12 - Cartão de Baile
"Cartões de bailes são tão importantes quanto o próprio vestido. A moça que ousar esquecê-lo é, realmente, uma tremenda tola".
— Lady Anastácia Lumb
LADY ANASTÁCIA LUMB: IMPREVISÍVEL, ESCANDALOSA E, POSSÍVEL, PRINCESA?
Por Jonathan Smith, Londres, abr. 1889
Creio que muitos leitores tenham arregalado os olhos ao lerem o título desse artigo, afinal, por que razão esse escritor ousou colocar as palavras "lady Anastácia Lumb" junto da palavra "princesa". De certo estão pensando que a insanidade me atingiu, todavia, posso assegurar, meus caros: encontro-me em perfeito estado de lucidez. Contudo, devo alertar de antemão que os rumores, que aqui serão revelados, extraídos por meio de fontes fidedignas, irão deixar toda a sociedade londrina à beira da insanidade! Lady Anastácia Lumb, a Lady Escandalosa, não somente debutou com toda sua desenvoltura única e peculiar, como também foi vista trocando gracejos intimamente com o jovem príncipe caçula, Louis, após a restrita cerimonia de debutantes que ocorreu no palácio de St. James.
Claro que tal fato deixou as mais novas joias da sociedade em tremendo desalento, pois é de conhecimento de toda aristocracia que a rainha deseja casar seu neto caçula, por isso ele esteve presente na cerimônia de debute. Devo confessar que eu não gostaria de ser uma jovem moça nesse momento, longe de mim competir com a furação Lady Lumb em pessoa! Todavia, minhas jovens, não desanimem! A rainha com toda certeza não pretende manchar o brilho impecável da Coroa aceitando de bom grado uma união de seu neto como a escandalosa Lady Lumb. O que nos leva a crer, estimados leitores, que tudo não passe apenas de uma cortesia que não levará a lugar algum, a não ser o esquecimento. Entretanto, devemos nos lembrar que, em se tratando de lady Anastácia Lumb, tudo é imprevisível e tudo pode acontecer!
Essa temporada será inesquecível! Com quem lady Lumb irá se casar? Ou melhor: Quem será o homem destemido que terá a bravura de desposar tal indomável mulher? As apostas estão à mesa! Foi declarada oficialmente aberta a temporada de casamentos desse ano. Boa sorte aos homens e mulheres no auge da solteirice que estão em busca de um matrimônio. Boa sorte, principalmente, a lady Anastácia Lumb, que tornou essa temporada inesquecível!
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Naquela manhã nublada, Matthew Morrison, era atormentado por uma terrível dor de cabeça que o deixava profundamente irritado. De fato, bebera em excesso na noite anterior, culpa de Anastácia, sua bela amiga passou a ocupar todos os seus pensamentos que não tinham nada de puro. Mas, mesmo que estivesse com um humor tão escuro quanto as densas nuvens do céu cinzento, o duque sentiu os lábios se curvarem em um ligeiro sorriso ao concluir a leitura daquele artigo a respeito de Any. Sua amiga jamais se casaria com o príncipe caçula. Ele já tinha o visto juntos e poderia afirmar que entre os dois existia apenas uma relação de amizade. Nada além disso.
Ainda assim, aquela lamentável notícia fez com Any se tornasse uma das moças mais cobiçadas da temporada, ao lado da segunda filha visconde de Saltimon, lady Daphne Wood e também da única filha do Conde de Herb, a lady Alice Green. Ouvir aqueles homens falarem de Anastácia como ela fosse um prêmio fez o sangue de Matt ferver. Se tivesse ficado um instante a mais naquele clube, com certeza entraria em uma briga física, o que desagradaria Anastácia e não era do seu interesse entrar em um conflito com a amiga, logo quando acabaram de fazer as pazes. Sem outra escolha, o duque partiu solitário para sua casa e acabou com o resto do uísque irlandês que havia em seu escritório.
Aquela temporada iria fazer com que o lorde perdesse o pouco de juízo que ainda lhe restava. Disso Matthew Morrison teve a mais profunda certeza.
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Naquela noite chuvosa, Any marchou toda elegante até os aposentos do pai e o encontrou deitado em sua confortável cama, apreciando a leitura de um livro sobre os mitos egípcios que ele tanto amava. Aventureiro como sempre foi, restou ao homem, em sua velhice, embarcar nas aventuras dos livros, a qual a idade lhe permitia.
— Que tal estou? — Anastácia indagou, alisando no corpo, o exuberante vestido vermelho confeccionado em um macio tecido aveludado, cujos bordados dourados realçaram o tom de sua pele.
— Estás esplendorosamente linda, minha filha. — Lorde Thomas Lumb elogiou, com lágrimas nos olhos, contemplando a imagem da filha que, de fato, tornara-se uma linda mulher.
— Confesso que estou nervosa, pai. — Any deitou-se ao lado do duque aconchegando a cabeça no ombro um tanto magro do homem.
— Não há nada a temer, minha linda. É um baile como qualquer outro que já foi.
— Não temo o baile. Temo a surpresa da rainha. Ela não gosta de mim, pai.
Lorde Thomas riu em meio a uma leve tosse.
— É evidente que não goste, Any. Você representa contradição em todos os valores em que ela acredita. Você é o futuro e ela o passado. Isso a assusta mais do que se pode imaginar.
Lady Lumb respirou fundo, tentando compreender aquela afirmação.
— Terei de enfrentá-la de qualquer forma. Não sei a qual futuro a rainha teme. Já nem sei qual será o meu futuro, quando terei de me casar.
— Oh Any! — o duque afagou a mão da filha. — Casar-se pode não ser o fim do mundo. É só mais uma aventura. Tenho certeza de que ficará bem.
A lady bufou, irritada. Jamais conseguiria compreender o fato do matrimônio ser considerado tão importante.
— Devo ir! Fique bem, meu pai. — Levantou-se da cama, ajeitou o vestido, depositou um beijo na testa do velho duque e partiu rumo a tal surpresa da rainha.
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Do céu escuro caia uma leve garoa que não ofuscava o brilho do palácio todo iluminado do imponente Windsor. Anastácia apanhou o seu guarda-chuva, e, diferentemente de outros nobres, desceu da carruagem sem o auxílio de James, seu leal cocheiro. Any pensava diferente dos aristocratas, ao seu ver, ela não precisava que seus empregados lhe fizessem tarefas desnecessárias as quais poderia fazer por conta própria. Any apreciava sua independência mais do que tudo, e a forma benevolente como tratava todos ao seu redor, fazia com que fosse adorada por todos a sua volta, desde operários até aos nobres que faziam parte do seu currículo social. Todavia, Any ainda desagradava boa parte da aristocracia britânica, especialmente as mulheres mais velhas que faziam questão de sucumbir aos mesmos pensamentos moralistas da rainha Victoria.
Lady Anastácia Lumb conjurou toda sua coragem e caminhou a passos firmes arrastando sua capa negra pelo extenso tapete vermelho que fora colocado na entrada do palácio. Ao chegar à entrada, Any entregou seu guarda-chuva e sua capa ao lacaio e adentrou no palácio, seguindo direto para o salão de baile situado no térreo.
Ao atravessar à porta, Any sentiu muitos olhos a avaliarem. Alguns cochicharam entre si, outros simplesmente viraram a face e ela que sequer se importou. Ao contrário, seu rosto iluminou quando percebeu que todos os homens solteiros mantiveram a atenção em si, completamente espantados diante da sua beleza.
— Lady Lumb! — a rainha exclamou, indo ao seu encontro.
— Vossa Alteza. — Any curvou-se em uma singela reverência. Os bons modos ainda não lhe tinham fugido.
— Agradeço por sua presença. Por um momento, cheguei a pensar que não viria. — revelou a monarca, forçando um sorriso.
— Por um momento, pensei o mesmo. Achei que estaria furiosa por conta da notícia espalhada no jornal sobre eu e seu neto.
Uma gargalhada rouca escapou dos lábios da rainha e então assegurou:
— Não há motivos para isso. Sei que tudo não passa de rumores. Louis jurou que são apenas amigos e que um matrimônio entre vocês é definitivamente impossível de acontecer.
Any sorriu, embora o olhar permaneceu sério.
— Sou uma mulher de palavra, Vossa Majestade. Jamais duvide disso.
A sobrancelha da rainha se arqueou em um gesto desafiador.
— Aproveite o baile, Lady Lumb. Tenho certeza de que será do seu agrado. — A monarca deu as costas para Any, mantendo um sorriso misterioso no rosto e voltou a socializar com os demais convidados.
— Anastácia Lumb! Estás simplesmente radiante! — exclamou Lady Morrison ao cumprimentá-la. — Agora entendo a razão pela qual as ladies Daphne Wood e Alice Green estão tão irritadas.
Any gargalhou alto demais para os padrões da corte, fazendo vários olhares reprovações serem direcionados a ela.
— Tinha esperança de conseguir um convite para o Almack's, mas acredito que, considerando o fato de que me tornei inimiga de suas filhas, tais patronais jamais me concederiam tal honra. — A lady torceu os lábios, rolando os olhos, pois claramente não se importava em ser excluída.
Anastácia era a única mulher de toda Londres que, mesmo que tivesse uma péssima reputação, ainda era convidada para bailes e eventos de caridade realizados pelas mulheres da nobreza. Any possuía muito dinheiro e influência, todos os lordes do parlamento a respeitava, de certa forma, e temiam serem expulsos de seu clube, lugar em que era a própria rainha. Todavia, ainda que exercesse certa influência dentro da aristocracia, Any jamais recebeu um convite para entrar no Almack's. Aquele era um lugar seletivo e privado que somente os membros das classes mais altas conseguiam se associar. Suas patronas, todas mulheres de extrema riqueza, nunca aceitaram de bom grado o modo de vida de lady Lumb. Apenas a toleravam por ser filha de um duque detentor do maior ducado britânico e também por ser melhor amiga de outro duque, o lorde Matthew Morrison. Anastácia nunca fez questão de frequentar o Almack's, mas aquele era um outro tempo e ela teria de conseguir acesso a tal prestigiado clube misto, se quisesse arranjar um pretendente que não fosse uma caça-herança.
— Podemos alterar essa situação, Any. Matthew exerce grande influência no parlamento, pode convencer os esposos das patronas a te aceitarem.
— Veremos. — Any expressou, levando a mão a uma taça de champanhe disposta na bandeja do garçom que passava por perto.
A duquesa gentilmente afagou os ombros de lady Lumb e afastou-se de volta ao seu círculo de amizade. Anastácia ficou só, com seus pensamentos que insistiam em perturbar a mente. Ela acabará de levar o espumante aos lábios, quando o jovem marquês de Westville veio até ela.
— Lady Lumb. — cumprimentou, sorrindo, o homem esguio de encaracolados cabelos castanhos que lhe concediam um charme deveras interessantes. Any, assim como todos ali, sabia que ele acabara de voltar a Londres, após concluir os estudos na América.
— Deves ser o lorde Brooks, eu presumo. — Any falou, estendendo-lhe a mão enluvada.
— O próprio. — Sorriu, depositando um beijo casto na mão de Anastácia. — Desejo saber, lady Lumb, concede-me a honra da próxima dança?
Um sorriso radiante surgiu na face da lady ao responder:
— Claro que sim.
Ambos ficaram se encarando, meio sem jeito, sem dizer nada, até que o lorde perguntou:
— Posso marcar meu nome em seu cartão de dança?
Anastácia arregalou os olhos verdes, sentindo o rosto corar. Como, em sã consciência, ela havia se esquecido justo daquela formalidade tão importante em bailes?
— Devo lhe confessar algo, lorde Brooks. — Aproximou do rapaz como se estivesse contando um segredo. — Eu esqueci meu cartão. Sou péssima nesse negócio de baile. — confidenciou aos cochichos.
O lorde riu, admirado.
— Realmente os rumores são verdadeiros. És uma mulher peculiar, lady Lumb. Acredito que seja a única moça a ter se esquecido de algo tão importante. — Os lábios do homem se curvaram em um sorriso de canto, fazendo Any admirar aquele sinal charmoso que surgiu em sua bochecha.
— Dê-me um tempo para eu encontrar um cartão e eu prometo que seu nome estará na próxima dança.
— Perfeito, lady Lumb! Ficarei à tua espera. — Despediu-se, cordialmente, voltando para o salão.
Anastácia sorveu o resto do champanhe e partiu desesperada rumo a biblioteca do palácio a qual sabia que se situava naquele mesmo andar.
Do outro lado do salão, Matthew observou o desenrolar da cena e não apreciou ver o quanto o olhar de Anastácia se perdurou no sorriso do marquês de Westville. Ele, que estava trocando gracejos cordiais com lady Daphne Wood, perdeu-se completamente ao perceber que a atenção de Any foi capturada por aquele jovem lorde que um tanto novo demais para cortejar sua amiga. Claro que Any chamaria a atenção de qualquer homem, ela estava linda, e aquele vestido vermelho que marcava tão bem as curvas de seu corpo, fazia com que se tornasse uma imagem tentadora aos olhos de qualquer mortal.
Ao ver a amiga deixar o salão, Matthew rapidamente se despediu da moça com quem conversava e partiu ao encalço de Anastácia que marchou até a biblioteca, fechando a porta atrás de si.
Com muito cuidado, sem querer chamar a atenção, Matthew adentrou no cômodo e encontrou a amiga desesperada, vasculhando as gavetas de uma escrivaninha acoplada junto a parede ao lado de uma imensa estante de livros.
— Anastácia! O que fazes aqui? — indagou, fazendo a amiga se assustar.
— Matthew Morrison! Quer me matar de susto! — esbravejou, mantendo as mãos ao centro do peito, com a respiração acelerada. — Custava ter alertado sobre a sua presença?
— Acabei de fazer isso, Any! — expressou, sorrindo, aproximando-se da amiga. — E você não respondeu a minha pergunta.
— Estou à procura de algo que possa servir como um cartão de baile. Esqueci o meu. — explicou, revirando as gavetas.
— Quanta preocupação para algo tão insignificante. — Segurou o braço de Any, puxando-a para perto de si. — Acho que estas precisando de um beijo para se acalmar. — Um sorriso malicioso se formou nos lábios do duque, antes de ele levar seu rosto para perto de Anastácia.
— Tenha santa paciência, homem! — Empurrou o amigo para longe. — Estou no meio de um grande problema e você pensando em beijos? Francamente, Matthew, ponha a cabeça no devido lugar! — E voltou a procurar por algo que lhe servisse como um cartão.
A princípio Matthew arregalou os olhos, espantado. Nunca, em todos aqueles anos, alguma mulher havia rechaçado seus beijos. Aquilo jamais tinha ocorrido antes. Depois, a indignação o possuiu e uma bufada contrariada escapou por seus lábios.
— Tudo sempre tem que ocorrer à sua maneira, Anastácia. Mas agora eu estou no controle da situação. Se quer aprender a beijar, eu lhe direi quando e onde, cabe a você apenas aceitar.
Any interrompeu as ações, alinhou a postura e encarou o amigo, irada.
— Se pretende agir dessa forma, então é melhor reconsiderarmos o nosso acordo. Não sou dada a receber ordens de qualquer homem e com certeza não receberei de você.
Matthew, furioso, percorreu as mãos pelos cabelos escuros, inalou o ar profundamente, pensando como sua amiga era exasperante. Tomado pelo súbito mau-humor, ele disse entredentes:
— Por ora deixaremos tudo como está. — Uniu as sobrancelhas em uma carranca. — Fique aqui, Anastácia. Voltarei com seu maldito cartão de baile. — Virou-se de costas e rumou até a saída.
— Como conseguirá isso? — Any perguntou, antes que ele saísse pela porta.
Matthew virou o pescoço e falou:
— Tenho os meus meios. — Guardando seus mistérios, ele partiu, deixando Anastácia prostrada naquela enorme biblioteca vazia.
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Any aguardou impaciente pelo retorno do amigo que parecia ter se perdido pelo caminho, esquecendo-se dela. Ansiosa, ela começou a andar de um lado para o outro, pensando no que diria ao marquês de Westville sobre o seu sumiço e o fato de que não conseguiu encontrar o maldito cartão de baile, aparentemente tão essencial. Anastácia quase afundou o chão daquela biblioteca de tanto andar, quando Matthew finalmente retornou, ostentando aquele absurdo e problemático sorriso de canto, segurando em suas mãos aquilo que ela mais desejava.
— Matthew! Você conseguiu! — Foi de encontro ao amigo e tentou pegar o tal cartão.
Contudo, Matt levantou o braço para o alto impedindo que ela alcançasse o prêmio.
Lorde Morrison sempre foi muito maior que Any, e mesmo que ela pulasse, jamais alcançaria aquele pedaço de papel.
— Acredito que chegou o momento de eu lhe mostrar como é um beijo de agradecimento, pequena Any. — Os lábios do duque exibiram um sorriso repleto da mais pura malícia.
Lady Lumb conhecia seu amigo a bastante tempo, e, portanto, sabia que ele não sairia dali sem aquele beijo.
— Acredito que sim, Matthew.
— Deves dizer: querido Matthew. — o lorde pediu, provocando.
Any bufou, rolando os olhos.
— E não role os olhos para mim, Anastácia Lumb. — repreendeu, escondendo o riso.
— Sim, querido Matthew! — expressou, fingido doçura, enfatizando a palavra solicitada.
O duque, então, baixou o braço estendido para trás de suas costas largas, inclinou-se na direção de Anastácia e finalmente a beijou, satisfazendo todo o seu desejo.
Matthew levou a mão livre ao pescoço de Any, mantendo as pontas dos dedos queixo da bela mulher, conforme aprofundou o beijo. Não teve como evitar, sua língua invadiu a boca quente de Anastasia, que gemeu, baixinho, apertando os braços de Matthew, intensificando aquele beijo permeado da mais pura luxúria. Beijar Anastácia era diferente. Any despertava nele desejos primitivos e perigosos. Ainda assim, o duque não era capaz de fugir daquela tentação e jamais havia sentido tanto prazer com apenas um beijo. Ao notar a rigidez se formar no meio de suas pernas, ele se afastou sutilmente, abriu os olhos ainda mantendo as mãos ao entre o queixo e o pescoço de Anastácia e encarou o rosto corado, a boca inchada e os belos olhos verdes da amiga, cujas pupilas estavam dilatadas revelando o desejo que ela também sentiu.
— Estás linda essa noite, Any. — sussurrou, sentindo a respiração quente da mulher tocar os seus lábios.
Os lábios de Anastácia se curvaram em um leve sorriso quando falou:
— Deveria ter dito isso assim que nos vimos.
Matthew retirou a mão de Anastasia e lhe entregou o tal cartão.
— Devo acrescentar que também estás deliciosa. — sussurrou, rente ao ouvido da mulher, e depositou um beijo em sua bochecha.
Any tinha tantas palavras a proferir, mas nenhuma delas chegou à sua boca. Ela apenas permaneceu imóvel, escorada na escrivaninha, sentindo um turbilhão de desejo se agitar dentro de si.
— Tenha um bom baile, lady Lumb — Matthew partiu, sorrindo, e não olhou para trás.
Lady Lumb levou alguns minutos até que conseguiu recobrar a compostura. Ela ajeitou o vestido no corpo, conferiu se todos os grampos estavam presos no cabelo e só então retornou ao salão, em posse do tão problemático cartão de baile.
Any evitou olhar para Matthew quando atravessou o salão e entregou o cartão ao jovem marquês, que satisfeito, assinou o nome em uma caligrafia impecável.
Seu coração ainda disparava em um ritmo acelerado, quando dançou com o rapaz, sorrindo, conversando amenidades, embora a sua mente insistiu em permanecer fixa a lembrança do beijo que ocorrera um pouco antes.
Quando a música findou, Any agradeceu o lorde e tornou a se aproximar de lady Morrison que estava naquele baile fazendo o papel de sua mãe. Anastácia bebeu mais uma taça de champanhe, embora desejasse tomar algo mais forte, pois claramente precisava aliviar a tensão de seu corpo.
— Irei até a sacada, preciso tomar um ar. — informou à duquesa que apenas assentiu levemente em concordância.
O vento úmido de uma noite chuvosa tocou sua face assim que Any chegou a sacada. O frescor da brisa cálida foi como um bálsamo para seus ânimos deveras agitados. A lady apreciava aquele momento pacífico, olhando para a vastidão do jardim vazio, quando lady Daphne Wood juntou-se a ela.
— Lady Anastácia Lumb. — expressou a jovem de esplêndidos cabelos dourados os quais emolduravam sua bela face de beleza invejável. Seu nome, de fato, fazia jus à deusa grega. Era linda, e diferentemente de Anastácia, possuía uma reputação impecável.
— Lady Daphne Wood. — Any arqueou a sobrancelha, fitando a mulher pelo canto dos olhos.
— Estava à procura de um momento a sós contigo. Precisamos ter uma conversa, já que roubou o que era para ser o meu lugar como a joia da temporada. — revelou, a mulher, abruptamente.
Any franziu o cenho sem compreender quais eram as intenções de lady Woods, que apenas prosseguiu:
— Ninguém esperava que fosse debutar nesse ou em qualquer outro ano. Sobretudo, minha cara, nenhuma pessoa acreditou que pudesse ter o apoio da rainha, mas assim o teve. Ofuscou meu brilho, lady Lumb e isso eu jamais irei perdoar. — declarou, a moça, pegando Anastácia de surpresa.
Any virou-se de modo a encará-la e então proferiu:
— Jamais lhe pediria perdão por ser quem sou. Não me importo contigo ou com qualquer outra lady que esteja nesse baile. Não somos inimigas, tampouco aliadas. Estamos a procura do matrimônio, mas pode ter certeza de que meus objetivos são totalmente distintos dos seus. — Voltou a atenção para o jardim que se estendia abaixo da sacada.
— Estás enganada, lady Lumb. Somos inimigas, pois pretendo me casar com o duque de Hereford e você está no meu caminho.
Any tornou a encarar aquela moça deveras ousada, desafiando-a. No entanto, a moça não se abalou e declarou com firmeza:
— Eu me casarei com lorde Morrison e quando isso acontecer, lady Lumb, farei com que ele esqueça que um dia você fez parte da vida dele. Tornar-se-á apenas uma mera lembrança e só então eu me sentirei vingada pelo fato de que roubara o momento o qual eu esperei por toda a minha vida.
Um sorriso se formou nos lábios de Anastácia ao ouvir tamanha tolice.
— Matthew jamais se casará contigo. Ele nunca levará ao matrimônio alguém que não possa me aceitar. Quem se casar com ele, saberá que, no fundo, também estará se casando comigo. E eu não tenho a mínima intenção de me casar contigo. — Irritada, afastou-se daquela moça, sabendo que de todas a mulheres ali presentes, lady Daphne Wood seria aquela que Matthew jamais iria desposar.
Tal noite a havia reservado situações que Any jamais pensou que iria viver. Tantas coisas haviam acontecido e ela tinha se esquecido do motivo principal pelo qual estava ali. Entretanto, quando avistou a rainha vindo ao seu encontro, a lady soube que muitas situações ainda estavam por vir.
— Lady Lumb! — exclamou a monarca, radiante. — Estava à sua procura. Tenho uma surpresa para você. Siga-me.
Anastácia sentiu um frio subir à sua espinha ao ouvir aquela frase. Todavia, sem outra escolha, seguiu ao encalço da rainha e somente Deus sabia o que ela havia reservado ao lado Lumb. Any apenas não esperava que, às vezes, a surpresa ser boa, afinal.
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(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Olá ladies! Tudo bom?
Espero que estejam gostando da história e se estiverem, clique na ⭐️ e deixem seu voto!
É isso! Nos vemos domingo no próximo domingo, mas antes fiquem com essa belezura de duque 🤤
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