22 - REFLEXÕES
"A sociedade apenas enxerga aquilo que permitimos exibir, jamais saberá o que se passa em nossa mente, tampouco em nosso coração".
— Lady Anastácia Lumb
Anastácia sentiu um tremor subir por todo seu corpo, mas embora estivesse amparada nos braços fortes de Matthew, ela não tremia por conta do desejo, e sim pelo pânico que a dominou. Como ela foi capaz de se apaixonar por Matthew? Aquilo não fazia sentido algum na cabeça dela, e, ainda que, naquela altura, tentasse negar tal sentimento, a lady sabia que estava apaixonada e nada do que fizesse seria capaz de alterar aquele fatídico fato.
— Vamos sair daqui, Any. Vamos deixar esse baile para trás. — pediu, Matt, com urgência.
Anastácia não conseguiu encontrar a fala, pois estava entorpecida pela revelação iminente.
O duque a puxou pela mão, incitando a segui-lo, porém, antes de sair pela porta, Any finalmente encontrou a voz:
— Não posso ir. Tenho assuntos a tratar com o conde de Bastille.
Tomado pela fúria, o duque sequer notou o tremor na voz dela. Bufou, revoltado, tendo a certeza que Anastácia, às vezes, despertava o pior nele.
— Desisto de você, lady Lumb! Faça o que achar melhor.
Mas aquilo era uma mentira, nada além de palavras vazias proferidas no calor do momento. Era mais fácil a rainha renunciar à coroa, do que Matthew desistir de Any.
Com o ânimos à flor da pele, ele cobriu o rosto com a máscara e partiu para fora daquela biblioteca, nem ao menos olhou para trás.
Anastácia, ainda aturdida pela súbita revelação, deixou aquele lugar, e sem pensar direito, andou por aquela casa desconhecida, movida pelo instinto, pouco se importando na possibilidade de se deparar com alguém pelo caminho. No final do corredor, ela encontrou o que pareceu ser o escritório de Davies e lá se refugiou. A cabeça começou a latejar e o coração bateu tão forte como se fosse parar a qualquer momento. Entorpecida, Any sentou-se atrás da mesa e levou as mãos a uma garrafa de uísque disposta a sua frente, despejou uma boa dose no copo e sorveu o líquido em um só gole, voltando a encher o copo que ficara vazio.
Como ela pode se apaixonar por Matthew? Como aquilo foi acontecer? Pensava a todo momento, tentando encontrar respostas que jamais obteria.
Anastácia estava com a cabeça baixa e o copo pressionado na têmpora quando o conde, sem aviso algum, entrou no escritório e acendeu a luz.
— Lady Lumb! — exclamou, assustado, ao notar a presença da mulher no seu antro imaculado.
— A própria. — murmurou, encarando Davies sem qualquer emoção.
— O que está fazendo em meu escritório? — Franziu o cenho, confuso, e teve receio de avançar até a mulher.
— Tinha apenas a pretensão de me refugiar por um momento, afanar um pouco de sua bebida e sair de sua residência despercebida. Sinto muito, Devil, a noite não seguiu conforme eu esperava. — Respirou fundo, tomando consciência do caos que lhe apossou. — Não imaginei que poderia vir aqui.
Albert finalmente teve coragem de se aproximar, puxou a cadeira na frente de Anastácia e levou a mão a garrafa de uísque.
— Vim à procura de uma bebida mais forte. Não sou grande apreciador de champanhe. — Despejou o líquido âmbar no copo e em seguida sorveu um gole, apreciando o ardor que percorreu a garganta.
— Confesso que também não gosto de espumante. — disse, Any, ainda perdida em seus sentimentos.
— Certamente que não. — Albert forçou um sorriso que Any retribuiu.
Anastácia finalmente recobrou a capacidade de raciocinar com clareza. Ela depositou o copo sobre a mesa e analisou, com muita atenção, o homem à sua frente. Any havia investigado a vida do conde antes de levar a proposta de uma sociedade a Hassan. A lady descobrira que lorde Albert Davies era herdeiro de um condado deveras antigo que lhe propiciou uma fortuna grandiosa. Também soube que o conde anterior, o pai dele, foi um homem deveras prepotente e esnobe o qual acreditava fielmente que sua família era superior a qualquer pessoa. Albert Davies fora criado em linha dura, era obrigado a ser perfeito em tudo que se propunha a fazer, caso contrário, seu pai jamais o perdoaria por desgraçar a linhagem impecável dos Davie's, era capaz até de destituí-lo como herdeiro, caso tal situação infame ocorresse. Todavia, Albert sempre fora uma pessoa de opinião e deveras decidido, por mais que se esforçasse em concretizar o desejo do pai, nunca deixou de correr atrás de seus próprios objetivos. Todos que conviveram com Davies, acreditavam que ele era um homem prepotente, com um teor de superioridade inaceitável. Porém, ninguém jamais o conheceu de verdade e apenas algumas investigações com as pessoas certas revelaram que o homem era honrado, audaz e leal a sua família. Após a morte dos pais em uma viagem a Índia que acabou em um terrível naufrágio, ele, ainda muito jovem, mal acabara de completar dezessete anos, assumiu toda a responsabilidade de um condado e o administrou muito bem e sem auxílio algum. Cuidou da irmã mais nova até que estivesse moça, então embarcou para América em busca de sua liberdade, entretanto, renunciou a tudo quando Stephanie Davies decidiu debutar. Como um perfeito irmão amoroso, retornou a Londres, retomou os negócios da família e apoiou a irmã, protegendo-a de tudo. Ele era um bom homem, afinal. Apenas era incompreendido e talvez não se importasse com o que pensavam dele.
— Hassan aceitou sua proposta de sociedade. — Anastácia revelou subitamente.
Os lábios do lorde se curvaram em um largo sorriso.
— Ora! Mas esse é um motivo para comemorar! — exclamou, animado.
— Há algo mais... — começou Any — Também farei parte da sociedade, esta é uma condição para que o acordo seja firmado.
Davies exibiu um sorriso de canto e então falou:
— Não me surpreende. És uma mulher de negócios, sabe reconhecer um bom empreendimento e não o deixaria escapar. No entanto, tenho uma dúvida: como consiguirá manter seus negócios somente para si, quando se casar? Como fará para que seu esposo não tenha direito a eles?
Any sorriu.
— Acredite, Devil, eu tenho os meus meios. — Levou o uísque aos lábios.
— Óbvio que tem! Está sempre um passo à frente de tudo.
Menos quando relacionado aos assuntos do coração, nesse caso sempre estava um passo atrás. Pensou ela, suspirando profundamente.
— Vamos brindar a nossa sociedade. Que seja a primeira de muitas. — Ele ergueu o copo.
Anastácia repetiu a ação.
— Um brinde aos recomeços.
Ambos levaram o copo à boca e beberam o uísque em um só gole.
Anastácia levantou-se da mesa, ajeitou o vestido no corpo e preparou-se para partir.
Albert rapidamente colocou-se em pé e acompanhou a mulher até a porta. Porém, antes de sair, Any disse:
— Gostaria de conhecê-lo melhor, Devil. Ainda é uma incógnita para mim e eu gosto de decifrar enigmas.
O conde sorriu satisfeito.
— Aprecia ópera, lady Lumb?
— Não tenho gosto tão refinado para tal atração aristocrata, mas posso suportar algumas horas de espetáculo.
Albert gargalhou.
— Levarei minha irmã à próxima apresentação. Gostaria de nos acompanhar em meu camarote?
Any sequer titubeou quando respondeu:
— Aceito o convite, milorde. Embora eu deva acrescentar que não tenho muito interesse em operar — Soltou um riso baixo.
— Não esperaria que tivesse. — Abriu um sorriso amistoso.
Então Any deixou aquele escritório, não retornou ao baile e nem foi ao clube que lhe pertencia. Desejava apenas o conforto do lar e se perder nos braços do pai. Ainda não conseguia acreditar que estava apaixonada por Matthew, mas estava. Aquilo era tão certo quanto as estrelas pertencerem ao céu. O que ela faria com aquela certeza, apenas o tempo iria dizer. Por ora, não pensaria naquilo. Viveria um dia de cada vez.
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(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Olá, ladies!
Gostaram do capítulo? Foi curtinho, mas acredito que serviu para matar um pouquinho da ansiedade.
A partir de hoje, voltaremos a programação habitual de 1 cap. por semana, teremos atualização todas as segundas.
Um beijo e até mais😊
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