33 - Sentimentos Ocultos
"Eles seguiram em frente, sem saber em que direção. Havia muito para ser pensado, sentido e dito, para atenção a quaisquer outros objetos".
— Jane Austen - Orgulho e Preconceito
Na manhã seguinte, Joan acordou determinada a encontrar Davies, de modo a negociar a propriedade em Staten Island.
Ela se arrumou impecavelmente, avisou a todos que iria a Mayfair, tomou a carruagem e partiu rumo ao parlamento, pois tinha negócios a tratar com Davies.
Enquanto estava na carruagem, foi pensando no discurso que diria para convencer o conde a lhe vender a propriedade em que ela havia estabelecido seu empreendimento de sucesso. Sabia que seria uma negociação difícil, mas ela não desistiria até conseguir o que desejava.
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Ao chegar no parlamento, Joan notou que todos os olhares se voltaram para ela, afinal, ainda não era comum a presença de uma mulher naquele lugar.
Joan, portanto, aproximou-se de um jovem e solicitou:
— Por gentileza, gostaria de falar com lorde Albert Davies.
O moço franziu o cenho, mas perguntou:
— Qual o nome da senhorita?
— Lady Joan Morrison.
— Aguarde um momento, transmitirei a informação a ele.
— Tudo bem.
Então o jovem adentrou pela porta e Joan ficou o aguardando. Não tardou para que ele retornasse.
— Lorde Davies está acompanhando um debate, mas pediu para que eu a conduza até o escritório dele.
— Perfeito.
— Acompanhe-me, lady.
Joan seguiu ao encalço do homem, subiu um lance de escada, caminhou até o corredor e passou por três portas fechadas até que chegaram ao destino.
Com demasiada cordialidade, o jovem abriu a porta concedendo a passagem para Joan.
— Lady Morrison, assim que o debate findar, o conde virá ao seu encontro.
Joan apenas assentiu concordando.
Respirando fundo e controlando as emoções, ela permaneceu sentada naquele escritório elegantemente decorado e ajeitou mais uma vez o longo vestido feito de rendas e tecidos delicados. Um curto tempo depois, ela observou Albert Davies adentrar no ambiente. Seus olhos encontram-se por um breve momento, o suficiente para despertar memórias de um passado compartilhado, de momentos de alegria e dor.
Ao fitar aqueles intensos olhos negros, Joan sentiu um sentimento familiar se agitar dentro dela; algo que ela fez questão de dissipar.
Então a mulher levou um leve sorriso aos lábios, que fora rapidamente substituindo-o por uma expressão de indiferença. O coração bateu acelerado dentro do peito, clamando para que revelasse seus verdadeiros sentimentos, mas a razão prevaleceu. Joan se lembrou das lágrimas derramadas, das promessas quebradas e das feridas que ainda estavam cicatrizando. Chegara o momento de pôr um fim em tudo.
Albert sentou na poltrona atrás da mesa e analisou Joan por um instante antes de questionar:
— Em que posso ajudar, lady Morrison?.
Joan aprumou a postura e disse:
— Irei direto ao assunto: Desejo comprar sua propriedade em Staten Island, bem como sua parte na sociedade.
Albert franziu o cenho diante daquela ousadia.
— Nem minha propriedade, tampouco minha parte na sociedade não estão à venda.
— Pago muito mais do que vale. — insistiu Joan.
— Não venderei.
— Mas... — iniciou Joan, porém foi interrompida.
— Mas nada! Não venderei e ponto final.
Joan grunhiu contrariada.
— Por que faz tanta questão de comprar aquilo que me pertence? — inquiriu o conde, curioso.
— Pela razão de que não quero ter mais nenhum vínculo contigo. O senhor me magoou por demais.
Albert esboçou um sorriso cínico.
— A senhorita se esquece que também me magoou. Saímos ambos feridos.
— Minhas ações foram justificadas. Estava fugindo de minha família e não poderia revelar minha identidade.
— Eu teria guardado seu segredo se me tivesse pedido. — E disse com certo pesar: — Sinto muito se eu a magoei.
— Um pouco tarde para desculpas. Cinco anos mais tarde para ser mais precisa.
Albert soltou um riso baixo.
— E você continua assertiva.
— Acredite, estou melhor agora.
— Isso é nítido, Joan.
— Para o senhor, sou lady Morrison.
— Lady Morrison pretende arranjar um marido nessa temporada? — Albert mudou de assunto.
— Não estou a procura, de fato, mas se surgir a oportunidade, não recusarei. Afinal, o capitão Russel sempre foi um excelente pretendente.
Albert não gostou nem um pouco daquela informação.
— Será que realmente me amou, lady Morrison? Ou estava apenas suprindo o lugar que Russel deixou?
— Ofende-me que pense dessa forma. Óbvio que eu te amei. Estava completamente apaixonada por ti e por mais ninguém.
Albert sorriu ao ouvir aquela declaração.
— E agora, ainda sente algo por mim?
— Sim. Mágoa, dor, tristeza e lamento. — respondeu Joan.
No entanto, enquanto ela fingia que não sentia nada, uma mistura de esperança e melancolia permeou seus pensamentos. Joan se perguntou se Davies já percebeu a falta de genuinidade em suas palavras, se ele sentia falta do amor que um dia compartilharam. Tais incertezas a torturaram, mas ela permaneceu firme em seu papel, temendo que qualquer revelação de seu verdadeiro amor pudesse trazer mais dor do que alívio.
— Éramos bons um para o outro. — disse Davies.
— Até não sermos mais. — completou Joan.
— Você está feliz? — indagou Davies.
— Claro. Conquistei minha independência e meu lugar no mundo. Meu empreendimento é um sucesso. Tenho muitos motivos para estar feliz.
— E quanto a vida amorosa?
Joan esboçou um sorriso de canto quando respondeu:
— Tive muitos relacionamentos ao longo desses anos, afinal, sou uma mulher livre.
Davies não gostou nem um pouco daquela resposta.
— Não vai me perguntar sobre a minha vida amorosa? — indagou Albert.
— Não. — Deu de ombros. — O que faz da sua vida não me interessa.
Aquela resposta foi uma grande alfinetada no ego do conde.
Joan se colocou em pé, ajeitou o vestido e declarou:
— Acredite, lorde Devil, o senhor ainda venderá sua prioridade. Eu não desisto facilmente.
Albert sorriu quando disse:
— Eu também não estou habituado a ceder. Teremos um grande embate.
Joan franziu o cenho antes de dizer:
— Não gosto disso.
— Não gosta do que? — insistiu Albert.
— Da possibilidade de termos de interagir mais vezes.
— Isso é inevitável.
— Infelizmente.
— Eu a acompanharei até a porta. — disse Albert.
— Não será necessário. — declarou Joan.
— Eu insisto.
Joan rolou os olhos antes de falar:
— Então venha.
Davies Levantou-se e levou Joan até a saída.
— Até breve, Morrison.
— Até, Devil.
O conde riu ao ouvir aquele apelido.
Joan, por sua vez, deixou o escritório levando na mente vários pensamentos.
Nas profundezas de sua alma, por mais que tentasse evitar, ela ansiava com um futuro em que os sentimentos pudessem ser expressos, um tempo em que as obrigações políticas e os deveres públicos não mais a restringissem. Mas, por enquanto, ela manteve a máscara intacta, ocultando seus sentimentos no corredor do Parlamento, enquanto continuou seu caminho com dignidade e discrição.
Albert Davies seria uma pessoa constante enquanto ela estivesse em Londres e Joan não retornaria a New York sem a propriedade que viera comprar.
Londres seria muito desafiadora, afinal.
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Olá, ladies!
Espero que tenham gostado do capítulo!
Até breve!
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