23 - Nascimento
"Presenciar um nascimento é algo realmente fascinante e indescritível."
—
Lady Joan Taylor
Após uma noite conturbada, Joan despertou muito mais calma e sentiu os braços de Davies ao redor do corpo dela, segurando-a com firmeza, como se tivesse medo da moça se afastar a qualquer momento. Porém, o que o homem não sabia, era que Joan não tinha qualquer intenção de sair dali — muito pelo contrário —, ela apreciava, indubitavelmente, a sensação do corpo junto ao do conde.
Temendo acordá-lo, Joan apenas levantou a cabeça de modo a olhá-lo e tocou o maxilar dele com as pontas dos dedos. No entanto, Davies, que sempre teve o sonho muito leve, despertou vagarosamente.
— Bom dia, Taylor! — cumprimentou, sorrindo.
— Bom dia, Davies! — Abriu um pequeno sorriso.
— A senhorita está melhor?
— Sim. Obrigada por ter ficado comigo.
— Acho que há essa altura, minha querida, deves saber que eu jamais consigo negar um pedido seu.
Ao ouvir aquilo, Joan sentiu o coração disparar no peito em uma emoção intensa.
— Eu gosto de você, Davies! Gosto de verdade. — confessou, voltando a se aconchegar no peito dele.
— Eu também gosto de ti, Taylor. Mais doque eu consigo colocar em palavras. — Beijou o topo da cabeça dela.
Mas ela não era uma Taylor; era uma Morrison e aquilo complicava demais as coisas. Talvez ele poderia até relevar a descendência dela, porém não poderia lidar com a mentira. Entretanto, infelizmente, era tarde demais para reparar qualquer erro e Joan apenas teria de encontrar uma forma de lidar com aquela situação, embora soubesse que nada seria capaz de alterar o fato imutável: ela vivia uma mentira.
— Apesar de eu apreciar estar junto da senhorita, devo me levantar. Tenho assuntos a resolver.
— Também devo me arrumar. Logo receberei o cavalo do senhor Stuart. — Finalmente se separou do conde, abrindo espaço para ele se levantar.
— Nessa manhã, tardarei um pouco para desfrutar do café da manhã. A senhorita pode me esperar?
— Depois do senhor ter me ajudado na noite que se passou, eu não seria capaz de negar nenhum pedido seu.
O conde, tomado por pensamentos libertinos, abriu um sorriso malicioso quando provocou:
— Não me tente, Taylor. Há vários pedidos que eu gostaria de fazer e todos eles terminam com a senhorita completamente nua sobre essa cama.
Joan arregalou os olhos e sentiu as bochechas queimarem em um misto de vergonha e desejo.
— Oh, Taylor! Essas suas bochechas coradas. — Fechou os olhos como se estivesse tentando controlar os impulsos. — Meu Deus, a senhorita não faz ideia do quanto mexe comigo.
— Juro que não é intencional, senhor. — murmurou em um tom rouco.
— O que torna tudo ainda mais instigante. — Sorriu, de uma forma que fez o coração de Joan acelerar. — Melhor eu ir, senhorita. Antes que eu cometa uma loucura.
Joan não disse nada, sequer conseguiu raciocinar com clareza e apenas observou o conde sair pela porta, desejando que tudo fosse mais simples e não uma tremenda bagunça repleta de mentiras.
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Naquela manhã, Joan não conseguiu afastar os pensamentos de Albert. Vez ou outra ela se pegava sorrindo ao se recordar da sensação de dormir nos braços dele. Se Matthew Morrison, seu irmão, soubesse o quanto ela havia se tornado íntima do conde, ele com certeza diria que estava pagando por todos os pecados. Joan gargalhou ao imaginar a face do duque quando soubesse que ela e Davies haviam se tornado amigos! Uma grande surpresa, afinal.
Após alguns minutos de incerteza, Joan enfim decidiu ir ao encontro de Albert, porém se deteve com a mão na maçaneta, pensando mil vezes antes de executar a ação. Por fim, não foi capaz de aplacar a curiosidade e disse:
— Davies! Posso entrar?
O conde, com a voz distante, logo autorizou:
— Fique à vontade, senhorita Taylor.
Um tanto insegura, Joan adentrou naquele quarto pela primeira vez.
Os olhos atentos da moça ficaram completamente admiradas ao se deparar com a elegância do cômodo. O amplo quarto era decorado com paredes em um rico tom verde musgo escuro, que contrastava com detalhes em dourado e bronze nas molduras das janelas arredondadas. A cama, de cabeceira ornamental, era coberta com finos lençóis de em seda verde-escuro e bordados dourado, complementando com as cortinas pesadas e luxuosas. No chão, um belíssimo tapete persa no mesmo tom dos lençóis, completavam aquele magnífico visual, tão refinado quanto o próprio conde.
— Estou na sala de banho, Taylor. — informou Davies.
— O senhor está vestido?
Albert gargalhou.
— Óbvio que estou. Caso contrário, não a permitiria que viesse ao meu encontro.
Ainda muito desconfiada, Joan seguiu a voz do homem até que o encontrou de pé em frente ao espelho, com o maxilar coberto de espuma branca.
— Vais tirar o bigode dessa vez? — Escorou os ombros no batente da porta, observando-o.
— Jamais! É minha identidade, Taylor. Não existe o temido conde de Bastille sem seu imponente bigode.
A moça rolou os olhos. Homens eram, na perspectiva dela, realmente difíceis de se compreender.
— Deixe que eu o ajudo! Sempre fiz a barba de meu pai. — Aproximou-se do conde.
— Não sei se é uma boa ideia ter a senhorita com uma lâmina afiada bem perto do meu pescoço. — pontuou, inseguro, segurando firme a navalha.
— Bobagem, Devil. Eu não vou te matar. Quem pagará meus honorários se tu estiver morto?
Uma alta gargalhada escapou dos lábios do conde.
— És de fato uma mercenária fria e calculista, Taylor.
— Prefiro pensar que sou racional. — Pegou a navalha da mão do homem. — Fique quieto, Davies! E pelo amor de Deus, relaxe.
— Posso segurar sua cintura para me apoiar?
— Desde que fique parado, não tenho objeção alguma.
Albert sorriu antes de colocar as mãos sobre o corpete da moça e imediatamente ficou tão imóvel feito uma escultura.
Joan, conforme era habituada a fazer, começou a percorrer meticulosamente a lâmina sobre a face do conde, descendo para o pescoço, tirando a espuma, bem como os pelos escuros, deixando a pele macia.
Albert ficou impressionado com a habilidade dela. Era algo muito íntimo, vê-la tão perto dele, completamente imersa naquela tarefa. O toque era preciso e delicado e o conde se encontrou sorrindo de satisfação ao ser cuidado pela mulher por quem estava apaixonado.
— Falta apenas aparar bigode, milorde. — Pegou a pequena tesoura disposta sobre a pia.
— Tome muito cuidado com isso, senhorita Taylor. — advertiu seriamente. — Ficarei muito irado se estragar meu bigode.
— Então fique quieto! Não há como eu ser assertiva, se o senhor continuar falando.
O conde rapidamente se calou.
Joan inclinou levemente o rosto dele para cima, de modo a ter uma visão melhor e começou a aparar os fios. Ela demonstrou uma segurança nata, que deixou Davies aliviado. Porém, desde pequena, a moça sempre fora muito perfeccionista, e mesmo que o corte parecesse simétrico, para ela, havia uma pequena imperfeição no canto esquerdo, perto dos lábios que ela precisava acertar ou não ficaria em paz.
Davies ficou o mais imóvel quanto pode, contudo, quando um pequeno mosquito roçou a ponta do nariz dele, Albert não conseguiu evitar e instintivamente mexeu os lábios. Aquilo foi o suficiente para Joan abrir uma pequena falha nos pelos, algo sútil, porém evidentemente perceptível. O conde iria matá-la!
— O que foi? — Davies inquiriu, preocupado, ao ver a cor sumir do rosto da moça.
— Eu sinto muito. Não foi intencional. O senhor mexeu os lábios e no outro instante, já havia ocorrido. — Tentou se explicar com a voz trêmula.
— Taylor... O que a senhorita fez? — A voz se tornou muito séria.
— Meio que eu abri uma pequena falha no seu bigode. — confessou em tom baixo.
— Não! A senhorita não fez isso! Tenho certeza de que é uma brincadeira. — E levantou-se para ver o reflexo no espelho.
Joan, sabiamente se afastou para se proteger dos gritos que viriam.
— SANTO DEUS! MEU BIGODE! MEU PRECISO BIGODE. — Penteou os pelo, tentando em vão cobrir a falha. — TAYLOR! O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?
O conde ficou muito mais do que irado, ele entrou em desespero.
— COMO VOU CONSERTAR ISSO, TAYLOR? — Voltou a ira na direção dela.
— Raspando? — sugeriu, insegura.
— MEU DEUS DO CÉU! ISSO NÃO ESTÁ ACONTECENDO COMIGO! É UM PESADELO! NÃO PODE SER REAL. — Começou a respirar ofegante, como se estivesse entrando em pânico.
Tomada pelo impulso, Joan avançou contra o conde, envolvendo os braços em torno do pescoço dele e o beijou, urgente e ardentemente.
Albert se calou no mesmo instante, e se a pouco estava zangado, toda irritação se esvaiu quando sentiu os lábios da moça junto ao dele.
Tomado pelo mais feroz dos desejos, as mãos do conde começaram a se mover rapidamente pelo corpo de Joan, explorando cada curva e contorno, com tamanha urgência e ardor. Logo, o beijo se tornou mais profundo e intenso, enquanto as línguas se entrelaçam em uma dança frenética.
Ao notar que a mulher estava completamente entregue a ele, Davies pressionou corpo dela contra a parede fria daquele cômodo, a medida as mãos de Joan se agarram aos ombros Albert com força. A respiração se tornou acelerada e ofegante, e no peito, os corações de ambos bateram em uníssono.
Ali, naquele banheiro minúsculo, eles se entregaram a paixão intensa que os consumiam e tudo pareceu desaparecer ao redor do casal. Albert e Joan se perderam naquele momento único de conexão e desejo.
Aos poucos, o beijo começou a se tornar mais lento e suave, até que os amantes se afastaram sutilmente, olhando um nos olhos do outro com uma expressão de satisfação e intensidade, revelando através do olhar, tudo que não conseguiam expressar em palavras.
— Desculpe-me pelo seu bigode. — Foi tudo que ela disse.
— Pode raspá-lo aos poucos, se cada vez que o fizer, eu ganhar um beijo seu. — Acariciou os lábios inchados da moça.
— Achei que seu bigode era tudo o que mais importava em sua vida. — comentou, sorrindo.
— Descobri, agora, que beijar você é muito mais importante.
Joan gargalhou alto, jogando a cabeça para trás.
No entanto, mal sabiam eles que logo o caos os atingiram. Instantes depois, o mordomo adentrou no quarto e chamou por Davies:
— Patrão, devo informá-lo que o cavalo o qual me informou, acabou de chegar.
— O CAVALO? — gritou Joan, eufórica, saindo em disparada de sala de banho, esquecendo-se completamente do falatório que aquilo ia gerar pela casa.
Albert, sorrindo, e com uma falha aparente no bigode, seguiu ao encalço da moça.
Joan saiu do quarto às pressas e rapidamente se encontrou no hall da entrada, observando os transportadores libertarem o impressionante garanhão preto daquela espécie de jaula horrenda.
Assim que colocaram o cavalo no chão, a moça logo notou que o animal estava inquieto, nervoso e demasiado agitado, movendo constantemente a cabeça para cima, para baixo e para os lados, relinchando, tentando claramente se afastar das pessoas.
— Deixe comigo. Eu assumo a partir daqui. — Com muita cautela, segurou a sela, forçando a cabeça do cavalo voltar a atenção para ela.
— Taylor, cuidado! — advertiu Albert, preocupado.
— Calma meu amigo. Está seguro aqui. — começou a falar em tom baixo, percorrendo suavemente a mão pela crina macia.
Sutilmente, Joan foi se aproximando do pescoço do cavalo e encostou a cabeça no animal, conforme sussurrava palavras desconhecidas, afagando-o, transmitindo tranquilidade e segurança.
— Yalla! — comandou em tom firme, fazendo o cavalo segui-la de imediato.
Todos ficaram abismado com a habilidade da moça, que em pouco tempo, foi capaz de fazer aquele animal arisco obedecê-la.
— Acredito que agora esse cavalo finalmente será domado. — comentou um dos homens.
— Inacreditável, não é mesmo? — expressou o outro, fechando o transporte onde o animal foi conduzido.
— Senhor Davies, devemos partir. Voltaremos assim que for ordenando. — Estendeu a mão para o conde.
— Avisarei quando for possível buscá-lo.
Assim que os homens se afastaram da propriedade, Albert foi até o estábulo, atrás de Joan. Quando chegou ao destino, deparou-se com o verdadeiro caos.
Lá estava Joan, abaixada ao lado da égua gestante que gemia alto, assustando os demais cavalos. A mulher mantinha no rosto uma expressão de desespero e solidariedade, conforme conversava com a égua, evidentemente em trabalho de luz. Atrás dela, como se não quisesse perdê-la de vista, encontrava o impressionante garanhão preto, que diferentemente dos demais cavalos, não estava abalado com aquela situação.
— Davies! Chame por Dursley! Temos um parto difícil a realizar! — comandou, tateando o ventre da égua que relinchava desesperada.
— Infelizmente, minha pequena, Dursley não se encontra! É o dia de folga dele.
— Nesse caso, o senhor terá de me ajudar.
— Eu?! — indagou, exasperado
— Ande logo, Devil! Tem um potro em nascimento. Vá até meu quarto, pegue, dentro do armário, na primeira gaveta, a minha maleta, traga toalhas limpas e também uma garrafa de uísque ou qualquer bebida que tenha um alto teor alcoólico.
— Vais se embriagar, Taylor! Em um momento de desse?
Joan apenas rolou os olhos.
— Vá, Devil! Apenas vá!
Apressado, Albert saiu dali em busca dos itens solicitados.
Ao notar que a bolsa que envolvia o potro estava completamente intacta, Joan soube que teria de rompê-la por conta própria.
— Calma, Alisha! Nós vamos tirar seu bebê daí! Eu juro!
Todavia, a égua continuou a gemer, relinchando alto, pedindo socorro com aqueles impressionantes olhos castanhos arregalados.
— Diga a ela que vai ficar tudo bem, Laylia! — pediu ao cavalo que apenas deu um leve trotar com as patas dianteiras.
— De alguma forma, minha querida, ele está dizendo que vai dar tudo certo. — assegurou para égua.
Logo, o conde retornou com todos os itens solicitados.
— Coloque as toalhas rente as ancas da égua. O ambiente deve estar limpo para receber o potro.
Albert rapidamente desdobrou as toalhas brancas e as arrumou conforme o ordenando.
— Passe-me a garrafa de uísque. — pediu Joan.
Davies abriu a garrafa e entregou a ela.
A moça lavou as mãos com o líquido âmbar e depois sorveu um longo gole do uísque.
— Dê-me as suas mãos. — pediu ao homem.
O conde estendeu as mãos para ela que também as banhou em uísque e depois o entregou ao garrafa.
— Pode beber se quiser, vai precisar.
Davies sequer titubeou quando mandou a bebida goela abaixo.
Joan, ciente do que precisava fazer, ergueu a saia do vestido, amarrando-as acima dos joelhos, arregaçou as mangas e se posicionou entre o tronco da égua.
— Vamos lá, potrinho! Está na hora de nascer. — Abaixou-se rumo a barriga e iniciou um movimento firme de empurrá-lo em direção as ancas. — Está dando certo menina, o teimosinho já está saindo. — informou, como se égua pudesse compreendê-la.
— Está vendo algo, Davies?
O conde se aproximou um pouco mais da cavidade semiaberta e disse:
— As patinhas! Tô vendo as patinhas! Mas está envolto a um negócio pegajoso.
— É a bolsa gestacional. Preciso rompê-la! Geralmente as éguas o rompem com os dentes, mas nossa mãezinha aqui está assustada demais para fazer isso.
Interrompeu o que fazia e se colocou no lugar de Albert, verificando a situação com muito cuidado.
— Pegue o bisturi na minha maleta.
Albert vasculhou os instrumentos até que encontrou o item solicitado.
— Está aqui! — Depositou-o nas mãos de Joan.
Com muita destreza, ela fez um corte impecável na bolsa, liberando as patas dianteiras do potro.
— Prontinho! — Limpou o suor da testa com o dorso das mãos.
Joan avaliou a situação mais uma vez, tentando encontrar a melhor estratégia para ajudar a égua a parir. Infelizmente, ela não conseguiria fazer aquilo sozinha, Albert teria de se manter forte até o fim.
— Não a outra opção, Davies. O senhor deve empurrar o potro, massageando a barriga da égua, enquanto eu o puxo pelas ancas. É o único jeito.
— Tudo bem! Apenas me instrua. — O conde se posicionou exatamente como Joan estava anteriormente.
Fazendo a pressão na medida certa, ele começou a pressionar a barriga da égua para baixo, enquanto Joan puxava lentamente o potro para fora. A égua relinchava e se debatia, já o garanhão puro árabe, permaneceu impassível atrás de Joan sem demonstrar qualquer temor.
— O potro está preso! — pontuou, notando que uma das patas não queria sair pela cavidade.
— E agora? — indagou o conde, ofegante.
— Preciso girá-lo por dentro.
— A senhorita vais enfiar as mãos dentro da égua? — perguntou abismado.
— Não há outra forma. Tenho de agir agora.
— Meu Deus! Não sei se tenho estômago para isso.
A moça ignorou aquele comentário, esterilizou as mãos com o uísque e se preparou para ação.
Com muita delicadeza, ela começou a enfiar as mãos dentro da égua, tateando a posição do potro, tomando cuidado para não machucá-lo.
Quando Albert viu o antebraço de Joan sumir no interior do animal, ele não conseguiu se conter, sentiu as vistas ficarem turvas e acabou se estatelando no chão.
— Fracote! — Joan comentou, ainda muito atenta a ação que executava.
Depois de um tempo, ela conseguiu encontrar a pata do potro e o puxou de uma só vez. Finalmente a égua havia dado a luz aquele animalzinho valente.
Joan limpou as membranas remanescente das vias respiratórias e colocou o cavalinho perto da mãe que evidentemente ficou mais calma e começou a lambê-lo, cheirá-lo e limpá-lo com a língua. Aquele foi um processo intenso e emocionante e a moça se encontrou rindo ao ver o carinho de uma mãe para com seu recém-nascido.
Instintivamente, o potrinho se aproximou das mamas da mãe e começou a se alimentar.
E ali do lado, estatelado no chão, estava o imponente conde de Bastille, com seu bigode falhado, completamente abatido por uma mera cena de parto.
Homens são mesmo frágeis. Pensou Joan, sorrindo.
— Acorde, Davies! — Desferiu curtos tapas na face do homem.
Aos poucos, Albert abriu os olhos, voltando a si.
— Já acabou?
— Sim. Olhe! — Apontou para o potrinho amamentando.
— Ele é tão pequeno. — disse, cheio de emoção.
— Não é?
Ambos ficaram admirando o cavalinho e a égua, e naquele momento, o conde se sentiu triste ao saber que Taylor teria de partir.
— Vamos deixá-los. A Natureza se encarregará do resto. Eu preciso urgentemente de um banho. — pontuou, Joan.
— Não é para menos, enfiou os braços todos dentro da égua! — Davies ainda estava impressionado com aquilo.
— E o senhor, de temido conde não tem nada. Caiu feito uma pedra no chão.
— Todos tem seu limite, senhorita! Esse, evidentemente é o meu.
A moça gargalhou alto e falou:
— Vamos nos limpar! Preciso comer, estou morrendo de fome.
— E quando não está?
— Quando estou dormindo, é claro.
Foi a vez de Albert rir.
Sorrindo, ambos deixaram o estábulo e o pequeno potro para trás.
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Lá estavam Albert e Joan, finalmente aproveitando a refeição matinal. A moça, esfomeada, devorava tudo com muita avidez, enquanto o conde apenas cutucava os ovos cozidos, sem vontade alguma de comer. Ele só conseguia pensar no fato de que, após o nascimento daquele potro, o acordo havia entre ambos haviam findado e a mulher teria de ir embora. Uma verdadeira lástima.
— Suponho que agora estamos livres um do outro, senhorita Taylor. — ele comentou, como quem não quer nada, sem olhar na direção dela.
— O senhor está pensando em me expulsar? — ela finalmente interrompeu a refeição, mediante daquele comentário.
— O potro nasceu. Nosso acordo findou.
— Não posso partir agora que o garanhão do senhor Stuart se instalou em seu estábulo. Não é adequado mudá-lo. Seria uma mudança deveras abrupta, que pode atrapalhar o processo de adestramento. Além do mais, eu gostaria de acompanhar o primeiro mês do potro, a fim de assegurar que ele fique bem. Isso se o senhor permitir, é claro.
Um largo sorriso se formou nos lábios de Davies quando ele declarou entusiasmado:
— Podes acompanhar o primeiro mês, o primeiro ano, assim como os demais. Pode acompanhá-lo até a velhice, e santo Deus! Pode acompanhar até mesmo a sua prole e todas a gerações que ele possa ter. Pode permanecer aqui por quanto tempo quiser. Podes envelhecer ao meu lado e eu seria o homem mais sortudo da face da terra por ter você comigo.
Aquela declaração inesperada mexeu com todos os sentimentos de Joan. Ela também desejava aquela vida; aquele futuro. Mas as coisas eram mais complicadas do que o conde poderia imaginar.
— Isso é uma proposta de casamento, Devil?
— Provocou, levando a xícara aos lábios.
— Se fosse, a senhorita aceitaria? — indagou esperançoso.
— Ficaria tentada a aceitar, mas por fim eu negaria. Sai de Londres justamente para fugir do casamento, não tenho a pretensão de me casar agora. Primeiro, preciso conquistar a minha independência.
— Nesse caso, senhorita, eu a ajudarei com a sua independência e falaremos do casório em um futuro próximo.
— O senhor realmente está disposto a me desposar?
— Já teria o feito se fosse da sua vontade.
— O senhor realmente gosta de mim, Davies? — perguntou, realmente desconfiada dos sentimentos do homem.
— Pelo amor de Deus, Taylor! Será que não consegue perceber o quanto eu estou apaixonado por você? A mera ideia de vê-la partir dessa casa me deixa apavorado! Eu preciso vê-la todos os dias, preciso sentir sua fragrância pela casa, preciso, de alguma forma, saber que está por perto. Eu preciso tê-la comigo, assim como o ar que eu respiro. Eu darei tudo que me pedir e farei tudo que for preciso para tê-la ao meu lado, porque eu estou perdidamente, absolutamente e incontestavelmente apaixonado por você.
Joan sentiu lágrimas teimosas brotarem nos olhos, pois aquela declaração foi como um bálsamo em todas as suas incertezas: ele também a amava.
— O senhor me quer na sua vida, mesmo com meu gênio indomável e minha teimosia absoluta?
— Eu te quero com todas as suas qualidades e defeitos. Mesmo que seja teimosa e temperamental. — Exibiu um largo sorriso.
— Eu posso magoá-lo e partir seu coração, Devil. — advertiu, com certa tristeza.
— Eu aceito as consequências, Jô. Meu coração é seu para fazer com ele o que bem quiser.
— Nesse caso, Albert, acredito que ficará feliz em saber que meus sentimentos são recíprocos. De alguma forma, indo de contra a todo o meu bom senso, e por mais que tenha lutado contra e tentado negar, tenho a mais absoluta certeza de que eu também me apaixonei por você. — revelou, com o coração disparado, mantendo o olhar fixo no conde, que por um momento, permaneceu estático, como se não tivesse compreendido aquela súbita revelação.
No outro instante, em uma velocidade impressionante, ignorando a conduta dos bons modos, Albert disparou até Joan, tirou-a da cadeira em uma habilidade incrível e colocou-a sobre a mesa, quebrando algumas xícaras de porcelana que se estilhaçaram no chão. Ele a beijou ardentemente, selando a promessa e todas as declarações realizadas naquela mesa, naquele cômodo, naquela mansão situada em Staten Island, em New York.
E naquele dia, semanas depois de se conhecerem em uma rua qualquer em Mayfair, em Londres, ambos finalmente aceitaram que pertenciam um ao outro e tudo, aparentemente, se encaixou.
Todavia, um segredo poderia mudar tudo: ela era uma Morrison.
Será que o amor pode ser maior que o orgulho ferido?
Assim estavam Joan e Albert: unidos por uma paixão avassaladora e também por uma mentira imutável. Uma ironia, afinal.
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Yalla (يلا) do árabe, expressão de comado "vamos".
Laylia (ليلي), do árabe, pode ser traduzido com "Noturno".
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Olá, ladies!
Sobre o capítulo:
É isso, preciso assistir The Last Of Us! Pense numa série boa, minha gente!
FUIIII
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