36 - Rivalidades
"Eu poderia facilmente perdoar o seu orgulho, se ele não tivesse mortificado o meu."
—Orgulho e Preconceito - Jane Austin
Naquela mesma manhã, por alguns momentos, Joan que estava sentada devidamente ereta à mesa, percorreu as mãos transpirando pelo tecido engomado de sua saia perfeitamente arrumada sobre as pernas cruzadas, tentando disfarçar sua inquietude. Ao seu redor, risos e murmúrios escapavam dos jovens casais que a acompanhavam com suas conversas cheias de frivolidades e confidências murmuradas. A luz dourada do Sol poente adentrou pelas copas das árvores, dançando sobre o cristal das taças e os pratos finamente decorados. Mas, para lady Morrison, tudo pareceu um borrão.
Seus olhos, embora aparentassem desinteressados, constantemente a traiam e fitavam Albert quase ao seu lado da mesa. Ele, com sua postura confiante e sorriso provocador, parecia perfeitamente à vontade àquela ocasião, participando das discussões insignificantes com um charme que Joan conhecia muito bem — e que, naquele instante, a irritou profundamente. Não era apenas a memória do passado que latejava em sua mente, mas a tensão palpável que os envolvia. Uma rivalidade que se manifestava em olhares desafiadores e sorrisos carregados de subcontexto. Era como se todo o ambiente os estivesse observando, aguardando pelo inevitável confronto.
O jogo ao ar livre que logo aconteceria era mais do que um passatempo trivial para os presentes. Todavia, para Joan, tratava-se de uma oportunidade de enfrentar Davies, não apenas como rival, mas como alguém que ela precisava superar — por orgulho, por dignidade, talvez até por vingança.
Os outros convidados não pareciam notar a tensão entre eles, mas para Joan e Alber, cada palavra trocada, cada movimento discreto fazia parte de um jogo que já havia começado antes mesmo de eles viessem a pisar no gramado.
— Bem... — Levantou-se a lady Foster. — O nosso primeiro desafio, será um caloroso, e espero que bem disputado, jogo de argolas. — A senhora bateu palmas, animadas e todos à mesa se juntaram a ela.
— Nossa vitória é garantida, minha querida. — disse Davies, alto o bastante para que Joan ouvisse.
— Isso é o que veremos. — a jovem rebateu em tom confiante, lançando uma piscadela para o Russel que concordou esboçando um sorriso.
— Vamos as regras do jogo — continuou lady Foster — Primeiramente, todos serão divididos em casais. — Pegou o papel disposto à mesa, ajeitou os óculos de formato oval no rosto e começou a ler: Edward Thompson e Victoria Bennett; Henry Collins e Elizabeth Robinson; Arthur Morgan e Emma Carter; George Parker e Clara Turner; Charles Hughes e Alice Foster; Thomas White e Mary Clark; William King e Margaret Hall; Frederick Green e Sarah Thompson; James Bennett e Eleanor Collins; Alfred Foster e Jane White; Albert Davies e Helen Scot; Willian Russel e Joan Morrison. — Esses serão os pares até o fim da nossa estadia. Espero que, acima de tudo, divirtam-se. — explicou a senhora, exultante.
— Tudo conforme o esperado. — sussurrou Russel para Joan.
— Com toda certeza, meu caro. — Sorriu, balançando os ombros.
— Agora vamos as regras do jogo — completou lady Foster — Inicialmente, devo dizer que esta não é uma simples brincadeira. Não, não! É uma prova de habilidade, destreza e, acima de tudo, cooperação entre os casais. Apenas um par sairá vitorioso, e o prestígio será eterno entre os convidados desta casa!
Um burburinho de empolgação tomou conta da sala. A partir daquele momento, todos desejavam ser campeões.
— As regras são as seguintes — retomou lady Foster — primeiro, dispusemos doze estacas ao longo do campo, cada uma representando um casal. Observem bem, pois são decoradas com as fitas de vossas cores para que saibam qual pertence a quem. Cada casal receberá três argolas. As ladies começarão lançando enquanto os cavalheiros se posicionarão junto à estaca do oponente mais próximo. O objetivo é simples: lançar a argola de modo que ela aterrisse perfeitamente ao redor da estaca de um casal adversário. — Todos permaneceram devidamente atentos a cada palavra proferida pela anfitriã daquela casa. — Pontos importantes a recordar... se uma argola encaixar-se em uma estaca alheia, o casal que lançou eliminará essa estaca do jogo. Se um cavalheiro ou dama adversário interceptar uma argola antes que ela toque à estaca, aquele lançamento não terá efeito e o objeto será devolvido ao casal que lançou. Uma vez que uma estaca é eliminada, o respectivo casal deverá deixar o campo, mas não desanimem, pois todos serão jurados entusiásticos do embate final. — Riu, tentado levar uma certa leveza ao clima ardente de competitividade que se instaurou na sala. — O jogo seguirá, turno a turno, até que reste apenas uma estaca de pé: a dos campeões, é claro! Ah, e para tornar tudo ainda mais empolgante, a cada rodada, as ladies e os cavalheiros trocarão de lugar. Assim, ambos terão sua vez de lançar e interceptar. — Agora, uma palavra de cautela! Lembrem-se de que este jogo é tanto sobre elegância quanto estratégia. Evitem lançamentos brutos, e não, senhor Collins, não pense, nem por um instante em arremessar-se ao chão para interceptar uma argola — este é somente um jogo, afinal!
Todos gargalharam mediante aquele aviso deveras inusitado.
— Ladies e cavalheiros, peço a gentileza de me acompanharem a ala externa para tomarem suas posições. A honra, a glória e um prêmio misterioso, aguardam os vencedores. Que o melhor casal triunfe!
___💂🏻♂️___
Naquela manhã radiante na casa de campo da senhora Foster, onde o jardim se estendia como um tapete verde salpicado de flores silvestres, os doze casais se reuniram para um inesquecível jogo de argolas. Uma atividade que misturava destreza, camaradagem e, para alguns — conhecidos rivais —, uma pitada de competitividade feroz. O torneio, cuidadosamente organizado por lady Foster, prometia, além uma taça de prata à dupla vencedora gravada com o ano e o nome do casal triunfante, um misterioso prêmio a qual todos almejavam alcançar.
Conforme explicado pela senhora Foster, os casais colocaram-se devidamente posicionados em seus respectivos lugares, torcendo pelo êxito de seus pares.
À medida em que as rodadas progrediram, o jogo rapidamente se tornou uma demonstração de habilidade e rivalidade.
Victoria Bennett, com seu charme usual, foi a primeira a arremessar. Ao seu lado, Edward Thompson a encorajou com um sorriso confiante. A argola deslizou graciosamente pelo ar, acertando a estaca com precisão.
— Muito bem, minha querida! — exclamou, Edward, enquanto os outros casais aplaudiam polidamente.
Elizabeth Robinson e Henry Collins, em seguida, não tiveram a mesma sorte. A argola de da moça passou longe do alvo, arrancando uma risada amistosa de Henry.
— Parece que minha mira não está à altura do dia. — brincou ela.
Arthur Morgan e Emma Carter mostraram-se um par equilibrado, acertando duas estacas consecutivas e arrancando murmúrios de aprovação. Clara Turner, porém, não se deixou intimidar e, com um ar decidido, arremessou uma argola que contornou à estaca com elegância. George Parker levantou o punho em celebração, mas a competição estava apenas começando.
Conforme a manhã avançou, dois casais — obviamente já esperado — emergiram como favoritos: Albert Davies e Helen Scot, junto de William Russel e Joan Morrison.
Albert, sempre meticuloso, ajustou cada arremesso como um cientista calibrando um experimento. Helen, por outro lado, era a alma tranquila da dupla, equilibrando a intensidade de Albert com sua precisão.
Joan Morrison, entretanto, era um furacão de energia e astúcia. Seus arremessos eram tão precisos quanto imprevisíveis. William Russel, sempre galante, aplaudiu suas jogadas com entusiasmo genuíno. Quando Joan acertou três estacas consecutivas, um burburinho atravessou o jardim.
Na rodada final, a disputa entre Albert e Joan atingiu seu auge. Ambos os casais estavam empatados, e apenas um arremesso decidiria o campeão. Albert ajustou os ombros, os olhos fixos na estaca. O silêncio era tão denso que foi possível ouvir o som das folhas balançando ao vento. Ele, com muita habilidade, lançou a argola, que girou no ar e pousou na estaca com uma precisão impecável. Os espectadores explodiram em aplausos.
Joan, no entanto, não se intimidou. Com um sorriso desafiador, pegou sua última argola e analisou o alvo com muita cautela..
— Você consegue, Jô. — incentivou Russel.
Ela, então, lançou a argola com uma graça quase teatral, o objeto cortou o ar em um arco perfeito, mas, para sua temida infelicidade, errou à estaca por um triz, que caiu no chão com um leve som abafado.
O jardim foi tomado por exclamações de surpresa e entusiasmo. A senhora Foster confirmou o resultado: Albert Davies e Helen Scot se tornaram os campeões!
Davies, com um sorriso triunfante, ergueu a taça de prata e olhou para Joan com um olhar desaforado.
— Parece que a perfeição venceu a imprevisibilidade, minha cara Joan. — disse ele, em um tom claramente provocador.
Joan, por sua vez, torceu o nariz, cruzou os braços e sorriu desafiadoramente.
— Aproveite enquanto pode, Davies. Da próxima vez, sem dúvida alguma, a vitória será minha.
Com o sol começando a se estender para o meio do céu azul, os casais se reuniram para um delicioso almoço ao ar livre, onde risos e provocações amistosas ecoaram pelo campo.
Era para ser o encerramento perfeito para uma manhã de camaradagem e competição que ficaria na memória de todos, menos, é claro, para Joan que não gostou nem um pouco daquele desfecho. Ficou mal-humorada, de fato, e prometeu para si mesma que venceria o próximo jogo, pois era uma Morrison, afinal.
___💂🏻♂️___
Olá, ladies!
Conforme prometido, estou de volta!!!
Espero que tenham gostado do capítulo e já adianto que amanhã tem mais!!!
Se não for pedir muito, me deem um feedback sobre a escrita. Estou retomando após um longo e difícil período de hiato; não sei se ainda possuo o mesmo talento de outrora. Também compartilhem com amigas, familiares etc... É sempre bom receber um pouquinho de reconhecimento.
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Obrigada por tudo, e, principalmente, por não me abandonar!
Amo muito vocês!!!!
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