
Conto tudo mais tarde
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ALYSSON CHOI
Quando acordo, a primeira coisa que vejo é a floresta através da parede de vidro. Nunca tinha tido essa vista sublime logo cedo, mas foi algo difícil de não se admirar, mesmo que o céu fosse tão nublado quanto em todos os outros dias e as árvores continuassem as mesmas. Poderia ter ficado mais tempo, no entanto, tempo era uma coisa que eu não tinha. Levantei-me, notando que estava sozinha na cama de Edward, e encontrei uma cadeira onde estava minha mochila e minha muda de roupas secas empilhada.
Respiro fundo e vou trocar de roupa. Não sei bem o que pensar, sequer sei como consegui dormir depois dos beijos que Edward me deu e lembro dos que ele deixou de me dar. É uma pena que isso tenha que ser uma despedida para que algo meu possa ser preservado, porque eu não me incomodaria de ser contaminada por ele de outras formas. Por tempo indeterminado, não irei mais sentir suas mãos em meu corpo nem os arrepios que ele me causou.
Foi a melhor decisão, digo a mim mesma. Nada de joguinhos, nada de corações partidos.
Dá para dizer que Edward varreu para longe todas as minhas preocupações. Não me sinto tão mal quanto no momento em que ele me encontrou. Novamente, fico grata.
Não sei se posso simplesmente sair do quarto, mas, assim que abro uma fresta na porta, me deparo com Alice segurando a maçaneta do outro lado. Nós duas paramos e eu arregalo os olhos ao passo que um grande sorriso maroto brota nos lábios da mais baixa.
— Ah, Deus— abro a porta e a puxo para dentro comigo.
— Olha só o que temos aqui— ela cantarola, usando aquele mesmo tom espertinho da noite anterior— Achei a dona dos sapatinhos de cristal— ela tira a mão das costas de me exibe meus tênis que eu apanho imediatamente.
— Não é o que você está pensando!
— Eu não estou pensando em nada!— ela diz enquanto eu me sento na cama e calço os tênis. Fico angustiada, mas nem sei como começar a explicar o que aconteceu sem acabar entregando detalhes importantíssimos que eu não quero contar para todo mundo.
— Por favor, não conta para os seus pais— imploro. Alice dá de ombros, uma aura perversa.
— Não faria isso, nunca mesmo! Quero dizer, ainda mais com o pagamento que vou receber por guardar segredo— ela passa a mão nos cabelos curtos— Isso significa que você e o Edward estão namorando?
— A-ah, não— sinto meu rosto esquentar e baixo a cabeça, desfazendo os nós nos meus cadarços só para refazer— Não... a gente não tem nada, ele só me ajudou na calada da noite.
— Edward não ajuda muita gente trazendo-as para o quarto dele.
A porta se abre e lá está ele, vestido com seu habitual azul e cinza, cores frias que o misturam com a paisagem. Nossos olhares se encontram e eu baixo a cabeça. Desfaço novamente os nós dos cadarços.
— Temos que ir ou iremos nos atrasar, os outros já foram— ele diz e puxa Alice para fora pelo braço, sem mais nem menos, me deixando sozinha da mesma forma abrupta que fez pela madrugada.
A casa está silenciosa e como não fui avisada do que esperar, me vi dependendo da sorte ao ir para o corredor com minha mochila no ombro. Como vou fazer para me virar na escola hoje sem nenhum material? Nem eu sei, só espero não ter me esquecido de nenhum trabalho.
Eu tinha percebido ontem à noite que a mansão dos Cullen é clara e espaçosa, moderna e chique, e, enxergando melhor durante o dia, me sinto deslocada nesse lugar, como se uma pressão invisível estivesse tentando se livrar de minha ilustre e pobre presença. No corredor, um longo tapete se estica pelo chão, de um canto a outro. Só o preço dele deve pagar todas as mensalidades que eu precisaria para cursar uma faculdade de medicina.
— Edward?— chamo em um sussurro, encostada na parede. Milagrosamente, ele aparece, subindo as escadas e estende a mão na minha direção.
— Pode vir— ele chama, evitando olhar nos meus olhos. Acho que nós dois estamos sem saber o que fazer depois do beijo, então busco fingir que nada aconteceu.
É difícil.
Seguro sua mão enluvada e ele me puxa consigo para descermos as escadas juntos.
— E os seus pais?— pergunto, nervosa por não estarmos nem tentando ser discretos.
— Carlisle saiu cedo para o trabalho e Esme foi comprar material para sua horta. Meus outros irmãos a deram carona. Só estamos eu, você e Alice em casa.
— Só ela percebeu meus tênis na garagem?
— Sim, creio que sim.
— Me desculpe, eu devia ter os escondido melhor...
— Não se preocupe com isso.
Paro de andar e Edward para também, três degraus abaixo de mim. Nós nos encaramos, as mãos ainda juntas. Algo dentro de mim borbulha quando o encaro.
— O que foi?— ele pergunta, também não conseguindo fingir que nada aconteceu.
— Nada— sacudo a cabeça e solto sua mão, descendo correndo na sua frente. Alice aparece no fim da escada segurando uma bandeja de prata com um lindo café da manhã.
— Pra você— ela diz e eu pego a bandeja, um pouco perplexa.
— Pra mim?— ela assente e me guia para perto da ilha— Não precisava ter feito isso, Alice— fico tocada com sua gentileza. Ela até tirou a casca do pão, que meiga!
— Não fui eu que fiz— ela sorri e eu lanço um olhar para Edward atrás de mim. Ele parece a um passo de esganar a mais baixa e eu paro de olhar.
Queria dizer que adorei, mas não disse.
A cozinha é cheia de janelas amplas e eu me apaixono pelo lugar. A mobília é discreta, os armários são baixos e sobre eles há mármore. A cozinha parece bem vazia, pra ser sincera, como a de uma casa em exposição que só os ricos podem entrar para ver. Não há muitos enfeites além de umas frutas falsas em uma linda vasilha preta. Olho para a geladeira de duas portas e também reparo na ausência de imãs segurando lembretes ou fotos. Na pia não há louça suja a vista e sobre a ilha, eu reparo no jarro de café e no jarro de suco.
— Ah, eu tenho um igualzinho em casa— aponto, passando os dedos pelo jarro de café. É engraçado que seja tão parecido, porque a loja na qual meus pais compraram o nosso não é o tipo de lugar que gente na classe dos Cullen frequenta— Igualzinho mesmo...
— Vai estar ocupada esse final de semana?— Alice pergunta, do nada.
— Hã, não, por que?
— Eu e Rosalie vamos para Port Angeles atrás de umas roupas novas, o que acha de ir com a gente? Lindsey está mais do que convidada, também, é claro.
Abri a boca sem saber o que responder, trocando olhares com Edward. Não faz muito sentido eu pedir para que ele se afaste de mim e sair com as suas irmãs logo em seguida. Meto um sorriso no rosto.
— Acho que não vai dar... quer deixar para um outro dia?— falo porque também não quero que ela fique magoada.
— É uma pena mesmo... claro, vamos nos programar direito.
Ela não volta a investir no assunto. Tento tomar um pouco de café, mas este está tão amargo quanto o que minha mãe faz e logo desisto, tomando o suco de pêssego para me livrar daquele gosto. Comi os pães tão rápido que nem vi quando acabaram. Estava com tanta fome que poderia lamber o prato, mas me fiz de satisfeita porque seria muito feio pedir mais.
Era bom estar seca, mas as roupas do Edward eram tão mais confortáveis que as minhas! Queria ser louca o suficiente para lhe roubar o moletom, aposto que ele nem daria falta com tudo o que tem no closet...
— O que é tão engraçado?— Alice perguntou para o irmão e eu o olhei depois de colocar a louça suja no lava louças embutido na pia. Ele conteve o sorriso e virou o rosto, nos dando as costas para descer outro lance de escadas.
— Nada, vamos— ele diz e nós duas descemos atrás dele, ambos irmãos pegam suas mochilas no sofá de couro da sala e as colocam no ombro. Alice elogia minhas roupas, essas escolhidas de última hora, e me oferece um batom vermelho para combinar com meu casaco branco — o mesmo batom vermelho que pinta os seus lábios. Aceito de bom grado, tentada a pedir toda sua bolsinha de maquiagem. São muito raros os dias em que vou para o colégio sem maquiagem, meus amigos vão cair matando em cima de mim.
Não tenho tempo de me impressionar mais com a paisagem, a mobília e os quadros disponíveis pela casa. Sei que existem grandes jarros de planta próximos das paredes de vidro e que tudo é lindo, mas quando percebo, já estou sendo enfiada no Jeep alto que eu não sabia dizer a quem pertencia. A Mercedes e o BMW tinham sumido, mas as motos gêmeas continuavam na mesma posição de ontem. O volvo de Edward estava sujo por minha causa e eu voltei a me questionar quanto custaria para limpar a minha bagunça.
Ai, meu pai nem terminou de pagar as parcelas do carro que eu destruí. Eu sou a pior filha do mundo!
Sentei-me no banco de trás e, ao colocar o cinto do meio, olhei para frente, percebendo que tinha uma vista privilegiada dos olhos de Edward pelo retrovisor interno. O Cullen de cabelos acobreados me encarou e tudo voltou para o meu corpo, toda a cobiça e a excitação de horas atrás. Eu não vou esquecer essa noite nem tão cedo e espero ardentemente que ele também não.
Viro o rosto porque nós temos um acordo e espio outra vez porque eu nunca fui de evitar olhar para coisas bonitas.
O silêncio que reina enquanto saímos de perto da mansão não parece incomodar os irmãos Cullen, mas eu juro que ficaria louca até o caminho da escola sem dar um pio.
— Esse carro também é seu?— pergunto a Edward.
— Não, é do nosso irmão, Emmett.
— Combina com ele... grandalhão— mordo o lábio e olho pela janela. Gosto de Jeeps. Adoro carros grandes embora tenham sido raras as ocasiões em que estive em um 4x4. Fico pensando que Peter mataria para estar no meu lugar, sentado no carro do amor da sua vida— ele parece mais velho para um colegial, sabe... Emmett tem quantos anos mesmo?
— Ah, é que ele repetiu dois anos por acúmulo de faltas. Ele e Rose são uns inconsequentes— Alice diz balançando a mão com puro descaso— E você tem um carro, Alysson?— ela muda o assunto— Acho que um Jaguar combinaria com você, né, Eddie?
— Ah, não— dou uma risada nervosa, respondendo rápido para não obrigar Edward a participar da conversa— eu costumava dirigir o Jetta do meu pai, mas aí eu meti ele num poste e agora estou proibida de chegar perto da SUV que nos restou e vive falhando.
— Ah, meu Deus, e quando foi isso?
— Pouco antes de vocês chegarem em Forks, na verdade— dou de ombros— Fiquei com o ombro deslocado por um tempão antes de conseguir ajudar.
— Por isso sua tipoia— Alice conclui— Como foi que esse acidente aconteceu?
— Acabei exagerando um pouco na bebida em uma das milhares de festas que os Kyle dão porque vivem entediados, sabe, eles são ricos e podem bancar as despesas— não tanto quanto vocês, mas são, penso e solto uma risada sem graça.
— Eles são divertidos— Alice me olha e sei que os gêmeos vão adorar ficar sabendo de sua opinião.
— Você devia parar de beber— Edward diz, sério, antes que eu concorde com sua irmã.
— Até parece, é a melhor coisa do mundo— respondo.
— Por que se envenenar seria a melhor coisa do mundo?— ele me olha pelo retrovisor.
Porque quando estou bêbada, não tenho que ser eu.
— Porque é divertido.— é o que eu digo. Nós não falamos mais nada pelo resto do caminho e Alice liga o rádio. Sinto como se tivesse respondido a coisa errada.
Eu podia estar sendo paranoica, mas era a verdade, as pessoas pararam ao me reconhecer descendo do carro dos Cullen. Tive certeza que todos estavam falando de nós e não havia mais do que alguns segundos que nós tínhamos chegado. Peguei minha mochila, coloquei-a no ombro e fechei a porta do Jeep de Emmett com cuidado. Corri os olhos pelo estacionamento a procura de minha melhor amiga na vaga de sempre e ela estava lá, conversando com Peter e Candice, aparentemente preocupadíssima. Imagino que tivesse acabado de ser colocada em uma situação conflituosa quando foi me buscar e meus pais a disseram que eu não estava lá.
— Obrigada pela carona— digo para os Cullen e meu olhar se demora em Edward, repassando a noite que tivemos na memória. Ele passa a língua nos lábios e apoia o braço na janela de Jeep. Lindo, muito lindo. Eu sorrio. Foi bom enquanto durou, mas realmente não acredito que isso vá ser o fim— Obrigada por tudo e adeus.
Me afasto e, finalmente, meus amigos me notam. Os gêmeos arregalam os olhos e Lindsey deixa o queixo cair ao perceber de qual direção eu vinha. Aperto os lábios e faço careta, dou um sorriso sem jeito.
— Mas que cadela!— Lindsey abre um sorriso largo e vem me abraçar— Me diz que você deu pra ele— ela sussurra no meu ouvido e meu rosto queima.
— Quem me dera, te conto tudo mais tarde— sussurro de volta e olho para trás.
Edward estava rindo.
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