
Medo
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Edward estava zangado comigo e eu estava zangada com ele.
Sendo o único a ir abertamente contra a minha ideia, ele faltou xingar Carlisle quando o mesmo cedeu às minhas investidas e enfiou uma agulha no meu braço, tirando-me uma bolsa de sangue de 420ml. Eu não sabia se a ideia daria certo, mas agora só voltei ao meu normal, sem poder saber do futuro, como de costume. Eles que estão mais incomodados com isso, mas também muita merda pode acontecer sem essa vantagem que tinham.
Na ida para a mansão, Edward me levou nas costas correndo, mas agora que estamos praticamente brigados, eu caminhava na sua frente porque me recusei a entrar no seu carro. A estrada estava deserta no meio da noite e só se podia ouvir nossos tênis beijando o asfalto molhado pela chuva que caiu antes de sairmos. Me abracei e comecei a sentir frio. Eles moram mais longe do que o esperado, mas me recuso a pedir ajuda a Edward por pura teimosia. Talvez ele não insista porque quer me punir também.
— Eu não quero te punir— ele responde os meus pensamentos. Intrometido, reclamo— Eu não quero que você corra perigo, Alysson, eu só não sei o que fazer. Isso vai me deixar louco!
— Bem, se você não sabe o que fazer, poderia tentar ser mais receptivo com a ideia que eu tive, não é? Quer dizer, pelo menos eu estou tentando alguma coisa!
— Eu não fui o único a pensar que foi uma péssima ideia!— ele aumenta o tom de voz e eu me recuso a olhá-lo, ficando emburrada ao encarar a estrada escura e infindável que se estendia diante de mim. Senti como se não estivesse saindo do lugar— Você continua a não entender como a nossa sede funciona, Alysson! Dexter ficará louco para ter mais do que... aquele saquinho de nada. Nunca vai ser o suficiente.
— Quer que eu tire mais sangue ainda até ficar tonta?
— É claro que não!— ele se ofendeu com meu tom propositalmente rude— Não quero que você perca uma gota sequer.
— Mas é o que eu posso fazer para ajudar vocês. Ele vai ter que aprender a se regular se quiser ter mais. É como funciona uma barganha, sabe? Se meu sangue é tão tentador para ele, vai ser melhor se ele poder beber mais vezes, não é? E ele vai, se se aliar a nós! Duvido que aquele idiota queira se unir aos Valter ou sei lá qual é a porra do nome dos deuses dos vampiros! Pelo que seu pai descreveu, parece uma prisão e eu tenho certeza que Dexter faz o tipo que odeia se sentir preso.
Urgh, nem acredito que estou tendo essa conversa. Até pouco tempo atrás, queria que Dexter sumisse da face da terra para todo o sempre, no entanto, agora não vejo como poderemos conseguir uma vantagem nessa situação sem a sua ajuda.
Nem cheguei a piscar quando Edward apareceu na minha frente, me dando um susto que fez meu coração disparar.
— Você está me ouvindo?— ele me pergunta, sou obrigada a parar de andar— Quando Dexter entrar em contato com o seu sangue, ele entrará em estado de frenesi. Ele não vai conseguir parar até matar você. Não posso te deixar correr um risco desses!
Embora estivesse tocada pelo seu cuidado em me proteger, não me abalei.
— Ele já entrou em contato com o meu sangue e não perdeu o controle.— informo com a voz firme. Edward piscou como se eu tivesse soprado seu rosto.
— Que?
— No dia do acidente de carro. Ele sentiu o gosto do meu sangue. Eu tinha mordido a minha bochecha e ele...— desviei os olhos para a floresta ao nosso lado— ele me beijou.
Edward ficou absolutamente imóvel, não piscou, não respirou, não esboçou nenhuma reação.
— Talvez ele tenha controle o suficiente para isso.— eu continuo como se não me desse conta do impacto que deve ter sido para Edward saber de uma coisa dessas. Lembrei também que cuspi na cara de Dexter em seguida.
Dei a volta em Edward e continuei caminhando.
Ele apareceu de novo na minha frente e eu soltei um xingamento.
— Dá pra parar de fazer isso?!
— Eu vou matá-lo.
— Eu não posso dizer que repudio a ideia, mas vamos precisar dele.
— Não para sempre e você ainda está se arriscando muito além da conta.
— Pois é, mas é isso ou o que? A morte? Passo! O x da questão é que: ou vocês saem da frente e o Dexter me mata, ou os reis vampiros passam por cima de vocês e o Dexter me mata! Ok, minha ideia pode não ser a melhor e pode ser que não sirva de nada porque os outros lá de cima já sabem de tudo e só estão afiando os dentes para vir matar todos nós, mas eu tenho que tentar! Minha vida pode ser uma droga, mas eu quero vivê-la, caramba!
Eu estava gritando com ele e só percebi quando terminei. O silêncio foi incômodo e muito alto em seguida. Eu não queria brigar com o Edward, eu só estou com muito medo.
Minha máscara raivosa se desmancha e meus olhos voltam a se encher de lágrimas. Sei que não adianta fingir que estou completamente pessimista para ele e é um certo alívio. Eu estou acostumada a fingir e sei que engano a maior parte das pessoas com meu teatro, mas não o Edward.
Eu não queria me abrir, me sentir vulnerável era o fim do mundo e só piorava quando tinha alguém olhando. Eu gostava de ser a garota superficial e popular que não teme nada e não preza por nada além da própria aparência, gostava que os outros não fizessem ideia de quem eu sou ou como estou me sentindo de verdade. O problema é que não dá pra mentir para um vampiro, principalmente quando ele pode ler sua mente.
Que bom que eu não tenho que fingir com ele.
— Eu quero viver, Eddie— choraminguei e cobri os olhos quando minha primeira lágrima caiu.
Ele me abraçou e eu retribuí, porque ficar assim com ele me acalma, nem que seja bem pouco. Ele me passa a segurança que eu preciso sentir. Edward depositou um beijo demorado no topo da minha cabeça e eu chorei nos braços dele em silêncio.
— Você vai viver— ele me diz, soa como uma promessa— Não importa o que aconteça, você vai viver.
[...]
Não tive absolutamente nenhuma notícia de ninguém no domingo, ou, pelo menos, por mais da metade dele. As horas deste dia deplorável se arrastaram e eu não conseguia me concentrar em nenhuma tarefa, fosse da escola ou de casa. Por mais que não houvesse ninguém comigo no cômodo, eu me sentia observada, como se tivesse com um alvo enorme nas costas.
O medo me trazia uma sensação fria e desconfortável. Desejei que Edward estivesse por perto, mas ele tinha que se alimentar e tinha que ser hoje. Ele me avisou que um de seus irmãos cuidaria de minha casa enquanto estivesse fora, mas não saber quem é me deixava angustiada. Eu me pegava imaginando, enquanto secava a louça, que Dexter atravessaria a parede atrás de mim e eu teria uma morte muito violenta e cruel, digna de aparecer nos filmes de Premonição. Procurei por sinais de que a morte estava ali comigo, mas não encontrei nada. Ou não quis encontrar porque a paranoia estava me pirando mais do que o suficiente.
Não é como se eu fosse saber. O dom de Alice se foi. Nunca achei que não ver o futuro poderia me deixar tão apreensiva.
Não houve muita conversa em casa. Éramos abraçados por aquele silêncio de pessoas que já estão acostumadas umas com as outras.
Tinha terminado de guardar a panela no armário quando uma pequena presença me assustou. Levei a mão ao peito e tentei não ficar tão estranha na frente do meu irmão mais novo. Seus olhos puxados estavam inchados, ele morria de sono.
— Prepara um chocolate quente pra mim, Aly?— ele pede. Só é amável assim quando não se sente muito bem ou disposto. Gosto de cuidar dele assim.
— Tá bem— ofeguei e tirei a mão do peito para colocá-la no topo da cabeça— Vai pra cama, eu levo pra você.
O garoto coçou o olho e bocejou, arrastando os pés na direção do corredor. Fui pegar o leite e o achocolatado na geladeira. Tinha acabado de colocar o copo na bancada quando meu telefone tocou.
— Alysson!— mamãe chamou. Estava em um clima de romance com papai na sala e era bem óbvio que não sairia de lá mesmo se o mundo estivesse acabando.
— Já vou— gritei de volta e fui para a sala, perto da porta da frente onde ficava o telefone fixo— Residência Choi, Aly falando— é como atendendo.
— Ai, graças a Deus— comemorou a voz feminina que eu bem conhecia.
Olhei por cima do ombro, meus pais a poucos metros de mim e de costas, encarando a televisão.
— Oi, Candy— eu baixo o tom e felizmente o filme de ação é barulhento demais para que eles me ouçam— Tudo bem?
— Vai ficar, se me dizer que o Peter está aí com você.
Eu franzo a testa, confusa. Os gêmeos não vem para a minha casa desde que saíram do armário, há uns anos.
— Que? Por que ele estaria comigo?
Candice solta um gemido frustrado e eu sei que toda vez que ela faz isso também está apertando o punho contra a testa.
— Ele foi no mercado há umas três horas para comprar ovos para a mamãe e ainda não voltou. Ninguém mais sabe onde ele está, a senhora White disse que ele sequer apareceu por lá.
Minha pressão caiu e eu senti um sufoco enorme, como se existisse uma corda no meu pescoço.
— Hã, já ligou para todo mundo mesmo? O Frank, a Georgia? A Lindsey?
— Sem querer ofender, mas você é a última pessoa da lista, Aly. Sabia que não tinha como ele estar na sua casa, mas as opções foram acabando bem rápido.
Nós duas ficamos quietas por uns segundos arrastados.
— E a polícia? Já ligou para a polícia?
— Eu não sei se quero— ela admite, evidentemente preocupada— Ligar para o xerife é assumir que tem uma coisa errada. Talvez Peter só esteja fazendo uma gracinha idiota.
— Não vai ser perda de tempo— tento soar calma, mas minha voz sai trêmula— Tenho certeza.
— Aly... eu juro que vou bater tanto nele quando o encontrar.
— Sim. Nós duas iremos.
Nós desligamos e, sem que meus pais percebam, saio de casa. Preciso de ajuda, preciso de ajuda. Desnorteada, procuro por um Cullen ao redor da minha casa e no telhado. Estava tão concentrada nisso que quase dei um grito quando minhas costas se esbarram com algo que não devia estar ali. Viro-me de uma vez e encontro Jasper.
— Não devia sair de casa— ele diz.
— Meu amigo...
— Eu ouvi.— ele me interrompe. Estou a ponto de arrancar meus cabelos, só que, de um segundo para o outro, me sinto bem mais calma. Isso é incabível dada a situação. Confusa, olho para o loiro e me lembro que Carlisle disse que os Volturi o queriam também. Por que queriam o Jasper? É ele que está fazendo eu me sentir mais calma?
— Por favor— supliquei. Ele é tão lindo, mesmo quando fica sério. Se bem que... ele é assim a maior parte do tempo— Por favor, sei que já tem muito com o que se preocupar, mas o Peter...
— Entre em casa, Choi. Seu amigo vai aparecer.
Eu não tive como insistir, ele me virou e me empurrou para dentro antes que eu pudesse sentir raiva por ter sido dopada. Minha mãe me olhou por cima do ombro quando a porta fechou atrás de mim.
— O que está fazendo? Quem era?
Ela não vai se importar.
— Era engano.
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