"Nenhum sentimento incomoda tanto quando a saudade".

— Lady Anastácia Lumb

Na manhã seguinte, já não havia nenhum sinal de que uma tempestade envolveu a região. O céu estava limpo e pacífico, trazendo consigo uma claridade diurna que invadiu a janela daquele quarto, despertando Anastácia da calmaria de seu sono.

Quando Any finalmente se recordou que estava na cama de Matthew, um certo temor recaiu sobre ela e o desconforto se tornou ainda maior quando notou  a mão de Matt, repousando indecentemente em seu seio.

Anastácia ficou  imóvel, feito uma escultura, teve receio de se mexer, acordar o amigo e tornar aquela situação ainda mais estranha. Desesperada, ela conseguiu respirar. Não soube o que fazer para sair daquela situação embaraçosa. Porém, as coisas ficaram ainda mais estranhas, quando Matthew murmurou palavras incompreensíveis e fechou ainda mais a mão no seio dela, puxando Anastácia para junto do corpo dele, enfiando o nariz no pescoço da mulher.

— Any... —  Matt gemeu, baixinho.

Anastácia arregalou os olhos ao sentir a ereção do duque tão próximo de suas nádegas. Um arrepio involuntário percorreu o corpo da lady, no mesmo instante que um prazeroso incômodo surgiu em suas partes íntimas. Ela entreabriu os lábios, um tanto ofegante, sentindo o suor do desejo contido subir à pele. Nervosa, Anastácia tentou se desvencilhar dos braços de Matthew, mas ao perceber que ela tentava fugir, ele a segurou firme, apertando o seio dela deliberadamente, fazendo-a arfar.

Matthew tomou aquilo como um sinal de que poderia avançar com suas ações. Rapidamente ele enfiou a mão livre sob a camisola de Anastácia e seus dedos ágeis encontram a doce e imaculada feminilidade da amiga que ele tanto desejava provar. Contudo, antes que o duque pudesse propiciar  prazer a amiga, ela, apressada, saiu dos braços dele, levantando-se abruptamente da cama.

— Matthew Morrison! Tenha modos! Ainda tenho um resto de uma reputação a zelar, caso tenha se esquecido! — bradou, estridente, bufando consternada.

Matthew sentou-se na cama, completamente confuso. Por um instante, ele realmente acreditara que ela também o desejava.

— Desculpe-me, Any. — pediu, um tanto envergonhado.

Anastácia ficou calada, observando Matthew que também a encarava em silêncio. Algo realmente havia mudado entre os dois, já não podiam afirmar que eram apenas amigos. No fundo, por mais que resistisse a admitir, Any sabia que em seu coração um sentimento maior que a amizade estava surgindo e ter conhecimento daquilo a deixou apavorada.

— Não podemos mais fazer isso, Matt. Fugiu do nosso controle.

Matthew sentiu o coração disparar no peito em um pânico jamais sentido. O que Anastácia queria dizer com aquilo?

— Isso o que, Any? Ao que se refere?

— A esse acordo estúpido de me ensinar a beijar. Cruzamos uma linha que não deveria ser transposta. Amigos não devem se beijar, Matt. Fomos tolos em acreditar que isso poderia dar certo.
Desesperado, o duque saltou da cama e foi de encontro com Anastácia, levando  as mãos ao rosto dela, e com o olhar cravado na mulher, sussurrou

— Não faça isso. Ainda tenho tanto a te ensinar.

Any desviou olhar quando disse:

— Acabou, Matthew. Agradeço por tudo que me ensinou, mas realmente acabou. — E retirou as mãos dele de sua face.

Uma agonia sem tamanho ocupou todo o coração do duque ao ver Anastácia sair pela porta, colocando um fim no único elo que os aproximavam  da forma como ele desejava. Profundamente triste, ele sentou-se na cama, sentindo as lágrimas surgirem nos olhos, lamentando o fato de que se apaixonara pela única mulher que jamais deveria desejar. Matthew ainda não tinha certeza se lutaria para conquistar Anastácia, ou se guardaria seus sentimentos até que se dissolvessem no mar do esquecimento. Todavia, por ora ele estava absolutamente triste e perdido em seus próprios sentimentos confusos.

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Anastácia Lumb estava agitada demais naquela manhã. Após sair deixar os aposentos de Matthew, ela disparou para o quarto em que estava acomodada, enfiou-se em no vestido, prendeu o cabelo da melhor forma que conseguiu e tentou não pensar nos acontecimentos recente. Com os ânimos à flor da pele, ela juntou os pertences que levará, desceu as escadas e aguardou por Matthew naquele imenso hall que dava saída para porta.

Lorde Morrison, ao seguir para seus afazeres, franziu o cenho ao encontrar Anastácia prostrada junto a porta, devidamente preparada para ir embora, como se fosse fugir a qualquer momento. Matthew, inocentemente acreditou que teria ao menos mais tempo com ela, a sós, mas enganou-se ao encontrá-la devidamente pronta para partir.

— Acredito que eu deva pegar meu fraque. Tudo indica que deseja retornar à  sua casa.

Anastácia ergueu o queixo e proferiu em um tom de voz firme:

— Devo voltar o quanto antes.

O duque, ainda entorpecido pelos acontecimentos daquela manhã, virou-se, retornou ao quarto e preparou-se para partir.

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Um silêncio perturbador tomou conta da carruagem que seguiu rumo à sociedade londrina. Tudo que se ouvia era o trotar dos cavalos, acompanhado pelos comandos energéticos do cocheiro. Any passou o percurso todo calada, com o olhar fixo na paisagem em movimento. Matthew, por sua vez, também quietou-se, não soube ao certo o que proferir em uma ocasião como aquela. Quando o transporte parou em frente a casa de Any, rapidamente a lady desceu da carruagem, fechou a porta em um baque seco e partiu, sem dizer uma única palavra, sequer olhou para trás.

Havia um caroço estranho sufocando a garganta de Anastácia quando ele cruzou a porta, incerta das razões pelas quais estava abalada. Seus olhos ardiam como se estivesse perto de desabar em lágrimas, mas ela não queria chorar, não tinha motivo lógico para aquilo. Any respirou fundo e tinha a intenção de  subir ao seu aposento quando seu pai, Thomas Lumb, surgiu na sala.

— Foi Matthew quem a trouxe?

Ainda muito alterada, ela apenas assentiu em concordância.

— Devo presumir que passaram a noite juntos? — indagou, o duque,  escondendo o riso. — Isso seria motivo para qualquer pai obrigar um homem a casar com sua filha. Todavia, conheço ambos, dormem juntos desde que eram jovens eloquentes, essa não seria a primeira vez, tampouco será a última.— Exibiu um largo sorriso.

E sem razão aparente, Any ficou chateada com aquele comentário. Ela era uma mulher, oras! Por que todos acreditavam que não poderia existir algo a mais entre eles, era tão inaceitável o fato de que Matthew poderia desejá-la?

Any tentou ignorar o pai e tencionou a subir a escada, porém, deixando-a totalmente surpresa, o duque sugeriu:

— Deveriam se casar. Ambos estão à procura de um matrimônio. Casar-se com o melhor amigo, certamente é muito melhor do que se casar com um desconhecido. Eu não me oporia, ao contrário, seria o primeiro a encorajar a união.

Aquelas palavras foram a gota d'água no mar de irritação que transbordou de Anastácia. Completamente descontrolada, ela esbravejou:

— Maldição! Por qual raios todos ficam sugerindo isso? Não vou me casar com Matthew. Terei de escrever meu posicionamento na minha testa? Talvez só assim parem de me importunar com esse assunto estúpido! — Ergueu a barra do vestido e subiu os degraus furiosa.

Eram raras às vezes que Lady Lumb havia se desentendido com o pai. Eles possuíam um ótimo relacionamento, eram parecidos em tantos aspectos que tornava quase impossível divergirem sobre algo. No fundo, Any sabia que tinha sido desnecessariamente rude com o duque e mais tarde, quando estivesse calma, iria procurá-lo para lhe pedir desculpas. Por ora estava brava e não queria ver e nem falar com ninguém. Precisava organizar os pensamentos. A vida tinha saído dos eixos e ela precisava retomar o controle da situação.

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Longos e infindáveis dias passaram desde que tomara a decisão de pôr um fim naquelas problemáticas lições sobre beijos. Matthew optou por se manter afastado e Any também não o procurou. As coisas tinham ficado demasiada estranhas entre eles. Mas, ainda que estivessem distantes, Any soube que ele avançara com a corte a lady Alice Green. Matt tinha levado a moça a para assistir uma corrida de cavalos e Any soube mais tarde que ambos haviam se divertido no encontro, algo que a deixou perturbada. As irmãs Morrison's também lhe disseram que, em um outro dia, o irmão delas fora visitar Alice, levando para a jovem um enorme buquê de rosas vermelhas. Segundo as meninas, Lady Katherine Morrison se encontrava em estado de pura alegria, pois acreditava que em breve Matthew pediria a mão de lady Green em casamento. Ao saber de tal informação, Anastácia exibiu um largo sorriso, fingindo que estava satisfeita com a felicidade do amigo, mas aquilo era uma farsa, por dentro, ela remoía algo que não compreendia. Talvez fosse um sentimento de traição por Matthew não ter lhe contando que pretendia, de fato, desposar Lady Alice? Não, Any não se sentia traída. Era um sentimento novo que lhe consumia; algo que a incomodava ao ponto de deixá-la triste.

Entretanto, apesar de tudo, a vida tinha de seguir, seu amigo se casaria, seja com Alice ou com qualquer outra mulher. Aquele era o curso natural do destino; o fim de um ciclo e o início de um novo.

No meio daquela mar de incertezas, havia uma única verdade: Anastácia sentia falta de Matthew. Nunca, desde que se conheceram, tinham passado tanto tempo sem nem ao menos  trocar quaisquer palavras. Ela estava incompleta e desejava apenas se acertar com o amigo, embora não possuía a certeza de que estavam brigados; estavam apenas distantes e ela odiou aquilo.

Todavia, Anastácia não tinha o conhecimento do fato de que Matthew, apesar te ter se afastado, mantinha os pensamentos fixos nela. Ao acompanhar Lady Alice Green na corrida, ele apenas desejou estar  com Any. Quando a moça riu, soou estranho, não era a mesma risada de sua amiga. Quando comemorou a vitória por ter apostado no cavalo certo, aqueles aplausos acompanhados de gritinhos um tanto estridente, provocaram lhe uma certa inquietação. Any agiria de outra forma, com certeza soltaria uma frase provocativa por ele ter um olhar ruim para aposta e ela ser boa demais naquilo. No final, Matthew parou de comparar a lady com sua amiga, era algo cruel e pouco cavalheiro da parte dele, sentiu-se péssimo ao saber que estava agindo de forma tão hipócrita com alguém que certamente apreciou a companhia dele.

Mas, infelizmente, aquela não foi a única vez em que Matt desejou substituir Alice por Any. Quando comprou o enorme buquê de rosas e foi à casa de Lady Green, o duque se recordou que Anastácia não gostava de receber flores — na verdade, ela odiava —, nada deixaria lady Lumb mais insatisfeita do que receber flores de qualquer tipo e de qualquer natureza. Porém, se lhe dessem chocolates, ou lhe enviasse um bom uísque, até mesmo um vinho de safra considerável, deixaria  satisfeita. Contudo, Any era diferente de qualquer mulher e Matthew sentia falta dela como se faltasse um pedaço em seu coração. No dia em que foi visitar Lady Alice, quase parou no endereço de Anastácia que era muito próximo do destino em que iria, no entanto, desistiu da ideia no meio do percurso. Não estavam brigados, porém não estavam bem.

Para o alívio do duque, uma curta missiva veio ao seu encontro, concedendo-lhe uma desculpa para ir a residência de sua amiga. No final da tarde, tão logo chegou na casa, Matthew recebeu um recado de Lorde Thomas Lumb, o duque de Pennesburg, informando que desejava vê-lo. Com o coração disparado, ele se ajeitou rapidamente, chamou a carruagem e foi a casa dos Lumb's.

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Acabará de anoitecer quando lorde Morrison chegou ao destino em que fora solicitado. Por um instante, ele ficou imóvel em frente aquela casa, incerto se devia adentrar. Nunca teve receio de estar ali, aquela era como se fosse seu segundo lar, contudo, parecia que há anos não pisava naquele lugar. Matt, porém, respirou fundo e caminhou em direção a porta.

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Justamente naquele dia em que Any  decidira que não pensaria em Matthew, o duque resolveu conceder a graça de sua visita — não para procurá-la —, muito pelo contrário, tinha ido ver o pai dela e saber daquilo a deixou profundamente chateada.

Anastácia, mesmo ciente de que Matt encontrava-se no andar debaixo, trancado no escritório do pai, optou por seguir o planejado e tentou não levar a mente ao que acontecia em outro cômodo da casa. Ela tinha sido convidada ao baile de máscara que seria realizado na residência do conde de Bastille, havia compromissos mais urgentes a tratar, como a aliança que Lorde Davies pleiteava firmar com Hassan e Any era fator essencial naquela negociação.

Com os pensamentos focados no baile, Anastácia começou a se arrumar, prendendo os longos cabelos ondulados escuros nos grampos, maquiando-se discretamente, conferindo a imagem no espelho, tentando compreender, mais uma vez, a mulher que se tornara. Quando estava se ajeitando, ela viu Matthew passar junto ao duque, indo aos aposentos do senhor e ele sequer direcionou o olhar para o quarto dela. Pouco tempo depois, quando estava se perfumando, pelo reflexo do espelho, Any observou Matthew passar pelo corredor, mas, daquela vez, o homem lançou um olhar furtivo em direção a porta entreaberta e seguiu o curso.

Naquele instante, a lady decidiu que não imploraria para que voltassem a se falar, se ele quisesse continuar ignorando-a, era problema dele.

Todavia, não tardou  para que o duque desse meia volta, entrando, de supetão, no quarto de Any.

— Vais a algum lugar, Anastácia?

Mesmo que o coração estivesse acelerado, lady Lumb foi capaz de manter a voz em um tom calmo e firme quando respondeu:

— Vou ao baile de máscaras do conde de Bastille.

Matthew trincou o maxilar e cerrou os punhos sentindo a fúria lhe dominar.

— Não pode ir a este baile, eu não fui convidado, então também não deves ir. — disse, sem lógica alguma.

Anastácia, consternada, virou o corpo de modo a encará-lo.

— Eu posso ir onde eu bem quiser. Não somos inseparáveis, Matthew, você fez questão de provar isso com sua ausência nos últimos dias. — disparou em tom ácido.

— Se bem me recordo, a distância entre minha casa e a sua é a mesma, e a senhorita também não fez questão de me procurar. — rebateu no mesmo tom.

— Não quis atrapalhar seus compromissos, sei que estava muito ocupado com Lady Alice Green. — Deu as costas ao amigo, concentrando-se na imagem refletida no espelho.

Matthew bufou, contrariado.

— Não venha julgar minhas companhias, quando está prestes a confraternizar com o inimigo. Aceitar um convite de Davies? Francamente, Any, não esperava por isso.

Sentindo que estava prestes a explodir de tanta raiva, Anastácia levantou-se abruptamente e gritou enraivecida:

— Aceito o convite de quem eu quiser. Nunca esperei por sua aprovação e jamais esperarei. Ponha-se no seu lugar, Vossa Graça. Nem meu pai diz o que eu devo ou não fazer, não permitirei que haja de tal forma, não comigo!

O duque percorreu as mãos pelo cabelo, bagunçando-o completamente. A paciência dele estava prestes a se esgotar e tudo piorou quando Anastácia revelou:

— Não que seja da sua conta, mas tenho negócios a tratar como conde, juntamente com Hassan e pretendo encerrar este assunto o quanto antes.

— Hassan também foi convidado ao baile? — Matt inquiriu, indignado.

— Óbvio que sim. Lorde Devil pretende firmar sociedade com ele, seria tolo se não o convidasse. — Rolou os olhos, impaciente.

— Pelo amor de Deus! A situação piora a cada instante! — exclamou, exasperado, e completou: — Quer saber, Lady Lumb, faça o que tiver vontade. Não tomarei mais o seu tempo. Passar bem! — E saiu pela porta, pisando duro, deixando para trás uma Anastácia revoltada.

Ah como ela o detestava!

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(CAPÍTULO SEM REVISÃO)

Olá, ladies! Espero que tenham apreciado o capítulo e que estejam se divertindo com a leitura dessa história.

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Até a próxima segunda 😘

Lady Luana Maurine