28 - Ficar ou Partir?
"Algumas decisões são realmente difíceis de tomar".
—Joan Morrison
Após a leitura daquela carta, Joan, com o coração disparado e os olhos transbordando em lágrimas, saiu em disparada do escritório, respirando apressadamente, e ignorando a todos, correu até o estabulo, encontrou a baía onde estava o puro árabe e começou a selá-lo de forma bastante enérgica.
Dursley, ao notar que a moça estava muito agitada, advertiu:
— Não sei se o cavalo está pronto para isso, senhorita.
— Ele está. Eu sei que está. — declarou, com a voz embargada pelo choro.
— Senhorita... — Dursley apelou mais uma vez.
— Eu preciso de você Yala. Preciso hoje e agora. Por favor, não me abandone também. — Suplicou ao cavalo, em árabe, antes de montá-lo em uma habilidade nata.
— Vamos! — Ordenou ao garanhão que deixou o estábulo galopando ferozmente.
Joan, cuja mente permanecia inundada pela dor, deixou que o cavalo escolhesse o caminho. Em uma velocidade impressionante, o animal cortou a floresta e logo encontrou o caminho do mar.
Joan Morrison cavalgou com fúria ao longo da beira do mar, montada naquele poderoso cavalo negro. Seus cabelos emaranhados chicotearam ao vento à medida em que, na face dela, surgiu uma expressão de ira. Davies a abandonou sem nem ao menos ter a coragem de encará-la nos olhos antes dizer "adeus". No fim, foi ele quem fugiu a deixando em meio ao caos.
Joan continuou a cavalgar ferozmente, sentindo o coração palpitar forte no peito. O Sol começou a se pôr horizonte, criando uma intensa luz vermelha que a acompanhou naquela solitude. Então o dia foi substituído pela noite, quando ela enfim voltou a realidade. Joan finalmente parou de cavalgar e notou som imponente das ondas do mar se chocando contra as rochas. Ela, ainda muito triste, encarou o vasto oceano, desejando mais uma vez estar de volta a Londres e soltou, por fim, um pesaroso suspiro. Já havia percorrido um longo caminho até ali. Não poderia voltar. Davies fora embora, mas ela não viera à Londres atrás do conde; viera em busca da independência, da sua liberdade. Pensar naquilo foi tudo o que bastou para que a moça tomasse a mais importante das decisões: ela ficaria em Staten Island, iniciaria um empreendimento de sucesso, e quando tivesse conquistado tudo que viera buscar, devolveria tudo de volta para Davies e finalmente ficaria em paz. Ela tinha um propósito e uma história a findar.
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Naquele início de noite, quando Joan retornou aquela casa, ela rapidamente subiu a escada, evitando a todos e adentrou no refúgio daquele que ainda era o seu quarto. A moça, ainda muito triste, tirou as roupas, entrou no chuveiro e chorou pela última vez naquela noite. Já estava a tempo dela resistir a dor.
Tentando não pensar nos terríveis acontecimentos daquele dia, Joan vestiu uma chemise confortável e deitou-se.
Já havia passado da hora do jantar, quando Beatrix tomou coragem e bateu à porta.
— Jô, posso entrar?
Joan permaneceu em silêncio, incerta sobre querer conversar com alguém naquela noite. Contudo, havia muitas perguntas sem respostas e talvez Bea pudesse responde-las.
— Entre. — murmurou por fim.
Beatrix adentrou no quarto, trajando suas vestes de dormir e levou consigo uma garrafa de uísque, sabendo que, naquela altura, qualquer conversa seria melhor com o álcool.
— Posso me sentar ao seu lado? — A loira indagou insegura.
— Fique à vontade. — Joan ajeitou-se na cama.
Bea ocupou o lugar vago, abriu a garrafa de uísque, sorveu um longo gole direto do gargalo e ofereceu a bebida à Joan que aceitou.
— Como você está?
— Triste, magoada, traída e ferida. — respondeu Joan, devolvendo a garrafa a amiga.
— Sinto muito que esteja se sentindo dessa forma. Sinto de todo meu coração. — Bebeu mais um pouco do líquido âmbar, antes de repassar a vez.
— Eu esperava que isso pudesse acontecer, mas de alguma forma, eu não estava preparada para o fim. Acho que jamais estaria. — confessou melancólica.
— Você sabe que ele terminou contigo por conta da mentira e não por ser uma Morrison, certo?
— Ainda assim, dói. Não tive outra escolha a não ser mentir.
— Eu sei, Jô. Eu tentei persuadi-lo a ficar, a relevar os fatos. Mas Albert é um maldito Davies. És Orgulhoso e teimoso.
Ambas ficaram em silêncio até que Joan finalmente perguntou:
— Sabe o que é pior? Até hoje não sei o porquê de existir tanta rivalidade entre Albert e meu irmão. Por acaso você sabe me informar?
Bea sorveu mais um gole do líquido âmbar e respirou fundo antes de responder:
— Albert teve uma criação muito rígida, desde criança fora lhe ensinado que ele devia ser melhor que qualquer outra pessoa, pois era um Davies e futuro conde de Bastille. Seu pai jamais amou a mãe dele. Tiveram um casamento arranjado, o qual a família considerou-se a linhagem da mãe: uma verdadeira aristocrata, cujo pai era detentor de um antigo e poderoso viscondado. Margot tinha apenas dezesseis anos quando se casou com Umberto Davies, que já beirava os trinta. Tiveram um casamento infeliz, permeado de frieza e pouco afeto. Albert foi muito aguardado pelo pai, pois significava a continuação da linhagem Davies. Todavia, assim como ele nunca amou a mãe, jamais foi capaz de amar os filhos. O antigo conde havia se casado por obrigação, mas seu coração sempre pertenceu a lady Katherine, que nunca correspondeu seu amor e viera a se casar com Simon Morrison, o duque de Hereford e pai de Matthew Morrison. Aos dez anos de idade, Davies encontrou uma caixa no escritório do pai a qual continha inúmeras cartas de amor destinada a Katherine Morrison. Então ele percebeu que o conde desejava ter outra vida, bem como outro filho. Constantemente Umberto Davies comparava Albert com Matthew, forçando a ser melhor que o primogênito do duque. Davies passou a odiar todos os Morrison's, ao passo que começou a competir com Matthew por tudo. E embora fosse cinco anos mais novo que o filho de Katherine, Albert sempre foi extremamente inteligente, sendo capaz de alcançar Morrison nos estudos, frequentando as mesas classes em Eton e posteriormente a mesma faculdade em Oxford. Albert nunca conheceu o amor de seus pais, sua mãe era tão fria quanto uma pedra, jamais o abraçou. Ele, assim como a irmã Stephanie, foram criados pela governanta, a única que lhe transmitiu afeto. E, além de odiar os Morrison's, Albert tinha inveja de Matthew, pois ao contrário dele, o herdeiro do duque fora criado em uma lar repleto de amor e compreensão. Tinha tudo que Albert jamais teve: um pai que participou ativamente de sua criação e uma mãe que o amava mais que tudo. Aquilo abriu em Davies feridas que ele jamais conseguiu curar. Então, quando tinha dezessete anos, seus pais faleceram em um naufrágio a caminho da Índia. Albert, ainda muito jovem, foi obrigado a amadurecer rapidamente, pois recaiu sobre ele toda responsabilidade do condado, bem como a criação de sua irmã. Um ano depois, enquanto ele sofria todo o peso de uma vida adulta, permeada de conflitos, negócios, arrendatários e tudo que veio junto do título de conde de Bastille, Albert viu Matthew Morrison embarcar em uma aventura no Oriente, junto com a melhor amiga, lady Anastácia e ele, novamente, odiou toda a sorte do rival, pois jamais teria aquela liberdade de ser livre e fugir do mundo que o devorava. Davies, teve seus motivos para ser tão frio. Teve uma infância difícil e uma juventude roubada. Mas ele jurou que jamais seria como o pai, e se algum dia viesse a se casar, seria por amor. Antes de você, ele havia se relacionado com a senhorita Clare, uma mulher por quem acreditou que gostava o suficiente para construir uma família. Mas gostar não é amar. Albert nunca conheceu o amor, por isso acreditou que toda afeição que sentia por Clare era o suficiente para levá-la ao matrimônio. Contudo, a moça desejava por mais, e, naquela época, o conde não era capaz de lhe conhecer o que ela necessitava. Infortunadamente, Clare veio a se apaixonar por Daniel Sylver, melhor amigo de Albert e ele os pegou na cama em uma situação deveras comprometedora. Aquilo destruiu o coração dele. Havia sido traído duas vezes: pela mulher com quem iria se casar e também pelo melhor amigo. Ali, naquela noite, ele jurou que jamais se entregaria a outra mulher, assim como jamais voltaria a pensar em se casar por amor. No entanto, o destino é imprevisível, e pouco tempo depois de ter sofrido tal desilusão amorosa, ele conheceu você e finalmente descobriu o que é amar alguém de verdade. Infelizmente, sempre houve uma grande mentira entre ambos e foi isso que os separou. Albert foi capaz de relevar que era uma Morrison, mas não foi capaz de perdoar a mentira. Cada um tem o limite do que é capaz de aceitar. Albert evidentemente também tem o dele.
Joan absorveu aquela história com certo pesar. Soube, naquele momento, que conhecia tão pouco do homem por quem ela se apaixonou. Embora Matthew sempre praguejasse o conde, ela mesma nunca teve o interesse de saber o porquê havia tanta rivalidade entre ambos. De alguma forma, ela acreditava que poderia ser por um motivo fútil, alguma desavença infantil. Descobriu, no entanto, que era algo maior do que imaginava.
— É uma pena tudo que aconteceu com ele, com nós.
— É, Jô. Foi realmente uma pena. — Bea envolveu a amiga em um abraço. — Eu sei que é difícil, mas agora você precisa seguir em frente. Independentemente do que aconteceu com Albert, você tem um objetivo a concluir. Afinal, veio aqui atrás da sua independência e não de um romance. Amores passam, mas a sua vida não. Ainda é jovem, haverá muitos amores a viver.
— Não quero viver mais amores. Desejo apenas a minha liberdade e independência. Esse é o meu único objetivo agora. Esquecerei Albert, focarei no meu empreendimento e juntas seremos mulheres de sucesso. É tudo que eu desejo agora.
— Estou aqui para lhe apoiar em tudo. — afirmou Bea.
Joan apenas esboçou um leve sorriso em agradecimento aquele apoio e disse logo a seguir:
— Stephanie, irmã de Albert, virá daqui a um mês para tomar conta da casa e parte da sociedade de Albert. Não tenho certeza se ela me aceitará de bom grado. Não sei o que Albert falará para ela a respeito de mim.
— Não se preocupe com isso, Stephanie, apesar de também ser uma Davies, não é nada como irmão. Ela sabe separar as coisas. — Bea a tranquilizou.
— Assim eu espero. — murmurou Joan, em meio a um bocejo, ajeitando-se na cama para dormir.
— Deixarei que descanse. — A loira se colocou em pé. — Estarei em meu quarto, caso necessite de mim. — Plantou um beijo na testa da amiga e então partiu.
Em meio a melancolia, Joan adormeceu, desejando que o amanhã trouxesse dias melhores.
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