Eis o leitor de mentes
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Honestamente, eu iria preferir estar chapada ou só louca mesmo. Qualquer outra alternativa seria melhor do que o que eu estava prestes a enfrentar.
A primeira coisa que sinto ao acordar é a minha própria respiração. A forma que meu peito sobe e desce enquanto meus pulmões se enchem e se esvaziam logo em seguida. É bom estar respirando. É gostoso sentir minha própria pulsação e minha pele.
Quase consegui me enganar de que tudo não passou de outro pesadelo. Quase. O problema é que eu sentia o adesivo mantendo a agulha em minha mão e sentia aquele cheiro enjoativo de remédio e produtos de limpeza que só o hospital tem. Meus olhos se remexeram sob as pálpebras e eu os abri, quase me cegando com a claridade das luzes sobre minha cabeça. Sentei-me, dolorida, e percebi que estava em um quarto só para mim. Isso não é bom, nada bom. Minha família não tem condição de pagar um quarto de hospital.
Cambaleante, saí da maca e me segurei no suporte de soro, arrepiando-me pelo contato dos meus pés descalços no piso gelado. Olhei para baixo e percebi que estava só de avental. Tenho que dar o fora daqui. Agora.
Me aproximo da janela e percebo que está de noite, não sei quantas horas fiquei desacordada, mas imagino que alguém tenha notada minha falta e a de Georgia.
— Georgia— me recordo. Tenho que encontrá-la, preciso ver se minha amiga está bem.
Trazendo o suporte comigo, vou até a porta do quarto, mas sou obrigada a parar quando a mesma se abre e Edward entra na minha frente. A cara que ele faz diz que ele não quer estar aqui mais do que eu. O Cullen entra e fecha a porta atrás de si, trancando-a. Eu recuo conforme ele avança, até dar um encontrão com a maca.
— Olá, Alysson.
— Você me apagou!— falo como se ele próprio não soubesse— Você arrancou a porta do carro da minha amiga e me apagou!
— Tinha que te tirar dali de alguma forma, não?
— Você me apagou, caramba!— eu dou a volta na maca para colocá-la entre nós e Edward me acompanha, lenta e pacientemente. O caminhar elegante. Eu sempre admirei a postura dele, mas agora é só mais uma coisa que me deixa apreensiva.
Olho para o desfibrilador ao meu lado e giro o botão para que ele tenha carga máxima, nem sei se estou fazendo certo. Apenas os apanho e esfrego uma parte na outra, ouvindo a energia potente daquela máquina zunir. Edward parou de andar, seu semblante se entristece como se tivesse se dado conta de algo que não queria ter entendido.
Somos dois.
Eu estou apavorada.
— O que você é?— pergunto, os olhos ardendo de raiva— O que você é!?
— Pode se acalmar para que a gente possa conversar?— ele quer saber.
— Me acalmar!?— eu quase grito— Tem ideia do que anda acontecendo comigo? Eu quase morri hoje!
Dexter fez tudo aquilo de propósito para me ter, mas não sei se é melhor saber que ele fugiu quando Edward chegou. Isso me faz pensar que Edward pode ser uma ameaça pior. A imagem dele do meu primeiro pesadelo se repete e Edward faz uma careta, transtornado.
— Há quanto tempo tem...— ele balança a cabeça e desiste da pergunta— Eu sei— ele aperta os lábios, desgostoso— Eu sinto muito, queria ter chegado antes.
— Como você sequer sabia onde eu estava!? Como chegou lá tão rápido!?
— Alice viu Dexter a atacando. Nós fomos até vocês o mais rápido possível.
Empalideci. Meu sangue congelou e evaporou das minhas veias. Foi como se ele tivesse enfiado uma faca no meu coração e nas minhas costas ao mesmo tempo.
— Como... como sabe o nome dele?— minha pergunta não passou de um sussurro. Edward tentou se aproximar e eu quase lhe dei um choque. O Cullen recuou com minha ameaça— Não chega perto!
— Não é o que está pensando, Alysson.
— Não é o que eu estou pensando? Meu Deus— encolhi-me contra a parede, chorando de frustração— Você está com ele! Você quer me machucar também? Por que?
— Não, não! Nós não temos nada a ver com ele!— Edward arregalou os olhos, horrorizado— Eu jamais a machucaria! Por que eu sequer te salvaria se quisesse machucá-la!?
— COMO VOCÊ SABE O NOME DELE ENTÃO!?
— Eu o li na sua mente!
Eu quase engoli minha língua. Cambaleei enquanto as coisas faziam sentido. Por que ele sempre faz o que eu penso que ele vai fazer?
— Não— eu digo, sacudindo a cabeça— Não leu. Não tem como.
— Alysson, me dê o desfibrilador, você vai acabar se machucando— ele fala como se esse devesse ser minha primeira preocupação.
— Você não leu a minha mente— insisti, teimosa.
— Eu sempre li a sua mente, Alysson. Eu posso ouvir e ver tudo o que você pensa. É o meu dom.
Continuo balançando a cabeça em negação.
— Não. V-você não...
— Por que eu sempre faço o que você pensa que eu vou fazer?— ele pergunta e eu fico estática no lugar. Como ele poderia saber disso? Como...— Por que meus olhos nunca ficam da mesma cor? Você não consegue entender o quão inconstante eu sou. Isso te irrita. Te irrita que eu seja o senhor conveniência.
Fico zonza, preciso me apoiar em alguma coisa e quase esqueço que estou segurando desfibriladores na sua potência máxima, quase os colocando em meus quadris. Edward dá um passo na minha direção e eu ergo a mão para que ele não se aproxime. O Cullen não gosta da ordem silenciosa, mas respeita.
Todas as coisas que eu pensei a seu respeito, tudo...?
— Sim, tudo. Pelo menos, quando eu estou por perto, eu posso te ouvir como se estivesse falando em voz alta— ele responde e eu sacudo a cabeça, minha boca fica seca.
— Você tem que estar mentindo— eu digo com a voz chorosa— Me diz que está mentindo. Diz que isso é uma piada sem graça.
— Não posso. Não é.
— Por que você faria uma coisa dessas!?— minha voz afina e meu rosto queima de vergonha. Meu Deus, se ele sabe tudo o que eu penso... todas as risadas dele...
Eu quero morrer.
— Não é algo que eu possa controlar. Eu sinto muito.
— Você está invadindo minha privacidade!
— Eu não gosto mais disso do que você. Faz ideia de como é ouvir os pensamentos de todo mundo o tempo todo? É o inferno, Alysson. E eu não posso controlar.
Estou me sentindo demasiado humilhada agora para demonstrar empatia.
Ele tenta se aproximar de novo com passos curtos e cautelosos e eu não demonstro resistência. De que adiantaria, afinal? Ele arrancou a porra da porta de um carro ainda há pouco, para me dominar, precisaria de menos força ainda.
Ele sempre foi tão forte.
— E o que você está fazendo aqui? Você vai me matar?— sussurrei, olhando em seus olhos, estes que ele sabe que mexem comigo. Ficou óbvio o quão ofendido ele se sentiu. Edward balançou a cabeça, parando a um passo de mim.
— Eu nunca faria isso com você, Alysson— ele ergue a mão como se fosse tocar meu rosto, mas eu ainda estou muito alarmada e na defensiva, sendo assim, com o susto, eu acabo empurrando seu peito. O problema é que eu esqueci que estava com desfibriladores nas mãos e Edward tomou um choque que teria matado qualquer pessoa na hora.
Mas ele não é qualquer pessoa. Edward recua em um piscar de olhos, batendo suas costas na parede oposta. Ele se dobra pra frente e coloca a mão no peito.
— Ah! Isso doeu mais do que o esperado— ele solta um gemido. Assustada, devolvo o equipamento para seu devido lugar. Como ele ainda está de pé?
— Me desculpa! E-eu não queria...— gaguejo e me interrompo quando ele ergue a mão, pedindo um momento. Cubro a boca com a minha mão trêmula e puxo o suporte do soro para perto da maca, precisando me sentar por um momento— Santo Cristo, eu não queria...
— Tudo bem, tudo bem! Eu mereci— ele disse, se recompondo. Nós nos encaramos.
— Você não é humano— admito, por fim— Como pode não ser humano?
— Essa é uma pergunta que eu não saberei responder— ele solta um suspiro, mantendo agora uma distância bastante segura de mim. Eu não queria machucá-lo de verdade— Se é magia ou a própria natureza querendo se destruir, eu não sei dizer.
Apoiei os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos.
Eu ouço histórias de vampiros desde que sou criança. Eles fazem parte da nossa cultura, mas, até então, eu acreditava que não seriam relevantes de nada e tudo a seu respeito era só para a minha diversão. Mais fantasias para serem vestidas no Halloween.
Todas as histórias dizem a mesma coisa: vampiros são criaturas imortais que se alimentam do sangue humano. Criaturas que vivem na noite, cruéis e egoístas. Feias, perversas. Velozes e fortes. Muito poderosas.
E aí tem os Cullen. Extravagantes, belos e únicos. Egocêntricos. Normais, na medida do possível. Misteriosos, charmosos. Todos eles são vampiros.
Vampiros de pele fria, com olhos que mudam de cor. Tem uma força excepcional, desculpas convincentes e não aparecem nos dias de sol.
— Eu não me alimento de sangue humano— O Cullen interrompe meu raciocínio e eu o olho com a cabeça baixa— Ninguém da minha família se alimenta de humanos.
— Como vocês vivem, então, se não matando pessoas?— meu tom é mais ácido do que eu precisava que fosse. Lembro-me de Greg no meu pesadelo, a violência marcada em seu pescoço, seus olhos arregalados mostrando o quanto sofrera em seus últimos minutos de vida.
— Nós nos alimentamos de animais, Alysson. Acha que se estivéssemos caçando pessoas, Forks já não teria sido dizimada?
Desvio o olhar do Cullen para o chão a minha frente.
— Onde está Georgia?
— Ela está bem, dormindo em outro quarto.
— A gente não tem como pagar pelos quartos.
— Não precisa se preocupar com isso, eu já deixei pago— sua voz se aproxima, mas eu me recuso a encará-lo, não tenho coragem.
— Eu estou com medo de você— admiti baixinho e Edward veio se abaixar na minha frente. Seus olhos claros estavam suplicantes procurando os meus.
— Alysson, por favor...
— Você conhece o Dexter, Edward?— pergunto, um pouco mais calma e muito mais tensa— Sabe o que ele quer comigo?
— Não, não conheço ele e não sei o que ele pode querer de você. Só soube de sua existência hoje— ele fala e sustenta o olhar enquanto eu o examino atrás de uma mentira. Quero confiar nele, mas não sei se consigo. Por que ele faria tudo o que fez por mim para depois me matar? Isso é doentio— Eu não vou te machucar, Alysson. Jamais foi minha intenção, por isso mesmo eu disse que não poderíamos ser amigos, lá no começo— Edward insiste.
— Você me apagou, porra— praticamente rosnei entre dentes.
— Eu precisava adiar essa conversa mais um pouco— ele passa a língua nos lábios e abaixa a cabeça.
O que é que eu vou fazer? Se tudo com o que tenho sonhado é real, o presságio de que eu sou a próxima também é verdade. Meu Deus, Aaron está em perigo?
Edward levanta a cabeça.
— Há quanto tempo tem tido esses pesadelos?— ele pergunta.
Uni as sobrancelhas.
— Como você...— deixo minha voz morrer. Ele lê sua mente, sua estúpida, me recordo. Mordo o lábio e respiro fundo. Sinto uma ardência na minha bochecha, deve ter sido o que eu mordi enquanto o carro capotava— Há umas três noites. Nunca sonhei com nada parecido antes.
O rosto de Edward endureceu por um momento.
— Ele está manipulando seus sonhos— ele conclui.
Eu balanço a cabeça lentamente.
— Como assim?
— Talvez seja o talento dele— ele explica, pensando alto— Considerando que você não seja vidente... Você, por acaso, já previu que algo aconteceria e acabou acontecendo?
Penso na morte do Greg, mas ela já tinha acontecido quando eu cheguei lá. E foi parte de um sonho que Dexter estava presente.
— Não tem como alguém ver o futuro— é minha resposta automática. Mas eu estou falando com um vampiro e não tem como vampiros existirem. Ele apenas me encara. Eu volto nossa conversa um pouco— Alice viu Dexter nos atacando. Alice vê o futuro?
— Partes dele, e as visões dela nem sempre são precisas.
Eu olhei para o teto e soprei uma risada incrédula.
— Claro que ela pode ver o futuro. Mas é claro que ela pode— esfrego o rosto— Todos vocês fazem isso?— perguntei-lhe com a mão na testa. Acho que vou desmaiar— Como vou poder confiar em você se todos vocês podem mexer com a minha mente e ver o meu futuro?
— Não. Não— ele sussurra, ajoelhando-se diante de mim— Nem todos temos dons, e os que tem, são diferentes; únicos. Eu não posso manipular sua mente, só assisti-la.
— Assisti-la.— repito e fecho os olhos com força, desejando que Edward desapareça— Você assiste a minha mente.
— Alysson, me dê uma chance de esclarecer as coisas...
— Me deixa sozinha— eu o interrompo— Por favor. Me deixa sozinha.— suplico. Nunca achei que pediria isso a Edward Cullen. Tudo o que eu queria desde que o conheci era ficar perto dele. Mas o problema é que só a sua presença me faz questionar tudo na minha vida. Eu não sei o que é verdade, eu não sei o que é mentira. O que é real ou não.
Edward reluta, mas não força nada. Abro os olhos quando ele se levanta e encaro seus pés, recuando lentamente.
— Me desculpe, senhorita— ele diz e sai do quarto, fechando a porta atrás de si. Tombando, eu me deito na maca.
O que eu faço?
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