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11 - Reino Animal

"De fato, estou inclinada a pensar que a rainha enxerga as debutantes como galinhas. Apenas isso pode explicar a exigência de tantas penas no rigor dos trajes. Lamentável!

— Lady Anastácia Lumb

Lady Anastácia Lumb jamais foi conhecida por temer alguma situação, muito pelo contrário, sua fama por toda Londres remetia a uma mulher ousada e decididamente determinada. Todavia, naquela manhã, ao observar sua imagem no reflexo do espelho acoplado à penteadeira de Rosália, Any se deparou com um semblante de preocupação em sua face. Ali, naquele quarto situado no andar superior do The Royal, enquanto permanecia rodeada pelas jovens dames que trabalhavam em seu clube, Anastácia sentiu-se como uma inexperiente garota de dezessete anos prestes a debutar e ela não se sentia nada confiante. Na verdade, Any estava apavorada, pois finalmente se deu conta que realmente debutaria e aquele terror retornou para assombrá-la.

— Tens certeza de que estou vestida adequadamente? Esse vestido me parece tão simples. — indagou, conferindo o reflexo no espelho, incerta sobre aquela decisão de veste.

— Está impecável! — assegurou, Juliet, a única que tinha experiência em bailes de debutantes

A graciosa Juliet, apesar de possuir uma beleza invejável, nascerá em uma família pobre, mesmo que fosse esplendorosamente bela, jamais se casaria com um lorde. Uma união entre classes sociais deveras distintas, era praticamente impossível de ocorrer naquele século. A antes de trabalhar no The Royal, Juliet receberá uma boa educação de sua mãe que fora governanta na residência de um visconde. Seus dotes, possibilitou que, os dezoito anos, viesse a se tornar dama de companhia da única filha de barão de Stanfield. Todavia, o destino foi tremendamente cruel, pois Juliet teve a infelicidade de despertar do interesse do filho mais velho do lorde, que ao ter sido recusado pela jovem, acusou-a falsamente de roubo, prejudicando que a moça conseguisse trabalhar com outras famílias nobres, sendo obrigada a sucumbir a promiscuidade de modo a garantir que seus irmãos não passassem fome, após sua mãe ter falecido, deixando a todos sem nenhum bem. Contudo, aquele infeliz passado ficou para trás, meia década depois, Juliet já havia conquistado sua independência financeira e tinha se tornado a única provedora de seus irmãos, que jamais voltaram a passar fome depois que ela se firmou no The Royal. Muito em breve ela partiria para América, deixaria a Inglaterra para sempre. Mas antes disso, ajudaria sua amiga Any, a se casar.

— Confio na sua palavra, July. Se diz que estou vestida adequadamente, então de fato estou. — Sorriu, alisando o vestido de seda pelo corpo.

— Estás tão pura, Any! O branco sem graça de fato camuflou toda a sua escandalosidade. — Rosália, provocou rindo.

— Tão pura! Nem parece que comanda um clube de Cavalheiros repleto de promiscuidade e luxúria. — Mary, uma das dames, zombou, rindo.

— Quanta bobagem! — Any exclamou rolando os olhos! — Todos sabem que sou um exemplo de pureza e castidade! — Fingiu uma graciosidade exagerada, fazendo todas rirem.

Então a porta foi aberta abruptamente, revelando Evelyn, que adentrou no cômodo, esbaforida, carregando nas mãos um punhado de longas penas brancas.

— Ache! Achei! Achei! — A moça de curvas voluptuosas arquejou, curvando-se para frente, tentando recuperar o ar que lhe faltou. — Achei as penas brancas. — Ainda ofegante, ergueu o rosto levemente rechonchudo, entregando as penas para Any.

— Para que raios eu preciso dessas penas? — Anastácia exclamou, franzindo o cenho.

— É um adorno para a cabeça, milady. — Juliet explicou, escondendo o riso.

Rose, contudo, não se conteve e gargalhou alto.

— Está bem claro no comunicado enviado pelo lorde Chamberlain, que deves usar, na cabeça, no mínimo meia dúzia de longas penas brancas e suas joias mais valiosas. — enfatizou, Rose, rindo.

— Pelo amor de Deus! — Any exclamou indignada. — A rainha espera que nos tornemos uma galinha?

Toda as mulheres presentes no quarto caíram na gargalhada.

— É como no reino animal, Any! É preciso se exibir para sobressair na época de acasalamento. No seu caso, querida, a metáfora se refere a Temporada de Casamentos. — Juliet explicou, ajeitando as penas ao penteado de Any. — Prontinho, Any. Estas devidamente arrumada para debutar.

Lady Lumb concentrou o olhar em seu reflexo no espelho, avaliando o visual, que ao seu ver, não combinava nem um pouco com sua personalidade.

— Então, o que achou? — Rosália questionou, observando as ações da amiga.

— Acho que estou parecendo uma galinha! Odiei essas penas! — Torceu os lábios, contrariada.

Um coro de riso tomou conta do quarto. Any era realmente diferente de qualquer outra mulher.

De repente, o ambiente fora tomado por um clima desconfortável, quando Anastácia virou-se para as moças com lágrimas surgindo em seus olhos verdes.

— O que está acontecendo, Any? — Lucy gentilmente perguntou ao notar a tristeza no olhar de sua amiga.

Lady Lumb desviou o olhar para o chão, evitando encarar os pares de olhos que pareciam avaliá-la. Ela estava à beira dos nervos e já não era capaz de controlar seus temores que rugiam, implorando para serem libertos.

— Estou morrendo de medo. — confessou, baixinho, com a voz embargada pelo choro. — Tenho medo de falhar, de se ser um tremendo fracasso. E se rirem de mim? E se fizerem chacota da apresentação? Não me importo em carregar a reputação de escandalosa, mas ficaria profundamente mal se eu trouxesse vergonha ao meu pai. — Any sentou-se na cadeira acolchoada, tentando controlar o tremor que subiu às suas pernas.

— Oh Any! Não seja tola! — Rose envolveu a amiga em um abraço apertado. — Sua apresentação será um sucesso! Com certeza tens mais personalidade da qualquer outra lady que irá debutar.

Logo as demais mulheres também abraçaram Anastácia, fazendo-a se sentir mais confiante.

— Será um sucesso! — Emily assegurou com firmeza.

— Se é alguém que pode fazer isso, é você, Any! — exclamou Juliet.

— Não precisa temer esses abutres aristocratas. Eles quem devem temê-la. — Lucy completou fervorosamente.

— E se a rainha não te aprovar, ela que vá caçar sapos. Quem é que se importa com sua aprovação? Eu obviamente não me importo! — disse, Rose, com toda determinação.

— Obrigada, meninas! Não sei o que eu faria sem vocês! — Anastácia agradeceu, sentindo-se realmente feliz ser quem realmente era.

— Com licença. — Mary, sua querida governanta, bateu na porta entreaberta, revelando a sua presença.

Rapidamente as mulheres se afastaram de Anastácia que secou as lágrimas do rosto, recobrando a postura.

— Oh, Mary! Deixe de cerimônia e se aproxime.

— Você sabe muito bem, mocinha, que jamais apreciarei este lugar! —resmungou, contrariada, já caminhado até a sua pupila. — Sinto-me impura apenas por estar aqui. — Fechou a face em uma carranca, tornando a postura ainda mais austera do que de costume.

— Oh Mary! Podes falar o que quiser, sabe que gostamos de você! — Rosália, afrontosa, depositou um beijo estalado na bochecha magra, levemente enrugada, da governanta.

— Oh céus! O que eu fiz para merecer isso? — A senhora rolou os olhos, mas um pequeno sorriso se formou em seus lábios finos.

— Até mais, Senhora Garrison! — Juliet se despediu, rindo, levando as mulheres consigo.

Assim que ficaram a sós, Mary finalmente pode contemplar a graciosidade de sua pequena Anastácia. Seus olhos escuros se enxergam d'água ao apreciar a beleza impecável da sua menina que finalmente debutaria.

— Mary! Não chores! — Any pediu, meio sem jeito.

— Oh, minha Any! — Fungou, limpando as lágrimas. — Você está tão linda!

— Acha mesmo, Mary! Tem certeza de que não estou parecendo uma ave com todas essas penas penduradas na cabeça? — Lady Lumb perguntou, arrancando um riso da senhora.

— Ah menina! Você realmente não tem jeito! — Balançou a cabeça negativamente, ainda rindo.

— A que devo a honra da sua visita em meu antro de perdição? — Any provocou, arqueando uma sobrancelha.

— Tenha modos, menina! Não foi assim que eu te criei! — Mary, repreendeu, seriamente.

Anastácia, por sua vez, caiu na gargalhada.

— Seu pai me pediu para que te entregasse a joia que pertenceu a sua mãe. Posso colocar em você?

A seriedade voltou a ocupar o rosto da lady. Toda aquela formalidade comprovava que tudo era real; ela realmente iria debutar.

— Por favor. — Anastácia virou-se de costas para a senhora, afastando os cabelos para o lado.

A senhora Garrison abriu a caixa aveludada, retirando o brilhante colar prateado cravejado em brilhantes esmeraldas verdes que possuíam delicados formatos de gotas e o colocou em sua Any.

Lady Lumb percorreu os dedos pela peça, admirando o acessório que realçou seu busto apagado naquele vestido branco.

— Sabe que eu pediria que me acompanhasse até a rainha, se fosse possível. — a lady confessou, olhando para o reflexo da senhora Garrison no espelho. — És como a minha mãe, Mary. Deveria ser você a me acompanhar. Porém, não é possível. Preciso fazer tudo certo dessa vez. Não quero falhar. — Mais uma vez as lágrimas surgiram em seus olhos.

— Oh, menina! Deixe de ser tola. Sei dos seus sentimentos por mim, não precisa me provar nada, minha pequenina.

Any sorriu, sentindo-se aliviada.

— Levante-se, querida! Chegou o momento de encarar a sociedade.

Lady Lumb colocou-se em pé e ajeitou a veste em seu corpo.

— Será que devo fugir novamente? — Exibiu um sorriso amarelo.

— Dessa vez não, minha menina! — Mary sorriu, levando sua pupila até a porta.

Assim, lady Anastácia Lumb deixou o The Royal, tendo a certeza de que nada, jamais, seria como antes.

💃

Era uma incômoda tarde quente, nada típico de Londres. Ao descer da carruagem, Anastácia precisou levar uma das mãos à frente do rosto, evitando que a claridade do Sol ofuscasse momentaneamente a sua visão. Com a outra mão, ela ergueu a barra do vestido branco e desceu o degrau com muito cuidado evitando não estragar a seda de sua veste. A passos firme, Any caminhou pelo chão arenoso da estreita passarela que levava a majestosa residência White cujas paredes impecavelmente brancas faziam jus ao seu nome.

Mal Anastácia atravessou a porta, lady Morrison, a duquesa de Hereford já estava prostrada na antessala junto de suas filhas, a sua espera.

— Lady Lumb! — Katherine Morrison exclamou ao analisar Anastácia. — Estás exuberante. — elogiou, orgulhosa, com os olhos brilhando.

Joan, por sua vez, exibiu uma careta de desgosto ao fixar o olhar nas penas presas ao cabelo de Any e então falou:

— Acredito que há um certo exagero em sua afirmação, mãe.

— Bobagem! — Felicity expressou, caminhando até a lady e segurou suas mãos. — Está linda, Any.

Lady Lumb apenas forçou um sorriso, pois sabia que as mulheres tinham suas parcelas de razão: de fato estava bela aos padrões da sociedade moralista; mas também havia um certo exagero naquele rigor, e aquelas penas, de fato, não combinavam consigo.

— E a residência White, finalmente contempla a sua primeira debutante! — exclamou, Matt, ao descer as escadas, sorrindo.

Any evidentemente rolou os olhos para o amigo e evitou olhar para seus lábios, tentando não pensar nas lembranças perturbadores que eles traziam.

— Meu Deus! — o duque exclamou exasperado — Todas tem que se fantasiar de galinha para se apresentar a rainha?

— Matthew! — a duquesa repreendeu, em tom duro, unindo as sobrancelhas ao centro da testa.

O lorde, no entanto, apenas balançou os ombros, indiferente, como se quisesse dizer que estava na razão.

— Jesus, Matt! Tinha que me comprar justamente com uma galinha? Por que não um cisne? Nas lendas irlandesas, tais aves sempre desempenham papéis significativos. Eu poderia ser um cisne. — Any argumentou tão segura como sempre.

Mas Matthew não ouviu nada do que ela disse, pois seus olhos apenas se fixaram no exuberante colar que Anastácia levava no pescoço, chamando a atenção para seu busto firme. Por um momento, o lorde imaginou como seria prazeroso ver o a lady nua, usando apenas aquela joia que realçava magnificamente as cores de seu olhar. E todos o pensamento impuro se perdeu rapidamente, quando ouviu a voz de sua mãe:

— Basta de conversas fúteis! — lady Morrison advertiu irritada. — Vamos, Anastácia. Não podemos chegar atrasadas. A rainha não tolera atrasos.

Rapidamente a duquesa rumou até a porta, passando por Anastácia que se virou de modo a segui-la. Contudo, antes de sair, Matthew se prontificou:

— Deixe-me levar até a carruagem, Any. — Estendeu os braços para amiga, que sorrindo enganchou os braços nos seus.

Um arrepio percorreu todo o corpo de Anastácia ao sentir o toque de Matthew. Ela odiava constatar o fato de que, depois daquele beijo, Matthew já não parecia ser o mesmo. Algo mudará; Any passou a enxergá-lo com outros olhos e só então percebeu o quanto seu amigo era belo e sedutor.

— Está entregue, pequena Any. — Ajudou-a subir na carruagem, e antes de fechar a porta, Matt se inclinou para perto da mulher e arrancou todas as exageradas penas de seu cabelo que se dispersaram no ar. — Prontinho, lady Lumb, não estás parecendo uma ave. — sorriu, acariciando as bochechas coradas da amiga, contendo o desejo tentador de beijá-la ali mesmo, na frente de sua mãe.

— Obrigada. — sussurrou, para que a duquesa não a ouvisse.

— Matthew Morrison! Saia já daqui antes que estrague mais alguma coisa! — esbravejou lady Morrison, dando sinal para que o cocheiro iniciasse a viagem.

O cocheiro estalou o chicote no lombo no cavalo e o veículo seguiu seu rumo a procissão de carruagens das debutantes que desceram a rua Picadilly em direção ao palácio de St. James, deixando Anastácia à beira de seu futuro incerto.

💃

Havia junto de Anastácia, doze debutantes de variadas idades, a mais nova tinha apenas dezessete anos e Any, a mais velha dali, possuía vinte e oito.

Tão logo foram levadas para antessala em que deveriam aguardar até serem chamadas à presença da rainha. Anastácia notou que todas as mulheres a olharam de cima para baixo e viraram o rosto rudemente, cochilando entre elas o quanto desaprovaram a presença de Lady Lumb naquele evento.

— Não se importe com isso, Any. Você precisa apenas da aprovação da rainha e nada a mais. — Lady Morrison sussurrou confortando-a.

O que a duquesa não sabia é que Anastácia não se importava nem um pouco com aquelas mulheres esnobes. Any apenas lhes direcionou o olhar, pois sabia que uma daquelas moças se tornaria a esposa de Matt. Apesar dos últimos acontecimentos, ela não tinha se esquecido de sua promessa de ajudar o amigo a encontrar a sua duquesa. E, por ora, nenhuma mulher parecia adequada a ocupar tal posição, e talvez nunca seriam.

Então a porta se abriu, revelando o emissário da rainha, fazendo as conversações se findar. Any sentiu o coração disparar em seu peito. Finalmente havia chegado o tão temido momento.

— Formem uma fila, miladys. A rainha irá recebê-las. — ordenou o emissário e rapidamente o caos se tomou no cômodo.

Anastácia observou, contendo o riso, o amontoado de penas se agitando pelo ambiente, enquanto as moças e suas mães disputavam o melhor lugar na fila. Por um instante, a lady achou que a filha da viscondessa de Herb, juntamente com a da condessa de Saltimon, iriam entrar em uma briga física em busca do primeiro lugar. Algo que infelizmente não ocorreu, pois a porta se abriu novamente revelando a rainha Victoria, sentada com toda a sua pompa em seu trono real, acompanhada do seu neto, o jovem príncipe Louis.

A fila finalmente se tornou única e Anastácia sabiamente ocupou o último lugar.

— Lembre-se. Deve-se curvar aos pés da rainha. Não fale antes que Sua Majestade lhe conceda a palavra. Não a toque sem permissão. E, ao sair, jamais dê as costas para a Rainha. — Lady Morrison sussurrou rapidamente, antes de se afastar junto as demais mães aflitas.

O coração de Anastácia disparou em um ritmo acelerado conforme seguiu o caminhar da fila. Seus lábios se secaram por conta do nervosismo, mas ela não demonstrou qualquer sinal de fraqueza. Apenas alinhou as costas, estufou o peito e tomou o seu lugar ao lado das debutantes que ficaram de frente para a monarca.

O silêncio perturbador tomou conta da sala à medida em que a rainha lançou seu olhar penetrante e cada uma das moças aflitas. Quando o olhar da senhora recaiu em Anastácia, seus olhos semicerram por breves instantes. Any, por sua vez, sentiu os lábios se curvarem em um sorriso quase despercebido.

Em silêncio, a rainha desceu do trono e colocou-se em pé encarando as moças. Com um único gesto de mão, ela deu o comando para que a filha da viscondessa de Saltimon se aproximasse.

Toda nervosa e esbaforida, a jovem lady de apenas vinte anos se jogou ao chão, curvando-se aos pés da rainha. Ao se levantar, as penas em sua cabeça farfalharam. A rainha, então, segurou o rosto da moça em suas mãos rechonchuda e beijou sua testa em claro sinal de aprovação. Mantendo um sorriso enorme nos lábios, a debutante se afastou e tomou seu lugar no topo da fila.

A mesma situação se repetiu com as demais debutantes. Uma por uma, elas se prostraram graciosamente aos pés da rainha, embora, no final, a atenção de muitas permaneceu no jovem príncipe sentado ao lado do trono.

Todavia, quando chegou a vez de Anastácia, a lady caminhou a passos firmes rumo a rainha, mas ao invés de se prostrar aos seus pés, apenas se curvou em uma meia reverência.

— Deves se curvar inteiramente perante a Coroa, lady Lumb. — advertiu, a monarca, em tom sério.

Any, ainda encurvada, levantou o rosto e expressou:

— Minha idade já não me permite tanta desenvoltura, Vossa Majestade. Deveras se contentar com essa meia reverência. — explicou, Any, em um afiado tom de provocação.

— Que seja! — resmungou a monarca e lhe estendeu a mão enluvada. — Suponho que sua idade ainda não lhe tenha afetado a sua boca, podes me beijar?

Lady Lumb esboçou um leve sorriso de canto antes de levar os lábios à mão da rainha em um beijo casto.

— O que aconteceu com suas penas? — Enrugou a testa ao avaliar o penteado da lady.

— Tive imprevistos pelo trajeto, e as penas, infelizmente, acabaram sendo dispersas ao vento. — Any fingiu que se lamentava.

— Posso ver. — A monarca retirou do cabelo da moça, um fiapo de pena que ainda insistiu em acompanhar Lady Lumb. — Está dispensada, Anastácia.

Assim que a rainha virou as costas, Any lançou uma piscadela a Louis, fazendo o jovem sorrir abertamente.

— A partir de hoje, consideram-se parte da sociedade. Tens a minha bênção para encontrar o matrimônio. Inclusive, você, lady Lumb. — Os lábios enrugados da rainha se curvaram em um sorriso sarcástico. Any, porém, apenas assentiu em concordância, agradecendo silenciosamente.

As debutantes aguardaram a dispensa da Majestade, contudo a senhora prosseguiu:

— Todas estão convidadas para o baile que farei amanhã, no palácio de Windsor. — Os olhos astutos da mulher se fixou em Anastácia. — Tenho uma surpresa para ti, lady Lumb. Peço que não falte ao evento.

— Não faltarei, Vossa Majestade.

Não tendo mais nada a tratar, a rainha dispensou as debutantes que saíram caladas pela porta, voltando para suas mães.

Any e lady Morrison não trocaram nenhuma palavra até que se encontraram fora do palácio de St. James. Porém, ao observar a duquesa de Hereford pelo canto dos olhos, ela teve certeza de que a mulher está à beira dos nervos.

— Ocorreu tudo bem, Anastácia?

— Sim. — respondeu — Transcorreu conforme o esperado. Recebi a benção da rainha.

— Oh, que maravilha! — A duquesa exclamou batendo palmas.

As mulheres estavam prestes a embarcar na carruagem, quando o príncipe Louis chamou por Anastácia:

— Lady Lumb! Espere! Desejo trocar algumas palavras contigo.

Anastácia interrompeu a ação e esperou que Louis se aproximasse.

— Vossa Alteza. — Lady Morrison dobrou os joelhos em reverência ao membro da realeza.

— Vossa Graça. — o príncipe cumprimentou, meneando a cabeça para o lado em um gesto cordial.

— Podes entrar, Lady Morrison, acredito que o príncipe deseja um pouco de privacidade. — pediu, Anastácia.

No rosto da duquesa surgiu uma expressão de puro desagrado. Anastácia havia acabado de debutar com sucesso, e, sob a perspectiva da mãe de Matthew, Any estava prestes a estragar tudo ficando a sós com o príncipe. Todavia, ainda que a contragosto, Katherine Morrison embarcou na carruagem.

— De fato é real! Lady Lumb finalmente debutou! — Louis exclamou, sorrindo.

— E em algum momento pensou que não era? — Any provocou.

— Acho que eu e muita gente acreditou que fugiria como o fez da última vez. — revelou o jovem.

— Confesso que essa possibilidade passou por minha cabeça. Entretanto, Vossa Alteza, devo admitir que já não possuo o vigor de antes, não tenho ânimo para mais uma aventura. — confessou, um tanto triste.

— Mas está caminhando rumo ao matrimônio, és uma aventura, afinal. — Louis argumentou sabiamente.

— Tens razão, Vossa Alteza. Uma aventura que jamais pensei que enfrentaria. — Gargalhou, arrancando um riso do jovem príncipe.

Contudo, aquele momento de descontração se desfez subitamente, quando o monarca indagou:

— Tenho alguma chance de te levar ao matrimônio, Lady Lumb? — Seus olhos claros inundaram de apreensão.

Por um momento, Anastácia não encontrou as palavras certas para se expressar. Ela gostava de Louis, de verdade, mas o afeto jamais iria transpor a linha da amizade, e, naquele momento, Any temeu magoar o jovem príncipe.

Sem se importar com o pudor ou com os bons modos que as regras arcaicas da sociedade estabelecia, lady Lumb segurou a mão do príncipe e fixou o olhar em no rapaz quando falou:

— Oh Louis... — proferiu, pela primeira vez, o nome de batismo do príncipe. — Queria eu poder dizer que és apto a ser meu pretendente, mas seria cruel de minha parte te iludir com tamanho inverdade. — A face do jovem foi tomada pela profunda tristeza ao ouvir aquelas palavras. Any, ao perceber aquela reação, logo completou: — Aprecio de verdade a sua amizade e jamais tive a intenção de magoá-lo. Peço perdão se algum dia lhe passei a intenção de que poderíamos nos envolver em um romance. Sinto-me péssima por saber que te causei tanta tristeza. Sinto muito.

Louis sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos. No entanto, ele disse por fim:

— Não se culpe, Anastácia. Jamais me iludiu com falsas promessas. Eu sou o único culpado nessa situação, simplesmente não resisti a ser arrebatado pela mulher incrível que tu és. Agradeço por sua amizade. Saibas que serei eternamente leal a ti e a amizade que construímos ao longo desses anos. E, por fim, finalmente me tornei feliz ao saber que passamos nos referir um ao outro pelo nome de batismo. O que mais eu poderia desejar?

Lady Lumb teve de se conter ao extremo para não se jogar nos braços do príncipe e envolvê-lo em afetuoso abraço apertado. A lealdade era recíproca: Any o defenderia até os finais dos tempos e talvez além.

— Louis, eu te abraçaria se os modos permitisse. Mas estamos em público e eu acabei de debutar. Faça-me uma visita ao The Royal e eu o abracei tão apertado, que até ficará sem ar. — prometeu, rindo.

O príncipe gargalhou alto, chamando a atenção de algumas debutantes fuxiqueiras, acompanhadas por suas mães, que permaneceram ali, observando discretamente a conversa de ambos.

— Oh Anastácia! Não sei dizer se isso é um convite ou uma ameaça. Poderia ser presa por conspirar a morte de um monarca. — Riu, provocando aquela que de fato se tornou sua amiga.

— Deus me livre de perder o pouco de liberdade que ainda me resta. Em breve estarei presa em um casamento. Oh destino cruel!

Louis, ainda rindo, levou aos mão enluvada de Anastácia aos seus lábios e se despediu da lady em um gesto cortês.

Any estava sorrindo quando adentrou na carruagem deparando-se com uma lady Morrison estranhamente muito satisfeita.

— Sabes que essa conversa amistosa com o jovem príncipe renderá ótimos frutos, certo? — indagou a duquesa sem esperar pela resposta de Any. — Certamente haverá rumores de que Vossa Alteza tens interesse em lhe fazer a corte e isso lhe trará muitos outros pretendentes. Oh Any! Estou tão animada com essa temporada! Seremos um sucesso! — Sorriu como lady Lumb jamais havia visto.

Anastácia tivera uma boa estreia na temporada. Talvez as coisas não seriam tão ruins como ela pensou que fosse. Talvez tudo se ajeitasse em menos tempo do que previa. Todavia, não era aquilo que a preocupava. Por ora, a tal surpresa da rainha era tudo que ocupava os seus pensamentos. O que a monarca a havia reservado, afinal? Any não gostava daquilo, mas enfrentaria o que viesse pela frente de cabeça erguida. Ela era Anastácia Lumb, a lady escandalosa e selvagem, jamais temeu a Coroa, e no fundo do seu coração, soube que jamais temeria. Ela era de fato, um espirito indomável, e em toda Londres, jamais haveria outra igual.

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