silêncio prevaleceu no quarto. Lucy encarava Any estupefata, enquanto Rose franzia o cenho sem compreender os planos da amiga.
— Onde pretende instalar esse seu novo estabelecimento, Milady? — perguntou Rosália, tentando descobrir mais informações sobre o assunto.
Anastácia sorriu misteriosamente, então Levantou-se da cama e iniciou uma singela caminhada pelo quarto, arrastando a barra do vestido pelo lustroso piso de madeira escura.
— Existe uma ideia martelando em minha cabeça há algum tempo, Rose. Depois de muitos refletir, de pesar os prós e os contras, de pensar meticulosamente, mantendo muita cautela, decidi que abrirei um clube para mulheres. — Ela revelou, exibindo um largo sorriso, mantendo um brilho ousado no olhar. Any estava de fato muito segura de sua decisão.
— Um clube para mulheres? — ambas damas indagaram em uníssono, mantendo a descrença em suas vozes.
— Sim! — Any vibrou extasiada. — Se os homens podem ter seus próprios lugares reservados a sua espécie, por que as mulheres não podem ter? Será um lugar onde elas poderão ser livres, em que poderão se livrar dos espartilhos se assim tiverem vontade. Poderão fumar charuto ou beber uísque se desejarem. Um lugar em que poderão falar de moda, homens e sexo; poderão falar e praguejar feito marinheiros e não serão julgadas por isso. Um local só nosso, destinado a liberdade feminina. Um clube de mulheres, feito exclusivamente para atender as necessidades das mulheres. Teremos eventos grandiosos, chás com fofocas durante as tardes, tratamentos de beleza, eventos regados a álcool e jogos de azar. Podemos implantar aulas de pianos e bordados, também colocaremos aulas de esgrimas para aquelas que tiverem vontade em aprender a esgrimar. Manteremos também uma vasta biblioteca, com os mais variados livros, incluindo aquelas escandalosos demais para os padrões puritanos da Coroa. Mas ao contrário do que ocorre nos clubes dos cavalheiros, no nosso não será permitido a entrada de nenhum homem. Claro que haverá regras. Uma delas é que apenas as mulheres casadas poderão associar-se. Deus me livre em ser condenada de aliciar jovens Ladies para o caminho da perversidade! — Ela gargalhou alto, colocando a felicidade para fora e si. — Estou tão extasiada com isso, meninas. Ah como estou! — Any tornou a sentar-se na cama, mal contendo sua empolgação.
Rose, por sua vez, colocou-se em pé e encarou sua amiga com os olhos brilhando de animação.
— Isso será incrível, Any! Iremos deter os segredos dos Lordes, bem como de suas esposas. Supostamente a Coroa será a figura mais importante de Londres, embora todos saberão que, na verdade, nós comandamos a aristocracia, pois todos seus segredos pertencerão a nós.
— Isso mesmo, minha querida Rose! Estamos prestes a construir nosso próprio império e eu serei a imperatriz. — Any declarou orgulhosa.
Lucylle estava feliz por ambas as mulheres, embora não compreendesse qual seria a sua parte naquele plano ambicioso. Anastácia sempre fora sua inspiração, não exista em todas Londres — talvez nem na Inglaterra —, mulher mais forte que Lady Lumb. Lucy acreditava que nem mesmo a Rainha se comparava a sua patroa, ela tinha orgulho de ter a conhecido e estava muito contente por Any ter lhe ajudado quando todos lhe viraram as costas após a gravidez indesejada; todos inclusive seus pais.
— Estou muito feliz por você, Lady Lumb. Mas confesso que não compreendi em que medida eu me encaixo no seu plano. — Lucylle confessou, mordendo os lábios insegura.
Anastácia encarou os pálidos olhos azuis da jovem e então sorriu.
— Tenho planos grandiosos para você, Lucy. Quero que embarque em um navio para França. Meu pai tem uma casa em Paris onde você se instalará. Deveras ficar por lá cerca de um ano, estudando a moda francesa e produzindo os mais luxuosos vestidos. Quando retornar no início da próxima temporada de casamentos, já devo estar com o clube em funcionamento e seu ateliê estará pronto para atender as Ladies londrinas que estarão ávidas para comprarem seus trajes de bailes segundo a tendência francesa. Seremos um sucesso, Lucy. Sua vida irá mudar!
Embora o plano de Lady Lumb soasse deveras promissor, Lucy não pode evitar a pensar em seu filho. Ela jamais o abandonaria, a jovem era mãe solteira, como iria estudar a moda, produzir vestidos, comandar costureiras, quando tinha um filho para criar? Não havia outra escolha, Lucylle teria de abrir mão dos planos de Anastácia, ainda que lhe partisse o coração tomar tal decisão.
— Agradeço imensamente por ter pensado em mim, mas eu terei de recusar, Any. Tenho que cuidar de Sebastian, não posso abandoná-lo, pois o pequeno só tem a mim. — Havia tanta tristeza na voz da jovem, que os olhos de Rose se encheram de lágrimas. Era tão difícil ser mulher naquela sociedade, mais difícil ainda era ser mãe solteira.
Lucylle parecia já estar conformada com seu destino infeliz.
— E quem disse que terás de abandoná-lo? Sebastian irá contigo, oras! Já tenho tudo arranjado. Possuo contatos em Paris, consegui uma governanta para te auxiliar na organização da casa, nas compras de tecido e em tudo mais que precisar. Além disso, poderás contratar uma professora para cuidar da educação do seu filho. Alimentação e moradia serão por minha conta. Neste primeiro ano, setenta por cento dos lucros serão meus e a ti caberá os trinta por cento restante. Nos próximos anos, reavaliaremos nosso acordo e acertaremos um preço justo. Creio que o negócio beneficiará a nós duas. Quero que dê volta por cima e mostre para essa sociedade hipócrita que todas as mulheres têm o seu valor e que não precisamos de homens para nos sustentar.
Após a declaração de Anastácia, Lucylle não se conteve e começou a chorar. Aquilo era muito mais do que ela poderia ter imaginado para o seu futuro. A jovem teria seu próprio sustento garantido de forma honesta, ela mal conseguia acreditar que aquilo era real.
— Nem sei como lhe agradecer por tanta bondade. — A garota se jogou ao pescoço de Any e a envolveu em um abraço apertado. — Prometo que não a decepcionarei. — Enxugou as grossas lágrimas que escorreram por seu rosto pálido assim que se afastou de Anastácia.
— Confio em você, Lucy. Por ora quero que treine seus desenhos e costura. Coloque seus negócios em ordem, pois muito em breve terás de partir. — Any levantou-se e caminhou até a porta, mas antes de sair do quarto meneou a cabeça para o lado e se dirigiu a Rosália: — Amanhã, após o almoço, encontre-me em meu escritório, nós temos um clube a construir.
Rosália abriu o mais largo sorriso que poderia existir. Londres estava prestes a mudar para melhor. Uma nova era estava por vir.
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Olá Ladies, tudo bem com vocês?
Espero que estejam apreciando a história! Estão preparadas para se divertirem???
O clube de Anastácia está por vir! Que Deus proteja os homens da Inglaterra, pois Lady Lumb está determinada a destruí-los! :)
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Beijos, Lady Luana Maurine
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