31 - Acerto de Contas
"Por vezes, o amor fala mais alto que o ódio".
— Joan Morrison
Felicity Morrison era tão geniosa quanto a irmã e todos os demais Morrison 's, por tal razão, continuou a ignorar Joan e permaneceu trancada no quarto, evitando a encontrar pela casa.
Joan, por sua vez, concedeu o devido espaço à irmã, embora sabia que em algum momento teria de enfrentá-la. Mas, para o alívio dela, nem todos a odiavam. Tal fato se tornou evidente quando, logo pela manhã, Matthew e esposa Anastácia foram até residência, apenas para vê-la, e levaram junto a filhinha Esperança de quatro aninhos, a qual Joan veria pela primeira vez.
— Cadê ela, mamãe? Cadê? Joan Morrison, apareça! — Lá de cima, Joan ouviu o irmão ordenar, em tom de urgência.
Joan, que já estava a caminho, desceu a escada correndo e logo se jogou nos braços do irmão.
— Matt! Senti tanto a sua falta.
— Acredite, eu também senti sua falta, senhorita teimosa.
Joan gargalhou alto. Pelo menos o irmão não estava brigado com ela.
Então a atenção dela voltou-se para a cunhada que sorria.
— Any! Como é bom revê-la! — Envolveu a cunhada em um abraço apertado.
— Meu Deus, Jô! Como está diferente! És uma bela mulher! — constatou Matthew.
— Obrigada, Matt. — Voltou a atenção para a sobrinha. — E você deve ser minha linda sobrinha Esperança. — disse Joan para a pequena garotinha de vividos olhos azuis e cabelos escuros como os dos pais.
— Diga oi para sua tia, filha. — pediu Any, em tom gentil.
— Oi. — murmurou a garotinha, um tanto envergonhada.
— Oi, princesa. — Acariciou as bochechas da menininha e então tornou a olhar para o irmão. — Matthew, ela se parece tanto contigo!
— Só na aparência, Jô. Na personalidade é todinha a Anastácia.
Joan gargalhou alto. Pobre Matthew, estava em apuros com duas Anastácia em casa.
Então foi a vez de Felicity descer os degraus às pressas, cumprimentou a todos fazendo questão de ignorar Joan e voltou toda a atenção para pequena Esperança.
— Venha lindinha, vamos brincar com a titia. — convidou a caçula, levando a menina para longe.
— Presumo que Felicity ainda está zangada contido, minha irmã. — comentou Matthew.
— Está correto, meu irmão. Fazer o quê. — Deu de ombros.
Naquele momento, Dursley desceu para tomar o café da manhã.
— Bom dia a todos. — ele cumprimentou meio encabulado. Não gostava de socializar com estranhos, por isso apreciava demais os cavalos.
Joan, por sua vez, fez as devidas apresentações e então acompanharam Katherine até a sala de jantar.
Um pouco mais tarde, Felicity e Esperança se juntaram aos demais, e como de habitual, a moça continuou a ignorar a irmã mais velha.
Katherine, que não gostou nem um pouco de ver as filhas em pé de guerra, tentou de todas as formas fazer com que mantivessem o diálogo, porém Felicity permaneceu irredutível no posicionamento de não falar com a irmã. Era uma verdadeira Morrison: completamente teimosa.
— Matthew, meu amor, leve o senhor Dursley para apreciar um uísque e um bom charuto. Ele veio de tão longe, merece ser bem recebido. — sugeriu Anastácia.
— É uma excelente ideia, meu amor. — Rapidamente se levantou. — Acompanha-me, senhor Dursley?
— Certamente, lorde Morrison.
Ambos deixaram a mesa e foram até o escritório.
— Joan, posso ter uma conversa particular contigo? — pediu Any.
Joan franziu o cenho, deveras intrigada, porém disse:
— Claro.
— Fê, você pode olhar a Esperança por alguns minutos?
— Será um prazer, Any. Você sabe que eu amo essa garotinha.
Logo, Anastácia se colocou em pé e Joan fez o mesmo.
— Acompanhe-me até meu quarto, Any.
Ambas saíram do cômodo, deixando uma Katherine muito curiosa para trás.
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Ao longo daqueles cinco anos, Joan trocou inúmeras cartas com Anastácia, relatando para cunhada todos os momentos vividos, desde os assuntos mais tristes e demasiados íntimos, até aqueles relacionados ao campo dos negócios. Any era a sua maior confidente e conselheira, estava a par de todos os acontecimentos da vida de Joan. Por tal motivo, ela não apreciou ver a cunhada tão séria.
— Jô, sente-se. — Depositou a mão sobre o colchão.
Joan atendeu o pedido e ocupou o lugar de frente para Any.
Anastácia respirou fundo antes de começar.
— Jô... Sei que veio aqui para resolver pendências no âmbito dos negócios com lorde Albert Davies. Conforme já me relatou, tenho ciência de que pretende comprar a propriedade em Staten Island a qual pertence ao conde, local este em que você estabeleceu seu negócio de adestramento de equinos. Todavia, tendo em vista o relacionamento de término conturbado e eu sendo sua cunhada e também sua amiga, devo lhe informar... — Respirou fundo antes de revelar: — Davies ficou noivo, na última semana. Noivou com a filha mais velha do visconde de Saliston, lady Helen Scot. Devem se casar em breve.
Joan absorveu em silêncio o impacto daquela revelação. Soube, portanto, que mesmo depois de ter se passado meia década e dela ter se relacionado com outros homens, o conde ainda mexia com seus sentimentos. Jô não conseguiu evitar que um nó se formasse na garganta e fechou os olhos, por um momento, respirando fundo tentando conter o turbilhão de emoções que a atingiu. Ela tentou dizer algo, mas os pensamentos ficaram confusos, ironicamente, sentiu-se paralisada, sem saber como agir diante daquela revelação. Então a dor se tornou quase insuportável e Joan sentiu como se seu coração estivesse sendo esmagado em pedaços. Tentou se levantar da cama, mas as pernas ficaram fracas e trêmulas. E somente após um longo momento, recobrou a lucidez, respirou profundamente e disse por fim:
— Já estava em tempo dele encontrar uma esposa. — e completou com frieza: — Fique tranquila, Any. Esse noivado não me afeta em nada, eu já o superei.
Anastácia não acreditou nem um pouco naquelas palavras, pois viu a cor desaparecer do rosto da cunhada quando entregou aquela fatídica notícia. Entretanto, de qualquer forma, era melhor que Joan enterrasse os sentimentos e esquecesse o conde de vez.
— Fico satisfeita em saber disso. Com certeza os negócios serão mais bem resolvidos sem o infortúnio do passado.
— Sim, serão. — concordou Joan.
— Bem, era apenas esse assunto que eu queria tratar contigo. — Any colocou-se em pé. — Estou feliz que esteja aqui. Farei um baile na residência White e quero a presença de todos os Morrison's. Pode levar o senhor Dursley contigo, haverá uma grande surpresa. — Any declarou, fazendo mistério
— Surpresa? Boa ou ruim?
— Saberá no baile. — E deixando o mistério pairando no ar, Anastácia saiu pela porta.
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Joan Morrison se encontrou-se em uma tremenda enrascada: não trouxe qualquer vestido de baile. Óbvio que ela sabia que haveria vários bailes para ir ao longo de sua estadia em Londres, mas apenas não pensou que teria de frequentar a um logo no segundo dia após seu retorno. Nenhum alfaiate faria algo em cima da hora e também não havia tempo hábil para ir a modista. Joan precisava de um vestido e apenas Felicity poderia salvá-la. Mas havia um grande problema: a irmã ainda se recusava a falar com ela.
Ao se aproximar do quarto de Felicity, Joan se viu entre a cruz e a espada. Fato é que, era preciso resolver as duas questões: precisava falar com a irmã, ao passo que necessitava de um vestido dela.
Juntando toda coragem, a mulher bateu na porta.
— Entre. — comandou Felicity do outro lado.
Com o coração disparado, Joan adentrou no quarto e encontrou a irmã sentada junto a escrivaninha, datilografando em uma máquina de escrever.
— Ah, é você. — resmungou, franzindo o cenho.
— Sim, sou eu. Preciso lhe dizer algumas palavras e tentar dissipar essa horrível tensão que se instalou entre nós. Você deve ao menos me ouvir, se vai me perdoar ou não, isso é algo que apenas você poderá decidir.
Felicity parou de escrever, olhou fixamente para irmã e disse:
— Prossiga, então.
Joan inalou o ar profundamente e perguntou:
— Acredito que não leu nenhuma das minhas cartas, certo?
Felicity assentiu concordando e respondeu:
— Recusei-me a abri-las. Quando partiu, eu a detestei e nem queria ouvir nada que fosse relacionado a você. Foi terrível ver meus sonhos destruídos por conta da sua fuga. Você sempre soube que meu maior desejo era debutar, ir a bailes, conhecer pretendentes e você destruiu tudo quando resolveu partir. Matthew e Anastácia tentaram encobrir sua fuga de modo a me preservar. Falaram que você estava na Escócia, na casa de um parente. Contudo, os boatos da sua fuga eram fortes demais e sobressaíram a toda invenção. Rapidamente eu fui descartada como pretendente. Pararam de me convidar para os bailes, pois temiam que eu também viesse a fugir, assim como Anastácia e você o fizeram. Fui descartada da sociedade por culpa dos erros de outras pessoas. Uma tremenda injustiça, afinal.
Ao ouvir aquilo, o coração de Joan se apertou. Era exatamente o que ela pensava: Felicity sofreu as consequências de suas ações. Um mal irreparável.
— Sinto muito pelo que lhe aconteceu. — disse Joan. — Você deveria ter me contado, respondido as minhas cartas. Eu teria retornado por você.
— Não quis interromper seus sonhos. Não me pareceu certo. — Chacoalhou os ombros, conformada.
Joan que até o momento estava em pé, decidiu se sentar na cama.
— Sabe, Fê... Se você tivesse lido minhas correspondências, saberia que minha vida não foi um mar de rosas como você deve ter imaginado. Sim, eu conquistei tudo que fui buscar, mas também sofri muitas desilusões. Quando eu parti de Londres, forjei uma identidade falsa, passando-me por Jolie Taylor, uma mera criada. Durante a viagem, ironicamente me aproximei de lorde Albert Davies, o famigerado conde de Bastille que nosso irmão sempre odiou. Por conveniência do destino, ele me acolheu em sua casa e nós estabelecemos um romance sincero, mas ele não sabia que eu era uma Morrison, escondi tal verdade temendo perdê-lo. Por fim, alguém me delatou e Albert rompeu comigo, não pelo fato de eu ser uma Morrison, mas principalmente por ter mentido para ele. Davies partiu sem me dizer um adeus, deixou-me apenas uma maldita carta que explicava a motivação para o término abrupto. Um mês depois, minhas regras atrasaram e eu descobri que estava grávida dele. Relatei esse ocorrido em uma das cartas que te enviei, parabenizando-a por ser titia. Porém, infelizmente, semanas após tão correspondência, lhe escrevi outra carta relatando que sofri uma queda de cavalo e acabei tendo um aborto espontâneo. E foi assim que Albert foi capaz de deixar o meu ventre e meu coração vazio. Ironicamente, ainda somos sócios, apesar de nunca mais ter nos falado. Mas agora me sinto preparada para pôr um fim definitivo na nossa história. Estou aqui para romper com a sociedade de uma vez por todas e comprar a propriedade dele em Staten Island. Não quero mais manter qualquer vínculo com o homem que mais me magoou. Essa é a minha história, Fê. Queria que tivesse lido as minhas cartas.
Felicity que estava com os olhos repleto de lágrimas, lançou-se nos braços da irmã.
— Sinto muito que tenha passado por tudo isso. Sinto de todo meu coração, Jô. — Abraçou Joan fortemente. — Eu devia ter lido suas cartas, você precisou de mim e eu não estava lá por você, perdoe-me.
— Nós duas falhamos uma com a outra. Somos ambas culpadas. — Lamentou Joan.
— Mas também somos irmãs. — completou Felicity — devemos nos perdoar.
— Sim, devemos. — concordou Joan, sorrindo.
Felicity se afastou da irmã, mantendo um leve sorriso no rosto.
— Mas saiba que nem tudo na minha vida foi tão terrível. Fiquei decepcionada com o fracasso do meu debute, entretanto a vida tomou um rumo inesperado e deveras instigante. Aproximei-me ainda mais de Any, que me envolveu ativamente em seu Clube de Ladies. Por intermédio dela, acabei conhecendo o Sir Jonathan Smith o qual se casou com a modista Lucylle Smith. Com ele, adentrei no ramo do jornalismo, mais especificamente, para o horror da mamãe, escrevo para setor criminalista. Já tenho algumas notícias publicadas em meu nome. Um grande avanço para o nosso gênero. Estava investigando um crime quando me acidentei e torci o tornozelo. Nada grave, ossos do ofício. Você não foi a única Morrison a se tornar independente. De certa forma, eu também me tornei.
Joan abriu um largo sorriso ao ouvir aquele relato.
— Fico tão contente em saber disso. As mulher Morrison's realmente somos incomparáveis.
— De fato, somos. — Felicity sorriu.
— Agora, minha irmã, devo lhe pedir um favor...
— Pois, diga.
— Você me empresta um vestido para ir ao baile na residência do nosso irmão?
— Mas é claro. Pode escolher qualquer um. — Apontou o indicador em direção ao guarda-roupa.
Naquele dia, a paz finalmente reinou na residência Morrison. Todavia, a felicidade de Joan em breve seria abalada por um reencontro esperado e ela descobriria que é realmente difícil superar um grande amor. Um grande infortúnio, afinal.
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Olá, ladies!
Espero que tenham gostado do capítulo.
Conforme eu for escrevendo, vou postando.
bjs
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